O MATUTO NORDESTINO
É FELIZ COM O QUE TEM
Meu Deus de imensa bondade
Toma posse do meu Ser
Pra que eu possa, com carinho,
Neste cordel descrever
O viver do nordestino,
Que ele acha: foi destino
E que fez por merecer.
Gente simples que acredita
Que tudo que lhe acontece,
Seja de mal ou de bem,
Deve ser porque merece.
A ti louvo e de ti falo.
Do que não sei, eu me calo!
E assim o cordel se tece.
É manhãzinha, o Sol vem
Surgindo devagarinho,
Com raios rubros de amor.
As nuvens rosa seu ninho.
O agricultor se levanta
E o sono do olhar espanta
Ao tomar seu cafezinho.
Cantarolando e pitando
O seu cigarro de palha,
Batendo para amolar
A sua enxada, ele malha.
Com alegria limando,
Os cantinhos acertando.
Coisa alguma o atrapalha.
Um cafezinho no dedo,
Um punhado de farinha,
Já está pronto pra seguir
Com o Sol que se avizinha.
Um cabaço a tiracolo,
Pisa forte, marca o solo.
Só voltará à tardinha.
A passarada cantando
Alegra o seu caminhar,
Trazendo-lhe a esperança
De que a chuva vai chegar.
E um trovão que anuncia
O bom inverno alegria
Faz ao seu rosto brotar.
Rosto de rugas precoces
Cujo sol quente marcou.
Corpo cansado da luta
Na terra que Deus doou,
Na qual trabalha com gosto
Vertendo o suor do rosto
Como sempre trabalhou.
Papeando com os amigos
De luta pelo sustento,
No caminho para a roça,
Falam da chuva a contento:
- Uvisse cumpade João
O ribombá do truvão?
Vai chuvê quaiqué momento!
Com a terra trabalhada,
Sendo feita a plantação
Pelas mulheres, que o fazem
Com amor no coração:
As sementes vão plantando
A cantar, sempre louvando
Ao Bom Deus da criação.
Se o inverno for proveitoso
O São João terá fartura
Com milho assado, canjica,
Pamonha, e até ticura
Feita embaixo da farinha
Com coco e goma fresquinha,
Que é mesmo uma gostosura!
O feijão e a mandioca,
Sendo boa a produção,
Traz alegria pra todos.
E a produção do algodão,
Se a praga não atrapalhar,
Dará até pra comprar
Roupa nova pro João.
Se a invernada for boa
O gado vai engordar
Pois o capim, que secara,
Voltará a rebentar.
E da safra nenhum tico
Sobrará, porque o rico
Fazendeiro vai comprar.
E aí, o São João
Será somente alegria:
Dará pra comprar a roupa
De chita para Maria;
Fustão pra Sebastiana;
Tafetá para Joana
E brim pra Tonho de Bia.
Para as Festas do Natal,
Que é lá no final do ano
E no começo do outro,
Já fica guardado o pano.
Com a venda da farinha,
Já vai dá pra Zé de Quinha
Ter sua loção Bozzano.
Assim vive o nordestino
Feliz com o que ele “merece”!
Não reclama do destino.
De muito ele não carece.
Para o mesmo basta ter
O de vestir e comer.
E ao Bom Deus agradece.
A ele, eu parabenizo!
Pois, melhor do que ninguém,
O agricultor do Nordeste
Representa muito bem
Sua terra. E digo, em hino:
O MATUTO NORDESTINO
É FELIZ COM O QUE TEM.
Rosa Regis
Natal/RN