MEMÓRIA DO CIRCO RACION IARA

Vou fazer este cordel

Em torno duma memória

Bem escrita pela mente

Desse filho de Vitória

Que viveu à sua infância

Carregado dessa história.

Castelo de tantas glórias

No circo das atrações

Pois, uma só preencheu

Os infantis corações

Nosso Racion Iara

Com lindas exibições.

O Circo das multidões

Ficava armado detrás

Do Mercado do Castelo

Que só nos trazia a paz.

O Ferrinho na plateia

Disse: - Que lindo rapaz!

Saindo nos grandes jornais

As notícias do Ferrinho

Com cartolas coloridas

Tirando um só coelhinho

Com sua gravata nobre

Gritava: - Sou gostosinho!

Tínhamos tanto carinho

Que com o tempo perdemos

Circo Racion Iara

Tantas apostas vencemos.

Não havia tempo ruim

Só bondade percebemos.

Praquele circo corremos

Ferrinho se apresentava

Um número musical

Todo mundo se animava

Naquela lona furada

Muita chuva passava.

O menino se cansava

Só fazendo estripulia

Enrolava todo mundo

Pois, inclusive o vigia

Uma galera pulava

Outra lá dentro fingia.

O palhaço da alegria

Com as belas dançarinas

No palco daquele circo

Brincava com as meninas

Porque à noite estavam

Nos arrebentando as sinas.

Eram coisas repentinas

E tome dinheiro pra ir

Tudo sempre repetia

Tão bom a gente sorrir

Com o Palhaço Ferrinho

No coração vou sentir.

Gente que passava ali

Pois, só se ouvia falar

No espetáculo circense

Torce pra noite chegar

Pois nós tínhamos certeza

Que ela podia estar lá.

Muita gente no circo

Pois a menina não veio

O coração ali bem triste

Ferrinho num aperreio

Pois cada piada dele

Não fica ninguém no meio.

O povo dando passeio

Esquecendo o riso dado

As graças desse palhaço

Que nos deixava atiçado

Todos nas lonas furadas

Poleiro de pau quebrado.

O trapezista aluado

Muita história e drama

Pois, noutro dia na escola

O inspetor vem e reclama

Pelo riso que se dava

Sendo o fim em nossa cama.

Mixengo que o mundo lhe ama

Ganha dos pais confiança

Levar muitos meninos

Na astúcia de ser criança

Ele rindo toda peça:

- ‘O Palhaço com a Herança’.

Xadaigo fez a poupança

Pra Mixengo ter dinheiro

Zombava no bairro todo

Um bom cabra arruaceiro

Também estava no circo

Era grande esse puteiro.

Sonhávamos por inteiro

Dessas noites que passamos

Há três décadas atrás

Lá se vão diversos anos

Lembro como sendo agora

Daquele povo cigano.

Montava ligeiro o pano

Pela noite, palhaçada

Cantava Maurício Reis

Pra toda aquela moçada

Depois o José Ribeiro

Alegrando a meninada.

A música tão esperada

Dizia o cabo Zezé

‘Tens a beleza da rosa’...

Cantada com tanta fé

‘Verônica’ do Maurício

Nunca ninguém bateu pé.

Havia até um boné

Desse Racion Iara

Usado pelo Ferrinho

Naquele drama de Lara

O palhaço se agitava

Rasgava ele com a vara.

Foi a dançarina Samara

Com a sua sexy roupagem

Ria crianças e adultos

Com aquela sacanagem

E esse Palhaço Ferrinho

Falou: - Sou da fuleragem!

Pense numa pabulagem

Tão bonito de se ver

Fanática molecada

Ferrinho queria ser

Era o artista do momento

Disso não queiram saber.

Foi só ir e perceber

Entrar nele com vontade

Assistir todas as tramas

Do ‘Menino em Liberdade.’

Circo Racion Iara

Causa muita saudade.

Quem viveu dessa verdade

Lá no Racion Iara

Ferrinho com sua trupe

E a dançarina Samara.

Quem nunca se arrepiou

Trapezista Jaciara?

Depois a bela Jussara

Com o cavalo e macaco

Ali, tudo era engraçado

Até coçar o sovaco

Quem não tivesse cabeça

Ia para encher o saco.

O leão por nome Paco

Estava bem desnutrido

Cada apresentação sua

Que bicho mais destemido

Domador ficava puto

E gritava no seu ouvido.

O leão já sem sentido

Querendo só o alimento

A gente ria muito

Sem saber do sofrimento

Daquele pobre animal

E nada de mantimento.

Apelam nesse momento

Pra garotada de fato

Dariam muito ingresso

Para quem trouxesse um gato

Pra alimentar o leão

Pois, assim foi feito o trato.

Eu hoje acredito que sim

Ninguém não descobriu

O sumiço dos felinos

Que esse Paco engoliu

E assim ficou bem feliz

Um que do saco caiu.

Foi Rouxinol que saiu

Direto para Avenida

Um gato que só tinha osso

E o pé cheio de ferida.

O danado fugiu

E disse: - Eu não sou comida!

O leão e o gato da vida

Fábula de brincadeira

A meninada no drama

Vibrava com tanta asneira

Circo Racion Iara

Quase desaba a madeira.

Esse circo fez carreira

Seguindo outro bom destino

Com carros pelas estradas

Sofria o pobre menino

Que dava muito adeus

Ferrinho tocando sino.

Eu deixo aqui em desatino

Tão bela recordação

O circo da minha infância

Que alegra meu coração

É o cordel brasileiro

Saudando toda a emoção.

FIM

João Pessoa-PB, 25 de dezembro de 2007.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 01/09/2024
Código do texto: T8141994
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