CORDÉIS DIVIDIDOS
O BRASIL ENCONTROU SAÍDA
Eu inicio este cordel
Em parceria vou terminar
Com base no Raul
Interessante continuar
Desde a década de oitenta
Só agora fiz publicar.
O Brasil encontrou saída
Sem achar a solução?
Sem encontrar o caminho
Para a sua salvação?
Com o povo amordaçado
Oprimido e algemado
Nas garras dessa inflação?
O Brasil encontrou saída
Sem achar o conteúdo?
A maioria sem nada
E a minoria com tudo?
Um rico forte e gorducho
Crescendo demais o bucho
E outro pobre e sambudo?
O Brasil encontrou saída
Sem achar o lenitivo?
Sem descobrir o roteiro
Que não seja negativo?
Valorizando o cruzeiro
No Brasil e no estrangeiro
Deixando o povo indeciso?
O povo encontrou saída
Sem a porta de emergência?
Sem a sua economia
Estar na independência?
Sem a sua política externa
Combinar com a interna
Que está sempre em decadência?
O Brasil encontrou saída
Sem vencer a carestia?
Com o povo sem liberdade
Sem plena democracia?
Para que na eleição
Disponha de opção
Na sua soberania?
O Brasil encontrou saída
Sem fazer Reforma Agrária?
Com as classes camponesas
Em situação precária?
Sem a distribuição
Da renda pela Nação
Pra toda classe operária?
O Brasil encontrou saída
Sem sair do pesadelo?
Com este salário mínimo
Sendo o maior desmantelo?
Com este triste salário
Deixando o pobre operário
Sem amor, carinho e zelo?
O Brasil encontrou saída
Entregando o Carajás?
Com toda Serra Pelada
E o outro que tem lá?
Traindo assim a história
Como também a memória
Do imortal JK?
O Brasil encontrou saída
Sem uma boa educação
Com o povo desinformado
Vivendo em contradição?
Com o nosso governante
Desonesto e ignorante
Só fazendo atrapalhação?
O Brasil encontrou saída
Pra resolver tanto problema?
Resolver o desemprego
E não criar muito dilema?
Vendo o povo desempregado
No seu canto, sufocado
Que só nos causa pena?
O Brasil encontrou saída
Pra acabar o desemprego?
Pais de famílias morrendo
Vivendo feito morcego?
É tanta gente doente
Que nos deixa tristemente
Nessas ruas só do arrego?
O Brasil encontrou saída
Apoiando o Pesquisador
Aquele que tanto estuda
Às vezes sem nenhum valor?
A doença se estabelece
O povo todo entristece
Causando somente a dor?
O Brasil encontrou saída
Entregando nossa riqueza
A politicagem é grande
Só destroem a natureza?
Com o índio sem opção
Só percebem a destruição?
Quando perdem sua grandeza?
O Brasil encontrou saída
Exportando sua madeira?
Deixando os povos das matas
Numa tremenda roubalheira?
A população já não aguenta
É tanta mentira que inventa
Nessa riqueza brasileira.
O Brasil encontrou saída
Ou ele mesmo se afundou?
Aquele que tanto estuda
Às vezes sem nenhum valor?
A doença se estabelece
O povo todo entristece
Causando somente a dor?
O Brasil encontrou saída
Valorizando as multinacionais?
Destruindo o patrimônio
Das indústrias nacionais?
Com mão de obra escrava
A sepultura pobre cava
Nos aumentos infernais?
O Brasil encontrou saída
Usando o nome de Deus?
Com o povo na ingenuidade
Na descoberta dos ateus?
A ciência e a religião
Mercadoria da ilusão
Nas crenças dos filhos teus?
O Brasil encontrou saída
No processo eleitoral?
Elegendo um candidato
Que simpatiza com o mal?
A política que vivemos
Nada nós resolvemos
Somente o poder capital?
O Brasil encontrou saída
Deixando o pobre mais pobre?
Enricando cotidianamente
Aquele chefe tão nobre?
O rico trafegando no ouro
Os outros comendo o couro
Na bacia banhada em cobre?
O Brasil encontrou saída
Matando a nossa criação?
Explodindo a falsa ideia
Do processo de evolução?
Gente que se acha inteligente
Não passa de uma demente
Usando erroneamente a religião?
O Brasil encontrou saída
No seu desenvolvimento?
Preservando a Amazônia
Que viver no sofrimento?
O estado não mais aguenta
É tanta luta sangrenta
É terra tendo pavimento.
O Brasil encontrou saída
Nos programas sociais?
O pobre tão precisado
Faz fila nos hospitais?
É triste ver esta nação
Sempre na contramão
Pelos políticos imorais?
O Brasil encontrou saída
Usando da força militar?
É tanta bala perdida
Que não dá pra suportar?
O pobre é o que sofre mais
Não quer guerra, só quer paz
Pois terminam de lhe matar.
O Brasil encontrou saída
Perdendo todos os direitos?
A Constituição é rasgada
E surgem os preconceitos?
A notícia é deturpada
E a política não resolve nada
Só usa o pobre nos pleitos?
O Brasil encontrou saída
Esquecendo a politicagem?
Deixando o nobre político
Vendedor da vagabundagem?
E aquele pobre eleitor
Que tanto aperreio passou
Hoje vive da sacanagem?
O Brasil encontrou saída
Vendendo seus jogadores?
Cada um saindo rico
E deixando os dissabores?
Nos times que eles jogam
No dinheiro se afogam
E o país perdendo horrores?
O Brasil encontrou saída
Maltratando a população?
A lei só beneficia ao poder
E dar voto em eleição.
O Congresso e o Senado
Do presidente pau mandado
Vive tamanha contradição.
O Brasil encontrou saída
Sem um governante sério?
Aquele que manda o povo
Direto ao cemitério?
Um país sem governante
Legalizando a amante
No jogo do adultério?
O Brasil encontrou saída
Sem sair desse buraco?
Se vendendo ao estrangeiro
Por ser tímido e fraco?
O povo não aguenta mais
Vive na guerra em vez da paz
Se encontram dentro de um saco.
O Brasil encontrou saída
Com toda Serra Pelada
E o outro que tem lá?
Traindo assim a história
Como também a memória
Do imortal JK?
Aqui vou terminando
Sem a ninguém acusar
Pois como brasileiro
Eu tenho o direito de opinar
Para que os brasileiros
Dos massacres estrangeiros
Procurem se libertar.
FIM
Guarabira-PB,10 de dezembro de 1982.
AUTO DA COMPADECIDA
Eu agora vou falar
Do nosso Circo Sem Pano
Montou bons espetáculos
No solo paraibano
Auto da Compadecida
É o nosso grande plano.
Ariano o Mestre paraibano
Foi ele que escreveu
Auto da Compadecida
E o sucesso aí nasceu
Primeiro em Pernambuco
Onde Ariano morreu.
Montado por muitos grupos
Circo Sem Pano também montou
Tem muita estrada pela frente
Espetáculo de grande valor
Um elenco de primeira
Sangue, suor e amor.
Começou no ano dois mil
Até hoje se apresenta
É o Auto da Compadecida
Com o elenco que arrebenta
É o Circo Sem Pano
Com sua linguagem atenta.
O desenho deste cordel
Foi Pádua Lucena que criou
Uma pintura para o Auto
Que ele logo desenhou
As mãos singelas do artista
Inspiração com muito amor.
Já andamos por lugares
Que não se pode acreditar
Até pátio de escola
Fomos se apresentar
É o Auto da Compadecida
Feito só para alegrar.
Quem ainda não assistiu
Vai ter como observar
A mudança de elenco
Antes do ano terminar
Cada ano que inicia
É nova semente germinar.
A primeira apresentação
Kleyton era o principal
Grande ator que nos deixou
Interpretação mais que legal
Chris Maurício lá na frente
E ficou sensacional.
Beto Black foi coringa
Vários papéis representou
De João Grilo ao Padre
Ele foi e representou
Obrigado Beto Black
Por tudo que nos deixou.
O João Grilo eu mesmo faço
E gosto dele fazer
No começo do projeto
Queria logo saber
Como ficaria tudo
Depois eu ia ver.
O parceiro de João Grilo
Tem o nome de Chicó
É um sujeito enrolado
Em tudo dá logo um nó
Faz cada presepada
E ainda levar a melhor.
O Padre personagem
É Marcílio o primeiro
Já passaram tantos
Mas este padre é certeiro
Só Marcílio fazendo ele
Num papel tão brasileiro.
Arlysson Araújo
Merece uma falação
Fez o Padre muito tempo
Por nome Padre João
É o padre do Auto
Personagem de paixão.
O Padeiro teve Rui
Que primeiro interpretou
Diego foi cabra bom
E bem feito trabalhou
Beto Black deu vida
E Paulo continuou.
Jesus, o Manuel
Paulo Ribeiro se interessou
O papel foi todo dele
E ninguém nunca tirou
Saiu por conta própria
Ator de grande valor.
Hoje o texto está mudado
Muito tempo tem se passado
Muitos já sairam
E entrou foi um bocado
Dando vida aos personagens
E muito bem se apresentado.
A Mulher do Padeiro
Foi Vanda quem primeiro fez
Depois entrou Luciana Portela
Apresentação quase todo mês
Temporada no Paulo Pontes
E no Ednaldo outra vez.
Nesse papel também
Silvana Pequeno também fez parte
Brilhou com seu talento
Nos deu uma grande arte
Dalila, Francijane e depois Aymê
É elenco melhor que o Planeta Marte.
O Major primeiro foi feito
Pelo conhecido Daniel Barbosa
Hoje se chama Dani
De nome já bem formosa
Foi também Severino
Aracaju lhe fez famosa.
Chicó tinha Pedro Neto
Até premiado em festival
Ganhou ator coadjuvante
E foi sensacional
Depois Jamerson Lucena
Pegou o papel e fez o tal.
Rejane e Daniele
Sílvia Josy e Adriana
De tudo elas fizeram um pouco
Sangue na veia que a arte emana
Nicole e Alessandra também
Na cena ninguém reclama.
Polyanna foi Nossa Senhora
Luciana Portela Mulher do Padeiro
Dalila Cartaxo e Puama Sheila
É o personagem por inteiro
É personagem e atriz
No teatro brasileiro.
Tito foi gato e cangaceiro
Na primeira montagem
No ano de dois mil
Construiu bem o personagem
Depois saiu de cena
Mas ficou uma boa imagem.
Auto da Compadecida
Escrita por Suassuna
Ariano Rei do Sertão
Vizinho de Araruna
Escreveu outras obras
Esse cabra que se apruma.
