O PREFÁCIO DO CORDEL

Mil Novecentos e Oitenta

E Nove, lembro do ano

O elenco do Prefácio

Já fazia tanto plano

Fazer algo diferente

Pra não colher desengano.

Um grupo de estudantes

Do Ensino Superior

Resolveram se juntar

Sem pensar no exterior

Montar Augusto dos Anjos

Em data posterior.

O nosso Grupo Prefácio

Respeitou nossos valores

Selecionou os poemas

Para nós, os construtores

Brincar de fazer teatro

Nas questões dos dissabores.

Augusto dos Anjos é

O poeta melancólico

Serviu de inspiração

No nosso vício bucólico

O importante foi fazer

Tanto verso estrambólico.

Pois bem, preste atenção

Que agora vai começar

A história desse grupo

Que fez a gente dançar

Grande grupo de poetas

Que nós vamos abraçar.

Prefácio deu tanta história

Augusto e Pedro Osmar

Prefaciando e encenando

Pra tudo se sublimar

Nesse Sentido Contrário

Vamos juntos pra remar.

Solidão em Quatro Vias

Da obra de João Cabral

Aqueles Três Mal-Amados

Da cidade de Sobral

O Prefácio produzindo

Pro público cerebral.

Os poetas e os atores

O Grupo se fortificou

Estudos e mais estudos

O Grupo de prontificou

Se preparar pra Arte

O cenário se modificou.

Dos palcos tradicionais

Nunca tivemos mistério

Nós todos sem ter vontade

Perpassando o mistério

Naquelas reuniões sempre

Falávamos de cemitério.

Um lugar bem ideal

Pra gente se apresentar

Romper com as barreiras

Do ato representar

O Campo Santo Sagrado

Que nós vamos comentar.

Tanta gente com garra

Na reunião de Setembro

Levarmos pro cemitério

Naquele mês de Dezembro

Numa data programada

Poderia ser em Novembro.

Os ensaios acontecendo

E todo elenco antenado

Para uma apresentação

No Campo Santo Sagrado

Em Novembro decidido

Foi no Dia de Finado.

Um caixão fazia parte

Dessa nossa encenação

Dentro dela uma atriz

Que teve preparação

De saber seu compromisso

Mesmo na contradição.

Com tinta branca na cara

Como se fosse a morte

Vestida toda de branco

Sem pensar que desse sorte

Atores trajando preto

Atrás davam o suporte.

Num canto gregoriano

Um enterro popular

Diferente de todos outros

Fomos logo veicular

Meios de Comunicação

Pro teatro não se calar.

Nesse canto medieval

O enterro caminhando

Pelas portas do lugar

Fomos se apresentando

Atores e atrizes sérios

Numa tuia se juntando.

O cemitério lotado

Naquele famoso dia

Roupa preta levando

No caixão tanta poesia

Batendo num grande sino

Era somente alegria.

O visitante dos mortos

Ficou sem nada entender

Olhando pra todo lado

Nem tentou compreender

Ouviu um sino batendo

Pela estética quis se render.

Esteticamente fácil

Na visão dos deprimidos

Augusto dos Anjos vem

Com seus versos consumidos

O grupo todo cantando

Num linguajar sem sentidos.

O caixão se aproximando

Curiosos em cima das cruzes

Choravam pelos que morrem

No acender daquelas luzes

Campo Santo Iluminado

Elenco tira os capuzes.

Todo rosto em maquiagem

Os versos são interpretados

Poemas do nobre Augusto

Por pessoas são recitados

O palco se preparando

Pra pagar todos os pecados.

Nas badaladas do sino

O clima está fervendo

Curiosos perguntavam

- O que está acontecendo?

É um grupo de pessoas

Que trazem gente morrendo.

E assim segue o compasso

No Senhor da Boa Sentença

Naquele Dia de Finados

Motivo de tanta crença

O povo querendo ver

Os atores pedem licença.

Começava o tumulto

O povo dando puxão

Deixando aquele cortejo

Numa grata compaixão

Para descobrir o morto

Dentro daquele caixão.

O lugar ficou pequeno

Para as curiosidades

Quem vinha perto queria

Saber daquelas verdades

Um enterro tão diferente

No sabor das liberdades.

De repente aquele povo

Que Cristão nenhum suporta

Queria como se fosse

No caixão bater a porta

Saber se estava dentro

Qual o morto, qual a morta.

Tudo quase está calmo

Nas catacumbas do centro

Quando repentinamente

Surge um cheiro de coentro

A mulher quase dois metros

Dá um pulo lá de dentro.

Pessoas desesperadas

Caindo por toda parte

Seguem quebrando as cruzes

Pensando estarem em Marte

Quando na frente descobrem

Um sepultamento de arte.

Num total desespero vem

Gente de falsa moral

Pedindo perdão a Jesus

Dizendo ser imoral

Pessoas brincando com morte

Não pode ser coisa normal.

O Prefácio recolheu

Todo aquele cenário

No Senhor da Boa Sentença

Resolveu seu escapulário

Foi reviver com os mortos

O seu frio aniversário.

Familiares chorando

Revivendo toda cena

Dizendo que toda morte

Não se poderá ter pena

Viver e também morrer

O teatro também encena.

Nesse Cordel Brasileiro

O Prefácio quis oratória

Dentro da Universidade

Nós guardamos a memória

Nos fins dos anos oitenta

Somos parte da história.

FIM

João Pessoa-PB, 23 de setembro de 2024.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 23/09/2024
Reeditado em 23/09/2024
Código do texto: T8158288
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