A TRAJETÓRIA FAMILIAR DE CHICA DE ADÃO
Chica Luiza casou com Adão
Foi mãe de um sacristão
Era do sujeito a malcriação
Coitada da Francisca da Anunciação
O marido vivia em confusão
Chica não gostava de enrolação
De vez em quando na Estação
Buscava encomenda do seu patrão
Era danada Chica lá do Riachão
Trabalhando contente sem embromação.
Além de Olavo que era sacristão
Chica com sexo com Adão
Teve Maria, Joaquim e João
Joana, Paula e Sebastião
Só faltou falar de Eva da Assunção
Menina bonita de despertar paixão
E completando esta falação
Chica era doce como coração
Dona de uma fábrica de algodão
E o marido sargento de um batalhão.
Quero agora falar desse cidadão
Chefe noturno de toda uma guarnição
Sargento formado de muita ação
Dono de casa e entendia de construção
E numa bela e tranquila ocasião
Envolveu-se com uma freira na procissão
E Chica sabendo lhe deu logo o perdão
É que esta freira em questão
Era amante do filho Sebastião
E também do Padre Monsenhor Gusmão.
Estava tudo em casa e não tinha precisão
De criar escândalo na traição
Assim se calaria numa condição
Do marido ir morar numa pensão
Pagar as contas e a condução
Dos remédios na Farmácia Brandão
Que curava gripe e a rouquidão
Só assim se resolveria a situação
De toda aquela maldição
De ser traída pelo marido Adão.
Olavo um famoso sacristão
Ajudante do padre no sermão
Passava freira no corrimão
Tocava sino na contramão
Era safado e enrolão
Chamavam-lhe de cachorrão
Vivia lambendo o saião
Da Madre Superiora Conceição
E por mais que prestasse atenção
Mais o moleque escroto tinha aptidão.
Maria não era bonita de feição
Tinha uma boca que perdição
Atiçava gente no lotação
Mas tinha tanta educação
Que sua mãe por gratidão
Chamava de Maria da Solidão
Estava sempre no salão
Estudando pra um tal simuladão
Mas o professor Petrônio Elesbão
Botou olho naquele mulherão.
Joaquim não tinha solução
Mandou-se cedo pro sertão
Foi trabalhar dentro da transposição
E os pais não tinham nem a noção
E todo dia era a mesma oração
Falaram até numa tal intervenção
Vir alguém lá do Afeganistão
Buscar o filho naquele buracão
Pagando conta num barracão
Vivendo em profunda escravidão.
Joana a mais feia da criação
Nariz comprido e um bocão
Pernas compridas como um trovão
Dançante de frevo e de baião
Envergonhava-se por causa do pernão
E só comia um tal de mistão
E se engraçou por um sujeito do salsichão
E Joana sem a permissão
Mostrou ao dito cujo o seu coxão
Pra desespero do garçom Ronaldão.
Paula de uma enorme branquidão
Estudava os conceitos da civilização
E no olhar profundo uma erosão
Transmitia aos jovens muita ilusão
E todos ficavam em atrapalhação
Mesmo com um vestido compridão
Causava inveja a qualquer cristão
Deixava todos na escuridão
Mas um dia um beberrão
Chamou-lhe em voz alta de machão.
Sebastião advogado de balcão
Recebia como pagamento até melão
Era um cabra de pouca ação
E por isso vivia a pedir salvação
Um abusado de uma triste canção
Resolveu ser candidato de eleição
E no Dia da Proclamação
Lá estava o homem Sebastião
Vestindo terno e de blusão
Chamando todo mundo de meu irmão.
Eva Modesto da Cunha Assunção
Pedro Rufino de garra da mão
Falou casamento praquele tesão
E ela olhando pra outra direção
Não dava bola praquele cabeção
Homem enxerido e de bermudão
E usando as armas de um pidão
Cheirando a peixe e açafrão
Não tinha nem sequer certidão
E era melhor que ficasse caladão.
