JESUÍNO FRACASSADO

Vou começar agora

Era já pra ter começado

O drama de Jesuíno

Que não era nada planejado

Vivia pelos canteiros

Meio assim descabelado.

E este vai logo ligeiro

Falando de um fracassado

Que contamina a vida alheia

Conhecido por desgraçado

Por tudo que faz na vida

Não passa de um condenado.

Por tudo que ele fez

Encontra aqui o resultado

Um cordel de inspiração

Pra falar deste soldado

Foi pra guerra e não venceu

Saiu de lá tão derrotado.

Cada tiro que ele dava

Era o mesmo desperdiçado

Na igreja que se benzia

Deixava lá o seu pecado

De noite ao dormir

Vivia consigo agoniado.

Ele não merece crédito

É muito desorganizado

Não fixa em lugar algum

Vive só desmantelado

Compra o que não precisa

Deixa lá tudo fiado.

Militar tu não entendes

Porque andas assim fardado

Com a roupa do quartel

E o coração acelerado

Tua amizade é pouca

Amigos não tens encontrado.

Vida tão intranquila

Vive este pobre coitado

Que não sabe o que quer

Sempre é ser ameaçado

Não consegue se firmar

Neste típico mercado.

Chorar quando se acorda

Ri estando deitado

O contrário deste plebeu

Mora tranquilo ao seu lado

O infeliz é quem mais sofre

Ao se tratar de apaixonado.

Namorou centenas vezes

E sempre foi proclamado

De herói da inconsistência

No amor ultrapassado

Não consegue a sua alma

É espírito estraçalhado.

Nunca vi ninguém assim

Agradeço ter encontrado

Para pôr no meu cordel

E com ele deixar marcado

A venda de mais de mil

Aqui mesmo no mercado.

É verdade o que conto

Não me chame de enrolado

O cabra que estou falando

É por muitos considerado

O rei das coisas incertas

Deste pequeno povoado.

Nesta terra onde ele mora

Chamam ele de pirado

Errante de muita coisa

Por se dizer atarefado

Consegue ser um inútil

Quando mesmo é domado.

Na escola onde estudou

Nota zero no ditado

A prova de fim de mês

Sempre era reprovado

Levou fora de muita moça

Quando ia a um assustado.

Meu amigo caro leitor

Não fique assim calado

Fale logo alguma coisa

Não deixe ficar parado

O verbo que dele sai

Com certeza está estragado.

Ele era a incerteza

Dentro de um enorme cercado

Lá vem o boi fuçando

Ele era o próprio gado

Fugia dos grandes acertos

Parecia estar drogado.

Ele se metia em tudo

Lhe chamavam de folgado

Quando falavam de mulher

O cabra tinha traçado

E ainda por cima dizia

Que no sexo era viciado.

Conseguia estragar tudo

Quando o beijo era roubado

Sempre usava roupa longa

Não gostava de apertado

Ostentava uma cabeleira

Com o corte bem enfeitado.

Este cabra era mesmo

Uma espécie de atrapalhado

Em coisa alguma o cabra

Estava nela focado

Apenas do público se ouvia

Que o bicho era desmiolado.

Não tinha jeito mesmo

Este cabra azarado

Tudo que fazia era

Logo cedo acabado

E depois na frente se via

Um ser mais que lascado.

Como era que podia

Um olho bem esbugalhado

Um demônio em pessoa

Com o juízo criticado

Ninguém sabe quem foi

Ele no mundo ter botado.

O sujeito escapou um dia

De um grande atentado

Lá na venda de Seu Inácio

Aquele do pé quebrado

Os bandidos meteram chumbo

Ele foi o único baleado.

As marcas que têm no corpo

Mostra este triste passado

Os amigos todos trabalham

E ele está desempregado

Diz que não tem sorte

O viver tem lhe atormentado.

A namorada de infância

Esquece o desgraçado

Não conhece este cabra

Diz ter corneado

Quer distância dele

E isto muito tem festejado.

Já fez curso de enfermagem

Nele mesmo foi reprovado

Mesmo assim diz ao povo

Que ele é abençoado

Se inscreveu num concurso

Mas perdeu o dia marcado.

O doutor daquela gente

Tem por ele perguntado

Mas não encontra a resposta

O povo fica bem calado

Ele não gosta de médico

Diz que tudo é safado.

Abriu uma inscrição pra ser

Radialista sem ser formado

Ele depressa correu

Mas não foi nem contemplado

Ficou em último lugar

Pelo português errado.

Dona Xica cozinheira

Casada com José Maxado

Ouviu dele uma gracinha

E esculachou o depravado

O marido quando soube

Quase lhe mata enforcado.

Nada do que fazia

Dava certo pro coitado

Ainda vivia queria

Ir logo ser enterrado

Juntinho da sua avó

Pra tudo ser libertado.

Quando ele abria a boca

Cada dente tatuado

Onde o cabra se metia

Fazia tudo exagerado

Quando arrumava um bico

Noutro dia estava gripado.

Militar sem categoria

Vivia só trancafiado

Deixava o quartel

Pra dançar xote e xaxado

Até que o bicho levava

Muito jeito pro rebolado.

Quando ele deixou na vida

De ser um raso soldado

Seu juízo não batia

Estava bem descontrolado

Conheceu Maria Rita

Teve o amor logo acabado.

A família que ele tinha

Nem a mãe tem escapado

Ele diz que é filho

Mas não se lembrado

Só sabe que era mulher

E nunca por ele foi procurado.

Jesuíno foi de tudo um pouco

Por isto foi homenageado

Meu cordel tentou fazer

Este cabra ser consertado

E a última que me chega

É que ele já foi castrado.

E aqui meu caro leitor

Quero então ser liberado

Quase tudo eu tentei

Juro de coração apertado

Ele nem sabe quem sou

Se não tinha nem terminado.

FIM

João Pessoa-PB, 02 de janeiro de 2009.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 10/09/2024
Código do texto: T8148712
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