Aventuras de um “capa-gato” no Colégio Agrícola Vidal de Negreiros

Com cem anos de existência

Nos ricos campos brejeiros

Pontifica o Colégio

Rural Vidal de Negreiros,

Tradição na excelência,

Fez parte dos meus roteiros.

No ano 74

Dali eu fui estudante,

E na agropecuária

Fui aluno vacilante,

Chamado de “capa-gato”,

Apelido ultrajante.

Diziam: aquele cabra

Esnobe, metido e chato,

Que se diz veterinário,

Não passa de um “capa-gato”.

Fui um aluno faltoso

No meio daquele mato,

Pois, das ciências agrárias

Era médio militante,

Aprendente nível médio,

Mas não levei adiante

O curso de agricultor

De que eu era aspirante.

Eu não tinha vocação

Para zootecnia.

Criar galinhas e coelhos

Me dava medo e azia,

Tomar conta de barrões

Era o que eu mais temia.

Plantava feijão e milho

Na técnica do cultivar,

Até nisso era um desastre,

Nunca aprendi a plantar.

Eu arava em campo neutro

Sem jamais me motivar.

Na cidade Bananeiras

Limpei muito o canal

Que atravessava a urbe,

Uma tarefa campal

Que humilhava o “capa-gato”

Feito colônia penal.

Mas, no Vidal de Negreiros

Era boa a acolhida,

Com comida, dormitório,

Educação garantida

Para os filhos dos pobres,

Um reformador de vida.

Quando era Patronato

Recebia o indigente,

Criança sem pai nem mãe

Onde aprendia a ser gente,

Ganhava uma profissão,

Com instrução seguia em frente.

Ao celebrar seus cem anos,

Nosso Vidal de Negreiros

Tornou-se fundamental

Nos lavradios campeiros,

Na área da agricultura

Entre grandes pioneiros.

Essa instituição,

Nos cem anos de colheita,

Selecionou as sementes,

Aprimorou a receita

Da educação inclusiva,

Em sintonia perfeita.

Doutor Geraldo Beltrão,

O atual diretor,

Campus III em Bananeiras,

Docente, mestre e cultor,

Destaca o grande trabalho

Como polo formador

De gente qualificada

Para o país inteiro,

E para outras nações

Como inegável celeiro

De bons profissionais

Até para o estrangeiro.

Representando os alunos

Temos um belo escritor,

O mestre Manoel Luiz,

Um bom historiador

Que ainda vive em Bananeiras

É do Colégio tutor.

Um guardião da memória

Do centenário Colégio,

Velho Vidal de Negreiros.

Manoel, aluno egrégio,

Com 83 de idade

Tem assim o privilégio

De contar nas suas obras

Os fatos e evolução

Do Colégio precursor

E sua nobre missão.

“Dediquei a minha vida

A narrar essa lição”,

Disse o longevo Manoel

De origem alagoana,

Que chegou aqui no trem,

Nesta cidade serrana

Aqui plantando sementes

Na afetiva roça humana.

Formou a sua família,

Morador arraigado,

Ama sua Bananeiras

Onde lavra com o arado

Da História e da memória

A terra onde foi letrado.

Fui expulso do Colégio

Eu confesso envergonhado

No ano 74

Sendo desencaminhado

Por influência negativa

De colega depravado.

Diz uma antiga lenda

Sobre essa minha expulsão,

Fui proscrito por queimar

Um sofá e um colchão

Depois de tomar brejeira,

Vandalizando o salão.

Mas, o verdadeiro fato

Que se deu foi o seguinte:

Um professor militar,

Com seu militar requinte,

Foi dar aula inaugural

Em desastre conseguinte.

Aula sobre os Estudos

De Problemas Brasileiros.

O tenente só falava

Dos efeitos milagreiros

Da falsa “revolução”

Dos generais brigadeiros.

Eu estava animado

Pela cachaça “Rainha”,

Achei de pedir aparte

No meio da ladainha

Do milico autoritário

E isso não me convinha.

Eu disse: meu general,

Eu acho o senhor matreiro,

Porque já faz uma hora

Que enaltece esse chiqueiro.

Afinal, aonde está

O problema brasileiro?

Pediu meu nome e registro,

Anotou e foi embora.

Com quinze dias depois

Eu fui botado pra fora

Num tempo em que estudante

Era tratado na espora.

Mas, no Vidal de Negreiros

Marquei época como aluno.

Fui redator de jornal,

E destacado tribuno,

Apesar de bagunceiro,

Travesso e inoportuno.

Lembro de muitos colegas

Que estudaram comigo:

Caloi, Nino, Cubati,

Xuxa, Barbalho, Umbigo.

Um por nome de Uray,

A “mãe de calor de figo”.

Esse Uray foi candidato

Ao cargo de deputado.

O bordão “Uray por nós”

Foi bastante comentado.

Não votei no meu colega

Porque não voto em safado.

O deputado Chió

Também é um ex-aluno.

Entrou com 14 anos,

Em instante oportuno.

Hoje elogia o Colégio,

A isso eu me coaduno.

Alexandre Eduardo,

Engenheiro professor,

Colega de Academia,

Mestre, poeta e doutor,

Representa os docentes.

É amigo do autor.

A evolução rural

Muito deve a esta escola.

A cidade Bananeiras

Tem ela como uma mola

Propulsora do progresso

Que hoje se desenrola.

André Vidal de Negreiros

Que nasceu em Santa Rita,

Um herói paraibano

A quem a História cita

Líder da insurreição

Na dominação maldita.

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 04/09/2024
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