AS PRESEPADAS DE MANÉ DO CANGOTE

Vou trilhar nesse cordel

Nessa trama divertida

Dum quarteto de rapazes

De cabeça pervertida

Três deles sempre atentos

Esse Mané dos desatentos

Fez coisa não permitida.

Quatro rapazes moravam

Numa casa pequenina

Três deles bem espertos

De mente muito ferina

Falavam dessas burrices

Mas, eram tudo cretinices

Da maldade tão cretina.

Se ia pegar um pote

De água pra casa levar

Mané deixava a água cair

Nem conseguia acertar

Os três caíam no riso

Sorrir era mais que preciso

Vendo tanta coisa falhar.

Uma vez foi à feira

Para comprar simples pão

Mas voltou com uma pedra

E sem nem um tostão

Os três rapazes olharam

Muito triste ficaram

Mané não sabe a lição.

Outro dia Mané cismou

De fazer um bom fogão

Pegou lenha, palha e brasa

Porém, houve um apagão

Queimou metade da casa

O fogo queimando em brasa

E nada fazia o cagão.

Mané queria ser esperto

Mas o azar lhe perseguia

Tudo que ele tentava

Só desgraça era seu guia

Os três rapazes riam

O que Mané faz, não fariam

E o cabra só conseguia.

Os três viviam zombando

Do coitado, sem parar

Cada vez que Mané tentava

Alguma coisa acertar

Era tanta atrapalhada

No mínimo dando mancada

Que dava até pra chorar.

Se ia pegar um martelo

Para o prego consertar

Acertava o dedo ao lado

Era choro sem parar

Os três riam sem limite

Quase dando bronquite

Vendo Mané se danar.

Um dia pediu dinheiro

Para comprar pão na feira

Mas, Mané trouxe sabão

Por nome de Lavadeira

Todo pessoal ficou rindo

O Mané se divertindo

Achando graça na besteira.

Outro dia foi tentar

Colher fruta no pomar

Mas caiu do pé de manga

E foi logo se arranhar

Os três de tanta risada

Da tamanha burrada

Já estavam a soluçar.

Certo dia o Mané quis

Consertar o fogareiro

Mas acabou com um estouro

Que quase queimou o terreiro

Mané, tu és desmantelo

Pela vida não tens zelo

Só serve pra dar tropeiro.

Se arrumava para a festa

Atrapalhado demais

Vestia a roupa ao contrário

E os sapatos desiguais

Parecia até piada

Que cabra pra dá mancada

Pros três rapazes rivais.

Se lavava suas roupas

Esquecia no varal

A chuva sempre caía

E o deixava ainda mal

Os três ficaram sorrindo

O Mané se permitindo

Nesse jeito anormal.

Os três rapazes, cansados

Não suportavam, Mané

De tanta burrice feita

Resolveram a questão:

- Você vive na burrada

Provocando mancada

Seja um espertalhão.

O rapaz ficou calado

Tentando compreender

Baixando sua cabeça

Foi depressa aprender

Como fugir dessa vida

Que está muito sofrida

E ele precisa entender.

Mané do Cangote, então

Resolveu pegar a estrada

Com a trouxa nas costas

E a esperança guardada

Mesmo sendo desastrado

O cabra ficou marcado

Queria vida acertada.

No caminho, ele topou

Com uma princesa formosa

Que estava numa charrete

Com um semblante vaidosa

Mas, ao ver o Mané coitado

Ficou bem revoltado

Se mostrou bem curiosa.

Mané, todo atrapalhado

Deu um tropeço fatal

Caiu no pé da princesa

E começou o infernal

Mas a moça riu da cena

De Mané teve foi pena

Que achou foi tudo legal.

A princesa era esperta

Mas, cansada de ilusão

De tantos príncipes bobos

Com pose de galardão

Viu em Mané a verdade

Gostou da sinceridade

Mesmo tendo confusão.

Levou Mané para o pai

O rei lhe deu um sermão

Como minha filha escolhe

Cabra sem educação

Mas, a princesa insistiu

Pro velho logo sorriu

Falando do coração.

O rei então deu um jeito

Ver se Mané merecia

Propôs uma prova dura

Pra ver o que acontecia

O que ele não acerta

Quando a coisa lhe aperta

Perde a moça neste dia.

As provas foram difíceis

Mas Mané, com seu jeitão

Acabava se atrapalhando

E vencendo sem razão

A sorte o acompanhava

O cabra, disso gostava

Sem fazer a reflexão.

Na primeira, o rei mandou

Buscar água do riacho

Mané caiu no caminho

Seu balde virou um tacho

Tanto virou, que no fim

Pois, ficou tudo ruim

Chegou cheio de facho.

A segunda era mais dura

Uma vaca derrubar

Mané tropeçou na pedra

No chão foi se esparramar

A vaca, assustada, correu

Mané quase morreu

O rei começou aprovar.

Naquela terceira prova

Era só caçar um leão

Mané entrou na floresta

Com medo no coração

Mas um espinho terrível

De forma quase invisível

Atrapalhou o vilão.

O leão foi derrubado

E o rei já se admirava

Esse besta tem sorte

Mas sua alma é brava

Concedeu então a mão

Mas, lhe deu um sermão

Da filha que o esperava.

Mané casou com a princesa

Viveu vida de senhor

Com riquezas e fartura

Sem tropeços de horror

Os três amigos sabidos

Não ficaram intrometidos

Perderam a vez e o humor.

Os três rapazes sabidos

Nunca foram sabichões

Como Mané, o desastrado

Na terra desses machões

De uma princesa formosa

Que no fundo foi bondosa

Dando sonhos nos colchões.

Agora Mané do Cangote

Vive a vida com riqueza

Atrapalhado, talvez

Mas cheio de gentileza

A princesa lhe adora

Pelo amor dele, implora

Mesmo com sua realeza.

Hoje Mané do Cangote

É um rei muito feliz

E apesar de seu jeito

De atrapalhado aprendiz

A sorte lhe sorriu forte

Foi amor até a morte

Com a Princesa Analiz

Mané é cabra sem prumo

Com lição de coração

Quem ri de um desastrado

Faz sofrer sem comoção

Pois às vezes o destino

Se torna mais que cretino

Na a sua direção.

Este Cordel Brasileiro

Já pode se decidir

Pra preparar mais um drama

E com leitor dividir

Como fez com o Cangote

O Mané, Rei do Caçote

Que me faz se despedir.

FIM

João Pessoa-PB, 05 de outubro de 1990.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 06/10/2024
Reeditado em 14/10/2024
Código do texto: T8167557
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