O desenho de Pádua Lucena
É pintura vanguardista
As mãos da arte do poeta
Esbanja as mãos de artista
É a cor que faz a santa
No saber tão realista.
O cangaço e o cordel
Completam o Auto
É um espetáculo
Que ganha grande salto
Se apresenta em local fechado
Até no meio do asfalto.
Em Mil Novecentos
Do ano cinquenta e seis
O Teatro Adolescente do Recife
Ganhou respaldo de uma só vez
Se apresentou e foi aclamado
E o público virou um bom freguês.
Ariano e Hermilo
Dois populares escritores
Fizeram pela cultura popular
O riso vencer as dores
Auto da Compadecida
De nós só tem louvores.
Kleyton Cruz e Pedro Neto
Erivan e Rui Macena
Sílvia Josy e Lu Buás
Está completa a cena
Jamerson e Daniel
Marcílio até hoje encena.
Polyanna e Luciana
Silvana e Francijane
Tantos personagens
Como batata e inhame
É assim que o teatro nasce
Não responda, nunca reclame.
A autorização do Ariano
A adaptação logo aceitou
O Grupo Circo Sem Pano
Logo em seguida montou
Obedecendo ao Velho Mestre
Que a tudo encantou.
Primeira parte terminada
Pra segunda vou partir
Falando do nosso Auto
Que deixou se permitir
Vinte anos de história
De vez em quando ressurgir.
FIM
João Pessoa-PB, 25 de setembro de 2017.
AUTO DA COMPADECIDA - (Segunda Parte)
Símbolo da nossa história
Ariano eternizou
Teve acesso à montagem
Com certeza ele gostou
Mesmo assistindo em vídeo
Ele então parabenizou.
É o Grupo de Teatro
Circo Sem Pano é conhecido
Já montou diversas peças
Mas pelo Auto é reconhecido
Um espetáculo paraibano
Para nós bem merecido.
Já ganhamos tantos prêmios
Em festivais pelo país
Em Congonhas lá em Minas
O público ficou feliz
Arrancamos gargalhadas
Era pra ganhar o povo diz.
Fomos para São João
Por nome Nepomuceno
Levamos todos os prêmios
Trabalho bom que merecemos
Voltar a São João
Nós todos pretendemos.
O ator ítalo Rômany
Foi destaque do Festival
Revelação como ator
Interpretação sensacional
O espetáculo como um todo
Foi muito mais do que legal.
Já nos apresentamos
Nos teatros da cidade
O ator Israel Ferbar
É só pura vaidade
Desde dois mil e doze
É o Bispo de verdade.
Este ator é engraçado
Encarnou o personagem
O pior é que a sobrancelha
É piada de maquiagem
O público que está presente
Ver-se logo essa imagem.
Alagoa Grande a cidade
De Jackson nos mereceu
No Caminho do Frio
O grupo lá apareceu
Auto da Compadecida
No Santa Inez aplauso recebeu.
Em Guarabira com muita honra
Geraldo Alverga em atividade
Auto se apresentando
E a plateia sorrindo de verdade
O grupo entrevistado
E o apoio da sociedade.
Lagoa de Dentro
Bem no meio da praça
Não deu para o Auto
Não há como ter graça
Lembrando do que houve
Acho que foi até pirraça.
Uma festa na cidade
E o espetáculo mal divulgado
O povo queria beber
O Auto sendo encerrado
Uma pena disse alguém
Um segurança soldado.
Sindsprev já deu apoio
Sindifisco acompanhou
Durante a montagem do Auto
Somado ao que o grupo gastou
Mas bem vinda são as finanças
Que no caixa do grupo entrou.
Hermano Queiroz é ator
Do Major e Severino
É cangaceiro da peste
E no grupo fez seu destino
Brevemente vem a volta
Mística que envolve desatino.
Ericsson Marques já fez parte
No elenco de cangaceiro
É um ator experiente
Texto na língua certeiro
O espetáculo é criativo
É caco o dia inteiro.
Se aqui eu fosse botar
Nomes que fizeram parte
Da história do espetáculo
Não daria pra esta arte
Se acaso eu esqueci
Por João Grilo você me trate.
Vamos gente se lembrar
Premio da Mostra Estadual
Primeiro lugar no popular
Fomos destaque no Festival
Concorremos com várias peças
Mas para nós foi só o grau.
Muita gente já passou
Hoje é outra profissão
O espetáculo agradece
Bem fundo do coração
Por tudo que eles fizeram
Na nossa apresentação.
Uma foi embora
Pra nunca mais voltar
Nosso querido Kleyton
Cruz que foi brilhar
No céu junto dos astros
João Grilo foi encontrar.
Um ator de primeira linha
Que tão cedo nos deixou
Quando fizemos a peça
Ele logo se mostrou
Um talento tão sensível
Desse grande ator.
HBI entrou na linha
Faz a nossa produção
Uma equipe de seriedade
Que trabalha com dedicação
Já produziu temporadas
E espera nova ação.
Já fiz experiência
Lá no Curso de Teatro
Montagem Teatral é o nome
E agora faço o relato
Muito bom o espetáculo
Como sempre num único ato.
No Theatro Santa Roza
Nossa primeira apresentação
Depois veio Lima Penante
Foi pra nós grande emoção
Em seguida Paulo Pontes
Casa lotada fez emoção.
Tem muita apresentação
Que vem até o próximo ano
Espero contar com o elenco
E criar quem sabe um plano
Eternizar o Auto
No Teatro Circo Sem Pano.
E aqui termina a história
E tem muito mais pra se contar
O cordel que contou esta
Com certeza vai esperar
Novas histórias deste grupo
Que tem o Auto se apresentar.
F I M
João Pessoa-PB, 25 de setembro de 2017.
BIU BESTA - (Parte I)
Severino de Lisboa
Era filho de Portugal
Em 1816 veio ao Brasil
Num navio sentimental
Vejamos esta história
De alguém tão anormal.
O pai de Severino era
Devoto de São Tomé
Casado com Joana Flores
Dançarina de cabaré
Ele veio em missão
Ensinar uma nova fé.
O pai dele e a mãe
Ficaram de orelha em pé
Queriam saber o motivo
Usando o nome da fé
Porque Severino crescia
E nada de falar em mulher.
Os dias se passavam
E Severino distante
Procurou o tal Celestino
Pra arrumar uma amante
Mas Celestino desconversou
Falando que era errante.
Severino ficou com raiva
E de casa não saiu
O pai ficou preocupado
Com as coisas do Brasil
Deu nele uma surra
E ele depressa escapuliu.
O danado se escondeu
Dentro de uma aldeia
O nativo deu a ele
Mel e sopa de aveia
Depois o Severino
Se apaixonou pela sereia.
A sereia era o encanto
Que o povo oferecia
Água limpa dos rios
E tudo que o amor sentia
Severino ficou triste
E voltou no mesmo dia.
Quando ele chegou em casa
Levou um grande sermão
Seu pai pediu desculpas
E lhe estendeu a mão
Severino ficou contente
Com a nova união.
No outro dia bem cedo
Severino foi à feira
Vender cabeça de bode
Na cintura uma peixeira
Ficou bem defronte
De um pé de oliveira.
Nenhum bode vendeu
E seu pai lhe perguntava
O que tinha acontecido
Se todo mundo gostava
Daquela carne de bode
Que o povo alimentava.
Severino não respondeu
E uma surra ele levou
O pai tirou o bode
E outra coisa levou
Um gamão para jogar
E pra feira ele voltou.
De novo chegando à feira
Foi depressa enganado
Compraram o seu gamão
E não deram nenhum trocado
De novo voltando à casa
Um apelido lhe foi botado.
Nascia naquele momento
Na história do meu Brasil
Qualquer Severino seria
Logo chamado de Biu
Foi assim que este nome
O apelido, enfim, consumiu.
A partir daquele instante
Biu ficou sendo Severino
E depois só por maldade
Besta foi seu desatino
Biu Besta do passado
Hoje trava o seu destino.
No interior de antigamente
Biu Besta era falado
Não havia dicionário
E ser besta era anotado
Biu Besta sem futuro
No Brasil ficou marcado.
Quem primeiro escreveu
Foi o folheto de cordel
Manoel Camilo dos Santos
Que hoje mora no céu
As Palhaçadas de Biu
Pelas mãos do menestrel.
A história virou lenda
No Cariri, Brejo e Sertão
No Agreste, Litoral
E causou grande emoção
Quando se falava em Biu
O Besta vinha na direção.
Biu Besta vendia Bode
Na feira do Reinado
Um dia sem entender
Ficou lá bem descuidado
A princesa portuguesa
Mandou o seu recado.
Disse praquele guarda
Que tirasse o vendedor
Mandasse ele pra longe
Porque ela nada gostou
E Biu saiu dizendo
Que ela, dele gostou.
O guarda lhe deu uma pisa
E o peste saiu correndo
O bode ficou na feira
Sujo, ficou fedendo
E Biu chegando em casa
Em tudo foi se batendo.
A mãe sem entender
E o pai ainda mais
Não fizeram nada com ele
Já era um pobre rapaz
Fazia tudo errado
E aprontava demais.
Biu depois do susto
Falou de tanta riqueza
Disse para o pai dele
Que tinha muita grandeza
O guarda foi enviado
A pedido da princesa.
Que o pai fosse com ele
A mão dela pedir
Que ela se apaixonou
Com aquele seu sorrir
E a mãe inconformada
Disse: Filho deixe de mentir.
Celestino o Professor
Foi depressa falar
Com aquele Biu Besta
Que queria se encontrar
Com a nobre filha do Rei
Que na feira foi olhar.
Biu ficou inconformado
E disse que ia sozinho
Conhecer a sua noiva
Com aquele belo rostinho
Estava muito envolvido
E queria o seu carinho.
O pai fez uma promessa
E São Tomé atendeu
Deixou Biu de castigo
E quase que morreu
Só pensando na princesa
Que ele na feira conheceu.
Biu Besta pegou o bode
E foi na feira vender
Quando estava vendendo
A moça foi aparecer
Mais bonita que a primeira
Fazendo Biu esmorecer.
Quem devia não pagou
E Biu deu um chauzinho
A moça do seu reinado
Jogou aquele lencinho
Biu ficou abestalhado
Se achando o amorzinho.
Ele voltou pra casa
E ficou sem explicação
Não vendeu nenhum bode
Mas tinha animação
Falava daquela moça
E queria a permissão.
Ir direto no palácio
E falar a ela noivado
Queria ir com o pai
E foi com isto surrado
O Biu Besta sofria
E vivia sempre amuado.
