A BRIGA DO HOMEM QUE DORMIA NU COM O MOSQUITO PERIVALDO
Minha Santa, Mãe de Deus
Amiga dos escritores
Louva-me de todos males
Dar saúde e tira as dores
Eu só quero conseguir
Pular todos meus temores.
A história que vou contar
É folclore do sertão
Onde lá tudo acontece
Numa grande escuridão
Eu quero continuar
Essa tal inspiração.
No sertão de Canindé
Bem perto de Cabrobó
João Pedro de Albuquerque
Só dormia nu, e o pior
Não bastou reclamação
Fedia o seu feofó.
Na tamanha fedentina
O mosquito foi pousar
Revolveu por conta própria
Nesse local habitar
Desespero do João
Que nem sabia explicar
O mosquito Perivaldo
Era nome de batismo
Gostava de tantos bilros
Fazendo malabarismo
Coitadinho do homem nu
Só se ouvia seus suspiros.
Perivaldo lá pousando
E o homem ali sossegado
Aquele mosquito chato
Cada vez mais penetrado
Voa por cima das nádegas
Num banho bem arretado.
A mulher desse João
Um certo dia falou:
- Meu marido, veste a roupa
Cadê o teu cobertor?
Se isto for acontecer
Não venha falar de horror!
A ladainha sempre foi essa
Da sua esposa Candinha
Avisava pro marido
Ao entrar duma noitinha
O cabra dormia nu
E dava espreguiçadinha.
Sá Candinha, sertaneja
Experiência e saber
João, caboclo corado
Só dormia por prazer
Trabalhando todo o dia
Naquele belo viver.
Ele carrega um defeito
Nunca dorme de pijama
Pior disso tudo é
Ele ir sempre para cama
Sem nenhum banho tomar
E inda por cima reclama:
- O danado de um mosquito
Faz a zorra a noite inteira
Se eu pegar este cabrinha
Dou-lhe tamanha rasteira
Falo de verdade, sim
Não gosto de brincadeira.
A filha de Seu João
Mora pras bandas do Sul
E quando soube que o pai
Dormia de noite nu
Foi ligeirinha falando:
- Pensa que é cururu?
A mãe lhe repreendeu
Ao ouvir ela dizendo
Interrompe bem ali
E quis ir se recolhendo
Sua filha sentia algo
Por isto foi se metendo.
Escutando o telefone
Foi grande sua ladainha
Dum lado, filha confusa
Do outro, triste a Sá Candinha
João sequer imagina
Que houve na sua casinha.
Se pelo menos sonhasse
Que havia tanto clamor
O mínimo que podia
Era ficar feito ator
Diria poucas e boas
Porque de nada gostou.
Só sei dizer que nessa onda
Tanto aconselhamento
Foi ficando mais difícil
Não tendo melhoramento
O mosquito e Seu João
É frase só de lamento.
Certa noite disseram
Que João depois da ceia
No seu armário foi tirar
Um cinturão bom de peia
Pra dar fim a Perivaldo
Acertando bem na veia.
Não teve jeito que desse
O João a luta ganhar
Perivaldo bem no fundo
Não queria se ausentar
O velho nem pressentia
Se sim, não ousou falar.
Esse infeliz Perivaldo
Por maldade do destino
Levou foi surra das grandes
Que chorou feito um menino
Pulou daquele recanto
Que chamava fedentino.
Oh! Que mosquito encrenqueiro
Um amante de buraco
Triste do pobre homem nu
Que não passava de um fraco
Perivaldo era danado
No jogo do esconde saco.
É Perivaldo assassino
Dessas noites mal dormidas
Na limitação enrugada
Tem as pernas encolhidas
Dos homens, que mesmo nus
Botam cremes formicidas.
Nunca se deu por vencido
O Mosquito Perivaldo
Saindo daquele lugar
Fez inda mais de malvado
Se meteu nesse orifício
E logo ficou cravado.
Esse pobre homem sofrendo
Não havia nenhum remédio
O mosquito só queria
Era lhe matar de tédio
E gritava para o mundo:
- Fui vítima de assédio.
A briga durou bastante
E não houve ali vencedor
Saiu contente o mosquito
Porque o homem nunca pegou
Esta história faz bom tempo
Foi minha vó que deixou.
A minha vó tem cada uma
Que enche muito baú
Mas essa, desse mosquito
Igualzinho a um urubu
Era a melhor que se ouvia
Contada de Norte a Sul.
Perivaldo, a vó dizia:
- Um mosquito tão encantado
Quem pegasse na cabeça
Teria logo enricado
Infeliz pobre homem nu
No dormir foi maltratado.
Eu cá comigo pensava
Se Perivaldo é vivo
Minha vovó diz que sim
Usando do seu olho ativo
Pois, por onde ele passava
Mergulhar é permissivo.
Eu começava a entender
Esse Homem Nu dessa história
O espaço mais sagrado
Para Perivaldo a glória
E minha vovó dizia:
- Guarde bem essa memória!
Antes de chegar no fim
Vejam o que aconteceu
João Pedro de Albuquerque
Com furico que foi seu
De tanto dormir sem peça
Dizem: - O bicho morreu!
Oh! Minha Santa Divina
Que me dá inspiração
Recordar velhas histórias
Dentro do meu coração
Minha vó foi minha fonte
Eu conto com gratidão.
Eu chego já no final
Dessa briga de poder
Nunca queira dormir nu
Para isto não acontecer
Se Perivaldo picar
Tu podes até morrer!
Obrigado minha vó
Por tudo que me contou
Guardo sempre na lembrança
O pouquinho que restou
Assim eu sigo adiante
O cordel já se esgotou.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de janeiro de 1999.