MADAME BENEDITA

Abra o olho meu leitor

Que agora vou falar

Através deste cordel

Tenho muito pra contar

Ela foi a grande mestra

No Terreiro de Sinhá.

Todo sábado se ouvia

No terreiro a batucada

Era tanta mãe de santo

Com a sua umbigada

Tinha tanto pai de santo

Me lembro de trovoada.

Trovoada era um cachorro

E era muito respeitado

O resto daquela festa

Era por ele apreciado

Só não gostava de fogos

O bicho ficava aperreado.

Quando chegava a sexta-feira

Havia logo a preparação

Era chegado o sábado

No terreiro da animação

Tinha menino com força

Que acabava em confusão.

Joãozinho de Seu Inácio

Um dia se manifestou

Recebeu o Zé Pilintra

E a festa ele acabou

Bebeu que só a gota

Foi ele mesmo que contou.

Quando ele chegou em casa

Ficou ali desconfiado

Dona Júlia mãe do bicho

Meteu o braço no safado

Gritou por todos os santos

Aproximou-se um soldado.

Pediu por gentileza

Que não batesse no menino

Que ele era tão bom

E teria um bom destino

Mas a mãe desesperada

Deu de garra de um sino.

Queria com este sino

Acabar com o Joãozinho

O soldado disse que não

E saiu foi de mansinho

Em briga de família

Não se mete o colarinho.

A vizinha chorava tanto

Por todo aquele acontecimento

Chamava Dona Maria

Casada com o velho Bento

Que lhe dava conselhos

Pra livrar do sofrimento.

Seu Inácio quando soube

Foi direto no terreiro

Encontrou com Benedita

E o marido xangozeiro

Se chamava pai Toinho

Vindo lá de Oitizeiro.

Neste dia aquele lugar

Ninguém no terreiro dançou

Seu Inácio era valente

E à crença espraguejou

Dona Maria de Bento

Quis saber o que passou.

Tinha uma mãe de santo

Que se chamava Zefinha

Lia a mão dos meninos

E gostava de ladainha

Dizia que o Joãozinho

Tinha roubado a galinha.

Aí o Seu Inácio fez

O que o povo ali queria

Dá-lhe tanto em Joãozinho

Pra deixar de putaria

Chorava a mãe de um lado

Junto de Dona Maria.

Dona Júlia era católica

E Seu Inácio era ateu

O casal de aparência

Tudo em nome de Deus

Só não queria filho ladrão

Morando ao lado seu.

No dia seguinte foi

Realizada uma festança

De um lado os velhos

Do outro era pra criança

O batuque começava

E no salão tome dança.

Tinha bolo e refrigerante

Feijão e carne assada

A oferenda foi feita

Numa enorme encruzilhada

Falavam em Maria Padilha

A rainha da batucada.

O terreiro foi enfeitado

Em Joãozinho ninguém falou

A galinha que ele escondeu

Naquele dia o povo achou

Com Dona Júlia foram falar

Mas ela não se encontrou.

Benedita era a dona

Do Terreiro de Sinhá

Devota de Santa Bárbara

Mãe de santo do lugar

O marido um pai de santo

Que gostava de aconselhar.

No dia dos gêmeos

De São Cosme e Damião

A criançada fazia festa

Pra comer aquele sopão

Tinha tanta brincadeira

Era grande animação.

A polícia um dia chegou

E quis o lugar fechar

Benedita mostrou a ordem

Que fazia funcionar

A polícia foi simbora

E nunca mais quis reclamar.

Benedita mãe de santo

Discriminada no lugar

Por causa do seu xangô

Muita gente ia falar

Seu marido Zeca Bahia

Gostava mesmo de aprontar.

Certa feita no terreiro

Quando o santo recebeu

Partiu pra cima de Joana

Pedindo um beijo seu

Benedita ouvindo isto

Aquele santo não conheceu.

Todo sábado era festa

Na umbanda de Benedita

O terreiro enfeitado

E veja só a escrita

Apareceu Joãozinho

Querendo dançar na pista.

Zeca Bahia não disse nada

E mandou Joãozinho entrar

Deu-lhe uma roupa branca

E fez o bicho ali dançar

Rodava como um pião

Querendo sempre rebolar.

Pintou a cara toda

Dizendo ter o poder

De receber um santo forte

Botar gente pra correr

Aí o Zeca Bahia

Mandou ele se conhecer.

A festa estava animada

Mãe de santo de montão

Joãozinho todo alegre

Quando ouviu um palavrão

Seu Inácio bem na porta

Estava feita a confusão.

O velho estava triste

Com aquele filho querido

Que se meteu em xangô

Esquecendo o prometido

De não acreditar em santo

E muito menos ser pervertido.

Chamou aquele filho

E foi tentar aconselhar

Joãozinho já incorporado

Mandou tudo se lascar

Seu Inácio tinha vergonha

Mas queria ele levar.

Só que aquele filho queria

Exercer esta dita religião

Não deixaria pai e mãe

Nem viveria na perdição

Pediu apoio a todos

E teve a sua aprovação.

Madame Benedita foi

A curandeira da cidade

O povo que lá chegava

Era da grande sociedade

Mas a Madame Benedita

Não tinha tanta prosperidade.

Acolheu Joãozinho de Inácio

No Terreiro de Sinhá

A Madame Benedita

Quis do marido se separar

Ficou de olho no menino

Que tinha tanto amor pra dar.

Já o tal de Zeca Bahia

Não aceitou a separação

Foi falar com o Joãozinho

E teve uma grande decepção

Ouviu da boca dele

Que era tudo de coração.

Inácio quando soube

Foi com Joana falar

Não queria mais o filho

E queria também se separar

A vergonha era tamanha

E não quis mais conversar.

Zeca Bahia partiu pra cima

Da coitada da Joana

Abandonada pelo marido

Ficou mesmo na lama

O safado do pai de santo

Levou ela para a cama.

No Terreiro de Sinhá

Mãe e filho lá morando

Zeca Bahia com a mãe

E o diabo se soltando

Joana era uma crente

E foi logo se juntando.

Se juntou com aquela gente

E chorava por Seu Inácio

Num terreiro de umbanda

Se lembrava do palácio

Prometido pelo crente

O pastor Zé Bonifácio.

Seu Inácio já morava

Ao lado doutra mulher

Dizia que era ateu

E não queria falar de fé

Quando alguém lhe perguntava

Ele logo queria um café.

A Madame Benedita

De Joãozinho engravidou

Zeca Bahia tinha ciúme

De ser padrinho ele topou

Joana foi ficando louca

E nunca mais ela falou.

O Terreiro de Sinhá

Tinha uma família só

Zeca Bahia e Joãozinho

Desataram este nó

Ficaram sendo o homem

Desde o nascer do sol.

A Madame Benedita

Uma noite de prazer

Ofertada a cada um

E foi assim este o viver

A Joana calada no canto

E haja filho pra nascer.

Seu Inácio ficou viúvo

E Joana ele veio buscar

Terminou seus últimos anos

Desta mulher sempre a cuidar

Zeca Bahia morreu de enfarto

Dançando no Terreiro de Sinhá.

Vinte filhos foi a marca

Registrada em cartório

Joãozinho e Benedita

Só se ouve o falatório

Os filhos vão visitar

Os dois no sanatório.

E aqui vou terminando

Minha nobre Benedita

Mãe de santo de firmeza

Que ninguém mais acredita

Descobri esta história

Com Seu João de Expedita.

FIM

João Pessoa-PB, 20 de março de 2009.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 07/09/2024
Código do texto: T8146635
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