A VISITA DA MORTE
Quem és tu, MORTE?
Queres tirar-me a sorte
batendo hoje à minha porta?
O que queres é ver-me morta?
Não avisastes que vinha
e hoje estou tão sozinha!
Eu nem sequer te conheço.
Também não te tenho apreço.
Não sequei a água da chuva
pois não achei minha luva.
Não preparei o chá da tarde
ao ver o quão sou covarde!
E para te receber não tenho nem um colchão...
Só o frio em meu coração
de um gelo que até arde.
Mas entra ...
Não precisa ter cuidado.
Senta-te aqui ao meu lado
E vamos só conversar
Há tempos não tenho companhia
E muito menos alegria
só me restando o penar.
E acabo de descobrir
que desde ontem ao dormir
desejo tua visita
pois sou só um parasita
sem desejo de viver.
O vento sopra lá fora
cortante como a espora
que faz o equino sofrer.
Mas afinal , o queres de mim?
Eu só desejo o fim
dessa dor que é tão cruel!
Mas...espera
Agora vejo em teus olhos
como a água dos abrolhos.
que teu olhar é puro fel.
Sei o que queres ...
Queres meus sonhos roubar.
E eu já nem quero sonhar.
Junto a eles
leva também a tristeza
Pois minha única certeza
é que vou te acompanhar.
Agora te senta,
na minha conversa atenta
um bolo vou preparar.
Precisamos para a viagem
pois a fome provoca miragem vamos então descansar.
Amanhã será um novo dia
E farei minha última poesia.
Vou preparar -te um colchão.
Esperaremos então.
Por Deus, não me desaponte!
E quando o sol levantar
de mãos dadas vamos andar
Rumo a um novo horizonte.