ALFREDO E AURORA
Conta uma lenda antiga
Dos tempos de outrora
O romance meio louco
De Alfredo e Aurora
Lá das Minas Gerais
Na cidade de Pirapora.
Alfredo era alfaiate
E falava bem devagar
Sua voz era bem baixa
Que precisava aumentar
Sua estatura mediana
Só sabia costurar.
Aurora era beata
Da Igreja da Conceição
Toda noite ela ia
Executar sua devoção
De volta para casa
Era grande a confusão.
Alfredo não aceitava
Aquele seu compromisso
De chegar sempre atrasada
Na hora do rebuliço
Deixando o pobre de Alfredo
Puto com tudo isso.
Aurora tinha uma Bílblia
E com ela sempre estava
Qualquer dúvida sobre a vida
Ela um versículo mostrava
Dizendo àquele povo
Que Jesus castigava.
Alfredo ficava triste
E nada podia fazer
Porque Aurora sabia
Tudo aquilo resolver
Brigava com o marido
E não lhe dava prazer.
Aurora um dia chegou
Em plena noite de lua
Quando avistou o marido
Estava ali quase nua
E foi maltratada na hora
Com o nome de perua.
Alfredo com certa idade
Nada daquilo entendia
Ao olhar a sua mulher
Lhe veio na mente Maria
O seu primeiro amor
Que tão cedo acabaria.
Aurora fazia tudo
Contrário ao seu marido
Falava com a vizinhança
E com o povo desconhecido
Deixando o pobre de Alfredo
Num canto entristecido.
Alfredo não aguentava
Toda aquela situação
Mas não tinha palavra
Que não fosse o coração
Falava muito baixinho
Sem nenhuma compreensão.
Aurora era a beata
Mais bem conceituada
Não era muito bonita
Mas era bem apimentada
Tinha o olhar de tigre
Por isto bem paquerada.
Alfredo quando acordava
Fazia um gostoso café
Acordava Aurora
A sua linda mulher
Que passou a noite toda
Nele dando olé.
Aurora naquela igreja
Muito desejo ela tinha
Até mesmo o padre Soares
Lhe comparou a uma galinha
Devido a seus ciscados
Perto de uma linha.
Alfredo pouco sabia
Das fofocas da cidade
Confiava na sua Aurora
Apesar da falsidade
Vivia provando roupa
De toda sociedade.
Aurora só tinha olhos
Voltados para a beleza
Se ajeitava todinha
Só pensando em riqueza
Estava arrependida
Vivendo naquela pobreza.
Alfredo era considerado
Costureiro de qualidade
Sabia fazer uma calça
Na maior tranquilidade
Era reservado na dele
Ao invés da liberdade.
Aurora era liberta
Das garras sociais
Se pintava todinha
E queria sempre mais
Quando de repente
Surgia um belo rapaz.
Alfredo quando soube
Foi falando para Aurora
Que tivesse cuidado
E que fosse dá o fora
Naquele paquerador
Que nunca foi embora.
Aurora chamou Joaquim
E com ele fez um trato
Toda vez que era culto
Acontecia aquele fato
Até faziam o serviço
Dentro daquele mato.
Alfredo tão inocente
Ao rapaz deu guarida
Botou ele na casa
E cuidou de sua vida
Joaquim era um canalha
Igual a uma ferida.
Aurora tão indecente
Fez daquilo a traição
Fazia ali mesmo na cama
Em qualquer ocasião
Não respeitava Alfredo
Que vivia na solidão.
Alfredo tão solitário
Sofria muito calado
Perdeu de vez a voz
E ficou bem encostado
Deixou de costurar
Ficou muito desmantelado.
Aurora com seu Joaquim
Tramavam matar Alfredo
Mas Joaquim deixou
Por ter ficado com medo
Mas guardou a sete chaves
Aquele grande segredo.
Alfredo vivendo em casa
Lhe faltava dinheiro
A mulher com o Joaquim
Bagunçavam o galinheiro
Se trancavam no quarto
Durante o dia inteiro.
Aurora continuava
O padre Soares ajudar
Naquela missa dominical
O vinho iria tomar
Com a hóstia sagrada
Foram se embriagar.
Alfredo então ficou
Com pena do Joaquim
Que ficou ali tão triste
Dizendo que foi ruim
Que Alfredo livrasse ele
Da peste de Caim.
Aurora e aquele padre
Fizeram o que não podiam
Beberam todo o vinho
E ninguém eles viam
Caminharam pela cidade
E várias vozes assobiam.
Alfredo já com cuidado
Em Aurora ele pensava
Ao lado do jovem Joaquim
Aos poucos se desesperava
Joaquim coberto de raiva
O ódio lhe contaminava.
Aurora e o padre Soares
Chegavam na residência
Havia um grande silêncio
Em toda aquela consciência
Alfredo já não entendia
A total maledicência.
Alfredo vendo aquilo
Foi pedir explicação
O padre Soares sorrindo
Pediu da mulher a mão
Joaquim tão furioso
Empurrou aquele facão.
Aurora vendo o sangue
Que na casa escorria
Gritava pelo demônio
E Joaquim lhe mataria
Com aquele mesmo facão
Que o corpo não aguentaria.
Alfredo queria gritar
Mas de nada adiantou
Gritar aquele alfaiate
Até que ele tentou
Mas perdeu de vez a voz
E com o lençol se matou.
Joaquim ficava só
E na rua foi jogado
E depois de meia hora
Ele foi atropelado
Pelo carro do sacristão
Que vinha desembestado.
Jeremias desceu do carro
E descobriu o adultério
Viu Joaquim ali sem vida
E não levou aquilo a sério
No outro dia a cidade
Estava toda no cemitério.
Roberval o grande prefeito
Ficou muito horrorizado
Mandou a banda de música
Tocar um lindo dobrado
Em louvor a Alfredo
Um alfaiate arretado.
O cemitério ficou triste
Naquele sepultamento
Daquelas quatro pessoas
Num maléfico acontecimento
Levando a população
No mais terrível sofrimento.
A Igreja da Conceição
Mandou a sua coroa
Ofertada a pobre alma
Que veio numa canoa
Trazido lá das distantes
Paisagens das garoas.
O Clube de Alfaiate
Perdia o seu presidente
Deixava a sua coroa
Entregue numa corrente
E a Joaquim só lhe sobrou
Sangue que escorreu do batente.
A beata chamada Aurora
Duas coroas, ela recebeu
Uma do clube das putas
Dizem que isto se deu
Naquele campo santo
Mais uma pessoa morreu.
Morreu o tal Jeremias
Que era o sacristão
Ao ver o padre enterrado
Explodiu seu coração
Deixando de olho aberto
Toda aquela população.
A cidade de Pirapora
Guarda bem esta história
Contada pelo Cordel
Do filho da Mãe Vitória
Que guarda suavemente
Nos versos desta memória.
FIM
João Pessoa-PB, 19 de junho de 2019.