ZÉ LIMEIRA NA VERSÃO PORRETA
Inicio este cordel porreta
Ao vivo e não de proveta
Leia, não quero gorjeta
Mesmo na sarjeta
Torne-se uma borboleta
Aprenda ler e toque corneta.
Zé Limeira comeu panqueca
Deixou sandália e cueca
Contratou Chico da Breca
Sujeito bom de sueca
E todo mundo de munheca
Adormeceu e caiu na soneca.
Essa mulher é merecida
Não ama é desprotegida
Diz que conhece a vida
Mas é uma desconhecida
Não passa de uma perdida
A sempre fazer despedida.
Minha amiga eu te conheço
E por isso desconheço
Porque tudo que mereço
Sempre me ofereço
É que na reza do terço
Cansado caio e adormeço.
Você que é tão falante
Zomba de todo errante
Não passa de uma pedante
A maltratar todo passante
Essa eu conto lá adiante
Acertado nesse instante.
Essa mulher não está aqui
Preferiu um olhar pra escapulir
Até porque sempre quis fugir
E nessa fuga não vou mentir
Ela deu em cima de ti
Não tendo resposta, resolveu sair.
Nunca sei qual é o motivo
Do choro desse tal riso
Se sei sou um tanto mais que ativo
Se ela me faz bastante vivo
Tomo uma cápsula de aperitivo
Melhoras pra meu lado cognitivo.
Esta senhora passa do limite
É sério meu bem, acredite
Vou lhe dá um palpite
Se você me permite
Sou pobre, não sou elite
Ela ganhou uma artrite.
A mulher de hoje em dia
Gasta e não quer saber de carestia
Ainda mais quando é Maria
Doce como uma melancia
Acabasse a covardia
Nasce nela a folia.
Foliões chegam na praça
Estão quase sem graça
Porque por pirraça
Nada se repassa
É troféu de pura taça
Bom para espantar desgraça.
A mulher carrega sorte
Foge da própria morte
Não tem quem suporte
A zuada estupenda do serrote
E é por isso que todo velhote
Um dia quis ser caçote.
A mulher precisa gargalhar
E dá voltas e cantar
Cantando há de melhorar
Não pode é piorar
O bom imediatamente evitar
Para não se decepcionar.
A mulher tem toda virtude
Mora fora da latitude
E diante da plenitude
Ama como na juventude
Um plebeu de atitude
Jovem de boa saúde.
A mulher de nada quer saber
Impõe uma carga no dever
Foge tão rápido do ter
Prefere falar do Ser
E assim pra sobreviver
A mulher jamais quer sofrer.
O mundo inteiro é safado
Alguém presta e é louvado
O homem se vendo acuado
Precisa ser alfabetizado
E neste lugar atrasado
Vou embora avechado.
A educação brasileira
Anda sempre na rasteira
A cartilha aventureira
A notícia é fofoqueira
O dinheiro tá na carteira
Governante fuleira.
Não se pensa em educação
Feita pela paz da emoção
Metodologia na contramão
Apagador e giz na reunião
Aluno disperso sem condição
E no final é só aprovação.
Educar não devia ser sacrifício
Seria bom se professor fosse ofício
Mas tudo está no artifício
Se espera pelo ano do comício
Candidato que devia dá o orifício
Mete gente no precipício.
O Brasil é a somatória
E lá se vai convocatória
E nessa oratória
Toda a nossa história
Se esconde numa escória
É o país da precatória.
Pedofilia é matéria
Invade toda a nossa artéria
É como uma miséria
Lançada em forma de bactéria
E depois só se ouve a pilhéria
Ninguém quer gente séria.
A vida da gente é um dilema
Ela vem em forma de cena
Torna o ser emblema
Que o troca por um lema
De ver tudo através da antena
Pendurada no altar do problema.
Pessoas que se dizem sensíveis
São na ótica dos fatos insensíveis
Porque estão como os invencíveis
E se refugiam com os invisíveis
Que carregam sonhos impossíveis
E falta ao auto os combustíveis.
Não há como ser feliz
Neste chão de aprendiz
Isso é a população que diz
Não porque nunca quis
E sim pelo viver num triz
Inspirando pó de giz.
