TEODORO E TEODORA

Numa cidade pequena

No interior paulistano

Nasceu Maria Teodora

Filha de Pedro Hermano

Que pensou num grande amor

E só encontrou o dissabor

No mais profundo desengano.

Conta os mais antigos

De geração em geração

Que Teodora sofria

Por demais seu coração

Esperando seu amado

Naquele dia ensolarado

No fim da Estação.

Quando o jovem Teodoro

No trem não chegava

Ela baixava o rosto

E somente chorava

Esperando outra chegada

Que sempre dava em nada

Porque distante ficava.

Teodora a pobre moça

Queria ser enfermeira

Estudava até de madrugada

Entrava a noite inteira

Tentando ser doutora

Uma eterna sofredora

Nesta terra brasileira.

Teodoro moço rico

Morador da capital

Se apaixonou por Teodora

Educada e jovial

Que muito lhe amaria

Era assim que ele dizia

Desde aquele carnaval.

Naquela cidade pequena

O carnaval ficou na história

Ao brincar um dia ali

Teodoro teve a memória

Gravada naquela menina

Que mudaria toda sina

Na sua simples trajetória.

Os olhares se cruzaram

E nascia um grande amor

Teodoro o moço rico

Com a pobreza se conformou

Teodora filha de pobre

Mas de sabedoria nobre

O coração logo despertou.

O único meio de transporte

Era uma locomotiva

Apenas numa viagem

Sem muita expectativa

A estrada era tão ruim

Falava o velho Joaquim

Pra completar a narrativa.

Naquela época o tempo

Era então bem diferente

As coisas eram poucas

Não dava pra muita gente

Foi nesta época capitalista

Que na terra paulista

Surgia ali o detergente.

Quem criou este negócio

Ganhou muito dinheiro

Ficou bastante rico

Assim tão bem ligeiro

Foi o pai de Teodoro

Neto segundo de Eudoro

Que fez isto primeiro.

Na capital de São Paulo

Uma indústria ele criou

Era tanto detergente

Que logo ele exportou

Primeiramente na capital

Tanto anúncio no jornal

E pra fora ele logo levou.

O lucro foi muito grande

E com isto veio a riqueza

Teodoro tinha uma irmã

De raríssima beleza

Vivia nos jornais

Com fatos editoriais

Pousando de realeza.

O nome desta jovem

Era Magda Geminiana

Nascida lá no Rio

No Bairro Copacabana

Só gostava de dinheiro

Feito formiga em formigueiro

E de gente bacana.

Ao saber do seu irmão

Que o coração palpitava

Imediatamente gritou

Que sua boca agitava

Implorando aos familiares

Que não fosse aos altares

Que Teodoro já planejava.

O pai de Teodoro

Era um grande empresário

Que logo chamou o filho

De um grande otário

Que respeitasse o nome

Ele iria passar fome

Se esse fosse o destinatário.

Magda toda arrogante

Não queria esta união

Fez tudo que podia

Pela total destruição

Preservando sua família

Ao lado da tia Emília

Em nome de seu irmão.

Teodora nada sabendo

Falou pra Teodoro

Que queria conhecer

E até disse: Eu imploro

Quero conhecer teus pais

Que vejo sempre nos jornais

Se não eu te ignoro.

Com estas palavras

Teodora foi dizendo

Ao passo que Teodoro

De amor por ela morrendo

Não tinha como explicar

Tudo ia se complicar

E foi tudo desconhecendo.

A família de Teodoro

Muito rica e abastada

Não aceitava o pobre

Naquela linha traçada

Somente gente rica

Feito água em bica

E que fosse afamada.

Magda era o escudo

De toda esta falação

Metida em manchetes

Só queria divulgação

Se pegar com a riqueza

E desprezar qualquer pobreza

Era a sua satisfação.

Teodora começava então

O seu martírio de vida

A paixão por Teodoro

Estava sendo impedida

Não conseguia entender

Porque todo aquele sofrer

E nem encontrava saída.

Teodoro por outro lado

Com a irmã discutiu

E por muitas vezes

Da discussão fugiu

Magda como a primeira

A filha também herdeira

No inverso persistiu.

Teodora apesar de pobre

Se vestia muito bem

Tinha roupa elegante

Comprada lá em Belém

A terra dos ancestrais

Da família dos seus pais

Hoje lá não mora ninguém.

Falo ninguém da família

Que a Teodora pertence

Voltar àquela cidade

É algo tão suspense

Feito filme de terror

Que dá tanto horror

É bom que nem se pense.

Teodoro foi definhando

E precisava se curar

O remédio que lhe servia

Só no Estado do Pará

A família teria que ir

Se quisesse o bem servir

Só em Belém iria encontrar.

Pedro Hermano sabia

Daquele namoro obscuro

Tinha plena convicção

Que nada ali tinha futuro

Pediu ligeiro pro filho

Que voltasse a ter bilho

Se livrando daquele escuro.

O escuro era terrível

Magda a provocadora

Humilhava a todos

A toda classe trabalhadora

Quando o assunto era grana

Ela ficava muito tirana

Bravejando e desafiadora.

Pedro Hermano vivia

Na cruel intranquilidade

No início era coisa tão boa

Muito mais do que verdade

Agora o tempo mudava

Só de vaca ele cuidava

De antigamente tinha saudade.

Teodora se trancou ali

Na solidão que se conduz

Pedindo quase em oração

Usando nome até de Jesus

Que desse qual o motivo

Pra Teodoro ser mais ativo

Acendendo ali uma luz.

Teodoro ficou confuso

E não soube a razão

De sua irmã Magda

Não ter bom coração

Tirando o que fosse dele

Não valorizando ele

E fazendo só ingratidão.

Esta doença cresceu

E Teodoro não resistiu

Não chegou a viajar

E na capital sucumbiu

Magda vendo a triste cena

Não teve nenhuma pena

Daquele irmão que partiu.

Era um dia ensolarado

E Teodora ali na Estação

Esperando seu Teodoro

Pra entregar seu coração

Não sabia a triste menina

Naquela maldita sina

Que tudo era perdição.

Aquele silêncio pairou

E a locomotiva apitando

Era um apito tristonho

Do mal que vinha chegando

Nunca houve o namoro

Somente lá houve choro

De Teodoro se sepultando.

Dizem hoje os mais velhos

Que mora ali na Estação

Uma jovem tão bonita

Só esperando a ocasião

Do seu amor reencontrar

Pra muito filho lhe dar

Com ternura e paixão.

Até que fim terminei

Esta história tão triste

Gravada no inconsciente

Deste povo que existe

Habitante daqui da terra

Na planície ou da serra

Este Cordel nunca desiste.

FIM

João Pessoa-PB, 04 de maio de 2000.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 30/08/2024
Código do texto: T8140519
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