O PAPA FIGO DO CASTELO
No Bairro Castelo Branco
Havia um grande temor
O Papa Figo, falado
Como terrível horror
Crianças sempre com medo
Desta figura pavor.
De cabeça sempre baixa
Andava nesse lugar
Com roupa velha, rasgada
Sem nunca querer falar
Catava o lixo nas ruas
Querendo se alimentar.
Diziam que ele comia
O fígado de um menino
Que fosse desobediente
Pra nunca ficar cretino
Era só ouvir o seu nome
E já mudava o destino.
Nos becos e nas esquinas
As histórias aumentavam
Todos meninos com medo
Logo se assustavam
Cada barulho que ouviam
Em casa se refugiavam.
Mas sabiam os pequenos
Que era só imaginação
O Papa Figo era apenas
Um homem sem educação
Que pedia esmola e comida
Para a sua refeição.
Andava com sacos velhos
Catando o que encontrava
As crianças ao vê-lo
Com medo se afastava
Mas eles seguem em silêncio
Tristezas acompanhava.
Nas histórias de antigamente
Os adultos aumentavam
Diziam que o Papa Figo
Os meninos pegavam
Mas era só uma lenda
Que os pequenos criavam.
Seu nome era desconhecido
Ninguém sabia contar
De onde vinha, quem era
Ou qual era o seu lugar
Mas bastava vê-lo de longe
Para o medo já despertar.
O Papa Figo do Castelo
Era o temor do povão
Nas noites frias e escuras
Ficava a assombração
Mas de perto era só tristeza
Um homem sem direção.
Ao passar pelas ruas
Com seu saco nas costas
As crianças fugiam ligeiras
Com histórias bem dispostas
Ele, em silêncio, andava
Sem nunca deixar respostas.
A realidade era simples
Um homem sem destino
Que vagava pelas ruas
Ouvindo o tocar do sino
Mas nas mentes infantis
Era um monstro clandestino.
E assim cresciam as lendas
Nesse bairro do Castelo
O Papa Figo assustava
Do pequeno ao magrelo
Mas era só um sujeito
Com seu olhar de farelo.
Na imaginação das crianças
O terror ia aumentar
Qualquer sombra na noite
Era motivo pra gritar
Mas o Papa Figo, cansado
Seguia sem se importar.
Era o medo do desconhecido
De um Ser esquecido e só
Que a vida transformou
Num ser de desdém e dó
Mas no fundo era inocente
Apenas com destino sem nó.
No fim, o que nos resta
Foi a história que ficou
Das crianças que cresceram
E o medo que passou
O Papa Figo virou lenda
E a verdade se apagou.
Agora, quem ouve a história
Já não teme ou se arrepia
Entende que o Papa Figo
Era só tristeza e agonia
Na imaginação de outrora
Tudo era pura fantasia.
Todos conhecem a saga
Do Papa Figo temido
Que em tempos de infância
Não fora compreendido
Hoje é só uma memória
De um homem já esquecido.
Quando ele surgia à tarde
Ou no fim de manhã
Os meninos se escondiam
Embaixo da cama, ou do divã
Era medo sem tamanho
Que fazia tremer até o clã.
Os adultos riam da cena
Sem acreditar no temor
É só um pobre coitado
Diziam com certo humor
Mas as crianças não ouviam
Sentiam apenas o pavor.
Na porta de cada casa
Naquela falta de brilho
Lá vem o Papa Figo
Escondam-se, meu filho!
Barulho de passos rápidos
Ecoava por cada trilho.
A criançada apavorada
Nem pensava sofrer
Pois diziam que ele pegava
Quem fosse desobedecer
Era só pensar em travessura
E já vinha o arrepio a crescer.
Debaixo da cama ficavam
Esperando ele passar
Com o coração na boca
E medo de se mostrar
Na cabeça das crianças
Era o mal a rondar.
Passava o Papa Figo
Com seu olhar cabisbaixo
Nem notava os meninos
No seu caminho baixo
Ele só queria brincar:
- No meu saco te encaixo.
O silêncio acompanhava
E as crianças se calavam
Somente o vento soprava
Cada passos que se davam
O medo dominava a cena
E a solidão os cercavam.
Às vezes, no fim do dia
Nada podemos supor
As mães chamavam as crianças
Antes que viesse o terror
Venham logo pra dentro
Ou o Papa Figo virá com furor!
Era assim que o boato
Se espalhava cada vez mais
Ninguém ousava sair
Nem brincar nos quintais
A lenda ficava maior
Aterrorizando os mortais.
Mas o pobre homem andava
Sem saber que causava temor
Vivendo sua vida esquecida
Num mundo de puro horror
Para ele, só restava o vazio
E das crianças, o clamor.
O Papa Figo não era
Nenhum monstro de verdade
Mas a mente infantil
Ah, que fertilidade!
Criava medos gigantes
Na mais simples realidade.
Por anos essa lenda
Se manteve viva e forte
Até que um dia cresceu
E ficou sendo meu suporte
Entenderam que essa gente
Papa Figo perdeu o seu norte.
Ainda que a figura ficasse
Do que querem partir
As histórias não tinham mais
O mesmo poder de ferir
Era só uma recordação
Do tempo que faz sumir.
Hoje, o Papa Figo é lenda
Contada em noites de lua
Entre risos e lembranças
De uma época já nua
Onde o medo era rei
E a verdade se perdia na rua.
As crianças, que cresceram
Agora falam com humor
Como pudemos temer
Um pobre homem sofredor?
A vida foi ensinando
O que antes causava horror.
O bairro de Castelo Branco
Hoje já não se assusta mais
A lenda virou história
Para esquecer, jamais
O Papa Figo se foi
Pro medo que foi demais.
Mas há quem ainda diga
Que nas noites escuras e frias
Se escuta o som dos passos
Pelas velhas e calmas vias
Será o Papa Figo
Ou só ecos de outras fantasias?
Esta tão gentil história
De medo e imaginação
Do Papa Figo do Castelo
Foi parte da criação
Hoje é só uma memória
Que vive na recordação.
FIM
João Pessoa-PB, 05 de maio de 2000.