É um sofrer interminável
E o mundo tão amável
Com seca e água potável
Se mata pelo contável
Não que a criança seja afável
Mas por tudo seja louvável.
O namoro garantido
Pouco ato permitido
Hoje o toque é sentido
Antes de ser marido
Ela cheira no ouvido
E só quer caba atrevido.
Tudo é falsa diferença
E não tem essa de crença
E mesmo que se vença
Há sempre uma desavença
Mesmo que o certo te pertença
Não se ouve mais “com licença”.
Acaba-se na humanidade
A fala de dizer a verdade
Mentir e fingir liberdade
Virou questão de honestidade
E toda a prosperidade
Tem no fundo uma desonestidade.
Hoje o patrão apenas reclama
Nunca pelo nome chama
Quer lucro e quer cama
Dormir com uma dama
Gastar a fortuna com cana
Se embriagar e cair na lama.
Tudo se dá um jeito
Arranca-se um peito
Mesmo sem defeito
Porque fica tão perfeito
O silicone no conceito
De tudo ser aceito.
O nosso maior tormento
Esperar ônibus no calçamento
Pedir a mão em sofrimento
Sentir esse fedor do cimento
Trafegar feito um jumento
Na passarela de cada acostamento.
O cheiro da cor da tinta
E o pintor que pinta
Diz pra ele – que sinta
É um bolão em cada finta
Deus tomara que não minta
Se eu errar Deus não consinta.
A palavra dita é céu
Bebida é doce mel
Na aba desse chapéu
Atravessar o rio com Noel
Ver o pássaro no painel
Pintado feito pinel.
Estamos no mês de abril
De uma nação chamada Brasil
Onde tem gente e canil
O pobre a casa já caiu
Levantar só com dois mil
E o dinheiro chegou, mas sumiu.
A facção é forte e existe
Ninguém de ganhar desiste
No fácil e ainda insiste
Comprar na venda alpiste
É muito sério, porém triste
Munições que nunca pediste.
O cavalo vem à galope
O tropeiro toma seu xarope
Bem perto a tropa do Bope
Pegou um monte de reboque
Empurrou no para-choque
O advogado que venha e se coloque.
É vida de cão que fareja
Enquanto ele toma cerveja
Se deleita todo e deseja
Aquela que tanto almeja
Não tendo-a, pede uma bandeja
E nela a mulher que ele corteja.
A vida é porem um tanto ingrata
Com tanta gente chata
Em vez da fala, mata
Ignorância é do que se trata
E todo ser se maltrata
E no martírio diz: - “Não me bata”.
Antes o mundo era mais sereno
Não sei porque eu era tão pequeno
E na enciclopédia nunca fui Heleno
Descobri o soro feito do veneno
E nesse palavreado peno
Com lenço branco sempre aceno.
Não se usa mais a inteligência
E falha se dá pela consciência
O povo não tem mais paciência
Utiliza-se muitas vezes da saliência
E discordam do poder de toda ciência
É o homem vivendo em profunda carência.
Cresceu em muito a prole
Feito um tocador de fole
Numa festa ninguém bole
Porque o bicho num é mole
E ai daquele que enrole
Chora e o choro engole.
Há quem prefere ficar mudo
Outros ficam na pele do entrudo
Nada fazem ou fazem tudo
E viver assim como um chifrudo
Ir no bar e encontrar com peludo
Cabeça oca sem conteúdo.
O cidadão repleto de medo
Esconde da vida o segredo
E conta uma parte do enredo
Come no mato um tal de bredo
De manhã logo cedo
Cantando seu folguedo.
Na condição tagarelice
Do avião soltou-se a hélice
E se você um dia caísse
Seria uma grande doidice
Talvez quem sabe, tolice
Ou na certa tudo mesmice.
Ora-se diariamente pelo brilho
Deste que vai ser teu filho
É sem dúvida um bom milho
Uma espiga de dono andarilho
Plantada junto ao trilho
Versificada em estribilho.
E vendo na frente a lástima
Cai dos olhos uma lágrima
Recordando Hiroshima
E aí não dar a mínima
Até porque não tem clima
Sofre o de baixo, sofre o de cima.
Devemos hoje abrir bem o olho
Não por causa da peste piolho
E sim, fechar o ferrolho
Dentro comer todo o repolho
Deixar a esperança de molho
É que nada eu escolho.
