UM SEM FUTURO
Dou início a este cordel
E queira atenção prestar
A história de Sem Futuro
Que não fez nada pra mudar
Ao prezado caro leitor
Peço então para comprar.
Este folheto é barato
Você dele vai gostar
Compre muito se puder
Depois pode até presentear
Com o enredo engraçado
Deste que não quer se lamentar.
E assim meu caro leitor
O tema já vou começar
Veja bem no se deu
Este fato mais que popular
Vou agora erguer as mãos
E aquele sujeito abençoar.
Meu amigo estou aqui
Vim aqui lhe visitar
Comigo trago notícias
Quero contigo compartilhar
É que a vida deu um nó
E não sei mais desatar.
Minha cidade foi destruída
Não tenho onde ficar
Fugir sem destino
E na tua casa quero ficar
Não tomo muito café
Gasto pouco no almoçar.
Na janta não como muito
Porque é hora de se deitar
O pouco que eu como
Bote na conta pra eu pagar
Quando eu tiver emprego
Em dobro eu vou pagar.
Não sou de dar trabalho
Isso você tem que acreditar
Uma rede na varanda
Um pouquinho pra cochilar
A cidade que eu morava
Não houve tempo pra descansar.
Um favor de coração
Não me deixa implorar
O tempo está mudado
Lá na frente vou contar
Por enquanto meu amigo
Não deixe o povo me caluniar.
Uma cama para dormir
Sem querer te incomodar
Juro por Deus Nosso Senhor
Que isso logo vai terminar
Só Deus sabe o que sinto
Não me faça aqui chorar.
Meu amigo eu bem me lembro
Mamãe chorando no altar
Queria porque queria
Com o teu pai se juntar
Só que tudo deu errado
E minha mãe veio embuchar.
Você quase foi meu irmão
Deste sem canto pra ficar
Sinto aqui dentro do peito
Que vou te sensibilizar
Só quero viver um tempo
Depois vou logo trabalhar.
Quando eu tiver dinheiro
Tudo da casa vou comprar
Feijão, açúcar e café
Tudo nela vou financiar
Só te peço neste instante
Um cantinho pra eu ficar.
Quando eu era rapazote
Observe o que vou falar
Tua mãe que Deus levou
Queria comigo ficar
Já pensasse o que seria
Se com ela eu fosse casar?
Hoje eu seria o teu pai
E tu, filho, tudo ia me dar
Só que isto não aconteceu
O destino quis preservar
Agora me vejo diante
Deste que faço humilhar.
Se você agora fosse
Estrada sem carro passar
Talvez tivesse mais ouvido
Pra meu lamento decifrar
Mas não, fica só duvidando
E não se chega pra ajudar.
No lugar que eu habitava
Nada meu ficou por lá
Trago só a roupa do corpo
Como o amigo pode notar
Se você tem vestimenta
Queira uma pareia me emprestar.
O bando que tomou a cidade
Quase quis me matar
Eu corri pelos destroços
E foi aqui que vim parar
Ter amigo nesta hora
É mais que prece pra se rezar.
Acredite no que eu digo
Nenhuma vírgula quero botar
É triste a minha situação
De quem não tem onde morar
Nunca duvide do que sinto
Nem tampouco queira sonhar.
Se você não se incomoda
Quero algo pra saborear
A barriga está roncando
A perna não quer aguentar
Faz três dias que eu não como
Só água tenho para tomar.
Quando a gente mais precisa
Mais tempo se tem pra esperar
O amigo está mais que calado
Parece querer não acreditar
A situação que estou vivendo
Cada vez mais vem piorar.
Meu amigo conterrâneo
Das noites lindas de luar
Lembra daquelas serenatas
Que nós dois íamos tocar
Eu ponteava a viola
E você sempre a cantar?
Aquela mulher meu amigo
Que você quis namorar
Faz parte desta história
Até o amigo ela conquistar
Esse amor tão duradouro
É de muito se invejar.
Eu te peço em caridade
Me aceite neste teu lar
Juro por todo santo
Não irei te decepcionar
Isto é por pouco tempo
Até Deus finalizar.
Meu amigo eu te conheço
O traje que uso pode reparar
Dê um jeito no seu amigo
Que lá na frente vou recompensar
Uma mão que lava a outra
Já é boa de se acertar.
Eu te imploro meu amigo
Sem saber o que vou passar
Se não tem o que te peço
Deixe ao menos eu pernoitar
Amanhã mais do que cedo
Eu voltarei a caminhar.
Vou pra longe deste mundo
Pra meu juízo sossegar
Quero paz neste momento
Só o amigo é que pode dar
Esta noite é de bom tamanho
Acordo cedo ao galo cantar.
Não me olhe desta maneira
Não sei como explicar
Eu não tenho nada na vida
Nada tenho para mostrar
Não se lembra do amigo
Vivia contigo a brincar?
Estou perdendo a fala
Você só quer me judiar
Não resolve a minha vida
E grita pra me expulsar
É assim que você me recebe
E nem me convida pra entrar?
Eu sei quem você é
E não adianta assim calar
Mudo e surdo comigo
Um outro vou procurar
A vida dar muitas voltas
E você vai de mim precisar.
Eu não tenho culpa
Se nada queres acatar
Já te falei dos meu sofrer
E você a porta veio fechar
Quem sabe se eu não aprendo
Mais pela vida lutar?
Finalizo este cordel
E preciso lhe convidar
Crie também a sua história
O tempo é quem dirá
Se sucesso ela fez
Ou se ela nunca vai prestar.
O importante é escrever
E ver na frente o que vai dar
A literatura se constrói
Igual programa que vai ao ar
Lá na cidade do interior
Logo cedo ao rádio ligar.
FIM
João Pessoa-PB, 30 de julho de 2008.