O DOCEIRO DO POLIVALENTE
Queira prestar atenção
No drama que vou contar
As histórias dum doceiro
Tão somente popular
O cordel cultura prima
Nos mostrará nessa rima
Como é bom recordar.
A pirralhada gritando
Doceiro pronunciava
Sem seu nome de batismo
E jamais anunciava
Responde só por doceiro
Apelido verdadeiro
Nós todos dele gostava.
Menino de toda turma
Comprava nesse doceiro
O vendedor de pão doce
Para ter, haja dinheiro
Fiado nem se falava
Todo mundo se calava
Despistando do porteiro.
O doceiro gente fina
Bastante respeitador
As fofocas do lugar
Falando do vendedor
Nunca namorou mulher
Nunca gostou de talher
É na mão sem ter pudor.
No corredor escolar
A conversa é uma só
Suco cajá com pão doce
Pra fome não dá um nó
Naquele recreio diário
Eu gasto todo salário
Pra recordar minha vó.
Pensando naquele tempo
Tenho bastante saudade
Lembrando do meu passado
Minha nobre mocidade
Provando gostoso pão
Tal qual um bicho papão
Com suco bom de verdade.
Tem tanta gente lanchando
Praquele suco comprar
Com um bom pãozinho doce
Que só faz alimentar
O recreio quando tocava
Alunado se agitava
Hora da gente lanchar.
Depois que tudo se passa
Vem tanta recordação
Disso tudo nós lembramos
Pra nos causa comoção
Doceiro Polivalente
Amigo de toda gente
No bater do coração.
Aluno da quinta série
De espinafre não gostava
Quando nos dava esse lanche
Ninguém não se despertava
Depressa, tudo ligeiro
Direto para o doceiro
Pão doce se esgotava.
O Doceiro era valente
Contava tanta história
Ainda hoje guardo tudo
Da moça por nome Glória
Uma beleza de mulher
Que comia só de talher
E duma prima Vitória.
Guardo tudo até hoje
De tudo que aconteceu
Yone sentada, tão linda
Procurando o que perdeu
Eu então de prontidão
Fui fazer uma gratidão
Dei todo dinheiro meu.
Pra não ver Yone chorar
Com aquele rosto lindo
Eu dei toda minha grana
E ainda fiquei sorrindo
Ela foi logo pro Doceiro
Naquele riso faceiro
E eu tão somente fugindo.
Doceiro bem engraçado
Nós todos dele gostava
Quando vinha sexta-feira
Criançada reclamava
Pra chegar logo segunda
Numa saudade profunda
Que todo mundo esperava.
O suco de cajá tinha
Aprovação da ciência
Me trouxe toda infância
Toda minha inocência
O pão doce bem gostoso
Num gostar bem saboroso
Aliviando a consciência.
Oh! Saudade verdadeira
Que me fizera passar
Daquele tempo de menino
Que não posso fracassar
Daquelas tardes de sol
Que floresce um girassol.
Polivalente querido
Dos sucos doce cajá
Do Doceiro tão falante
Que não sabia o beabá
A criançada feliz
Na vida como aprendiz
Quer suco de vatapá.
Dona Bernadete tinha
Um filho no Polivalente
Esse cabra era medonho
Brigava com muita gente
Na pelada do recreio
Ficou de juízo cheio
Por ser bem intransigente.
Não queria dar seu lugar
A qualquer um que procurasse
Raimundo chegou ali
E foi dando logo um passe
O sujeito não gostou
E disse que não entrasse.
Zombado de Raimundinho
Isto tudo provocou
Chamando de Espaguete
Um sermão logo levou
Agora preste a atenção
Lhe peço até devoção
Pra falar do que restou.
Um pão doce bem gostoso
Era mesmo uma delícia
Suco de cajá gelado
Gritava longe Patrícia
Eu degustava com jeito
Um bis tem logo proveito
Nessa obra fictícia.
A mãe ficou pensando
Aquele filho tirar
Foi direto pra escola
Quase chegou a pirar
Foi tomar aquele suco
E não quis mais se retirar.
Depois de pouco tempo
Houve a reconciliação
Raimundo deu uma abraço
E apertou com emoção
Foram tomar suco forte
Pra falar o coração.
O doceiro só de mutuca
Querendo tudo saber
Foi perguntar para mim
E eu sem nada entender
Aquela confusão toda
E eu não pude responder.
Naquele fiteiro bom
Um doceiro curioso
Querendo saber de tudo
E pra falar do pabuloso
Um tal de João da Gaita
Metido a ser orgulhoso.