A TRISTEZA DAS BAQUETAS
A TRISTEZA DAS BAQUETAS
Lucarocas, a Arte de Ser
No canto do abandono
Estavam entristecidas
Ainda o cheiro do dono
Daquelas mãos doloridas
Tinham marcas das lembranças
Nas ternuras das nuanças
Das Baquetas esquecidas.
Olhando o amigo Surdo
Também num canto calado
Achando ser absurdo
Está ele desprezado
Depois de tanto barulho
Traz a poeira do entulho
Pelo tempo abandonado.
A Caixa silenciada
As baquetas também viam
Com pele já afrouxada
Suas bordas já caiam
E com tom amareladas
Pelo tempo desgastadas
Das ferrugens que comiam.
Também o maior tambor
Elas viam abandonado
Tinha cheiro de bolor
Já tinha um couro rasgado
Assim o Bumbo esquecido
Também era corroído
Pelo tempo do passado.
As baquetas viram os Tons
Com a tristeza do olhar
Não ouviram mais seus sons
Não sentiram o seu tocar
E encolhidas num canto
Se umedeceram de pranto
Do desgaste a soluçar.
Quase que num ritual
Para o lado foram olhando
E viram que o Chimbal
Já estava enferrujando
E quanto mais elas viam
Mais tristeza elas sentiam
Por não ver ninguém tocando.
E tiveram mais um baque
Naquela triste visão
Viram o Prato de Ataque
E o Prato de Condução
Todos dois empoeirados
Num certo canto jogados
Amargando a solidão.
Assim as duas baquetas
Findava a triste revista
E em suas silhuetas
Trazia a dor do artista
Por ver naquela agonia
A morte da bateria
Por falta do baterista.
E as baquetas abraçadas
Na firmeza da amizade
Foram ficando mofadas
Pelo choro da umidade
E ali naquele momento
Uma prece de instrumento
Lhes encheram de saudade.
E nesse instante um clarão
Fez tudo se iluminar
E numa iluminação
Um anjo foi lhes falar
Que quando a missão encerra
Fico o instrumento na terra
Pro artista se libertar.
Há uma tristeza dos seus
Com essa libertação
Mas os artistas com Deus
Estarão em proteção
Recendo instrumentos
Para seus burilamentos
Ter melhor evolução.
A luz não mais clareou
Se viu flores nas muretas
Uma nuvem se formou
Das mais lindas borboletas
E com aquela voz tão doce
Naquele instante acabou-se
A tristeza das baquetas.
Fortaleza, 04 de julho de 2021.
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Este texto é dedicado ao Carlinhos Perdigão, e a todos os artistas que tiveram que deixar seus instrumentos na terra.
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Lucarocas a Arte de Ser
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