AS HISTÓRIAS DO BOI CAPÃO
Conte logo sua história
Deixe eu contar a minha
Me fale do Boi Capão
Freguês da Vaca Carminha
Me fale das aventuras
Que viveu com a Cosminha.
O boi capão da fazenda
Que meu papai criava
Matou o vaqueiro Biliu
Quando o bicho pastorava
Hoje a fazenda padece
Dum galo que cantava.
O galo Chico Lourival
Gostava assim de cantar
Mas vive ali no canto
Nunca sei como contar
A história tem cada uma
Que não dá para explicar.
O que fazer, eu já não sei
Explico, ninguém entende
Grito aos quatro cantos
Falo, ninguém compreende
Até mesmo este galo
Que canta e não se rende.
O galo que canta vai
Aos poucos dá gargalhadas
Ele se chama Chicão
repleto de palhaçadas
Chicão muito safado
Gostava das invernadas.
Meu pai Zuza muito triste
Sem saber que fazer
O Boi Capão já cansado
Quase não tinha prazer
Olhava por velho Zuza
Sem ter nada o que dizer.
Capão e Chicão saíram
Por uma vala distante
Em busca de confusão
Com o seu falar possante
Nem mesmo seus amigos
Levaram isso adiante.
O Boi Capão era valente
Naquele olhar traiçoeiro
Meteu o chifre num moço
Ao passar no estradeiro
Causando tanta revolta
Naquele grande berreiro.
O vaqueiro Zé Pião
É danado pra mentir
Me falou tanta mentira
Que não posso consentir
Me falou do Boi Capão
Que lhe fez pra ressentir.
O Boi Capão da Fazenda
Não gosta de boiadeiro
Já matou um marchante
Que tentou ser vaqueiro
Boi Capão revolucionou
O jeito de ser brigueiro.
O Boi Capão era devoto
Duma cantiga de roda
Parava em qualquer esquina
Só pra ouvir essa moda
Principalmente nas esquinas
Do velho Tavares Doda.
Boi Capão ficou com mágoa
Por causa da vaca Faísca
Saiu numa disparada
E quem é que se arrisca
Dizer o que foi que houve
Nas bandas de Passifica.
Diziam que era encantado
Que Capão não era normal
Um boi forte, amaldiçoado
Com destino sobrenatural
Nas noites sem lua, ele ia
Trazendo consigo a agonia.
Os vaqueiros faziam prece
Sempre ao sair pra caçada
Se o Boi Capão aparecesse
A luta seria arriscada.
Ninguém queria arriscar,
De frente com ele lutar.
O vento soprava distante
Levando seu mugido feroz
No campo, era impressionante
Parecia mil vozes, uma só
Seu furor causava abalo
Até a terra tremia no intervalo.
Capão, mesmo sendo terrível
Tinha algo de protetor
Aos fracos, era invisível
Por vezes, mostrava favor
Mas quando a raiva explodia
Tudo em volta sucumbia.
Homens traziam armadilhas
Tentando o boi capturar
Com laços, ganchos e trilhas
Mas era tudo em vão lutar
Capão sempre se safava
Como se risse da emboscada.
Seus olhos vermelhos de brasa
Brilhavam na escuridão
Cada chifre, uma ameaça
Impondo o medo ao sertão
A força que ele emanava
Ninguém mais enfrentava.
Capão cruzou rios, desertos
Caminhou por serras e vales
Deixando rastros incertos
E histórias que ecoam nos males
Por onde passou, a lenda cresceu
E até o mais bravo cedeu.
O tempo no sertão passou
Mas o nome ficou marcado
Todo vaqueiro que ousou
Contava ter sido derrotado
Capão era invencível
Uma força inatingível.
Os mais velhos ainda diziam
Que um dia ele voltaria
Que seu espírito ainda vivia
Entre as sombras da ventania
E cada relâmpago no céu
Era Capão, o fiel cruel.
Em noites de tempestade
Seus passos podiam escutar
Ecoando pela vastidade
Do sertão sem fim, a rondar
A terra tremia de medo
De seu invisível enredo.
A voz do povo profetizava
Que Capão não teve fim
Sua alma jamais descansava
Vagava num eterno motim
E quem ousar mencionar
Deve logo se calar.
