O CASORIO DO BODE

Eu vou contar uma história

Muito tempo ela tem

Quem contou foi minha vó

Das terras de Pedro Cem

Sobre o Casório do Bode

Que vai um tanto mais além.

Pare um pouco por favor

E preste bem atenção

Queira também escutar

Esta simples criação

Não é lorota que tenho

É boa recordação.

Meu caríssimo leitor

Ninguém pode duvidar

Um bode com uma cabra

Vieram para reinar

Essa fábula que eu criei

Há permissão pra contar.

Se você nunca ouviu

Agora abra bem o seu olho

Fique atento no que falo

Não corra feito piolho

Prefiro que você coma

Muito feijão ou repolho.

Esse mundo tá perdido

O casal só vai esperar

O melhor está por vir

Eu não sei no que vai dar

É a terra se tremendo

No casório popular.

Um bode com uma cabra

Olhem só essa loucura

Essa pareia querendo

Era somente a doçura

De um padre precisavam

Pra entender a não frescura!

O padre Matheus chegou

E foi negando a fazer

Dizendo: - Eu não vou aceitar!

Ele que veio dizer

O bode ficou tão triste

Não querendo mais viver.

Na cidade Labirinto

O povo bem curioso

Pede permissão pro padre

Pra o casório fabuloso

E ele bem intransigente

Diz: - Isso é perigoso!

Dona Isabel e o alfaiate

Diante da complexidade

Querem que sua paróquia

Trouxesse a felicidade

Pra casar os dois bichinhos

Com alta prosperidade.

O padre bem encrenqueiro

Não quis oficializar

Botou faísca na venta

Nesse sagrado lugar

A cabra junto do bode

Só queriam chamegar.

A senhorita Isabel

Bastante preocupada

Falava para o marido

Numa forma agoniada

Que já fazia um bom tempo

Que a cabra tava emprenhada.

A dona chorava tanto

Dizendo: - Mas que pagode!

Minha cabra e o seu cabrito

Mas, porque é que num pode?

Eles têm que se casar

Minha cabra com meu bode!

Esse esposo de Isabel

Um alfaiate afamado

De nome Chico Barbeiro

Ficou logo foi arretado

Queria matar o padre

Lhe chamando condenado.

Dona Isabel, meio louca

Grosseira assim e dizendo

Que não ia dar mais dinheiro

Para o que tavam fazendo

O dízimo era cortado

E o coro ia endurecendo.

Por enquanto isso, lá fora

O bode dava carinho

A cabrinha envergonhada

Não mostrava o seu buchinho

O povo que ali passava

Olhava só pro bodinho.

De bucho quase três meses

Que a cabrinha carregava

O alfaiate só queria

Ouvir a quem perguntava

Dizia que era comum

E o seu padre não casava.

A cabra por sua vez

Já se sentindo buchuda

Naquele dia só houve

Um tal de Deus nos acuda

E ela deu logo um xilique

Fez prece até para o Buda.

A dona desse casal

A senhorita Isabel

Pensava tanto no bicho

Tava cum lugar no céu

Mas nosso padre Matheus

Pintou eles sem o pincel.

O padre Matheus ficou

Sem dá uma posição

Gritou com a bela voz

Depois entrou o sacristão

Que estava lá bem nos fundos

Com sua calça na mão.

O sacristão Chico Tripa

Falando todo fanhoso

Pro padre pede perdão

Um tanto bem carinhoso

Um sermão ele recebeu

Para não ser mais tinhoso.

Labirinto ficou assim

Um tanto descontrolada

Essa igreja passou a ser

Naquela hora visitada

Era tanta gente ali

Se contar não sobra nada.

Nesse instante, aquele povo

Sem saber como falar

Olhava o padre Matheus

Querendo se aproximar

Daquela conversa toda

O bode estando a chorar.

O bode com o olho triste

Da cabra tomando conta

Não deu nenhuma palavra

E para o seu dono aponta

Dizendo só em silêncio

Isso era uma baita afronta.

Essa cabra lhe apoiava

Com o seu bucho bem feito

Olhava pro seu bichinho

E dizia: - Eu amo e te aceito

E fique junto de mim

Se cole aqui no meu peito!

O Chico Barbeiro ouvindo

Todas lágrimas caíam

Dona Isabel soluçava

Pessoas debatiam

Qual seria então o final

E outras logo sorriam.

O padre Matheus pensando

Em não ter o casamento

Encontrou com o prefeito

E tome aquele lamento

Não podia o seu vigário

Fazer esse sacramento?

O prefeito então falou

Para o padre bem ouvir

Fizesse logo o casório

E deixasse de fingir

Que dona Isabel é rica

Bom dinheiro possuir.

O padre Matheus ficou

Um bocado pensativo

Foi dizendo ao prefeito

Que isto é compreensivo

Casar um casal de bode

Nunca é intempestivo.

O padre foi à igreja

E se sentiu feliz

Chamou o bode com a cabra

E o sacristão chega e diz:

- Eu queria este momento

Porque casar sempre quis.

E continuou a falação

Olhando o padre Matheus

Balançando os castiçais

Ele dizia: - Oh meu Deus!

Cuida da cabra e bode

Que são filhos ainda teus.

O padre Mateus bem sério

Nunca pensou em testemunha

Chamou o prefeito dali

Que tinha o nome de Cunha

Procedeu aquele casório

Com sua altíssima alcunha.

Termino agora na paz

Com a vossa consciência

O casal mais engraçado

Que só teve paciência

Um bode com a cabrinha

Pra casar foi penitência.

FIM

João Pessoa-PB, 15 de março de 2000.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 15/09/2024
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