Em matéria de amor
Biu era desajeitado
A moça que botasse olho
Ele queria logo noivado
Em tudo que ele fazia
O povo chamava: - Abestado!
Quando alguém faz algo
Que dá numa leseira
De Biu Besta é chamado
Nesta terra brasileira
Mas foi lá em Portugal
Que nasceu esta porqueira.
FIM
João Pessoa-PB, 01 de fevereiro de 2009.
BIU BESTA - Parte II
Severino de Coimbra Lisboa
Era filho de Portugal
Em 1816 veio ao Brasil
Num navio sentimental
Vejamos esta história
De alguém tão anormal.
O pai de Severino era
Devoto de São Tomé
Casado com Joana Flores
Dançarina de cabaré
Ele veio em missão
Ensinar uma nova fé.
Severino foi o terceiro
Desta família portuguesa
Que tinha vindo ao Brasil
Em busca de muita riqueza
Explorou uma grande aldeia
Desconhecendo sua grandeza.
Severino tinha seis anos
Quando aqui ele chegou
Trouxe na consciência
Muita saudade do que passou
Conheceu muito nativo
E muita bobagem aprontou.
A mãe de Severino era
Uma artista de primeira
Queria ensinar a dança
A toda nação brasileira
Mas o nativo já tinha
A sua cultura verdadeira.
Severino já com dez anos
Queria ser dançarino
Ficar ao lado da mãe
E não tocar mais o sino
Que seu pai tanto queria
Pro seu filho, o destino.
O pai era um beato
E vivia catequizando
Mas Severino queria
Ficar sozinho dançando
Não queria seguir o pai
Quando ele estava orando.
O pai não tolerava o filho
Ser assim daquele jeito
Pensou em ele ser padre
Porém, é este o defeito
Querer impor em tudo
E dar um novo conceito.
Nem uma coisa nem outra
Agradou aquele menino
Queria ser um poeta
Igualzinho ao nordestino
Acabou vendendo bode
Já era um clandestino.
O amigo da família era
O fiel e nobre Professor
Por nome de Celestino
De Severino ele cuidou
Mas o peste do menino
Nunca nada acertou.
Celestino foi o professor
De toda aquela aldeia
Quem desobedecesse
Na hora ia pra peia
Ensinava matemática
Até na hora da ceia.
Severino não aprendia
E tinha grande dificuldade
Errava muito na conta
Dizendo sentir saudade
A mãe levava pra reza
Na casa de Soledade.
Severino ficou curado
E não quis mais estudar
Celestino não entendeu
E foi ao seu pai explicar
Falou então, daquele ato
E como podia mudar?
Esse diálogo foi em vão
E de nada adiantou
Severino foi para feira
Exercer ser vendedor
Bode tinha de sobra
E ligeiro ele negociou.
O pai dele e a mãe
Ficaram de orelha em pé
Queriam saber o motivo
Usando o nome da fé
Porque Severino crescia
E nada de falar em mulher.
Os dias se passavam
E Severino distante
Procurou o tal Celestino
Pra arrumar uma amante
Mas Celestino desconversou
Falando que era errante.
Severino ficou com raiva
E de casa não saiu
O pai ficou preocupado
Com as coisas do Brasil
Deu nele uma surra
E ele depressa escapuliu.
O danado se escondeu
Dentro de uma aldeia
O nativo deu a ele
Mel e sopa de aveia
Depois o Severino
Se apaixonou pela sereia.
A sereia era o encanto
Que o povo oferecia
Água limpa dos rios
E tudo que o amor sentia
Severino ficou triste
E voltou no mesmo dia.
Quando ele chegou em casa
Levou um grande sermão
Seu pai pediu desculpas
E lhe estendeu a mão
Severino ficou contente
Com a nova união.
No outro dia bem cedo
Severino foi à feira
Vender cabeça de bode
Na cintura uma peixeira
Ficou bem defronte
De um pé de oliveira.
Nenhum bode vendeu
E seu pai lhe perguntava
O que tinha acontecido
Se todo mundo gostava
Daquela carne de bode
Que o povo alimentava.
Severino não respondeu
E uma surra ele levou
O pai tirou o bode
E outra coisa levou
Um gamão para jogar
E pra feira ele voltou.
De novo chegando à feira
Foi depressa enganado
Compraram o seu gamão
E não deram nenhum trocado
De novo voltando à casa
Um apelido lhe foi botado.
Nascia naquele momento
Na história do meu Brasil
Qualquer Severino seria
Logo chamado de Biu
Foi assim que este nome
O apelido, enfim, consumiu.
A partir daquele instante
Biu ficou sendo Severino
E depois só por maldade
Besta foi seu desatino
Biu Besta do passado
Hoje trava o seu destino.
No interior de antigamente
Biu Besta era falado
Não havia dicionário
E ser besta era anotado
Biu Besta sem futuro
No Brasil ficou marcado.
Quem primeiro escreveu
Foi o folheto de cordel
Manoel Camilo dos Santos
Que hoje mora no céu
As Palhaçadas de Biu
Pelas mãos do menestrel.
A história virou lenda
No Cariri, Brejo e Sertão
No Agreste, Litoral
E causou grande emoção
Quando se falava em Biu
O Besta vinha na direção.
Biu Besta vendia Bode
Na feira do Reinado
Um dia sem entender
Ficou lá bem descuidado
A princesa portuguesa
Mandou o seu recado.
Disse praquele guarda
Que tirasse o vendedor
Mandasse ele pra longe
Porque ela nada gostou
E Biu saiu dizendo
Que ela, dele gostou.
O guarda lhe deu uma pisa
E o peste saiu correndo
O bode ficou na feira
Sujo, ficou fedendo
E Biu chegando em casa
Em tudo foi se batendo.
A mãe sem entender
E o pai ainda mais
Não fizeram nada com ele
Já era um pobre rapaz
Fazia tudo errado
E aprontava demais.
Biu depois do susto
Falou de tanta riqueza
Disse para o pai dele
Que tinha muita grandeza
O guarda foi enviado
A pedido da princesa.
Que o pai fosse com ele
A mão dela pedir
Que ela se apaixonou
Com aquele seu sorrir
E a mãe inconformada
Disse: Filho deixe de mentir.
Celestino o Professor
Foi depressa falar
Com aquele Biu Besta
Que queria se encontrar
Com a nobre filha do Rei
Que na feira foi olhar.
Biu ficou inconformado
E disse que ia sozinho
Conhecer a sua noiva
Com aquele belo rostinho
Estava muito envolvido
E queria o seu carinho.
O pai fez uma promessa
E São Tomé atendeu
Deixou Biu de castigo
E quase que morreu
Só pensando na princesa
Que ele na feira conheceu.
Biu Besta pegou o bode
E foi na feira vender
Quando estava vendendo
A moça foi aparecer
Mais bonita que a primeira
Fazendo Biu esmorecer.
Quem devia não pagou
E Biu deu um chauzinho
A moça do seu reinado
Jogou aquele lencinho
Biu ficou abestalhado
Se achando o amorzinho.
Ele voltou pra casa
E ficou sem explicação
Não vendeu nenhum bode
Mas tinha animação
Falava daquela moça
E queria a permissão.
Ir direto no palácio
E falar a ela noivado
Queria ir com o pai
E foi com isto surrado
O Biu Besta sofria
E vivia sempre amuado.
Em matéria de amor
Biu era desajeitado
A moça que botasse olho
Ele queria logo noivado
Em tudo que ele fazia
O povo chamava: abestado.
Quando alguém faz algo
Que dá numa leseira
De Biu Besta é chamado
Nesta terra brasileira
Mas foi lá em Portugal
Que nasceu esta porqueira.
FIM
João Pessoa-PB, 01 de fevereiro de 2009.
O FILÓSOFO BIU CABEÇA DE BOI (Primeira parte)
Não me digam o que devo
Nem o que posso fazer
Falar sério nunca me atrevo
E se falo é por merecer
É como a montanha e seu relevo
Caminhar por ela ao amanhecer.
Se acordar cedo nos faz bem
Acordar tarde nos dá satisfação
Eu sei que você sabe também
O valor de cada determinação
É como do católico o amém
Ao término de uma oração.
Só assim se forma a personalidade
Do homem e da mulher
Os dois se casam pela vontade
Se separam em nome da fé
Cada um é somente verdade
Como o preto estampado do café.
No entanto sem muita porcaria
É de Biu que vou falar
Um cabeça de boi da filosofia
Que viveu pelo mundo a pregar
E ser fã do Biu virou mania
Eu sei de tudo porque estava lá.
Numa palestra na Amazônia
Estando Biu com vinte anos
Seu pai que era da Polônia
Não gostava do filho os planos
Dava-lhe conselhos, tinha insônia
Porém, havia muitos desenganos.
Na palestra, Biu um tanto escroto
Abordou acerca da alimentação
E foi logo dando um arroto
Dizendo que era da digestão
- “Pena que o bucho fica torto”
Era o início de toda dissertação.
O público ria e delirava
E Biu todo sorridente dizia:
- “Que feliz o homem que corneava
E não a companheira que isto fazia”
Uma feminista ouvia e não gostava
No microfone a palavra pedia.
Só que o povo já estava com Biu
Gostava dele e fosse o que fosse
Um dia, não sei aonde, ninguém viu
Uma linda jovem lhe trouxe
Um ramalhete de flores que sumiu
Trocou ele por uma lata de doce.
Não gostou a moça que deu
Mas, Biu novamente filosofou
Porque ele era filho de Prometeu
E vendo uma rosa que logo murchou
Fez dela doce que era seu
E não um presente que nunca gostou.
A dama com os lábios enfurecidos
Partiu pra cima de Biu e tome beijo
E este com ajuda dos enfurecidos
Tascou-lhe outro que era do cortejo
Dizendo que ódio e amor são parecidos
E que senhorita furiosa é puro desejo.
A platéia foi a maior risadagem
Biu se sentia o próprio patrono
Abordou em torno da pabulagem
E foi dizendo assim do seu trono
Que pabuloso tinha muita coragem
Entregar a patroa pra outro dono.
Todos rindo daquela situação
Um homem não atento ao que ouviu
Se retirou e provocou confusão
- “Cabeça de Boi é esse Biu
Que fala sem ter noção
Por isso o teu amor nunca existiu”.
Houve um embate imundo
Biu se batizou e imediatamente
- “A partir de hoje neste mundo
Sou Biu Cabeça de Boi, decente
Nunca serei muito profundo
Apenas direi o que vem da mente” .
