ALMA DESENCONTRADA
Quero iniciar este cordel
Falando de intimidade
Buscando fundo na alma
Toda a minha verdade
Se por acaso eu falhar
Perdoa essa crueldade.
Nos pecados da vida
Não há quem botasse
Na fogueira mais lenha
E nem quem tirasse
Da lenha a fogueira
De quem me amasse.
E assim nesta vida
Por que me roubasse
As joias que eu tinha
Sem que me comprasse
Devolva tudo meu bem
E as joias me passe.
Eu sei que os pecados
Em mim tu jogasse
E nunca soubesse
Se um dia me amasse
Que amor foi este
Que quase me matasse.
Fostes amiga no tempo
E com o tempo fracassasse
Com as coisas que eu tenho
E comigo somente errasse
Nunca mais eu te quero
Meu segredo contasse.
Minha solidão é algo estranho
Que sempre poupasse
Me fizestes aventura
E de nada, portanto, livrasse
Me desse um tempo
E depois outro pegasse.
Meu mundo é mundo
Que nunca me ensinasse
E se alegro com pouco
Nada me entregasse
Eu vivo cortado sorrindo
Porque assim me deixasse.
Muitas vezes na vida
Comida me pagasse
E se fome eu tinha
Foi quando comigo errasse
Com os segredos contados
E todos da memória apagasse.
Meus olhos tristonhos
De ódio me cegasse
Se enxergo com a pele
Meu corpo inundasse
De águas barrentas
Quase me matasse.
Na lida desta vida
Só me maltratasse
Com beijos ardentes
E depois o corpo tirasse
Fostes para bem longe
Bem distante viajasse.
E agora sozinho eu canto
E penso quando botasse
Um compromisso no dedo
E depois se livrasse
Com palavras sem lógica
E depois publicasse.
Viro em muitos para criar
E penso porque fracassasse
Não há resposta lógica
Nenhuma há que lucrasse
Só perdas e danos
Um jogo perdido jogasse.
Antes que eu me esqueça
E se, porém, me atrasasse
Era problema na certa
E não tinha quem arrancasse
Um pedaço de espera
Quem uma vala comigo dançasse.
Era preciso que ela
Não me maltratasse
E se algum dia qualquer
Eu por descuido errasse
Não era este o caminho
Tudo assim acabasse.
A tristeza dói em chama
E se o fogo alguém apagasse
Não haveria prantos em nós
E se eu a ti conquistasse
Deixaria apenas um sofrendo
Era preciso que tudo se acabasse.
Quando da tua vida
Distante me afastasse
Saí pelos caminhos errantes
Antes que meu olhar chorasse
Percorri labirintos de espinhos
Sem que ninguém me acompanhasse.
O ônibus foi saindo de mansinho
E antes que eu enfrentasse
Turbilhões de vícios na estação
E ainda bem que me livrasse
De todos aqueles ônibus
Que um dia sentasse.
Um bilhete de despedida
Do meu bolso arrancasse
E apenas um pequeno pendriv
Sem valor nenhum deixasse
E eu sendo ouvinte de tudo
Falei para retirar-se.
Ela não dando ouvido
Não tinha diabo que pegasse
Uma carreira tão grande
E pés e mãos tu juntasse
Unicamente pensando
Se minha vida infernizasse.
Nada se torna inferno
E pensei se cantasse
Modificaria o ambiente
E sei que também pensasse
Não como eu pensei
Mas na prova zerasse.
Não me amas hoje
E nunca me amasse
Sei das tuas tentações
Até que tentasse
Ser fiel ao instinto
Mas antes mesmo largasse.
Sei que pensas em mim
Desde que aqui entrasse
E eu aqui sofrendo tanto
Por tudo que pecasse
Caminhando por outras vias
A mim calada chegasse.
Já apelei por todo santo
E nenhum que me ajudasse
Sei que tens contigo amor
E no meu amor enfim parasse
As marcas de antigamente
Em mim tu fincasse.
Nos pecados que eu tenho
Tu sorrindo chorasse
Joguei pela janela alguns
Sem que nenhum ficasse
Não sei disso a razão
Se comigo cansasse.
Já cantei serenata chorando
E não tive quem reparasse
Amei muitas e fiquei bobão
E apenas ódio me passasse
Fui ao pai prestar queixa
Porque minha pessoa deixasse.
O inferno mora ao lado
Onde sempre relaxasse
Sei que a espera é longa
Mas por que não me amasse?
Se entendes o mundo
Nenhum só pra mim achasse.
A alma está em prantos
É como se a matasse
De tristeza e solidão
Porque quando me procurasse
Eu estava em caos
E aí só me rebaixasse.
Nunca me entendesse
Nem quando me pegasse
Eu tristonho de medo
E simplesmente me calasse
Calado fiquei ali no canto
Meu sonho inteiro rasgasse.
Quando se está sofrendo
Queremos apenas um passe
A cabeça gira de tédio
Porque tudo misturasse
Ela fica descontrolada
E foi isso que jurasse.
Meu coração tão fraco
Sei que realmente roubasse
Não quisestes competir
E de mim se livrasse
Como pássaro desgarrado
Não achei quem me encontrasse.
A lua que tanto amo
Consigo ela levasse
Fiquei perambulando no tempo
E nem isso de mim poupasse
Hoje amarguro na estrada
Sem pneu porque furasse.
Quero findar este cordel
Com uma enorme saudade
Somos muitos entre tantos
Onde canta a liberdade
Guarde consigo no âmago
Sua mais pura sinceridade.
FIM
João Pessoa-PB, 02 de agosto de 2000.