O Vaqueiro e a Índia: uma paixão imortal
Nos sertões do meu Nordeste,
Lá nos idos de cinquenta,
Um vaqueiro destemido
E de alma sempre atenta,
Traz no peito um coração
Que ninguém nunca enfrenta.
Chapéu de couro, gibão,
Montado no seu cavalo,
Desbravava as terras secas,
Enfrentando cada estalo
De trovão que o céu mandava
E no chão, o mesmo embalo.
Mas foi nessas voltas
Que o destino quis brincar,
Nos limites da fazenda
Viu seu rumo tropeçar,
Quando os olhos de uma índia
Veio a lhe enfeitiçar.
Filha da tribo Potiguara,
Linda como a luz do dia,
Ela andava livre e leve
Com um jeito de magia,
Que encantou o vaqueiro
Numa doce sinfonia.
Ele, homem de coragem,
Costumado a lutar,
Se viu preso num silêncio
Que mal podia explicar,
Pois o amor que o tomava
Era forte como o mar.
Ela, com olhar sereno,
Viu no vaqueiro um irmão,
Mas o fogo do desejo
Tocou-lhe o coração,
E ali nasceu a chama
De uma grande paixão.
Porém, as terras de ambos
Separadas estavam,
O vaqueiro com os brancos
E a tribo que lutava,
Contra as cercas e os cercados
Que o gado dominava.
Mas o amor não vê fronteira,
Nem raça, cor ou valor,
E o vaqueiro com a índia
Se entregaram ao fervor,
Vivendo escondidos juntos
No sertão do interior.
Contra as regras da fazenda,
Contra o ódio e o rancor,
Eles firmaram a promessa
De jamais temer a dor,
Pois sabiam que o amor
Supera qualquer dissabor.
No sertão de sol escaldante
Onde o vento tudo leva,
Ficou a lenda guardada
Do amor que ninguém ceva,
Do vaqueiro e da índia
Que o tempo jamais leva.
Pois o amor, quando é verdadeiro,
Não conhece distinção,
Vence o medo e a incerteza
E faz florir o sertão,
Como prova que no peito
Só cabe a união.
E assim ficou na história
Os dois que o destino uniu,
A índia e o vaqueiro,
Que a ninguém jamais traiu,
Mostrando que o amor puro
Nem o tempo destruiu.