Um senhor de pouca visão
De um livro a página abriu
E chamando Biu na ocasião
E este com esta logo saiu
disse ao homem feito aberração
Tu és a água do meu cantil.
Assim Biu por onde palestrava
A filosofia andava por toda cabeça
O sexo feminino às vezes se zangava
É que Biu por algo que pareça
Dizia cada uma que lascava
- “Mulher do outro nem que se ofereça”.
Quem devia ficou furiosa
E Biu saiu-se com essa de novo
- “Se tem pecado a vida é gostosa
Se não tem ela é apenas falação
Melhor pecar como uma dengosa
Como a clara e a gema da ovulação”.
Os participantes deram gargalhadas
E o orador continuou a pregação
As dondocas ficaram revoltadas
Como Biu tinha aquela conclusão
E foi pau pra cima das mal amadas
Um levante pra lá de confusão.
A filosofia de Biu causava insensatez
Senhoras em plena loucura
Ao ouvir do profeta certa vez:
- “Que mulher bonita é doçura
As feias perdoassem a altivez”
Causando rebuliço e muita frescura.
Mesmo assim continuava palestrando
O movimento feminista impôs respeito
Mas Biu cada vez mais se mostrando
Dizia que “não gostar é um direito
E se eu falo o que estou pensando
É porque a frase surte efeito”.
Biu Cabeça de Boi já era um mito
Por onde andava multidões aplaudiam
Fosse homem, mulher, e tome grito
Moças e rapazes se agrediam
E Biu de longe ficava muito aflito
Com tudo aquilo que seus olhos viam.
No Paraná, numa palestra na Federal
Biu desafiou a lei da gravidade
Quando foi medicado, passou mal
Veio a terminar, mas que maldade
Biu de cabeça pra baixo era normal
O palestrante queria vencer a crueldade.
De tipóia no pescoço pendurada
Declamava versos de Camões
Imaginem a cabeça de Biu lascada
Em cima de um piso cheio de rachões
E o público alvo era uma rapaziada
Toda gaiata e cheia de palavrões.
Biu olhou pra um caro estudante
Fixou seu olhar e chamou o reitor
E este estava tão distante
Desta feita, pasmo, não gostou
A estudantada toda pedante
Fez pergunta e se atolou.
Uma ouvinte que não era paranaense
Quis desafiar Biu e fez uma aposta
Se Biu com aquela cabecinha de piauiense
Se gostava de mulher ou se ainda gosta
Porque ela uma feminina cearense
Nunca tinha visto tamanha bosta.
Biu ficou rosado e calmamente
Saiu da posição em que se encontrava
Tirou a tipóia e assim inteligentemente
Perguntou se a fulana namorava
E por que o chamava de competente
Na frente de quem ela mais amava?
A jovem nada conseguiu entender
E Biu pegou o dinheiro na mesa
A aposta foi ganha, pode crer
E com a luz toda acesa
Deu um beijo naquele ser
E saiu ligeiro como energia da represa.
A nordestina mais tarde cai a ficha
Biu não tinha opção sexual
Às vezes macho, às vezes bicha
Na sua cabeça tudo era normal
Desde que não se tivesse rixa
Tudo era visto de maneira natural.
Fora convidado para o exterior
E lá chegando grande era a recepção
Faixas grafadas de puro louvor
Aclamavam Biu e toda comissão
A palestra seria em defesa do amor
Nada melhor do que Biu na apelação.
As mulheres de Atenas chiaram
E caladas elas foram se retirando
Biu falando grego os gatos piaram
As corujas miaram e se arrastando
Pombos e pombas se agitaram
Mas ele nem aí, ia terminando.
Da Grécia para o Egito
Biu estava no auditório
O ditador que era de conflito
Solicitou de Biu ida ao consultório
Passar para ele as leis do grito
E Biu foi direto ao ambulatório.
Tomou injeção e remédio na boca
Conheceu uma egípcia e ficou vidrado
A dama que falo era de idade pouca
E ela queria presenciar o resultado
E deu a Biu uma horrível sopa
Que Biu cuspiu tudo ao lado.
Findo aqui a primeira parte
Deste cabra de valor
Que engrandece a cultura
Sem deixar nenhum pudor
Por onde o bicho passa
Tem alguém que se lascou.
FIM
João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1990.
O FILÓSOFO BIU CABEÇA DE BO - (Segunda Parte)
No mundo das palestras
Biu enfrentou até a morte
Tudo que pronunciava
Tinha o poder muito forte
O que ganhou fazendo isso
Vejamos a sua sorte.
Uma palestra suspensa
De mala e cuia partiu
Direto para o Japão
Chegando o teto caiu
O melhor era fazer
Voltar de novo ao Brasil.
Ao chegar o bicho teve descanso
Foi pra uma praia deserta orar
E lá fez amizade com muito ganso
E uma tese inteira fez brotar:
-“Por que aquele bichinho era tão manso
E qual hora melhor de se alimentar?”
Os gansos eram inteligentes
E provocaram Biu numa discussão
Ambos ficavam arreganhando os dentes
Aí, Biu gravou dos gansos toda a ação
E foi na praia com os dementes
Lavar a alma e pedir explicação.
Biu resolveu um ganso provar
Levou à panela e comeu fresquinho
Os restantes nunca quis lhe procurar
E Biu, hospedava um colarinho
Era comendo, escrevendo, tudo anotar
Foram férias regadas a gansos e vinho.
A ilha era apenas de Biu
E ele passou tempo além
O que não foi visto, sumiu
Felicidade o ganso não tem
Conclusão de quem gosta de pernil
Sal e brasa e cachaça também.
Mensagens eram recebidas
E respostas nunca dadas
E assim Biu deixa entristecidas
As pessoas das arquibancadas
Que lhe esperavam, enlouquecidas
E assim o melhor de todas as chegadas.
Soltaram fogos de artifício
Bandas de inversão de valores
Bailarinas dançando no edifício
Chamavam Biu de “meus amores”
E este tremia até o orifício
De entrar no estádio cheio de dores.
O governador anuncia a presença
E Biu cheio de vaidade começa
Agradece a quem tem crença
O governador sai às pressa
O prefeito de olho na imprensa
Ouve tudo que lhe interessa.
O delírio foi tamanho
O espectador ficou chateado
Biu saiu e foi-se um rebanho
O prefeito sendo fotografado
Biu depressa caiu num banho
Estava sujo e um cheiro enjoado.
Viajou Biu pras terras de Leonardo
Dar cursos e receber muito dinheiro
Decifrar a Lisa em papel pautado
E assim voltar do estrangeiro
Com fama de sujeito arretado
Valor indiscutível de ser brasileiro.
Na Itália falou de Pedro paraibano
Pintor do quadro do Grito do Ipiranga
E quase que entrou pelo cano
Porque Da Vince ficou sem tanga
Biu apenas dizia: “Aquele fulano”
Os romanos putos ficaram de zanga.
Isso ainda é pouco, eu sei
Direto pra França num vôo fretado
Biu condecorado, “nunca pequei”
Dizia ele a quem tivesse perguntado
E assim um francês que falar não deixei
Quase que mata Biu, abraçado.
Voltou à América e nesta ocasião
Estava na Argentina pregando
E Kempes já ruim do coração
Fazia perguntas e ia se lascando
Cada tirada de Biu era uma aflição
A família de Gardel foi se retirando.
”Os explorados da Espanha
Não pronunciaram ser vaiados
Eles são cheios de manha
Parece que são ensinados
A curar da cachola toda chanha”
E assim Biu fechou esses recados.
Voltou daquele país, sorridente
E muito dinheiro do Leste Europeu
Já caçou e foi caçado pela serpente
Mas foi aqui na Casa de Dona Memeu
Que nunca se via tristeza, só contente
Neste ambiente prazer Biu prometeu.
Onde ia cabeça de boi tinha que falar
E a multidão ficava só na espreita
Vendo seu palavreado comentar
Silenciar platéia que respeita
Disse Biu: “Estou a fim de chamegar”
E parece que foi coisa feita.
Uma loura de cabelos amarelados
Unhas vermelhas e sorriso artificial
Dava beijo em Biu daqueles estalados
De longe se ouvia o que não era normal
Aí o casal feito dois apaixonados
Foram beber e Biu se deu mal.
Acordou no outro dia cabaleando
A dançarina escapuliu e ninguém viu
E Biu lascado e com a situação frescando:
- “Da peste só conheci o pipiu”
E dele mesmo ia zombando
Imaginem o que pegou o mestre Biu!
Biu sabedor do acontecimento
Botou a boca e começou a refletir
Como era que ele dotado de conhecimento
Podia naquela tentação cair?
E caindo dissertou sobre o envelhecimento
Melhor hoje porque posso fugir.
Partiu pra Lisboa e muito tempo ficou
E quando na Amazônia fez morada
Lá mesmo muito tempo gastou
Tinha casa e uma índia namorada
Esta um par de chifre lhe botou
Novamente Biu gargalhou da presepada.
A índia mesmo assim quis ficar
Mas, ele muito macho, disse não
A infelicidade começou a reinar
Pajés colheram ervas da maldição
Fizeram trabalho que suspende o falar
E Biu quase se lasca do pulmão.
Da Amazônia nenhum comentário
Tinha ignorância e algo mais
Não dormia e se via sagitário
Era uma espécie de perda de paz
Vinganças de um tal sexagenário
Enquanto Potira muita falta lhe faz.
Biu mesmo assim se casou
Com uma senhorita cheia de tesão
Mas ele sem fôlego um dia pifou
E ela amiga e de herança na mão
Disse: “Será que tu não gostou
Da gostosura do meu vulcão?”
E foram muitas safadezas
Daqueles dois condenados
Ela plebéia das redondezas
Ele um ícone dos afamados
E na loja das miudezas
Muitos presentes eram comprados.
Biu Cabeça de Boi muito sofria
Solicita-se desde já, tratamento
Lá estava ele quase todo dia
E depois de todo sofrimento
Hemodiálise virou simpatia
No hospital com reconhecimento.
Mas se morrer fosse preciso
Sangue não topava doação
Mesmo precisando não estava indeciso
Jamais sangue naquela condição
Não deixava de dar seu habitual riso
Quanto mais ria mais penava o coração.
A situação piorou e Biu tremendo
O medo era um tanto enorme
E sendo assim, Biu foi morrendo
E pra sua morte exigiu um uniforme
Contando o que estava acontecendo
E a população em si sem um conforme.
No entanto, como resolver tudo aquilo?
