O LADRÃO NO CONGRESSO NACIONAL
No Aeroporto de Brasília
De paletó e jaquetão
Desembarcou naquele dia
Aquele famoso ladrão
Ninguém não desconfiou
Naquela dita ocasião.
De óculos escuros
Passeando no saguão
Esperava o momento
E só precisava de uma mão
Ele tinha muito dinheiro
E só vivia de aplicação.
Foi tomar um cafezinho
E depressa logo pagou
A moça que atendeu
Ele uma grana ofertou
A moça ficou babaca
Muito dinheiro ela ganhou.
Depois foi no banheiro
E o paletó ele ajeitou
Feito gente de outro mundo
Uma peruca ele botou
Ficou tão diferente
Nada aquele povo notou.
Voltou ao cafezinho
E tomou com pão francês
Um café sem açúcar
Em número de três
E deu um trocado à moça
Que lhe achou um bom freguês.
Sentou num grande banco
E começou logo com seis
Eram os jornais do dia
Que só falavam de leis
Neste dia ele leu tudo
Naquele banco dos reis.
Estava só preparando
Um plano bem arretado
Chegar como suplente
De qualquer deputado
Só precisava de outro igual
Pra logo ser orientado.
Deixou o Aeroporto
E saiu muito apressado
Foi em busca de um taxi
E na hora foi encontrado
Foi direto ao hotel
Onde estava hospedado.
O taxista quis saber
Que tinha naquele anel
Que brilhava feito ouro
Num colorido de mel
O homem falava pouco
Passando por bacharel.
O taxista bastante alegre
Disse ser um coronel
Ou algum empresário
Com passagem no quartel
Ou talvez, quem sabe
Inquilino de bordel.
Mas ficou calado ali
O motorista Pompeu
Esperando só a hora
Da fome que logo bateu
E foi dizendo pra si
Que podia ser um ateu.
Chegando ao hotel
O taxista agradeceu
Pela grana abençoada
Que aquele cabra deu
Uma grande quantidade
Foi o que ele recebeu.
Aquele cabra estranho
Um ladrão de gabarito
Era mesmo para todos
Um ser muito esquisito
Diziam que era parente
Daquele senador maldito.
Este senador que falo
Traficava periquito
Negociava no Equador
Na sua capital Quito
Até na Iugoslávia
Comprava o presidente Tito.
Aquele homem estranho
No hotel se hospedava
E todo mundo que via
Uma gorjeta deixava
Como ele era bom
Muita gente se alegrava.
Estava chegando o dia
Do que se planejava
Ele se passaria então
E ninguém lá esperava
Pelo suplente de deputado
Que naquela casa estava.
Por enquanto o ladrão
Ia fazendo bem ligeiro
Um plano que desse certo
No território brasileiro
Visto que este moço
Dizem que era estrangeiro.
Só digo com certeza
Que era um bandoleiro
Querendo fazer o mal
Com o político brasileiro
Eleito pelo povo
Que lhe toma como parceiro.
Ninguém pensava em revista
Naquele ser anormal
Que tinha pretensões
No Congresso Nacional
Dava rasteira e olé
Até na Polícia Federal.
Eu fico aqui pensando
E lendo este jornal
Como aquele ladrão
De forma infernal
Lançou até proposta
No salão paroquial.
Falei paroquial, porque
Lá só tinha religioso
Era o grupo que defendia
Um almoço saboroso
Na bandeja de todo pobre
Isto era delicioso.
Então aquele ladrão
Um tanto asqueroso
Comprou foi deputado
Com capital valoroso
Pra garantir sua investida
Num projeto tão seboso.
O ladrão usava tática
Era igual a militar
Se escondia de alguns
E pra outros ia dar
Um riso da sua face
Difícil de encontrar.
Ele tinha disfarce
Ninguém ousou contar
Bigodes e perucas
Ele tinha para botar
Mudava de cabeleira
Lente de contato no olhar.
O que fazia aquele homem
Querendo o local invadir
Tentando contra o pudor
E só querendo possuir
Riquezas e mais riquezas
O ladrão é este por vir?
O ladrão tão procurado
Sempre foi escapulir
Nunca visitou uma grade
Juro, não sei mentir
Este gatuno roubava
Mas tinha alguém pra dividir.
O grande dia estava chegando
Usava barba e bigode
A cabeleira irreconhecível
Com ele ninguém pode
Assim o bicho expressava:
- O povo comigo se fode!
Quando ele falava povo
A guitarra dava um acorde
O paletó e a gravata
Só usava quem era lorde
Na arte da sobrevivência
O cabra era mesmo um bode.
Ele saiu do hotel
E ninguém soube quem era
O destino foi o Congresso
Com aquele povo de vera
Votando nas propostas
E sendo aclamado de fera.
Colocou um bom perfume
Que ninguém nunca soubera
Que marca era a dele
Que hoje em Brasília impera
O cheiro dos indecentes
Que tanto dinheiro libera.
Chegou lá no Congresso
Num dia de votação
A proposta dos empresários
Contra a população
Entrou com suplente
E fez a destruição.
Votou contra a pobreza
E não teve reclamação
Comprou foi deputado
E haja tanta bajulação
O dia que Brasília botou
No Congresso um ladrão.
FIM
João Pessoa-PB, 02 de março de 2019.