O LEÃO DO CIRCO E O GATO ROUXINOL, A FÁBULA
Tem coisas que acontecem
Na nossa preciosa vida
Que até o Jesus Cristo
O Maior de todos, duvida
O que conto desta fábula
Que eu já dava como perdida.
Rouxinol vivia solto
Pelas ruas do Castelo
Nunca foi bem tratado
Como foi Gato Pitelo
De vez em quando levava
Uma tapa de chinelo.
Vizinhança terrível
A Rouxinol desprezava
Porque este bicho gato
Todo mundo atanazava
Subindo em cima de mesa
Tudo ele mastigava.
Chega um circo no Castelo
Com sua grande atração
A belezura da selva
Na figura dum leão
Muito magro e desnutrido
Precisando alimentação.
Tão pobre era o circo
Uma grande lona furada
Ferrinho era o palhaço
O xodó da meninada
Que de noite recebia
Muita boa gargalhada.
O Circo Racion Iara
Tinha leão bem sarado
O corpo todo robusto
E bucho alimentado
Nas mãos do domador
Ele pagava pecado.
De tanto sofrer o bicho
Ele ficou bem desnutrido
De cidade em cidade
Nunca tinha se divertido
Perdeu aquele seu corpo
E ficou enfraquecido.
Coitado daquele leão
Tava cada dia pior
Que tal se ele provasse
Do sabor de Rouxinol?
Veremos como se deu
Esta questão que dá nó.
O danado desse circo
Por nome Racion Iara
Precisou soltar ingresso
Falou a dançarina Mara
Dizendo que o leão
Por gato tinha tara.
Foi a notícia correr
Pra menino se atiçar
Não houve ali no bairro
Um gato pra se salvar
O gato entrando na jaula
Ia com o leão brincar.
Quem foi do Castelo Branco
Pela década de setenta
Sabe o que estou falando
Isso jamais se inventa
Uma notícia tão ruim
Que meu juízo atormenta.
Jamelão foi o primeiro
Que o leão engoliu
Foi uma cena macabra
A que o menino viu
Até hoje ele pensa
No que escapuliu.
Tinha gente que levava
O gato de estimação
Quando o dono percebia
Já tinha sido refeição
Mastigada sem força
Pelo faminto leão.
O bicho era tão fraco
Que não saía do lugar
Pegava as suas patas
Pra com o gato lutar
Tantas foram as horas
Pro alimento entrar.
Dona Penha quando soube
Quis Xadaigo processar
Depois aquela beata
Deixou aquilo passar
Perdoou o leão do circo
Pra depois se confessar.
Dona Penha foi a dona
Do bonito gato Pitelo
Era o gato mais charmoso
Que já houve no Castelo
Comido pelo leão
Que desceu feito farelo.
Tudo isso era feito
De forma bem planejada
Quando um gato sumia
Era tanta presepada
Inda hoje tem pessoa
Ouvindo fica arretada.
Mixengo mais o Xadaigo
Uma dupla de presepeiro
Metia gato no saco
Até o de Seu Carneiro
Que todos lhe conheciam
Pelo nome de Tinteiro.
Menino tem cada coisa
Que só vendo para crer
Vou voltar a Rouxinol
Que teve muito saber
Livrou-se daquele saco
E com o leão foi se ver.
Chegando naquele circo
Foi direto no leão
Bem de mansinho na jaula
Teve esculhambação
Rouxinol fedia muito
Mas teve disposição.
O leão ficou com medo
E fez logo um trato
Disse que depois daquela
Não comeria mais gato
E Rouxinol aproveitando
Falou o mesmo de rato.
O povo ficou pensando
O que disse o Rouxinol
O leão mudou de ideia
E não levou a melhor
Imaginação de criança
Que não espera o pior.
Rouxinol entrou na jaula
Praquele grande embate
Aquela luta felina
Ficou mesmo no empate
Rouxinol saiu bem contente
Fazendo sua parte.
Todo povo do Castelo
Ouve falar na história
Eu tão pequeno que era
Hoje guardo na memória
Da luta que foi travada
Pra Rouxinol uma glória.
O duelo deu empate
Somente pro leão
O vencedor foi de fato
Dito pela Conceição
Foi o gato Rouxinol
Quase virou refeição.
O leão com a brabeza
Em Rouxinol nem falava
E assim o Rei da Selva
Daquele jeito estava
Quando falavam de gato
Tão depressa vomitava.
Pense num gato de sorte
Virou mascote de menino
Deixou o rato de lado
Limpou bem o intestino
Não foi comida de leão
Mudou pra sempre o destino.
Esse gato Rouxinol
Do começo da avenida
Só tinha couro e osso
E o pelo de ferida
São recordações profundas
Que enchem a minha vida.
Estripulia de menino
Pro gato pede perdão
Distante da ecologia
Nada de comunicação
Importava o ingresso
Pra depois complicação.
O leão continuava
A fazer malabarismo
O público muito medroso
Com exibicionismo
As fofoqueiras do Castelo
Dizem: - Ele foi do nazismo.
Sei dizer que o leão
Ganhou logo liberdade
Foi morar no seu habitat
Pra esquecer a crueldade
Não foi culpado o sujeito
Viveu ele na castidade.
E aqui chego ao final
Desta fábula infantil
Contada pelo Cordel
A melhor deste Brasil
Ser menino era bom
Circo e banho de rio.
FIM
João Pessoa-PB, 18 de maio de 1999.