Porque perder Biu não era agradável
Ele brincando dizia que era um esquilo
Perfurador de sonhos e amável
E depois das asneiras caía no cochilo
Deitado no tálamo pro suspiro terminável.
Se hospitalizou definitivamente
A situação era pra lá de séria
Constatou-se um nódulo impertinente
Como também uma outra bactéria
Tudo isso assim tão de repente
Lascando Biu logo pela artéria.
E já próximo do seu leito derradeiro
Acompanhado de tanta gente de bem
Biu suspirou e consigo veio o berreiro
E ele diz: “Que mulher é como xerém
Vai uma e vem cem”, fez-se o bagunceiro
Fechando os olhos e não vendo mais ninguém.
Assim se finda um mito
Filósofo que aqui passou
Mesmo sendo retórico
Era um ente de puro amor
Homenagear este cabra
É fazer dele o teu valor.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de março de 2000.
MANÉ DE TIA CHICA - (primeira parte)
Estou escrevendo de novo
Este cordel que deletei
Ficou na memória
Mas ou menos assim comecei
E pra encurtar a história
Vamos ver o que farei.
Mané de Tia Chica
Era rico e bagunceiro
Sua vida de menino
Era um bicho encrenqueiro
Apontava o destino
Do cabra presepeiro.
Levava vantagem em tudo
Nas pequenas coisas da vida
Filho de Sinhá Zefinha
Mané de mente poluída
Filho de Chico de Biuzinha
Era zanga ao perder a corrida.
Dona Zefinha morreu
Juntamente com Seu Chico
Criado por Tia Chica
Fazendeira da Tico-Tico
Brincava quando criança
Era assim Mané de Passarico.
Passarico era redondeza
Do Major Francisco Matia
Homem rico e da sociedade
Brabo no medo da valentia
Sério e de falar verdade
Dava em Mané todo dia.
Mané era esperto
Rico que só vendo
Não tinha sorte no amor
O coração fica logo sofrendo
Falar disso é causar dor
E Mané tá quase morrendo.
Quando pequeno Mané
Brigava e dava em menino
As queixas eram diárias
E tome surra no cretino
Coitado daquele Mané
Vivia batendo sino.
Dona Chica, coitada
Gostava demais de Mané
Mas este era levado
Dava tia olé
Perverso e malcriado
Só queria ser Pelé.
Fazia aposta e ganhava
E quando perdia ninguém via
De olho numa bela senhora
Mané entrava numa agonia
Quando soube lhe deu um fora
Quase morre de pneumonia.
Deu um nó no rabo
De vaca que tava prenha
O pai puxou a orelha de Mané
E esse se meteu na brenha
Recebeu cascudo e pontapé
Rezo a Nossa Senhora da Penha.
Chico de Biuzinha
Não era nome verdadeiro
Assim era mais conhecido
Francisco Matias Brasileiro
Não sei por que tal apelido
Do pai do presepeiro.
Não sei o nome da sua mãe
Mas pouco importa no momento
O personagem principal é Mané
Ver como se deu seu nascimento
Tenho que ficar de pé
Pra contar o acontecimento.
Mané não era filho legítimo
De Chico e de Zefinha
Foi encontrado numa sacola
Trocado por uma galinha
Por um homem que pedia esmola
Na porta da comadre vizinha.
O casal não tinha filho
E Mané era o único herdeiro
Dona Zefinha cuidadosa
O batizou de Manoel Matias Brasileiro
Cuidou do rebento, tão jeitosa
Mas não tinha jeito o encrenqueiro.
O batizado de Mané foi coisa
Pra ninguém botar defeito
Quem a fez foi uma empresa
E Mané já era sem jeito
Dez cabeças de gado na mesa
E Mané pedia rejeito.
Cagou na roupa do padre
Mijou na madrinha Nonô
E berrou feito um jumento
Pra ele parar com o chororô
Teve a bênção do Papa Bento
E da entidade Xangô.
Mané crescia bonito
Sadio e filho de fazendeiro
E era natural que o safado
Fosse tão desordeiro
Talvez fruto do pecado
Das invasões do estrangeiro.
Falo em desordem
Porque é assim que vejo
Mané aprontava na fazenda
E soltou na casa percevejo
Tocou fogo dentro de uma venda
E disse que era seu desejo.
Quando o pai sabia
Era peia no lombo
E Mané como desentendido
Fez uma égua cair no tombo
Não era mais que atrevido
O telhado ficava um rombo.
Ninguém mais aguentava
Daquele menino as safadezas
Não tinha surra que resolvesse
Mandava de volta às profundezas
E se ele um dia merecesse
Talvez tivesse todas as riquezas.
O assunto é sério
E não saiam da leitura
Isso é o que captei
De Mané tanta frescura
Nem sei se me lembrei
De contar mais uma loucura.
Já falei da sua infância
E agora peço atenção
Levando vantagem em tudo
Vivia assim o molecão
Crescidinho e todo parrudo
Atrevido e brigão.
Não tinha pai e nem mãe
Tia Chica logo lhe adotou
E Mané nunca queria perder
Não tinha sorte no amor
Aprontava sem ver pra crer
Resultado disso a dor.
Pois é, tanta riqueza
Tanta loucura por nada
O cabra era um sem sorte
Mané logo deu uma olhada
Uma menina vinda do Norte
Quis ser sua namorada.
Mas quando dela se aproximou
Ela se fez de mal entendida
Pediu segurança ao pessoal
Em Mané grande ferida
O bicho levou um pau
Era safada a atrevida.
Não tinha desse mundo
Que Mané não botasse o olho
Mas não tinha sorte o sujeito
Lhe chamaram até de Chico Piolho
Nele a dona botava defeito
Porque o bicho comia repolho.
Tanta riqueza pra nada
E a personalidade sendo formada
Mané queria vida boa
No amor só dá mancada
E tava na cara daquela pessoa
Dele ninguém gostava.
Na idade de adolescente
Herdeiro dos brasileiros
Mané tomou as terras dos colonos
E eles saíram como forasteiros
Deixou todos em abandonos
Contratou até fuzileiros.
Quanto mais tinha
Mas Mané queria porque queria
Tinha banco na capital
Condomínio de mil casas na Bahia
Edifício de repartição federal
Mas lhe faltava a alegria.
E até hoje ninguém sabe
A falta de sorte no amor
Desse famoso Mané Matias
Mas seu coração não tinha valor
Criado e amado por uma tia
Na vida um sofredor.
Ficou mais rico
Do que sua Tia que lhe criou
Rios de dinheiro o bicho tinha
Seu passado lhe causa pavor
E até hoje não come galinha
Ninguém a razão do pavor.
Sua tia já velha
Passa tudo pro nome de Mané
E este ainda acha pouco
Fecha e doidos dão no pé
Quer um hospital de louco
Dentro uma capela de fé.
F I M
João Pessoa-PB, 09 de maio de 2001.
MANÉ DE TIA CHICA - (segunda parte)
Fez tudo isso e tranquilo ficou
É sangue de barata o cretino
Só pensa em riqueza e destruição
Mas é assim o seu destino
Sabe de toda reza e de oração
Mas lhe falta coração de menino.
Quanto mais ganhava
Mas Mané queria ganhar
E quanto mais tinha dinheiro
Só queria na vida ganhar
Mandava pro estrangeiro
No banco alheio depositar.
Levava vantagem em tudo
Menos na questão do amor
Eu sei quem faz aqui paga
Que veio ao mundo só pro horror
Acho que ele era uma praga
Tinha guerra e nunca amor.
Mané não tinha mais ninguém
Vivia sozinho sem ser amado
Não tinha uma mulher nesse mundo
Desse chance aquele desgraçado?
Que pelo menos um segundo
Pelo mundo era amaldiçoado.
Tinha não, não tinha mesmo
O cabra era mesmo azarado
Nas coisas vindas do coração
Ao ver uma mulher ficava grudado
Ele não transmitia nenhuma emoção
De fato era um azarado.
Não tinha amigos, eu sei
Usava todos com pagamento
E não valorizava seus empregados
Entrava ano e não dava aumento
Todos eram mal tratados
Mané da pessoa era o sofrimento.
Sua tia já morta
Não tinha com quem falar
Era uma solidão sem fim
Tudo queria ganhar
Mas mesmo assim
Algum dia tem que pagar.
O tempo de criança passou
O tempo de menino foi-se embora
Mané já grande não conhecia paixão
Mulheres lhe davam um grande fora
Era um bicho espumando de solidão
Como cavalo na chegada da espora.
Cada dia Mané mais rico
Mais solidão em seu viver
Possuidor de bens incontáveis
E mandava todo mundo sofrer
Mas não ajudava aos miseráveis
Seu lema era ganhar e nunca perder.
Era ruim aquele cabra
Não valia uma cocada
Não queria saber de parente
Família tão desgraçada
Dizia que essa gente
Vivia de luxo e marmelada.
E a família toda triste
Apesar de todo mundo rico
Mas Mané era muito ingrato
Dizia – tome no butico
Com dez mil pares de sapato
Só dou a vocês meu tico-tico.
Tico-tico era um papagaio
Que nada falava
E já perto de morrer
Mané a todo mundo enganava
A família sempre a perder
E tico-tico somente chiava.
Era um palavreado sem dó
Daquele pobre infeliz
Achava que tinha poder no mundo
Falar nisso, Mané nunca quis
E numa sacola, bem no fundo
Dizia ao mundo ser feliz.
Ai daquele que falasse
Do seu passado de troca
Por uma galinha foi trocado
E hoje não passa de cobra choca
Pelo casal foi bem cuidado
Dizem que veio de Itapororoca.
Mané não confia em ninguém
Tudo passa pela sua mão
Ai daquele que ele desconfiar
Do cabra todo cunhão
Manda por inteiro capar
É verdade meu irmão.
Eu me pergunto, meu Deus
Mané, que tanto aprontou
Vai terminar este cordel
E as maldades que deixou?
Ganhando lugar no céu
Nada, porque o cabra pecou.
Pra frente é que se anda
Vamos ver no que vai dar
Se Mané pagará o prejuízo
Deixa esse povo falar
Mesmo no final do juízo
Vamos pra frente caminhar.
O bicho continuava aprontando
E desta feita numa aposta imensa
Ganhou vinte mil hectares de chão
Foi-se embora e nada de recompensa
Coitado do Chico do Riachão
Ficou só com uma imprensa.
Mané era ruim, não é verdade?
Não ajuda ninguém nessa vida
Vive só de lucro e luxo
Que lhe faça guarida
Mas não tem um relabucho
Que aponte agora uma saída.
