A HISTÓRIA DE LUDOVINA
A Ludovina senhora
Lhe falta ser respeitada
Com seus quarenta nas costas
De fala bem arrastada
Na face dessa mulher
Que guarda tanto talher
tem visão desajeitada.
Ludovina se casou
Esposo não percebeu
Um tal Tião Sergipano
Que falso lhe recebeu
A Ludovina tristonha
Nesse lugar não se ponha
Só tristeza concebeu.
Virou mulher invisível
Por todos, desconhecida
Vivendo com a família
Nunca foi reconhecida
A mulher se faz feliz
Para não ser infeliz
No trajeto dessa vida.
Família descuidada
Jamais lhe reconhecia
Como Seres invisíveis
Ninguém se reconhecia
Vivendo na residência
Tinha tanta competência
Não passou de profecia.
Ludovina não parava
Nesta casa trabalhar
Fez um gostoso café
Sem ter alguém pra falar
Naquelas trilhas amargas
Seu celular sem recargas
É bem melhor se calar.
Na casa daquela gente
Haja coisa pelo chão
Ludovina não reclama
O povo é sabichão
Vai lavar todo banheiro
Por não ver seu companheiro
Sentir prazer ser machão.
Ludovina dá suspiro
Tudo calada aceitava
A casa tão bagunçada
Sempre gentil ajeitava
Seu filho Zé Raimundinho
Entrando com seu radinho
Tinha mãe que consertava.
O marido bem ingrato
Nem enxerga Ludovina
E dando risada diz:
- Eu quero carne bovina
Cerveja com tiragosto
Para matar meu desgosto
Nesta vida tão sovina!
Nesta casa sem diálogo
No viver estupidez
Ludovina só precisa
Ter bastante rigidez
É incapaz de lutar
Visão nada salutar
Numa baita timidez.
Ludovina pós a janta
Ficava naquela porta
Com aquela vizinhança
Que lhe via quase morta
Num gestual impreciso
Num falar bem indeciso
Somente falou de horta.
Nesse quintal preparado
Horta pra lá de bonita
O cachorro Juvenal
Com a cadela Maldita
Brincando na plantação
Vão matar do coração
Aquela mulher bendita.
A sua filha caçula
Que só dormia com ela
A pobre daquela mãe
Precisava cuidar dela
Botar aquela criança
Que sempre gostou de dança
Se vendo na passarela.
E depois a Ludovina
Volta é pro falatório
A vizinhança sem dó
Não tinha mais oratório
A mulher sempre calada
A televisão falada
Vem propagar sanatório.
Noutro dia mesma coisa
Ludovina bem faria
Acordava todo mundo
E ninguém se acordaria
O café estava pronto
O marido quase tonto
Somente chá tomaria.
Joaquim o jogador
De uma equipe de pelada
Chegava todo suado
Contando só marmelada
Ludovina é parteira
Pega naquela chuteira
Que já vive maculada.
Joaninha se levanta
E tome choro na casa
A mãe ficava sentindo
Vontade de botar asa
A filha toda mijada
Gritando numa rajada
Está quente feito brasa.
O seu marido Tião
Lá da terra sergipana
Se não me falha memória
Vem do lar Itabaiana
Torcedor do Confiança
Secretário de Finança
Que lhe chamavam Bacana.
Ele nunca teve tempo
Quando chegava diria
Estando naquela casa
De repente voltaria
Cheio dessas encomendas
Que só pensava nas vendas
Tanta coisa faltaria.
Ele tem grande defeito
Como mulher se calou
Por ter desorganizado
E tudo desarrumou
A mulher sofrendo tanto
Chama marido de santo
E de amar nunca deixou
Ludovina era paulista
E se apaixonou por Tião
O sergipano bacana
Que lhe deu muita atenção
Foi amor à primeira vista
Quando o coração conquista
Um amor cheio de paixão.
Ela era professora
Trabalhava com criança
Se casar foi muito fácil
No mundo de esperança
Ludovina ali tão calma
Com sua sensível alma
Tinha isto como herança.
Ludovina só foi vista
Quando ela era solteira
Depois que foi casada
Não passou de uma parteira
Vivia sempre invisível
Com o jeito previsível
Sempre era a derradeira.
José era o mais novo
De toda a filharada
Estudava matemática
E não entendia a tabuada
A mãe aceitava tudo
Todo mundo ficava mudo
E só fazia trapalhada.
Três filhos e duas filhas
Com seu marido Tião
Geração sem dá valor
Difícil passar bastão
Viviam sempre calados
Todos eles desmantelados
Principalmente Gastão.
Todo dia aquela mulher
Lutava ali sozinha
Não tinha ninguém ali
Que lhe desse uma asinha
Todo povo desmantelado
Era somente descuidado
E faziam ela de bolinha.
Só sei dizer que ela
Vivia somente trabalhando
Esta era a sua vida
E sempre estava se explicando
Dizendo só para ela
Que gostava da panela
E da carne ali assando.
José pedia ajuda
E a mãe sabia de có
Gostava de tabuada
Menino lhe dava nó
Porque aquele filho
Já era um empecilho
Deixando quase no pó.
Joaquim no futebol
Não dava pra jogador
Mas era um desajeitado
Só causando dissabor
Pela casa o seu padrão
No banheiro o calção
E Ludovina só tinha amor.
João era o mais velho
Deles todos o mais chato
Pegava a sua toalha
E nem pensava ser grato
Pois, mandava a mãe pegar
Ai se quisesse negar
Pra forçar o filho ingrato.
Ludovina sofria tanto
Com a família em geral
Não lhe davam atenção
Viver ali era um mal
Ninguém lhe compreendia
Sai noite, entra dia
O silêncio era normal.
Aquela mulher existia
Somente para o trabalho
Não tinha tempo na mesa
Nem pra jogar um baralho
A filha Joana chorava
Ela não se agoniava
E nunca disse: Me atrapalho!
Ludovina foi uma mulher
Que muito sofreu na vida
Era um tipo invisível
Que nunca teve guarida
Vivia sempre sofrendo
Mas nunca saiu correndo
Pra curar sua ferida.
Ludovina foi uma Amélia
Naquele tempo paulista
Não conseguiu ela viver
E foi direto ao oculista
O olho esquerdo pifou
A boca se entortou
Caiu no neurologista.
Ela saiu do hospital
E foi pra casa descansar
Mas ela era impossível
Nada lhe faria cansar
Joana não entendeu
No choro só pretendeu
A pobre mãe compensar.
Ludovina ficou dormindo
E nunca mais se acordou
No outro dia a família
Todo mundo ali falou
A mãe no consultório
Mais tarde no velório
Pra outra vida se mandou.
Essa é a história
Que a mulher dá o fora
Como a fauna cansada
Que lembra da sua flora
O Cordel tentou explicar
Pois, jamais quis complicar
Porém, eu já vou simbora.
Meu caríssimo leitor
No direito facultado
Neste singelo trabalho
Tentei mostrar resultado
Organizando folheto
Jovem sem ser obsoleto
Rogo pra ser consultado.
FIM
João Pessoa-PB, 24 de junho de 2019.