RAPARIGA DE CEGO

A enfermeira Maria Sales

Era profissional polivalente

Nascida em Portugal

Lá cuidou de muita gente

Era uma moça prendada

Falava tão gentilmente.

Certo dia lá em Coimbra

Foi cuidar de um demente

Quase volta sem vida

Ao lidar com o doente

Mas ela não ligava

Tudo era procedente.

A fome e a peste

Chegaram assim de repente

Portugal vivia em apuros

E a moça automaticamente

Cuidou dessas doenças

No tempo de antigamente.

A enfermeira Maria

Cuidava de um tenente

A guerra se alastrava

E matava muita patente

Portugal inteiro sofria

Morria-se ansiosamente.

O hospital do lugar

Era um local tão comovente

Ela não contendo as lágrimas

Sorria tão tristemente

O governo da coroa

Da Europa era dependente.

A enfermeira portuguesa

Trabalhadora excelente

Como uma profissional

Das outras era diferente

Ajudava pobres e ricos

Sempre alegre e contente.

Os rapazes de Coimbra

A chamavam de competente

A rapariga tão jovem

Os ouvia decentemente

Mudos e surdos ela cuidava

De todo povo carente.

Chegaram cegos à cidade

Ela cuidou amavelmente

Desse dia em diante

Um apelido era consequente

Rapariga de Cego

Estava escrito no batente.

A rapariga era pessoa

Que falava docilmente

Não reclamava da vida

O seu pulso era valente

Um dia um cego soldado

Gritou seu nome poeticamente.

A enfermeira não conteve

O ato daquele indigente

Na guerra tinha lutado

Como um subserviente

Tinha ficado cego

E perdido muito dente.

Maria Sales era uma rapariga

Nas terras do sol vivente

Lidou com um bocado

De político intransigente

O Rei de Portugal condecorou

Madre Maria eternamente.

Os cegos de nascença

Os que perderam literalmente

Era a maioria do povo

Que ela cuidava integralmente

Era esse povo sem vista

Que a amava loucamente.

O hospital dentro da guerra

De ar bastante quente

Tinha cego pra todo lado

Mas o amor era eficiente

Não importava o tamanho

Tudo era feito delicadamente.

A Rapariga de Cego formosa

Sarou muito combatente

Às vezes a visão dos homens

A deixava amargamente

Mas a rapariga não se intimidava

O bem lhe era pertencente.

O feminino de rapaz

É rapariga do termo proveniente

O cego entrou na sua vida

Quase que acidentalmente

A chamar por este nome

Nomenclatura tão facilmente.

Os cegos de Portugal

Da guerra independente

Tinham em Maria Sales

Um amor estrondosamente

Ela era mais que uma rainha

Do rei amargo e prepotente.

A enfermeira de cego

Uma rapariga quase adolescente

No rosto uma delicadeza jovial

Que sumia assim tão vagamente

Como um piscar de um olho

No amor que se consente.

A rapariga Maria Sales

De belezura infinitamente

Tinha pureza nos atos

E seu olhar era envolvente

Contemplava jovens e velhos

O cego mais especificamente.

Portugal vivia perdido

E não se passava rapidamente

Demorava no caminho

E tudo doentio era decorrente

Do mau governo que ali pairava

E nada no tempo ia pra frente.

Um governo que se instala

E o pior vem sucessivamente

Não podia deixar a crise

Viver erroneamente

Tudo naquele tempo

Era tipo inconsequente.

Vivia Maria Sales

Neste amplo ambiente

Cuidando de cegos e outros

Com salário indecente

Uma profissional exemplar

De um lar beneficente.

Os cegos de Portugal

Sentiam Maria mais que presente

Sabiam que podiam contar

Com a força onipresente

Viam em Maria seu mundo

Nas previsões de um vidente.

Rapariga de Cego é o nome

Da enfermeira merecidamente

O deficiente visual sabe

De tudo previamente

Sabe que o cordel tudo pode

Mas não deve ser indiferente.

Aqui chego ao final

Assino como remetente

A enfermeira portuguesa

Nunca foi excludente

Vivia em função do humano

Curando ferida de serpente.

F I M

João Pessoa-PB, 02 de fevereiro de 2000

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 16/09/2024
Reeditado em 16/09/2024
Código do texto: T8153260
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