TESTEMUNHO DO MANOEL DO ACORDEON

O Manoel do Acordeon

É hoje homenageado,

Forrozeiro de nossa história

Por aqui muito lembrado,

Quando me preparei

Pra ao seu Manoel ouvir,

Senti a sua simplicidade

Que contava tudo a sorrir.

Homem sábio de pouco estudo,

A tudo nos contou,

Lembrando dos detalhes

De nos relatar não hesitou:

Nasceu na década de 30,

Hoje tem 92 de idade,

De família de agricultor,

Com poucas oportunidades.

Junto aos seus irmãos,

Trabalhando de agricultor.

Pouco sabe das palavras

Porque nada estudou,

Seu pai sempre dizia:

"Menino não tem que estudá,

Pra ter comida na mesa

Tem mesmo é que labutá"

Até hoje seu Manoel

Agricultor ainda é,

Todo dia de bicicleta

Vai pra roça com fé.

Saúde de touro tem

O nosso homenageado,

Que trabalha sem medo

Seja dia quente ou gelado.

Nordestino que vem de lá

Do Rio Grande do Norte,

Nessa Várzea apareceu

Pra tentar a sua sorte,

Conta que quando aqui chegou,

Nessa terra do Sisal,

Por ela se apaixonou,

Deixando a terra natal.

Chegou à Várzea Nova

Com 29 de idade

E até hoje, meus amigos,

Não saiu dessa cidade.

Jovem paquerador,

Namorava as meninas,

Já foi de Marivete,

E também de Davina.

Nas festas não hesitava

De agarrar cinturas finas.

Eita caba danado,

De vida muito traquina!

E SUAS LEMBRANÇAS,

AH SUAS LEMBRANÇAS...

OLHE, MEU POVO,

DO JEITIM QUE SEU MANOEL ME CONTOU

VOU AGORA LHES FALAR

PORQUE MUDAR SUAS PLAVRAS

NENHUMA GRAÇA HÁ!

ARREPARE...

"Da minha primeira festa

Eu conto sorridente,

Fiz um forró para todos

De forma até caliente!

Mas veja só que maldade

Fez o casal organizador:

Dando uma de muito esperto,

Logo uma briga inventou.

Num é que os dois danado

Saíro se empurrando,

Xingando para todo lado,

E eu acabei me ferrando...

Nenhum tostão furado

Dessa festa recebi,

Era uma mixaria

Dois contos de reis por aí,

Ah que raiva fiquei

Desse povo caloteiro,

Mermo voltando a cobrá

Não recebi meu diêro!

Mas de cantar num desisti:

O finado Aderbá,

Junto com João Aureliano

Veio me convidá

Pra poder uma quadria

De doze passos marcá.

Eu ia muito contente

Pra galera animá.

MAS VEJA SÓ...

Eu tinha que acompanhar

Doze passos diferente,

Era um toque repitido,

Que duía o dedo da gente,

Até cãibra me dava

Do repetido muído,

Era muita alegria,

Mas confesso: era duído.

O coitado do Noé,

Que no triângulo ficava,

Dispois da quadria

Nium dedo funcionava"

Continuando nossa prosa

A ele eu vim a confessar:

Que a sua marca de cantor

É letra da música trocar.

Então seu Manoel,

Sorridente confidencia:

"Oh oh oh, mia fia,

Se eu trocava antes da pandemia

Imagine anos depois

Nos tempo de hoje em dia?!

ARREPARE SÓ QUE...

A flor de Luiz Gonzaga,

Cumida pela poluição,

Eu cantava pra todo mundo

Dizendo que foi o lião:

(Cantar)

CADÊ A FLOR QUE ESTAVA AQUI?/

O LIÃO COMEU/

O PEIXE QUE É DO MAR?/

O LIÃO COMEU/

E O VERDE ONDE É QUE ESTÁ?

O LIÃO COMEU/

NEM CHICO MENDES SOBREVIVEU..."

E ainda tem mais, meu povo:

A cidade de Moscou

Eu chamava de motô

Presta atenção, meu sinhô...

(Cantar)

ONTEM EU SONHEI QUE ESTAVA NO MOTÔ/

DANÇANDO PAGOTE RUSSO NA BOATE COSSACOU/

ONTEM EU SONHEI QUE ESTAVA NO MOTÔ/

DANÇANDO PAGOTE RUSSO NA BOATE COSSACOU...

O finado Zaqueu,

De lá da doceria,

Era quem muito sorria

Dessa minha cantoria.

Nas suas doces lembranças

Nos fala do Tiortina:

Bloco cheio de jovens

E também menino e menina.

Fala que muito lembra

Do finado Arlindo Pangaré

Que corria atrás do bloco,

Do lado da sua Mulher.

Quando era convidado

Para pro bloco cantar

Esquecia a letra da música

E no Tina vinha a enganchar:

É TIORTINA, TINA, TINA..."

Ah! Foi tão emocionante

Ouvir o seu Manoel,

Homem que muito merece

Dessa terra um troféu.

Aos noventa e dois

Veio a nos confidenciar:

"Sou feliz nessa vida, mas

Dos cem não quer passar.

Pra dos filhos e noras

Dominado não ficar,

Tenho filhos e netos,

Mas trabalho não quero dar."

E para terminar, meu povo,

Muita alegria me dá

De ver essa praça cheia

Pra o São João comemorar

E da vida do Manoel

Poder agora lhes contar,

Porque ele é patrimônio

Que devemos valorizar!

Autora: Adria Simone, junho de 2022.

Cordel produzido com base em entrevista feita ao seu Manoel, um verdadeiro patrimônio cultural da cidade de Várzea Nova.