E agora completando a lista vem João
Que está numa boa colocação
Direito e honesto e sem complicação
Médico formado nas coisas do pulmão
Como poucos dessa Nação
O doutor que cuida de toda população
Ouvinte de criança e de ancião
Falava manso de boa dicção
Não atendia gente por prestação
Todo mundo tinha respeito e valorização.
Cada filho uma emoção
Cada história uma sensação
De ver Dona Chica em devoção
Cantando e sorrindo na amplidão
Vendendo riqueza com sua compaixão
Expulsando dela qualquer charlatão
Senhora das noites suaves de colação
Resultado benigno do seu bastão
Todo mundo tinha a sua formação
Quem não quis viveu em assombração.
E aqui diante deste cordão
Não tem nada de devassidão
Um dos filhos com um enxadão
Desceu todo o terreiro e o escadão
E na hora de plena exatidão
Tirou da sacola o seu alcatrão
E Dona Chica abriu o seu Alcorão
Rezou um sermão de Salomão
E nesta época já com um barão
Mandou Joaquim pro Boqueirão.
O ex. marido era um borrão
Aposentou-se e num caldeirão
Cozinhava peixe e camarão
E com aquele mesmo carão
Recebia os filhos no seu carrão
E vinha até neto de arrastão
E pra brincar tome bofetão
Nos netos no jogo de botão
E eles lhe chamavam de capitão
Porque tinha dinheiro no seu cartão.
Os filhos já cinquentão
Um inventor de tocar no cornetão
Deu na figura grande congestão
Culpa daquela digestão
A festa do pai todo sabadão
Era demais aquele esquadrão
Contando piada e tome palavrão
Dona Chica em casa limpava o porão
E pra terminar este refrão
Rimar com ão não tem explicação.
Simplesmente me encontro perdidão
Não sei qual seja a razão
Se foi a escrita de Chica de Adão
Ou se foi o cordel de Chico Cagão
O que importa é esta avaliação
Do ponto de vista cheia de emoção
Quero cantar sobre a paixão
Mas mesmo assim como diz Cancão
É melhor viver pela via da emoção
Do que morrer em plena ingratidão.
Foi assim os escritos desta falação
Um punhado de agouros sem solução
A mexer com a lápide da minha ilusão
Captadas no silêncio da minha mansão
Que dentro dela só compaixão
Pela triste história de Chica de Adão
Que do ódio em si fez o perdão
E da gentileza entrou firme na perdição
Tive que rascunhar toda esta terminação
Juntando todos os cacos da contramão.
Oh deusa da Grécia e do Afeganistão
Por que não executas aquela canção
Carregadas de amor e compaixão
Fazes de Chica marca produtiva de calção
E das camisas ofertas ao querido Adão
Só assim na formosura da maldição
O casal possa sentir a erudição
Dos raios ingênuos da fala de um sacristão
Que ao dar uma missa em comunhão
Chora no altar a morte do irmão.
A família vinda lá de Constipação
Não tinha no bolso nenhum tostão
Apelou ao pastor Abdias de Simeão
E foi limpar da igreja todo o chão
Não aguentando o tanto de humilhação
Foi morar bem perto de Redenção
Uma cidade que era prefeito Ditão
Homem severo que não gostava de confusão
Se vendo obrigado com a fala de Gandão
Secretário municipal de urbanização.
Dona Espedita de Seu Marcão
Ao encontrar com Chica de Adão
Foi aquela triste falação
Uma chorava com aquele olhão
Ria-se de si mesma lá no Riachão
Foi assim que a amizade dessa união
Ganhou vida e gerou ciúme de Bastião
Marido de Espedita e chefe de guarnição
Não escapava da sorte em fiscalização
Ambas sofriam por não saber da razão.
E aqui termino pra comer meu pão
Esse cordel sem amordação
E quero aqui sem apelação
Encurtar o assunto na visão
E deixar todo mundo em contradição
Ler o enredo e não saber a razão
E quando for na noite da publicação
Nem sei qual é a minha reação
Se com isso recordo o meu torrão
Ou se conto tudo com satisfação.
F I M
João Pessoa-PB, 09 de março de 2008.