HISTÓRIAS DE CASAL
Vou tentar com a sua ajuda
Descrever este cordel
Que fala de uma relação
De Maria e Manuel
Um casal bem aloprado
Que hoje mora no céu.
Quando novo este casal
Fazia grande estripulia
Ia dormir muito cedo
Só acordava pelo dia
Era tanta escrotagem
Feita de muita euforia.
Certa noite na cidade
Veja o que aconteceu
O casal todo atiçado
Uma festa promoveu
A bagunça só foi vista
Quando o dia amanheceu.
A casa toda virada
Manuel gritou ligeiro
Procurou por sua Maria
Que tava com o Brigadeiro
A noite foi uma loucura
E ele viu isso primeiro.
Sua mulher em outra cama
E ele não quis acordar
Falou consigo mesmo
Não queria atrapalhar
Um por cima do outro
Ainda queriam chamegar.
Manuel ficou tão triste
E começou a refletir
O que houve naquela noite
Que estava logo ali
Sua mulher toda escanchada
Porque não pôde escapulir.
O Brigadeiro era um senhor
Viúvo e cheio da grana
Entrou naquela festa
E procurou logo uma cama
Escolheu mesmo no escuro
Aquela senhora dama.
Manuel baixou a cabeça
E o choro logo veio
Deu uma olhada pela porta
E deparou-se com o seio
Na boca daquele homem
E tome, tome aperreio.
Maria estava dormindo
Do jeito que veio ao mundo
E Manuel gritava alto
Chamava tudo vagabundo
Queria abrir a porta
E acabar naquele segundo.
A consciência daquele homem
É algo, porém interessante
Pensando em voz alta
Chamou o cabra de amante
E ainda teve o topete
De ficar só um instante.
Quando olhou ao seu redor
Ele então veio perceber
Que a festa que ele deu
Não havia por merecer
Porque mostrou sua Maria
Que todos queriam ter.
Uma mulher muito bonita
Com a voz angelical
Deixava qualquer homem
Pensando só no mal
Mas não aceitou aquilo
Disse que não era normal.
A casa daquela festa
Era uma tirania só
Os casais todos trocados
E um cheiro grande de pó
Manuel estava doido
Que a venta deu um nó.
O pastor daquela igreja
Estava bem de frente
Agarrado com uma beata
E beijando uma crente
O negócio estava feio
E Maria acordou contente.
Olhou para o seu marido
E mandou fazer café
Pediu um bem amargo
Pra ressaca dar no pé
E foi perguntando a ele
Quem era aquela mulher.
Ele então desconfiado
Disse que não conhecia
Ela deu um grande sorriso
E respondeu com alegria
Que aquela era a esposa
Daquele brabo vigia.
Manuel ficou confuso
E o café ele foi fazer
Maria voltou ao quarto
Com o Brigadeiro foi se ter
Começaram um relabucho
Que só vendo para crer.
O Brigadeiro acordou tonto
E procurou logo o banheiro
Foi mijar em um minuto
O mijo de um ano inteiro
E Maria lá na cama
Só pensava no parceiro.
Manuel trouxe o café
E a Maria ele entregou
Amargo que só a gota
Mas feito com muito amor
Queria ele perguntar
Mas em silêncio ali ficou.
Neste instante chegou ali
O Brigadeiro da cidade
Deu um beijo em Maria
Que tamanha crueldade
Manuel ali calado
Suportou toda a verdade.
O Brigadeiro perguntou
Quem era aquele senhor
Maria rindo respondeu
Que era o seu grande amor
Que estava com ela
Na alegria e na dor.
O Brigadeiro agradeceu
Pela noite com Maria
Perguntou pela parceira
Que com outro dormia
E Manuel todo feliz
Falava da dama do vigia.
Foi uma noite muito louca
Que todo mundo ali viveu
Ao acordar cada casal
A sua pareia percebeu
Foi trocado todo mundo
Na casa de Seu Dirceu.
Este homem era o dono
Daquele famoso cabaré
Alugou naquele dia
E deixou lá sua mulher
Que quando se acordou
Estava com o ovo de Mané.
O dinheiro que foi pago
Tinha preço de garantia
E Manuel todo contente
Falou assim pra sua Maria
Que não precisava mais
Passar por tanta agonia.
Cada um foi se acordando
Sem saber do ocorrido
Se foi troca de casal
Ou algo então parecido
Só se sabe que o casal
Tinha isso por merecido.
Vivia de bar em bar
Bebendo e se beijando
Era um beijo tão ardente
Que o povo ia falando
Buscava uma nova aventura
E o casal foi se acostumando.
Manuel sabia disso
E não queria de novo passar
Viver daquele jeito
Ele preferia se separar
Maria ficou bem triste
E mandou o cabra se acalmar.
Todo mundo foi embora
Do Cabaré de Seu Dirceu
Manuel e Dona Maria
Conheceram um ateu
Nesta festa arretada
Chamado Bartolomeu.
Conhecedor de astrologia
Na Universidade de Paris
Aquele cabra tinha fama
De deixar mulher feliz
E Maria já dele gostando
- Foi sempre o que quis.
Manuel quis ir embora
E Maria foi dizendo
Que aquilo era besteira
Porque tudo ia morrendo
Deixasse Bartolomeu
Que estava se conhecendo.
Foram embora para a França
Num luxuoso navio
A viagem foi muito longa
E Maria estava no cio
Os três fizeram amor
Naquele dia tão frio.
Em Paris quando chegaram
Foram depressa estudar
Bartolomeu que era doutor
Queria mais tempo pra ficar
Ao lado da bela Maria
E a solução tinha que encontrar.
Maria toda contente
Foi logo se expressando
Que ela era de todos
E que o tempo estava passando
E Manuel veio a pensar
Que ele estava se lascando.
O dia tem muita hora
São 24 pra dividir
Dizia assim Maria
Pra Manuel admitir
Porque o tal Bartolomeu
Só fazia mesmo era sorrir.
O trio ficou conhecido
Por toda França se ouvia
A história de uma dupla
Que aqui no Brasil vivia
Um se chamava João
A outra tinha nome Maria.
Já o terceiro que entrou
Tinha fama de quente
Levava a mulher ao delírio
E na língua polivalente
Poliglota de primeira
O cabra era inteligente.
Os três já se foram
E hoje moram no céu
Escolhi no meu baú
Pra botar no meu cordel
As loucuras de um casal
Da bela Maria e Manuel.
FIM
João Pessoa-PB, 03 de março de 2009.