A PATROA

Conta uma história antiga

De muito tempo atrás

Havia no interior da Paraíba

Um famoso capataz

Filho de um coronel

E era devoto de satanás.

Sua mulher Leopoldina

De fibra forte e valente

Casou-se com o capataz

E assim que de repente

Não podia ter filho

Seu sonho de antigamente.

O capataz era apenas

O apelido do major Bonifácio

Queria ser pai na ocasião

E foi até ao Pai Anastácio

Um catimbozeiro bondoso

Das terras de Epitácio.

Ao chegar no terreiro

O capataz Bonifácio major

Não sabia o que fazer

E pensava no pior

Queria abençoar um herdeiro

E do rosto caía suor.

Suava a todo instante

E nada do catimbozeiro

Resolveu por conta própria

Fazer o papel de trambiqueiro

Pegou uma aguardente

E saiu pelo terreiro.

Implorava para satanás

E nada de resposta

Uma fumaça estranha

Surge em forma de bosta

E vai logo falando

Queria com o major uma aposta.

O diabo queria era o seguinte

Dar um filho maldito ao casal

E o major não gostou

E se pegou com todo mal

Aí a fumaça estranha

Começou a meter o pau.

Batia no major com força

E este apenas gritava

Cada grito que o major ouvia

Não era o que ele dava

Era um grito das profundezas

Que no terreiro emanava.

A segunda aposta colocada

Não tinha o menor cabimento

O diabo queria apenas

Que o major fosse um jumento

Berrasse em cada esquina

Para não ter sofrimento.

O tempo se passava

E nada de solução

O capataz pulava sozinho

E fraquejava o coração

Não tinha ninguém na sala

A briga do diabo com o cão.

O Pai Anastácio chega

E percebe aquela patifaria

O major sozinho gritava

E era grande a agonia

O catimbozeiro não viu

Nada para tanta alegria.

O major ao notar a presença

Do Pai Anastácio em cena

Baixou a cabeça em devoção

E esse era o lema

Fedia igual a um gambá

Era de dar tremenda pena.

Pai Anastácio então

Perguntou ao seu famoso cliente

O que o levou ao terreiro

E lhe fez beber tanta aguardente

E que mau cheiro era aquele

Que sentia ali na frente.

O major então contou

O que tinha ocorrido

Falou de um tal de diabo

Que era intrometido

Queria fazer aposta

E sumiu assim sem sentido.

E assim continua a história

E Bonifácio prestando atenção

Falou que a fedentina

Era do arrependimento do coração

E que não podia ser pai

E de nem mais uma criação.

Continuou o discurso

E o Pai só de orelha em pé

Disse que queria um herdeiro

Com amor e muita fé

Aí o catimbozeiro soltou essa:

- “Um filho igual a Pelé”!

O major não gostou

E assim chegou ao final

Queria um herdeiro macho

Pra tomar conta do hospital

Já estava ficando velho

E aquilo era muito mal.

O Pai Bonifácio então

Disse: “Se conforme amigo”

E o major disse querer um trabalho

Assim sem muito perigo

Encruzilhada tinha aos montes

E não queria aquele castigo.

O catimbozeiro era bom

E não cobrou a consulta

Disse ao major com toda letra

Que não enfrentasse essa luta

As coisas que Deus escreve

Não quer o homem em disputa.

O major foi ao banheiro

E tirou toda a fedentina

E a fumaça de bosta

Era explosão de mina

Um fedor infernal

Que a tudo contamina.

O major pensava bastante

Naquilo que participou

Queria tanto ser pai

Mas a vontade passou

Daquele momento em diante

À esposa daria amor.

A esposa do major sofria

Mas aguentava o sofrimento

Sofria por não poder dar

Um bonito rebento

E assim cuidava das coisas

Para esquecer esse lamento.

Ao chegar em casa o capataz

Beijou ardentemente a mulher

E esta feliz pela acolhida

Rezou em nome da fé

Viveram felizes para sempre

Na Fazenda Rastapé.

Cuidava das coisas do campo

Centenas de empregados

Todos admiravam a esposa

E seus subordinados

Eram considerados filhos

Seus filhos mais que amados.

Todos chamavam Patroa

A mulher de Bonifácio

Era uma mulher honesta

Do difícil fazia o fácil

E assim controlava os negócios

A filha de Seu Inácio.

Seu Inácio era juiz

Do Distrito Alumiação

Só tinha uma filha

Que lhe chamou Consolação

E foi patroa de todos

No tempo do Frei Damião.

Casou tão jovem com Bonifácio

E queria muito sumir

Mas aguentou com firmeza

O não poder parir

Era a patroa mais bela

Que tinha no rosto o sorrir.

E assim chego ao término

De mais um cordel fictício

E se você se identificou

Se compare a este artifício

Não perca nunca a bondade

Viva bem neste ofício.

F I M

João Pessoa-PB, 25 de junho de 2017

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 16/09/2024
Reeditado em 16/09/2024
Código do texto: T8153258
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