Tem castigo maior
Do que viver desse jeito
Sozinho e dessa maneira
Mané tinha um defeito
E pra acabar a brincadeira
Mané ainda tem direito?
Pois é, quem faz aqui
Aqui mesmo faz o pagamento
Mané tinha um pequeno pinto
Morria de vergonha o nojento
Não vi, mas também não minto
Só sei que esse era o sofrimento.
Um dos empregados
Sabendo de toda essa verdade
Caboetou em toda a redondeza
Na descoberta daquela crueldade
Mané colocou toda a sua riqueza
A serviço daquela maldade.
Mané ficou pra lá de furioso
E viajou pra fora da Nação
Dispensou os empregados
Tomando conta do seu torrão
Deixou todos os delegados
Seguindo os passos do cidadão.
A notícia se espalhava
Rapidamente por toda cidade
Mané distante, quando iria voltar?
Com ele e sua vaidade
O povo queria mesmo era frescar
Dizer ao povo toda a verdade.
No estrangeiro, Mané
Arranjou uma norte-americana
Achando que Mané era abestalhado
A gringa ficou sem nenhuma grana
Desafiou aquele malvado
Depois a bicha foi em cana.
Não tinha jeito esse Mané
Em matéria de dinheiro
Não tinha quem dele ganhasse
Ai quem falasse em pistoleiro
Só não queria que ninguém matasse
Mané era mais que bandoleiro.
Mané mandava surrar
Apostava e ganhava aposta
Tomava terra e coisa e tal
E nunca caiu na bosta
Aspecto de um grande mal
Sua língua logo se encosta.
No estrangeiro ficando mais rico
Mané não sabia onde botar riqueza
Ficou sócio do Banco Mundial
E voltou ao país nos braços da nobreza
Deu um golpe num fulano de tal
Mané nos deu muita tristeza.
Manoel Matias foi eleito
Governador do Estado
Depois presidente da Nação
Um famoso coronel endieirado
Dono das terras de todo Sertão
O sujeito era endiabrado.
Mané ficou sendo
O indicador de toda politicagem
O chefe maior de toda eleição
Só pra prática da sacanagem
Fechou uma praia na região
E ali fez a sua paisagem.
Na política Mané era assim
Mandava botar e tirar
O cabra não tinha voz nem voto
Na parede ele mandava pregar
Quando falhava tome foto
E uma surra prometida dar.
A sacanagem era tanta
Que pra falar com Mané
O cabra só via de ano em ano
Mas ainda sem uma mulher
E tome tanto desengano
No povo dava somente olé.
F I M
João Pessoa-PB, 09 de maio de 2001.
MANÉ DE TIA CHICA - (terceira parte)
Eu vou abrir este cordel
Pra o público conhecer
Cada detalhe escrito
Precisamos perceber
Do que nós somos capazes
Fazer tudo reverter.
Pois nenhum amor na vida
Mané no coração possuía
A idade avançava de repente
E de fora muita gente via
E Mané parecia que não era gente
Tinha ruindade e calado sofria.
Quem pensava em passar a perna
Em Mané em algum momento
Tirasse o cavalo da chuva
Era um vinho no enchimento
Comprou toda plantação de uva
De um tal Mané de Bento.
Dono de fazendas de bovino
De uva, acerola e mamão
Fornecedor número um do café
E comprou as fábricas de todo Japão
Pagou toda propaganda do Rei Pelé
Com dinheiro vindo da plantação.
Era riqueza que não se acabava
E o povo ainda calado queria
Ficar frente a frente com Mané
Com aquele senhor viveria?
Perguntar por que nenhuma mulher
Com ele viver gostaria.
Mané dizer ser heterossexual
Preconceituoso até dizer basta
Era machista de marca maior
E assim talvez fosse a sua casta
Mas tinha aquilo cotó
Na sua mente vasta.
Ele espantava qualquer cristã
Com suas palavras de conquista
Era um jumento quadrado
Não tinha ninguém na lista
Em questão de ser amado
Não era nada de artista.
E o segredo de Mané
Bem perto da descoberta
Até porque era ainda donzelo
Que se escondia por trás da coberta
E tinha um pequenino pitelo
Não que isso não nos aperta.
Mané usava vinte pares
De cueca samba canção
Pra levantar a moral do bicho
Uma louca foi a opção
E numa festa lá em Carrapicho
A louca fugiu com seu calção.
Mané corria de um lado
A louca do outro corria
Mané gritava e pedia clemência
Confundiu Mané com vigia
A mulher em plena demência
Apontava Mané e a putaria.
Essa ficou na história
E pouca gente sabia dela
Mas Mané inteligente
E este voltou pra ela
Encheu o vigia de aguardente
E deu uma surra nela.
Mané era um azarado
Em toda questão de sentimento
No capital não existiu mais famoso
Deixou gente em sofrimento
E como Mané era guloso
Comprava até arrependimento.
Mané de tanto dinheiro que tinha
No próprio fazia conta
No banco que depositava
Só pra Mané fazer afronta
O juro cada vez aumentava
E de tanto a cabeça ficava tonta.
Desesperado com mulher
Mané queria aumentar o pinto
Foi pra Polônia fazer operação
Colocar outro no recinto
E era feia aquela situação
Se preocupava com o distinto.
Não havia condição
Não tinha dinheiro que pagasse
Aquele aumento de sexo
E Mané queria que aumentasse
Porque não havia nem reflexo
E dinheiro nenhum pagasse.
O pinto foi muito judiado
Amassado e deu uma doença
Mané dizia que pagava o que fosse
Era tarde, não tinha mais crença
E quando a biópsia o médico trouxe
Melhor tirá-lo aquela ofensa.
Não tinha como aumentar
O tamanho já era o bastante
O seu problema era na mente
Tamanho não é importante
Não no pinto da frente
Mas no que fica mais adiante.
Quando a ficha caiu de Mané
O tempo já era diferente
Seu passado não podia limpar
A ruindade causada a tanta gente
E foi na doença que veio a reclamar
Mané era um total demente.
Mané quis voltar a Passarico
Pagar todos os pecados
No lugar deserto e profundo
Pensava nos maus tratados
Lá nos cafundós do mundo
Pagar contas dos antepassados.
Quimioterapia Mané fez
E nada de cura se aproximar
Mané fazia promessa
De logo tão logo se curar
E tinha logo pressa
Pois de novo queria aprontar.
Mas nada é como a gente
De certa maneira quer
Tudo tem olho do divino
Se curou e se deu bem com mulher
E não é que aquele cretino
Na religião começou botar fé.
Abriu um lar pra criança
Um abrigo pra idoso
Dez escolas para os pobres
E foi viver com Anita Barroso
Recebeu dinheiro dos nobres
E o chamaram de Mané Gostoso.
Uma mulata vinda da África
Bonita que não tem por aqui
Botou o pinto pra funcionar
E Passarico quis reconstruir
Chegou um menino pra criar
E Mané começou a sorrir.
A infância estava naquele lugar
Na doença Mané se redimiu
Mas o filho que ele deixou
Na história Mané sumiu
Na política ele plantou
Ser do bem nunca se permitiu.
Anita herdeira de tudo
Juntamente com o filho
Melhor senhora da redondeza
Dinheiro não era empecilho
Ajudava a quem tinha pobreza
Florava na terra o milho.
Deu continuidade às obras
Administradora de mão cheia
Pedro Matias se meteu na política
Muito diferente do cabra de peia
Gostava de ouvir qualquer crítica
Mesmo vinda da boca de uma sereia.
Foi-se embora o Mané
Que perdeu muito tempo na vida
Em busca de riqueza sem valor
Conheceu a cicatriz de toda ferida
Teve que passar pelo caminho da dor
De cada uma fez despedida.
Estou me despedindo de novo
Deste cordel que tinha deletado
Pois resgatei um pouco do que sabia
Hoje já paguei esse pecado
Vejo em Mané muita euforia
E no leitor um grande desagrado.
Mandaram e-mail pra mim
E pedem clemência
Eu não respondi
Perdi a paciência
Esse Mané e a tia
Só ouvem sofrência.
Não quero cometer equívoco
E nem tampouco me esquivar
Sei que Mané não merece respeito
Não é bom nem falar
Mané tem lá o seu direito
E é melhor nós se calar.
E aqui com a permissão
De Mané e de vocês
Vou ficando por aqui
Que contei mais de uma vez
Aliviar meu coração
Dessa história eu sou freguês.
Vou terminar o que fiz
Com bastante alegria
Deixando o grande leitor
Na sua real primazia
Fazendo a reflexão
Neste tão bendito dia.
F I M
João Pessoa-PB, 09 de maio de 2001.
DESTINO DE SERIDÓ PELAS MÃOS DE BADARÓ - (Parte Primeira)
Há muitos anos atrás
Me contou Compadre Chicó
Havia entre as montanhas
Um cabra por nome Badaró
Criador de muita história
E dançador de carimbó.
Se a memória não falha
Inventou ele o futebol
Jogava toda manhã
Com bola feita de cipó
Nunca perdeu uma partida
Bem lembrou a minha vó.
A montanha era encantada
E tinha o nome de Jericó
Ninguém chegava tão perto
Pelo forte calor do sol
E quem isso arriscasse
Logo pegava um tersol.
Chicó tinha um motivo
Pra falar desse tal Badaró
É que toda sua família
Principalmente Pedro Bó
Morria tudo de medo
Quando cantava o rouxinol.
Esse pássaro quando cantava
Aparecia Dona Maria do Ó
Feito a cumade fulosinha
Que mete logo o cipó
Pois esta mulher encantada
Quase mata o Pedro Bó.
Quantas noites eu passei
Ouvindo aquele velho Chicó
Com suas belas histórias
Que me deixava na pior
Eu pensei ir na montanha
Mas tive medo do sol.
Badaró tinha uma casa
Rodeada de girassol
Até hoje sinto o cheiro
Quando chego num brechó
É que esta flor do campo
Não envelhece feito formol.
Houve uma briga interna
E o novo nome foi Seridó
A montanha se desenvolvia
É aí que está o nó
Houve depois uma guerra
E o vencedor foi Badaró.
Este homem era forte
E junto do irmão Pataxó
Tomou outras montanhas
E tirou de lá o sol
Trouxe pra ele a lua
Mas nada ficou melhor.
Naquela terra de dia
Se fazia bastante paletó
Uma fábrica gigante
Por nome de Cafundó
Exportava muita roupa
A preço de muito suor.
O trabalhador explorado
Queria um lugar ao sol
Levava pisa todo dia
A mando de Badaró
Era muito sofrimento
Como assim falou Chicó.
