O INSPIRADOR DO CORDEL SEM MUSA
Pensando no que fazer
Quisera logo tentar
Pra saber se conduzir
Quem sabe se requentar
Inspirações chegarão
Pra toda paz inventar.
Um inventor sem memória
Dos cordéis sem compromisso
Pra vender de qualquer preço
Nesse capital submisso
Não quer saber desse tema
Prefere ficar omisso.
Omitir por toda métrica
O sentido do fazer
Colher palavras dos outros
Sentar para refazer
As orações que são feitas
Simplesmente por prazer.
Prazerosos são felizes
No campo das invenções
Seja no cordel sem tema
Nos versos sem intenções
Felicidade não compra
Jogos e contravenções.
Jogar na subjetividade
É perder seus movimentos
Ser criador de si mesmo
Pra conter os pavimentos
A terra vai respirar
Com os seus envolvimentos.
Envolver com essas musas
Não lhe trazem criação
Botam a mente pra baixo
E mentem com malcriação
Sem ter nada na cabeça
Na frente tem recriação.
Tempo é de recriar
Nesse profundo desejo
Bate continência tosca
Num vestir de percevejo
Para captar seus delírios
Pra sentir todo cortejo.
Nada pra fazer lhe vem
E vai tentando fugir
Desses compromissos sérios
Que sempre busca fingir
Escrevendo todos sonhos
Terão que lhe corrigir.
As correções são bem vindas
Falou pro seu marca texto
Pra deixar toda cabeça
Livre sem nenhum pretexto
Quer botar todas vogais
Ligadas num só contexto.
Vai contextualizar
Num pedaço de papel
Seu poder de certa forma
Criou rima pra rapel
Benditas inspirações
São levadas num tropel.
As tropas desordenadas
Nas cabeças ficam sãs
Nos corpos santificados
As línguas se tornam vãs
Não há desgaste por nada
As mentes são cidadãs.
Na cidade que morou
És sempre desconhecido
Planta flores no quintal
Por não ter nem merecido
Prato feito de tristeza
É bem mais que conhecido.
Vai precisar conhecer
Os segredos dos mistérios
Andar pelos calçamentos
Pensando nos batistérios
Corrigir os que não vão
Porque faltam critérios.
Magras inspirações são
Um ferir dos revoltados
São pensões que não se calam
Para todos derrotados
Juntar os seus sentimentos
Os versos já são ditados.
Os ditos mais populares
Não marcaram entrevista
Jamais poderão falar
Se passarem na revista
Não saberão dos fatores
A métrica é grevista.
Já são dezesseis estrofes
Que vai refazendo trilha
Na rima que nunca falta
Tenta pegar linda cartilha
Dentro dela tem as falhas
Que faz pensar na partilha.
Repartir com belas musas
A peleja de ser pai
Carregando seus sabores
Bem para longe se vai
Segue por todo caminho
Juntando tudo que cai.
As quedas que não consegue
Levantar pra prosseguir
Quer fazer tudo pra ver
Seu viver lhe quer seguir
Nas estradas desse tempo
Na certa vai conseguir.
Conseguirás porque sabes
Dominar os teus encantos
Inspirar sem ter motivo
É reviver seus recantos
Das bênçãos do teu viver
Rezas pra não ver os prantos.
Os prantos são só lamentos
Boca fechada soluça
Defronte da vasta sala
Teu pensar tem carapuça
Por vezes até te cansas
Num ranger que te debruça.
Esses rangidos de dentes
Que destroem os sofredores
Vão sugar todo penar
Na mente dos bastidores
Escondidos dessa gente
Inspiras pelos cantadores.
Nesse prezado momento
Um título és capaz
Nesse cordel sem ter fim
Teu fluir é incapaz
De levar pra ser leitor
Todo verbo que dá paz.
Não quisera fazer guerra
Pôs tão somente rezar
Como Cristão que tem fé
Jamais tentou desprezar
O que paira numa mente
É justo também prezar.
Prezando pelo saber
É dever do pensador
Botar ordem na cabeça
Cérebro compensador
Fazer versos com prazer
Faz jus pro conversador.
Conversas que são travadas
Inconscientes se vão
No trem que descarrega
As pólvoras do carvão
Nesses trilhos que fervilham
O céu se torna trovão.
Nosso céu toda troveja
Na resposta que não vem
As chuvas fora do tempo
Nenhum pingado se tem
Falta conter pensamento
Se pensar te faz tão bem.
Só pensando que fazer
Nada de novo lhe bate
A velhice lhe consome
Nem quer saber de debate
Centenas de pregações
Lhe carregam pro combate.
Combatendo sem querer
Ou mesmo ser guerrilheiro
Faz do tempo que lhe resta
Um singelo cavalheiro
Sem cavalo de verdade
Faz juízo conselheiro.
Se debatendo na cama
Não quer mais essa função
Guarda todos manuscritos
Rasgando vil conjunção
A memória descarrega
O que pode ter junção.
Juntar todas as palavras
Num belo dicionário
Talvez fosse bem melhor
Pro fiel expedicionário
Que não consegue dormir
Por se sentir mercenário.
Os mecenas do passado
No dinheiro foram fiéis
Os preços que foram ditos
São valores dos mais cruéis
Produtos de qualidade
Compram-se pelos bordéis.
Nos cabarés dessas noites
Inspirar tem seu limite
Não solta nenhuma praga
Nem sequer tece palpite
Só lhe faz bem voltar
Pra não querer ter desquite.
FIM
João Pessoa-PB, 15 de setembro de 2024.