Cordel: O Burro Emburrado

No curral de Zé Bento

Cada um trabalhava,

Mas tinha um Burro velho

Que sempre reclamava

Quando o Galo ia cantar

Ele sempre relinchava.

O Asno velho estava

Sempre mal-humorado,

Porco não podia grunhir,

Que ficava estressado,

Se o Cachorro latisse

Ficava emburrado.

Já bastante cismado

Com o Burro carrancudo

O sindicato promoveu

O dia mundial do mudo,

Bicho que conversasse

Levaria um cascudo.

O Bode linguarudo

Fez a maior confusão

Chamou Gil Cascudo

Motorista de busão,

Era um Besouro idoso

Que estava em excursão.

Grande a repercussão

No curral de Zé Bento,

O Burro já emburrado

Com aquele movimento,

O Peixe Zé Cascudo

Não gostava do jumento.

Havia um documento

Querendo explicação,

Como era esse cascudo

Que serve como punição?

Um Peixe, um Besouro?

Ou um soco com a mão?

- Isso era uma agressão

E uma falta de respeito!

Ser agredido por falar?

Cadê o nosso direito?

Berrou seu Zé das Cabras

Com a barba já no peito.

O Jegue insatisfeito

E totalmente zangado,

Chamou o seu Tetéu,

Aprediz de delegado

E o compadre Pato,

O novo advogado.

O Burro já irritado

Relatou todo fato,

Que a lei do cascudo

Fosse de imediato

Ele não ia esperar

O aval do sindicato.

- Aquele Bode gaiato

É de arrancar o cabelo,

Passa o dia berrando,

Parece um pesadelo!

Gostaria que o senhor

Acabasse o desmantelo.

Fazia o Burro o apelo

Aos bichos do juizado,

Seu Tetéu também ficou

Bastante indignado,

Ele nunca tinha visto

Alguém tão emburrado.

- É um Burro frustrado!

Dizia Chico do Bode,

Berrando a Zé das Cabras

Que alisava o bigode,

Enquanto observava

A Borrega no pagode.

- Com ele ninguém pode!

Berrou João Carneiro!

- Mas é apenas um burro!

Saiu uma voz do poleiro,

- Ele vai virar charque!

Berrou-se do chiqueiro.

Os Pássaros do viveiro

Que cantavam todo dia,

Reclamaram que o Burro

Não gosta de alegria,

Só pensava trabalhar

Com muito maestria.

Tinha bastante energia,

Mas parecia cansado,

Quando não trabalhava,

Já estava estressado,

Nunca tinha descanso,

Pois estava esgotado.

O Burro mal-amado

Deu com os burros n'água,

Não conseguiu o silêncio

E foi beber muita água

E percebeu que na vida,

No fim, tudo deságua.

Autor: Claudson Faustino