O VAGALUME E A BORBOLETA
Cansado de receber não
Fui em busca de um sim
Primeiro fui tomar banho
Que serviu muito pra mim
Tentei fazer um cordel
Sentado num belo jardim.
O jardim era florido
E exalava um perfume
Distante eu avistava
Várias cenas de ciúme
A borboleta sorridente
Com o trombudo vagalume.
Eu somente olhando
E já preparando o cordel
O vagalume apenas gritava
E dizia ser bacharel
A borboleta ali tão tranquila
Voava rumo ao céu.
O ciúme era tanto
Que não mais observei
A borboleta tristonha
Isto bem eu notei
Pousou numa linda roseira
E junto dela eu chorei.
O vagalume somente me olhou
E quase querendo dizer
Baixou a sua cabeça
Como lembrasse um sofrer
Piscou com muita raiva
E eu sem nada entender.
Não entendia o motivo
Daquela tal situação
Achei algo tão estranho
Naquela bendita ocasião
Mas no jardim confirmei
E foi grande a confusão.
A borboleta me espiando
E as lágrimas sempre caindo
Ficou ali bem junto de mim
E aos poucos foi logo sorrindo
Eu que estava chorando
Fiquei logo tossindo.
O vagalume tão triste
Naquele instante sofreu
Fitando bem a borboleta
Isto mesmo aconteceu
Eu fiquei imaginando:
- Será que ele morreu?
Mas não tinha morrido
Ele estava bastante vivo
Uma ciumeira da gota
De um amor tão possessivo
O vagalume sonhava alto
Naquele lugar tão cativo.
Enquanto isto a borboleta
No jardim continuava
Olhando aquele tal vagalume
Que há tempo lhe paquerava
Se eu soubesse o que houve
Na certa eu até ajudava.
Porém, nada daquilo sabia
E que paixão era aquela
Um vagalume apaixonado
Formava uma grande aquarela
As flores todas sorrindo
Como se fosse uma passarela.
Estava ensaiando um desfile
Do vagalume com a borboleta
Só que não houve o evento
Por causa de uma mutreta
O vagalume queria ouvir
Um toque suave de corneta.
Fui buscar o instrumento
E fiz o som tão necessário
A borboleta toda sapeca
Como fosse o seu aniversário
E o vagalume cabisbaixo
Só me chamava de otário.
Eu então logo compreendi
Aquele amor tão antigo
De um vagalume tão esperto
Que me viu como perigo
E eu só queria era mesmo
Dele ser mais que amigo.
Amizade ele não pretendia
E sim, me ver ali bem distante
Pensava ele que eu seria
Da borboleta o seu amante
E eu em silêncio chorei
Por causa de um pedante.
Paz a borboleta pediu
Rodeada de tão belas flores
Enquanto aquele vagalume
Explodia com seus dissabores
No fundo aquela borboleta
Pensava em milhões de amores.
O vagalume tão apaixonado
Não media o seu estrago
Por causa de uma linda borboleta
Seu coração ficava amargo
O casal não mais se falou
E não surgiu nenhum afago.
Peguei a minha ilustre corneta
E toquei ali mesmo sentado
Avistei outras borboletas
Que dançaram aquele dobrado
Todas saíram voando
E o vagalume ali admirado.
Naquele enorme e belo jardim
O vagalume foi embora
A borboleta foi logo ficar
Num pé florido de amora
Naquele banco admirava
Querendo dali dar o fora.
Mas a paixão quando é grande
Alguma coisa logo acontece
O meu cordel esta história
Bem que ele merece
O ciúme de um vagalume
Que aqui ninguém conhece.
O vagalume voltou ligeiro
E foi depressa ao meu encontro
Pediu-me um simples conselho
E quase que fico tonto
E agora o que ele me disse
Com firmeza eu te conto.
Quando ele me procurou
A borboleta ficou me espionando
Lá daquele pé de amora
Fiquei sozinho me encontrando
Aquele coitado vagalume
De raiva ficou piscando.
Perguntei a dona borboleta
Com bastante carinho
Se aquele romance acabou
E qual era o grande caminho?
Neste momento o vagalume
Foi-se na asa de um passarinho.
O passarinho saiu dali voando
Igual a um bom dançarino
Levando na sua bagagem
O vagalume traquino
Que foi para bem longe
Construir o seu destino.
A borboleta ficou tão triste
E veio contar seu sofrimento
Eu me encontrava tão cansado
E em respeito ouvi o seu lamento
Ela me deixou ali tão sozinho
E foi parar no calçamento.
No jardim ali bem cansado
Eu não queria mais ficar
Buscava escrever um cordel
Mas estava difícil criar
Este ciúme do vagalume
Só me faz azucrinar.
No jardim me sinto bem
E ouço a voz deste mundo
Olhando esta natureza
Prefiro ser vagabundo
Sei que o vagalume
Tem um amor profundo.
A borboleta e o vagalume
Hoje moram numa casa
Vigiando este jardim
Em tudo o casal arrasa
Fazem a sua fogueira
E criam filhos na brasa.
O jardim foi o local
Que escolhi com liberdade
Sentado num humilde banco
Eu conto minha verdade
Viajo na inspiração
Que às vezes me dá saudade.
Cansado de receber não
Eu fiz o meu próprio trajeto
Trouxe comigo o vagalume
Que teve um amor incerto
Hoje eu recebo só sim
Neste momento tão certo.
O Vagalume e a Borboleta
Na relação dei um mergulho
Dei de cara com incertezas
E percebi muito orgulho
Muitas vezes jogado
Numa porção de entulho.
Agora chego ao final
Desta singela trama
Do Vagalume e a Borboleta
O jardim todo me aclama
As flores todas brilhando
E de vez em quando me chama.
FIM
João Pessoa-PB, 03 de agosto de 2001.