O nome de antigamente
Batizado de Jericó
Depois da guerra trocado
Pelo nome de Seridó
E já havia alguém dizendo
Que poderia ser Chapecó.
Mas o nome não vingou
Por força de Mororó
Irmão caçula do chefe
Que se chamava Badaró
Pois este jovem guerreiro
Queria de volta Jericó.
Dizia em alta voz
Sem muito borogodó
Que seu irmão não fizesse
Nada por si só
Que ouvisse aquele povo
Da sua terra Jericó.
Este fato engrossou
Quando chegou lá um espanhol
Vindo nas asas de um gavião
E trouxe consigo o voleibol
O povo aprendeu com a mão
A resolver logo aquele nó.
Badaró nada gostou
E expulsou logo o espanhol
Botou trezentos homens
Apontando para o feofó
Que deixasse aquela terra
A maior no futebol.
O espanhol deu uma carreira
E pegou logo um trenó
Desceu ladeira abaixo
E ficou com um braço só
Gritando alto dizia:
- Adeus querido voleibol.
A montanha produzia
Além da fábrica de paletó
Uma nova indústria
Invenção do caçula Mororó
Foi a maior investida
A produção de um tal lençol.
O paletó tinha um brilho
Feito de pele de mocó
Produzido em larga escala
Com o símbolo de Bozó
Uma marca respeitada
Vendida até pra Faraó.
O povo lá não plantava
E tudo vinha de Caxitó
Uma montanha pequena
Liderada por Rabicó
Que mandava o alimento
Em troca de lençol.
Caxitó declarou guerra
E chamou o líder de Bocó
Foi a guerra mais sangrenta
Vencida de novo por Badaró
Fez aquele povo escravo
E deu de presente a Mororó.
Mororó chegando lá
Criou logo um xilindró
Botar lá os revoltados
Pra morrer de colesterol
Dar muita massa ao preso
Pra depois ficar cotó.
Foi só pegar o poder
Que ele fez o forrobodó
Investiu na venda de terra
E fez de Joana o seu xodó
Mulher bonita da terra
Filha caçula de Rabicó.
Teve festa de casamento
E o padre foi João Curió
Que abençoou o casal
Na frente do velho Badaró
Que estava muito cansado
Com saudade do velho sol.
É que o dia era frio
E de vez em quando um tororó
Nascia, portanto a chuva
Que o batizou de Mongol
Era assim chamada a chuva
Nas terras de Badaró.
A produção industrial
Foi comprada pela minha avó
Não sei se é verdade
Dizia assim o velho Chicó
Que prendia a gente inteira
Fumando assim o seu boró.
Cada tragada que ele dava
Latia bem perto o cão Filó
De vez em quando chegava
Um delicioso pão de ló
Feito por Dona Santa
Irmã mais velha de Seu Chicó.
Zezinho todo atiçado
De posse de seu anzol
Dava uma risada tão grande
Que espantava o gato Jiló
Foi aí que de repente
Nasceu o caldo de mocotó.
Uma montanha mais distante
Por nome de Maceió
Havia nela um pensador
Conhecido por Capitão Mor
Invencível nas batalhas
Mas temia muito Badaró.
Lá se produzia muito
Feito da carne de socó
Uma comida muito gostosa
Por nome de mocotó
Foi isso que provocou
A ira maior de Badaró.
Parou a produção que tinha
E queria tomar Maceió
Porém não queria ir pra guerra
Mandou resolver o irmão Mororó
Foi aí que a coisa pegou
Tudo por causa de um mocotó.
O exército desta montanha
Liderada pelo cabo Cocó
Saiu lambendo os beiços
Querendo caldo de mocotó
Foi quando houve a vitória
Do famoso Capitão Mor.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de março de 2007.
DESTINO DE SERIDÓ PELAS MÃOS DE BADARÓ - (segunda parte)
Vou dando continuidade
Em ritmo de sibemol
Escrevendo o destino
Do famoso Badaró
Homem de antigamente
Na música do Tororó.
Badaró ficou furioso
Com a morte de Mororó
Prometeu vingança ligeiro
Praquele Capitão Mor
Que venceu a batalha
Do comando do cabo Cocó.
Depois de perder a luta
Já cansado o velho Badaró
Ordenou outra invasão
Na montanha de Cabrobró
Não sabia aquele velho
Que levaria a pior.
Pois quando chegou lá
A rezadeira Dona Dodó
Uma senhora de 90 vidas
Preparou um tal de cerol
Que colocou em cada pipa
E fez morrer o jovem Dicró.
Dicró era um guerreiro
Fazedor de bom paletó
Que quando tava na luta
Tomava chá de loló
Foi a pipa e o chá
Que sucumbiu o jovem Dicró.
Badaró não era o mesmo
E passou a jogar dominó
Ganhava toda partida
E o dinheiro de todo arigó
Mas queria mais terra
Pra ele ser o dono só.
Esta feita não conseguiu
Porque havia uma tataravó
Possuidora de muito talento
Casada com Manuel Caracol
Este casal tinha fama
De ter inventado o basquetebol.
Morava o casal na montanha
Que se chamava Timbó
Era esse o único lugar
Que se dançava forró
Parecido com que havia
Na terra de Seridó.
Pois naquele lugar havia
A dança do carimbó
Dançada com muito empenho
Pela família de Badaró
Que queria a todo custo
Aprender dançar o forró.
Tataravó foi este o nome
Que me falou o velho Chicó
De posse do seu cachimbo
Feito por Maria Esquimó
Continua a história sorrindo
E me falava da jovem Biló.
Biló era a neta mais velha
Do famoso Badaró
Pois a menina sofria
Do vício de cheirar pó
Pois o tempo se passando
E a dita cuja no caritó.
Sabendo disso o senhor
Por nome Capitão Mor
Foi direto pedir a mão
De Rosalinda Biló
E no casamento o povo
Tome caldo de mocotó.
No caldo foi colocado
Veneno por Badaró
Que matou ligeiro
O famoso Capitão Mor
E também nesta enroscada
Morreu também Tonho Gogó.
O casamento daquele tempo
Muito antes da bisavó
Era feito pra muita gente
Até o pôr do sol
Não como é feito hoje
Assim falou o velho Chicó.
Badaró ficou como dono
Do caldo bom de mocotó
E mais rico que nunca
Dito isto pela vovó
Que na época usava
Um charmoso bebidol.
Badaró era dançarino
De um tal de carimbó
Pois o cabra ficou tinindo
Campeão também de forró
Abriu muita casa de show
Dirigida pelo artista Totó.
Totó era um ator
Que herdava tudo de Jó
Até mesmo a paciência
Se parecia o filho de Ló
Com sua calmaria em pessoa
Confiança ele tinha de Badaró.
Totó criou a televisão
E a antena pôs no atol
A imagem ficava perfeita
Caprichava o velho Chicó
Crescia cada vez mais
O comércio de Badaró.
Tinha banco no lugar
Do gerente Zezé Bobó
Que foi formado na escola
Do diretor Biu de Viló
Tinha até supermercado
E se chamava Rococó.
O tempo passa ligeiro
E a montanha era uma só
Plantando e vendendo
Com o lucro de todo suor
Do povo escravizado
Das terras de Seridó.
Houve uma revolta profunda
E de lá ninguém teve dó
Não escapou uma só pessoa
E reinava sozinho Badaró
Hoje ninguém chega lá
Com medo de Maria do Ó.
Todo mundo se esconde
Quando canta o rouxinol
Não se escondeu do assunto
Morreu duro Severino Bodó
A superstição deste povo
Vive no Museu de Quiproquó.
No museu está escrito
A eternidade de Badaró
O dono daquela montanha
Que hoje se chama Paiol
É de difícil acesso
Porque lá não chega o sol.
A noite a lua cheia
Ilumina toda a Seridó
Dar pra se ver de longe
Resquícios de Jericó
E todo mundo feliz dançando
A dança bonita do carimbó.
Quem quiser pesquisar
Entre na página da Bol
Se não ficar satisfeito
Dê uma entrada na Uol
Você vai conhecer direitinho
O que me falou o velho Chicó.
Se quiser saber dos livros
Eu até duvideodó
Que lá tenha alguma coisa
Daquele guerreiro Badaró
Talvez haja uma só palavra
E essa se chama Tejipió.
Porque eu quis pesquisar
E levei com isso foi a pior
Comecei a ter arrepios
Quando cantou o rouxinol
Olhei um livro que tinha
E me apareceu Maria do Ó.
Não aconselho ninguém
A querer pesquisar Jericó
E nem tampouco também
Buscar entender de Seridó
Fique com este cordel
Desta feita leve a melhor.
Se depender do estudo
E do meu fumo bororó
Pegue na minha pena
Torça e crie um nó
Arrebente tudo comigo
Mas limpe o meu suor.
Ele é feito de enzimas
Que liberta o potó
Das antenas de tv
Vou falar com o Chicó
Para ele me ajudar
Sobre o destino de Seridó.
Não se esqueça de perguntar
O que houve com Loló
A doida de dar em doido
Das terras de João Mocó
Empregado aposentado
Do antigo por nome Badaró.
E assim termina a história
Contada pelo Compadre Chicó
Que foi amigo em vida
Da minha querida vovó
Dono de engenho de açúcar
Foi ele quem inventou o etanol.
FIM
João Pessoa-PB, 20 de abril de 2009.
O DESTRUIDOR DE LAR FELIZ - (primeira parte)
Porém assim não dá
Nenhuma explicação
Se eu conto por contar
Vai faltar emoção
É como nada começar
Sem sentido e sem razão.
Era um marido fiel
Só tinha ele e a mulher
Mas era um bêbado cruel
Enchia a cara no mé
Com fama de xeleléu
Ia ao culto em nome da fé.
Sua mulher era direita
Saia comprida e vestido longo
Quando de noite se deita
Ouve a batucada do Congo
Um terreiro que dava receita
Era do macumbeiro Pernilongo.
O marido ciumento
Não tendo motivo
Caiu em sofrimento
Dizia: Sem a mulher não vivo!
E assim o acontecimento
De um cabra pensativo.
A mulher sabedora do amor
Do marido por ela
Envolveu-se com o pastor
E quase que bate biela
A dita cuja era um terror
E o pastor vibrado nela.
O pastor gostando da bichinha
Fez feira e pagou o prejuízo
Ela já era uma galinha
E não tinha juízo
Quando ciscava num terreiro
Dizia: Pernilongo de ti preciso!