Alguns juram ter avistado
Nas noites de luar pleno
O vulto do boi encantado
Passando no campo sereno
E o medo que ele deixava
Ainda no vento vagava.
Os vaqueiros que sobraram
Trazem no rosto a lembrança
Dos que nunca voltaram
Dessa batalha sem esperança
O nome de Capão, tão temido
Pelo sertão foi consumido.
Mas há quem diga, no sertão
Que sua história persiste
Que nas noites de escuridão
O Boi Capão ainda existe
Entre trovões e trovadas
Sua alma está nas quebradas.
Capão era fera e aliado
Dependendo da ocasião
Se o encontrasse acalmado
Ele te estendia a mão
Mas no furor da sua ira
Só a destruição se vira.
Certa vez, em plena festa,
Capão foi visto passar
Deixou todos em alerta
Ninguém ousava respirar
Seu semblante altivo e forte
Trouxe consigo o corte.
Do vaqueiro Biliu falavam
Que foi o mais destemido
Com coragem todos olhavam
Mas o boi o havia vencido
E mesmo após tanto tempo
Sua história é um lamento.
Hoje, quem cruza as estradas
Ouvi rumores de terror
Capão segue nas madrugadas
Um boi de força e furor
E no sertão, o vento traz
A lenda que jamais se desfaz.
Assim termina essa história,
Do boi que o sertão marcou.
Com valentia e muita glória,
Sua fama se espalhou.
Capão, um boi sem igual,
É uma lenda imortal.
O Boi Capão, feroz e forte
No sertão fez sua história
Valente, enfrentava a morte
Com chifres, buscava a glória
Dizem que o diabo o guiava
Por onde ia, a dor ficava.
De porte largo, peito erguido
Capão não temia ninguém
O vaqueiro Biliu, decidido
Tentou domá-lo também
Mas, o encontro foi fatal
Biliu tombou no final.
Muitos bois e feras caíram
Sob o seu ímpeto cruel
Animais no campo fugiram
Dele só restava o fel
No gado, espalhava terror
Era Capão, o destruidor.
Nas noites de lua brilhante
Diziam que ele rondava
Sua sombra imponente e errante
No campo escuro assustava
Odiado e também temido
Seu rastro era sempre seguido.
Mas Capão também ajudava
Quando o perigo rondava
Se a fazenda sofria ataque
Ele sempre ali estava
No fundo, havia bondade
Mas escondida em crueldade.
Homens corriam de medo,
Ao avistar sua figura
Capão, com seu passo enredo
Trazia a morte e a loucura
Ninguém ousava enfrentar
Quem tentasse, ia tombar.
Seu couro, duro e espesso
Parecia feito de ferro
Quem ousava ir ao endereço
Logo entrava no desespero
Os vaqueiros, de longe, olhavam
Sabendo que ali não chegavam.
Nas quebradas do sertão
Onde o vento faz gemer
O nome do Boi Capão
Faz até a lua tremer
Era bicho danado demais
Muitos não voltaram jamais.
Conta-se que numa tarde
Capão cruzou o caminho
De Biliu, que sem alarde
Tentou domar o daninho
Mas, um só golpe bastou
E Biliu no chão ficou.
Assim seguiu sua jornada
Capão de alma arredia
Deixando a terra marcada
Com sangue e agonia
Não havia bicho ou cristão
Que escapasse do Boi Capão.
Na vila, o povo temia
O rastro que as patas deixavam
Mas, à noite, quem ouvia
Suas passadas contavam
Era um mistério sem fim
As visões de Capão vagavam.
Mesmo os mais destemidos
Tremiam ao vê-lo chegar
Pois seus golpes incontidos
Eram de força sem par
O campo em silêncio ficava
Quando ele se aproximava.
Assim se firmou seu reinado
Nos campos de seca e sertão
Com um passo firme e pesado
Seguia sua missão
E quem tentava o deter
Só encontrava o perecer.
A fama do boi se espalhou
Pelo sertão nordestino
Todo o povo o respeitou
Temendo seu destino
Pois, com Capão no encalço
Era certo o sobressalto.
Por fim, dizem que o boi sumiu
Como chegou, partiu só
Ninguém viu como ele partiu
No sertão ficou seu pó
Mas, até hoje, o povo conta
Do Boi Capão, a lenda ronda.
FIM
João Pessoa-PB, 03 de maio de 2023.