O TROVADOR LOURO BRANCO - SEGUNDA PARTE
Oh, Deusa da minha imagem
Habita em mim inspiração
Faz qu`eu pense um pouco
No cordel a gratidão
De ter conhecido Louro
No poema de tesouro
No Repente da tradição.
Um galego esbelto
Na voz , delicadeza
E na viola que tocava
Verso de pura beleza
Louro Branco era poeta
No Repente tinha meta
De profunda grandeza.
Louro branco cearense
No repente era imbatível
Mastigava palavra sábia
Seu eterno combustível
Seu caminhar em disparada
Na vida um camarada
No desafio um invencível.
No festival de repentista
Louro Branco dominava
Suas cordas eram leis
Que todo mundo escutava
O poeta no desafio
Depois tome assobio
Era ele quem mandava.
O Ceará está de luto
Foi-se embora seu cantador
Garganta de aço e de fé
Meu eterno trovador
A cantoria ficou triste
Tristeza somente existe
Ficou, sim senhor!
As palavras de Louro
Pétalas que do céu caía
O mestre na viola
Era festa, era alegria
O terreiro todo animado
Louro sempre festejado
Tinha prazer na cantoria.
Povo por todo lado
Louro ele queria ver
Aplaudir cada tirada
Vinda do seu saber
Louro Branco enchia casa
Era quente feito brasa
Somente pelo prazer.
Pelo prazer de cantar
E ser bom no desafio
Era um suspiro constante
Que dá até arrepio
O toque do seu verso
Nunca foi constroverso
Alegrou nosso Brasil.
Um Brasil de cantador
Que Louro soube lidar
Aprendeu desde cedo
Como a gente agradar
O dicionário qu`ele usava
Somente ele abusava
Era preciso estudar.
Estudar pra conhecer
O segredo do repentista
Criador de tanta estória
Mais do que ilusionista
O seu linguajar marcou
Quem viu, dele gostou
A fama de ser artista.
Um artista comprometido
Com a cultura brasileira
Tirando versos populares
No repente dando rasteira
O canto de Louro Branco
Um intérprete mais que franco
Terminava na derradeira.
Como cerveja gelada
Nunca se encerra o pedido
O poeta traça os versos
É mote comprometido
Louro Branco foi a marca
Até no tempo da Comarca
Que marcou nosso sentido.
Um sentir de puro êxtase
Como palavra de bom pai
O cantar de Louro é vício
Que da gente nunca sai
Obrigado cantador
Você sempre foi possuidor
O melhor contigo vai.
Vai o agradecimento, poeta
Ser teu conterrâneo em vida
Galego de ouro da viola
O Ceará sente a partida
Mas a lembrança que fica
Cantador nenhum complica
Esta cicatriza a ferida.
O vazio que você deixou
Outro há de preencher
A viola ficou sem par
Logo o povo vai conhecer
Cada sextilha deste cordel
É feita pro Menestrel
O tempo não pode poder.
É Brasil, é Ceará
Seja em que tempo for
Cantaremos com Louro
Mendigo, que seja também doutor
A espera de cada repente
Na suavidade da mente
É saudade, é viola meu senhor!
Viva Louro Branco
Com sua voz reconhecida
No toque suave da viola
Ganhava toda corrida
No festival do repente
Louro Brando e potente
Só vitória permitida.
O cabra quando nasce
Vem de antena ligada
Feito Louro Branco
Essa voz arretada
Que cantou como sabiá
Num pé de jacarandá
Da gaiola libertada.
Liberdade não se faz
Liberdade se conquista
Como o canto de Louro
Na veia de repentista
É a moda nordestina
Que pro bem se destina
Que agrada ao sulista.
O Nordeste é o lugar
De grandes cantadores
Poetas e repentistas
Dançantes e aboiadores
Louro Branco tão gentil
Puxou água do seu cantil
Para dar pros trovadores.
Louro Branco simpatia
Na prosa grande senhor
No toque da viola
Palavra não tinha pudor
Arranhava sabedoria
Louro Branco é poesia
Era um bom condutor.
A plateia ao delírio
Aplauso a toda hora
A zoada era grande
Louro pegava a espora
Montava na sua égua
Pra ninguém dava trégua
Queria ele dá o fora.
Não encontrava cantador
Melhor era cantar sozinho
Ficou bravo certo dia
Com José Alves Sobrinho
Falando de Zé Limeira
Filho de uma parteira
Na festa de Passarinho.
Louro Branco era gente
De um grande coração
No batuque do seu cordel
Era a grande sensação
Morreu a bela criatura
Louro Branco é cultura
Foi triste a comoção.
Chora velho, chora menino
Na terra de Alencar
Humorismo é a arte
Não adianta explicar
Repentista como Louro
Inspiração pra calouro
Tá difícil encontrar.
Certo dia na peleja
Foi grande a confusão
Ninguém se entendia
Louro queria compaixão
Viajar com sua mala
No Repente que embala
Desbravar todo sertão.
Quando Louro Branco cantava
A pestana do povo não mexia
Cada verso improvisado
Era a grande a nostalgia
Um cantador como aquele
Só fico pensando nele
Tinha que aparecer um dia.
Gente de orelha em pé
Ouvindo atento as canções
Louro Branco na viola
Despertava grandes paixões
Histórias de vidas contadas
Louro Branco das noitadas
No berço das sensações.
O cearense sabe o valor
De Louro todo o seu canto
Agradava gregos e troianos
Do povo qualquer recanto
Tinha gente que dizia
Que de longe se ouvia:
- Louro na viola é santo.
Se aqui fosse contar
Das cantorias as vitórias
Era cordel que só a gota
Em cada um tantas histórias
Deste cantador nordestino
Que foi pra outro destino
O avivador de memórias.
Adeus grande Louro
O céu aberto te aclama
Cante como aqui cantou
Povo nenhum reclama
Adeus meu grande Mestre
Do plantar da horta silvestre
O Brasil inteiro te ama.
Findo mais um cordel
De Louro tentei falar
Para que este povo inteiro
Queira lhe popularizar
Obrigado caro leitor
Seja plebe ou feitor
Pela história se interessar.
FIM
João Pessoa-PB, 18 de janeiro de 2018.