AS AVENTURAS DE ZEZINHO DE MANÉ BENTO

O mundo está mudado

E o cordel quer consertar

Em nome da inspiração

Não sei no que vai dar

Qual é a confusão

Que esse drama vai falar

Zezinho de Mané Bento

Segundo filho da prole

Vivia de criar caso

Com o primo Lula Mole

Até que num belo dia

Lá na casa de Zé do Fole

Aconteceu um baile

E tinha muita rapariga

Aí a coisa engrossou

Quando lá teve uma briga

Zezinho de Mané Bento

Foi surrado de urtiga

Por uns cabras da cidade

Todos eles valentões

Deram tanto em Zezinho

Que lascou até os culhões

E este pra se vingar

Foi na ferida das paixões

É que Rita de Josafá

Moça do sítio prendada

Era noiva de um desses

E a hora era esperada

Casar com aquele cabra

Naquela data marcada

Zezinho foi lá em Rita

E disse o acontecido

E esta entrou em choro

Com o rosto entristecido

Acabou-se o casamento

E o cabra foi esquecido

Só que o tal de Lula Mole

Sabendo desta história

Foi direto na cidade

E guardou bem na memória

O que ouviu dos cabras

Naquela sua trajetória

É que um dos envolvidos

Mandou logo um recado

Que falasse pra Zezinho

Que o bicho tava lascado

Se a moça não lhe quisesse

O mal era esperado

Lula Mole chamou Zezinho

E a este logo alertou

Que deixasse aquilo tudo

Porque tudo passou

E que tomasse cuidado

Com tudo que planejou

Zezinho deu uma gaitada

E quis com isto dizer

Que tinha conquistado Rita

E nada com ele ia acontecer

Que não ficasse com medo

Que ele ia tudo resolver

Lula Mole foi à cidade

E contou sobre este plano

O cabra ficou valente

E preparou logo um cano

Pra quebrar todo em Zezinho

Daqui pro final do ano

Zezinho sabendo disto

Deu uma esculhambação

Bateu tanto em Lula

E chamou até de ladrão

De fofoqueiro foi pouco

E até de ingratidão

É que Lula Mole

Na casa de Zezinho comia

O bicho passava fome

E nada tinha de garantia

Até sua personalidade

Morava em buraco de jia

Rita nada disso sabendo

Ficou um tanto agitada

Falou para o Zezinho

Que ficasse dela afastada

Que iria resolver o caso

E seguiu aquela estrada

Lula Mole fofoqueiro

Seguiu por outro caminho

Foi preparar a cena

E contou tudo de tiquinho

Falou que Rita vinha

Fumaçando pelo focinho

O cabra logo esperou

Aquela cena acontecer

Preparou a foice e foi

No mato se esconder

Quando a Rita chegou

Nada ela pôde entender

O irmão do namorado

Conhecido por Biu Leseira

Deu um beijo em Rita

E puxou logo a peixeira

Riscou no chão um nome

E saiu dando carreira

Rita ficou ali plantada

E quis logo simbora

Mas um tal de Pedro Léu

Foi quem deu um fora

Bateu em Biu Leseira

E não viu chegar a hora

Enquanto isto no sítio

Zezinho de Mané Bento

Brigava com Lula Mole

Que fazia ferimento

A briga foi tão grande

Que entrou até jumento

O jumento de Seu Inácio

Pulou a cerca correndo

Deu um coice em Zezinho

Que ficou quase morrendo

O coitado do Lula Mole

Com o sangue escorrendo

Pedia calma ao jumento

Que não quis lhe atender

Foi preciso Seu Inácio

Com um chicote lhe bater

Foi aí que o bicho

Começou logo a correr

Lula Mole ficou com pena

E acudiu o tal Zezinho

Que ficou ali calado

Escondido bem no cantinho

Mané Bento quando soube

Chegou ali de mansinho

Mané Bento deu no filho

E chamou o seu sobrinho

Saiu dando nos dois

Com aquele cipozinho

Que a zoada se ouvia

Em todo aquele lugarzinho

Zezinho ficou nervoso

E pensou em se vingar

Bater muito em Lula

E dali mesmo se mandar

Não aguentava aquela vida

Por tudo que fez passar

Lula Mole era um sujeito

Fofoqueiro de dar dó

Feito mulher safada

Que no marido dar um nó

Só sossegava um dia

Quando não visse mais o sol

Lá na cidade foi assim

Rita foi logo raptada

Por Quinca Cabeção

Que vivia de coisa errada

A família do ex. noivo

Estava mesmo desesperada

O bando tinha fugido

Pra ficar dentro do mato

Preparando uma vingança

E esse era mesmo o trato

Dar fim a moça Rita

No momento que fosse exato

Só que isto não aconteceu

Por via do destino

Rita foi raptada

Pelo filho de Jesuíno

Quinca Cabeção o nome

Muito mais do que cretino

Zezinho deu tanto em Lula

Que o bicho quase morreu

O sítio que eles moravam

Onde todo mundo cresceu

Não gostou do que se viu

E muito mais aconteceu

O bando queria resgate

Pra poder Rita soltar

Era muito dinheiro

Que não dava pra contar

A família muito humilde

Só fez se lamentar

Lula Mole se vingou

Bateu tanto em Zezinho

O chamado Mané Bento

Soltou todo passarinho

Abriu a sua gaiola

E fez um gesto de carinho

Rita voltou ao sítio

E com Lula Mole casou

Deu uma surra no bandido

E pra casa feliz voltou

Zezinho foi o padrinho

E calado ali ficou

No dia do casamento

Biu Leseira se aproximou

Quis pedir perdão

E o padre lhe abençoou

A família do ex. noivo

Aos pouquinhos se chegou

Rita era filha única

De Josefa de Alencar

Casada com o cabra

Chamado de Josafá

O casal amava a filha

E foram também abençoar

Quinca Cabeção foi preso

E pagou pelo que fez

Depois da surra de Rita

Nunca mais teve vez

Ficou lelé da cuca

Da farmácia ficou freguês

Vamos terminar bem

Não houve morte pra falar

O mundo está violento

Só a paz pode salvar

Não brigue com seu amigo

Este cordel quer contornar.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de janeiro de 1995.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 12/09/2024
Código do texto: T8150321
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