TELA DE COMPUTADOR

Cheguei em casa cansado

Rumei pro computador

Chegando lá encontrei

Tão somente dissabor

As notícias são tão tristes

A tecla até chorou.

O sangue ali correndo

Não tive como pegar

Foi a morte da notícia

Não pude me controlar

De garra do pensamento

Eu fui logo digitar.

Diante daquela hora

Eu quis ser o que não sou

Um ser muito insensível

Que depressa me olhou

Criando situações

Que pouco tempo durou.

A tela estava triste

E comecei observar

Ela olhava pra mim

E eu me envergonhar

Escondia a cabeça

E fiquei só a pensar.

Fervia o meu juízo

Não fiz cena de ator

Na hipótese pensei

De ser o que nunca sou

Olhei de novo a tela

Meu silêncio confirmou.

Muito cansado estava

E sinto ter que falar

Este momento é pobre

Para que argumentar?

Eu vou sair perambulando

Quem sabe me conformar.

A tela tava estreita

A mente não pensou

Queria ombro amigo

E ela logo gostou

Me pegando pela mão

Na frente me colocou.

Não sei ainda o que houve

Posso aqui meditar

Em nome de todas almas

Eu vou sozinho ficar

Deixar o computador

E da tela se afastar.

A tela aprisionava

Tudo ruim ocasionou

No dedo que digitava

O sono se alojou

A tecla tão sem sentido

Nada mais ela tocou.

Só queria entender

Por tudo isso passar

Com sua letra pequena

Eu só queria sonhar

Anjos dizendo amém

Querendo me controlar.

A tela tava confusa

Pensava me confundir

Eu saí logo correndo

Querendo dali fugir

A vista já bem cansada

Doida pra escapulir.

Eu tinha que terminar

Ligeiro a encomenda

Produzir muito cordel

Para servir de revenda

Mas a mente cansada

Dizia: - Não me ofenda!

A tela na minha frente

Tinha letra misturada

Procurava um acento

Com a tecla afastada

Meus miolos consumi

E tentei não fazer nada.

A tela de vez em quando

Chegava mudar de cor

Copiar, depois colar

Foi tudo que me restou

Não sabia a coitada

Que foi ela que colou.

Olhava aquilo tudo

Nada me satisfazia

Na tela do computador

Resposta eu buscaria

Sentado quase em frente

Só me dava agonia.

Resolvi me relaxar

E tudo indiferente

O computador desliga

No lugar do sol nascente

Sem nem perguntar pro homem

Que se faz intransigente.

Computador nas ações

Não encontra a resposta

O trabalho emperrado

Teclado é uma bosta

O digitador é gente

Que sempre faz o que gosta.

Desta feita o gostar

Nunca teve assinante

Vence o dono do tempo

Num computador errante

Mistura letra com ócio

Pra não ser deselegante.

Tela de computador

Pode ser feita de aço

O digitador é gente

Ele gosta de abraço

Ela implica com ele

E faz dele um fracasso.

O computador em paz

É só arrependimento

Falo e grito calado

Pra livrar meu sofrimento

Que não consegue impor

Vivendo num só lamento.

Enquanto ele descansa

Fico sozinho na tela

Sofre computador

Como um preso na cela

Que se debate na noite

Por amor duma donzela.

É assim que me deparo

Com esta tecnologia

Eu não pretendo trabalho

E nem quero a fatia

Nas letras de um teclado

Sou um na biologia

Computador não espera

Digitador não entende

Olha muito bem a tela

E ele não compreende

No homem um vazio

Porque tudo lhe ofende.

O dia é luta dos dois

Informática dos dedos

São eles que contribuem

Com as senhas e segredos

Eles dois se comprometem

Com todos os nossos medos.

Muito número na tecla

Que nunca alguém explica

Determinações do tempo

É você que só complica

O número que se soma

Ele também multiplica.

No mundo não se viu

Uma coisa desse jeito

Um cidadão complicado

Lhe faltando o respeito

Ele no computador

E outro com dor no peito.

Na existência humana

Há de fato um problema

A linguagem dessa arte

Que nunca se vai à cena

Comendo sinais pequenos

Pra vida valer a pena.

Não há sucesso no mundo

Sem a presença do dedo

Vive na frente da tela

Descobrindo o enredo

Ver no feio o bonito

E faz dele um brinquedo.

Tela de computador

Há um homem solitário

Que sabe inutilmente

Desse seu aniversário

Tantos anos de estrada

Ela lhe faz de otário.

Eu vou embora dormir

E sonhar com todas cores

Elas são as passageiras

Me causa muitos horrores

Dormindo eu me esqueço

De todos estes amores.

Vida ingrata da peste

Que me faz dela escravo

O que se encontra sujo

Nesta tela eu me lavo

O que era dela antes

Hoje somente me travo.

A tela estava suja

Resolvi me acordar

Cansado de tanta luta

O homem quer descansar

Pensa tudo resolver

Vai dormir para sonhar.

FIM

João Pessoa-PB, 22 de maio de 2003.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 05/10/2024
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