O céu do norte e do sul
Tem uma cor quase azul
E o plantador lá do paul
Colhe a olho nu
Toda a semente no cru
É assim também em Caruaru.
O canto da patativa
O sertanejo se ativa
Oh! Que gente criativa
Nunca fica passiva
Tem sempre iniciativa
E acha terra produtiva.
Morre o forte e o fraco
Todos caem no buraco
E não tem essa de barraco
A bola dentro do taco
O nordestino fica um caco
E bebem vinho como Baco.
Parece que não tem importância
Nem a chegada de uma ambulância
Que presta gentileza à infância
E deixa vida em abundância
Espanta pra longe a ignorância
É provável a estadia da arrogância.
Há divisões do nome Jesus
Até mesmo aquele da cruz
Que fez nascer em nós a luz
E ao bem nos conduz
Montado num avestruz
O mestre precisa usar capuz.
Hoje o viver é sonho
Um olhar de um tristonho
Mira nos olhos de um medonho
E este tipo falso risonho
Deixa todo mundo bisonho
Cansado no corpo enfadonho.
É preciso colocar na cachola
O jogar fora de toda gaiola
Não deixe o amor na camisola
Entre com ele e bandeirola
Faça um gol com esta bola
E bote comida nesta caçarola.
O negro veio de navio
Trouxe panela e pavio
Trocou com outro assobio
Subiu no palanque do trio
Cantou com muito brio
E quando desceu deu um pio.
Por trás de uma coluna
Existe uma grande lacuna
Quem sabe haver uma fortuna
Como no tempo da comuna
Pisando areia e vencendo duna
Caindo na tribo do velho Juruna.
Na estrada e na boleia
O cabra encontra tanta mocreia
Reza na primeira assembleia
E quando se vê está numa alcateia
Brincando com Homero na Odisseia
E visitando os pastos da Galileia.
O asmático sem lugar está afixo
De posse do seu crucifixo
Ora a Deus todo prolixo
E nada de ficar ali fixo
Prefere ouvir falações de sufixo
Numa rádio sem antena e sem prefixo.
O poeta Zé Limeira
Paraibano de primeira
Inspirou essa porqueira
E disse que tava de caganeira
Por detrás de uma bananeira
Vendendo bolo e amolando peixeira.
O absurdo poemático
Nunca foi problemático
É estudo de matemático
De um tal torcedor fanático
Que mesmo sendo carismático
Se vira sendo acrobático.
No contexto do bócio
Zé pede ligeiro o divórcio
Não quer viver no ócio
Vai na loja e faz um consórcio
Expulsa do jogo um sócio
E sai dizendo que é dócil.
A rima escrita na poética
Apavora e trás de volta a dialética
É que o sonho da luz elétrica
Foi realizado em cima da métrica
E contando os filamentos na assimétrica
Um grito de dor paira na bioenergética.
Um senhor que vende miudeza
Ostenta em si toda a riqueza
Mas não sabe ele da sua fraqueza
Em não ter usado toda franqueza
Dizendo ser cidadão da realeza
E vai morrer pobre na pobreza.
Quando alguém cair no poço
Pegue ele pelo frágil pescoço
Meta todinho dentro do calabouço
E se de longe ainda ouço
Use de todo poder do arcabouço
Livre esse infeliz do seu bolso.
Quando ele surgir feito louco
Tape os ouvidos, fique mouco
Porque ele quer lhe dá o troco
Pode ser até de pouco em pouco
E com certeza ele ficará rouco
Menor do que um anão cotoco.
A leitura plena da cabalística
Impede o estudo de toda física
E quando a pessoa é tísica
Muito mais fica autocrítica
Doutor na área da biofísica
A arte de escreve na casuística.
O universo está perplexo
Quem não sabe fala de sexo
Quem sabe vive sem nexo
Assim em tudo há desconexo
O espelho não é mais o reflexo
E cada vez mais o conhecer é complexo.
Termino aqui esta abordagem
Ao grande poeta que tá na imagem
Zé Limeira quer da venda a porcentagem
E eu tenho tanta coragem
Vender fiado até quem faz chantagem
Findo aqui essa minha homenagem.
F I M
João Pessoa-PB, 12 de setembro de 1999