OS BURROS DO ENGENHO VENEZA

Para contar essa história

Dos burros e dos cambiteiros

Cada qual com sua coroa

Nos engenhos e terreiros

Belízio era dos mais antigos

Dos burros sabia os perigos

Cuidava dos seus parceiros.

Canela, seu preferido

Com ele ia de mansinho

Belízio tinha respeito

Nunca usava o chicotinho

Conhecia o passo certo

Fosse longe ou fosse perto

Cuidava bom irmãozinho.

Dorgival, homem de riso

Montava sempre em Sabiá

Não temia o burro bravo

Que comia até preá

Com jeito firme e destemido

Sabiá, mesmo enraivecido

Passeava pra lá e pra cá.

Zé Valério, homem valente

Não se afastava do engenho

Montava nesse Chá Preto

Sempre pronto, sem desdenho

Eram como carne e unha

Nas trilhas do majó Cunha

Chá Preto tinha o empenho.

Gandão, o homem robusto

Peludo, bom coração

E juntos seguiam sem susto

Carregavam a cana ao chão

Nas ladeiras no comando

Peludo com passo brando

Não deixa faltar feijão.

Zé Camilo e sua Onça

Formavam um duo fiel

Onça com sua imponência

Camilo com força e cordel

No engenho todos sabiam

Que onde os dois se metiam

A cana chegava ao papel.

Ciço, homem de fala mansa

Tinha Baleia por companhia

Mesmo burro de corpo extenso

Ia na trilha com harmonia

Ciço dava risada alta

Enquanto a Baleia salta

Levando a carga com alegria.

Bicóia, de passo ligeiro

Montava Piaba com sorte

Juntos seguiam certeiros

Sem nunca perder o norte

Piaba, rápido e astuto

Cortava os campos em luto

Como uma flecha de aço forte.

Damião era o fiel de Rufino

Nas trilhas difíceis ia sem receio

Rufino com força de touro

Damião com coração sem freio

Juntos, cruzavam recantos

Nos olhos, só brilho e encantos

Trabalho era mais que um anseio.

Tonho, o último dos valentes

Montava sempre em Panela

Chamavam-no homem paciente

Na calma, seguia a procela

Com Panela nessa história

Levava cana nessa memória

Seguindo o doce dela.

Os cambiteiros eram fortes

Homens de garra e saber

Cada um tinha seu porte

Seu burro, seu jeito de ser

O Engenho Veneza pulsava

E cada jornada mostrava

O valor que é ter e fazer.

Sigo agora nesta cantiga

Contando das tantas memórias

Dos burros, dos homens de fibra

Que vivem nas nossas histórias

No mato, no chão de poeira

A vida era uma bandeira

Que ainda vive nas glórias.

Chá Preto, sempre o guerreiro

Canela, o mais bonito

Sabiá, com seu desespero

E Moreno, sempre tão aflito

Cada um deixava uma marca

Na história, sua barca

Nas trilhas desse cambito.

Piaba, Rufino, e Cachola

Formavam um trio fiel

Carregavam na mesma viola

A cana, o suor e o papel

Na jornada não tinha descanso

O caminho era era um remanso

E o trabalho seguia no quartel.

Barruada e seu jeito bruto

Seguiam na trilha mais dura

Já Panela, no andar astuto

Fazia curvas com ternura

Raçudo olhava paisagens

Nas ladeiras e nas margens

Comia até tanajura.

Pintassilgo, o burro cantor

Com Canário nascendo o dia

Faziam das cargas um louvor

A lida era quase poesia

E Marron, com passo pesado

Peludo ia sempre ao seu lado

Nas trilhas da dura artilharia.

Onça e Baleia, a força bruta

Bem-te-vi, sempre atento

Nas trilhas levavam a luta

Com coragem e talento

Os cambiteiros só confiavam

E juntos sempre trilhavam

Caminhos com alento.

Na lembrança, ficam guardados

Esses tempos de suor e fervor

Cada burro, cada homem

Um pedaço de nossa cor

No Engenho Veneza, tem vida

Dessas almas de despedida

Que deixam sempre o pudor.

Fecho o cordel com ternura

No peito, a nostalgia

Dos burros, dos homens e a cultura

Que o tempo ainda irradia

No Engenho Veneza brilha o sol

Dessa história que foi farol

De um tempo de valentia.

Na história do Engenho Veneza

Vou contar, com carinho e valor

Dos burros que andavam nas trilhas

Com a cana do nosso labor

Cada um tinha um nome e jeito

E no peito carrego o respeito

Por essa história de amor.

Chá Preto era forte e ligeiro

No engenho fazia questão

De levar toda cana ligeiro

Tinha força de furacão

Nas lidas do sol ou da chuva

Ele nunca queixava de curva

Descanso da sua missão.

Canela, o mais charmoso do bando

Com seu pelo brilhante a brilhar

Se erguia no meio dos campos

Sempre pronto pra trabalhar

Os cambiteiros diziam sorrindo

Burro nobre vem surgindo

Elegante até no andar!

Sabiá, o bravo sem igual

Não aceitava desmando

Se fosse contrariado

Logo estava se revoltando

Mas nas cargas, era leal

Seu trabalho, sempre integral

E o respeito ia conquistando.

Moreno, burro mais manso

Com calma levava a cana

Nos olhos, brilho sereno

Na boca, pouco se engana

Cambiteiros tinham pelo burrinho

Montar nele era um carinho

No trabalho era alma bacana.

Piaba, ligeiro e esperto

Nas trilhas era preciso

Com suas passadas firmes

Nunca estava indeciso

Era rápido, sem desatino

Companheiro de Rufino

No poder bem decisivo.

Rufino, de passo pesado

Carregava a carga sem reclamar

Cachola, sempre ao seu lado

Nas veredas ia sem parar

Barruada com força e coragem

Tinha respeito pela viagem

Da cana, jamais desistia de levar.

Panela, tão largo e gorducho

Tinha o apelido curioso

Mas no engenho era um luxo

Seu trabalho era precioso

Já Raçudo, no seu trotar

Nunca cansava de lutar

Pro viver ser delicioso.

Pintassilgo, o cantador

Caminhava quase em verso

Ao lado de Canário

Formava um dueto diverso

Na lida, eram felizes

Com seus donos aprendizes

Levando o açúcar disperso.

Peludo todo felpudo

Com marrom, o par ideal

Seguiam juntos na estrada

Sempre com ritmo igual

Onça, com sua imponência

Fazia a rota com resistência

Levando a cana, num astral.

Baleia, de corpo maciço

Parecia de forte armadura

E Bem-te-vi, pequenino

Mas com grande ternura

Juntos, faziam jornada

Cada um com sua caminhada

Nas trilhas dessa vida dura.

O engenho seguia seu rumo

Com esses burros a trabalhar

Os cambiteiros montavam

E a cana ia sem falhar

Em cada nome, uma saudade

Em cada passo, uma verdade

O tempo não vai encalhar.

Esses burros, de força e encanto

São histórias que o tempo guardou

Engenho Veneza fez

Versos que lhe resguardou

Dos cambiteiros valentes

Dos burros sempre presentes

Que a memória me herdou.

FIM

João Pessoa-PB, 06 de outubro de 2024.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 06/10/2024
Reeditado em 11/10/2024
Código do texto: T8167559
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