O pastor todo sorridente
Invadiu aquela privacidade
E a safada toda contente
Quis contar a verdade
Só para azucrinar a mente
Do seu amante com maldade.
Morava nessa cidade
Um doutor bastante esperto
Ao receber a beldade
Foi logo objetivo e direto
Falou do tema saudade
E lhe prometeu um teto.
A mulher mais que depressa
Disse ser o coração do pastor
E lhe pediu uma compressa
E este para aliviar a dor
Disse: “Não me interessa
Afinal de contas sou doutor”.
Dr. Praxedes Bitencourt
Ginecologista da medicina
Conhecido pelo lenço azul
Da cor de uma piscina
Que usava lá em Curimataú
Era seu charme, dizia uma menina.
Mas o doutor entrava no lar
Destruía qualquer estima
E pra acabar de lascar
Meteu-se com uma cretina
Falou até em se casar
E vejam só esta sina.
E foi com ela para o Sul
Pediu férias do trabalho
E a mulher feliz que só cururu
Pulava na mão como um baralho
E o doutor como índio caramuru
Viajou com terno e agasalho.
A mulher era casada
Do casamento nada de filho
Na rodoviária abraçada
No olhar somente brilho
Não esperava a desgraçada
Futuramente empecilho.
Coitado do marido
Se vendo passado pra trás
E como tinha sido traído
A mulher não quis mais
Ficou com o coração ferido
E lhe entregou a satanás.
O pastor puto da vida
De Praxedes quis se vingar
Da igreja fez despedida
E disse: “Preciso viajar!
Só que nessa ida
Não resistiu, começou a chorar.
O choro era tanto
Que as irmãs também choravam
O pastor tido como santo
Habitantes lhe ignoravam
Até Jesus se escondeu num canto
E todas as lágrimas se agitavam.
O Bêbado por sua vez
Não tendo a mulher novamente
Contou de um até três
E foi aquele choro indecente
Jogou pedra na beata Inez
Estava quase demente.
Caindo tonta no chão
A pobre Inez dessa vez
Ao perceber a ação
Com a ajuda de sua presa
Abocanhou no bêbado a mão
E lhe deixou sem defesa.
Lá pras bandas do Sul
O doutor e a cangaeira
Toda semana um peru
Novinho vindo da feira
Ela se lembrava do pai Jaburu
E da família oliveira.
No Sul a vida é diferente
Nada se parece com o interior
Pra um homem muita gente
Cem mulher pra um doutor
E assim tão de repente
Surge o que se programou.
A comunidade em conflito
Casais juntos, porém separados
Só se ouve barulho e grito
Mundo dos desempregados
Terra de constante conflito
E o doutor um dos letrados.
A mulher ficava em casa
E o doutor dava plantão
Tirou da mulher a asa
E essa sem condição
Ia somente ao Plaza
Comprar a sua alimentação.
O destruidor entrou tinindo
Numa comadre indefesa
Um filme com ela assistindo
Daí a chamou de princesa
E a mão foi-se permitindo
E fez dela ‘vossa alteza’.
A mulher que já era safada
Ficou aberta à mensagem
Na cama uma tarada
Exibia-se com tatuagem
Os seios daquela malvada
Despontava uma linda paisagem.
Essa sujeita se chamava Arlinda
Tinha diploma de sacanagem
E botou o doutor na berlinda
Todos falavam da tatuagem
E o doutor dizia: “É linda!”
A cartilha de pura aprendizagem.
O doutor conhecedor de putaria
E de putaria um garanhão
Gostava quando ela gemia
E o chamava de gostosão
Isso quase todo dia
Era um jogo de enrolação.
Arlinda estava envolvida
Com aquele doutor
Era bastante atrevida
Gostava de sentir dor
E sempre ser batida
Um mundo só destruidor.
O doutor dava pra cacete
E ela dizia: “Quero mais!”
E ele com um porrete
Feito um capataz
Botava na boca dela um sorvete
E lia manchete dos jornais.
Aí ela foi à loucura
Com dor e com gelo
Pulava nas alturas
Segurava pelo cabelo
E soluçava feito uma doçura
Era grande o desmantelo.
Dentro de um quarto
Da casa ou do apartamento
Arlinda que era do mato
Não tinha aborrecimento
Mas fez com o doutor um trato
- Quero hoje um rebento!
O doutor ficou ferido
E mais do que sério
Pediu quase constrangido
- “Não posso, sou estéril”
Disse e ficou entristecido
Não por causa do adultério.
E assim se chega ao final
Contado nesse cordel
Não se trata de bem ou mal
De inferno ou céu
Muito menos de animal
Pra literatura tiro o chapéu.
F I M
João Pessoa-PB, 22 de julho de 1989
O DESTRUIDOR DE LAR FELIZ - (segunda parte)
O doutor ficou ferido
E mais do que sério
Pediu quase constrangido
- “Não posso, sou estéril”
Disse e ficou entristecido
Não por causa do adultério.
Arlinda vendo a besteira
Que lhe havia dito
Pegou a saboneteira
Rezou pra São Benedito
O doutor deu uma caganeira
Igual a um cabrito.
Foi preciso mais de hora
Pra uma recuperação
Tanto por parte da senhora
Quanto do médico safadão
Ninguém deu o fora
Recomeçou a traição.
Ela delirou de prazer
E cada dia mais apaixonada
Isso não pode ser
Dizia a mulher casada
E finalizava: “Nada de sofrer
Quero alegria nesta estrada”.
O doutor era um escroto
E usava a sua profissão
Um profissional torto
Nele não havia coração
Brincava de fazer aborto
Mais de cem pelo sertão.
O pastor voltou à igreja
E pediu perdão a Deus
Nada sabia dessa peleja
Pois era como os judeus
Onde quer que esteja
Vida longa aos fariseus.
Desde a cangaia levada
O pastor não mais se aprumou
A pregação sempre encerrada
Esperava a amante Nonô
Que no Sul estava ferrada
Acreditando num tal doutor.
Nonô era a mulher
Daquele bebão evangélico
O bebão em nome da fé
Usou um instrumento bélico
Ferindo o macumbeiro no pé
E prometendo vingança do médico.
O pastor mesmo disfarçando
Não escondia o sofrimento
Mesmo no culto orando
Não esquecia o lamento
O tempo ia passando
E era grande o tormento.
Era a hora desesperadora
Chegava ao interior
Uma jovem sonhadora
Caiu nos braços do pastor
Não era uma pecadora
Trazia consigo a dor.
O pastor logo recebeu
Uma missão importante
A neta de Bartolomeu
Não ia ser sua amante
No outro dia desapareceu
Na carroça de uma cartomante.
O pastor não resistiu
Foi-se embora do lugar
E tão de repente fugiu
O culto não quis celebrar
A palavra caiu
Melhor era se mandar.
O padre Joaquim Serrote
Na missa do domingo
Desejou boa sorte
E realizou até um bingo
Quem ganhou foi Zé do Norte
Vermelho que só um gringo.
Mas vamos voltar ao assunto
Do tal doutor ginecológico
E eu aqui me pergunto
O que é ser lógico
É comer do porco o presunto
Ou morar no zoológico?
Não há resposta agora
Ou talvez nunca se tenha
Como uma pessoa que chora
Ou uma fogueira sem lenha
É um cavalo sem espora
Subindo a ladeira da Penha.
Praxedes tem muita história
A começar destruidor de lar
Desta feita com Arlete Glória
Isso vai dar no que falar
Vejam só a dedicatória
Antes de eu terminar.
-“ Sou casada e bem casada
E não admito me separar
Quero por você ser amada
E muita emoção passar
Se eu ficar ultrapassada
Viajo pra nunca mais voltar!”.
Ao ouvir esse depoimento
O doutor ficou meio sem jeito
Passou a ser um tormento
Mas disse: - “Eu te aceito”
A partir daquele momento
A maldade era conceito.
Arlete perdeu a esperança
Entre o céu e o inferno
O destruidor comprou uma aliança
Vestiu um lindo e brilhoso terno
E pra ela abriu uma poupança
Deu um roupão pra usar no inverno.
Arlete chegava em casa tarde
O maridão preparava o jantar
E os dois sem muito alarde
Iam pro quarto deitar
O sono de pura maldade
Só queria lhe cornear.
O marido um Zé Mané
Não desconfiava do cheiro
O perfume caro de mulher
Porque era um cachaceiro
Desses que fede a chulé
Portanto era um carteiro.
Sempre bêbado o marido
Era enganado diariamente
Nem desconfiava que fosse traído
Quando menos de repente
Entra na casa o atrevido
Todo amavelmente.
Era o doutor da destruição
O que via botava a perder
O que sabia tinha perdição
Porém o era do seu querer
Somente ódio e traição
Coitada da mulher do prazer
Por tão pouco vivia aflição.
Arlete, oh mulher esperta
Não é a toa que esse sexo
Até diabo na hora certa
Ficou meio perplexo
Enganado com a porta aberta
Em história sem muito nexo.
O bebão separava e voltava
O cara não tinha para onde ir
E dizia que a mulher amava
E não queria nunca sair
E sempre em casa ficava
Não tinha pra onde fugir.
Arlete já tinha se acostumado
Com esta situação de risco
Vivendo com um bêbado
Lembrava do belo petisco
Depois do ato consumado
E o destruidor vivia arisco.
O personagem galanteador
Já tinha destruído outros lares
Inclusive Arlete, não é doutor?
Mandava paixão pelos ares
E assim o sujeito pensou
Levo ela e outras para os altares.
Arlete ficou risonha
E não deu uma palavra sequer
Ficou porém muito bisonha
Usou de chantagem essa mulher
Como faz uma cegonha
Que é mãe dos filhos e dá no pé.
Daquele dia em diante
A relação ficou confusa
Ela não se sentia amante
E dizia – “Você só me usa
E me faz uma grande errante”
O doutor com palavrão só acusa.
O doutor ouvindo aquilo
Não conteve o vocabulário
Jogou na madame um quilo
De dinheiro de todo salário
Mas mesmo assim intranquilo
Era a vida do salafrário.
O doutor ficou sabendo
Do perigo que lhe rondava
E o risco de vida se metendo
E cada vez mais se complicava
E o corno vingança prometendo
Um colega seu avisava.
O doutor ficou vermelho
Com medo e todo se tremendo
Olhando no espelho
E a mulher na cama gemendo
E ele implorava de joelho
- Não conte que estou morrendo!
F I M
João Pessoa-PB, 22 de julho de 1989.
O DESTRUIDOR DE LAR FELIZ - (terceira parte)
E na fragilidade o doutor perecendo
Enquanto ela dando gargalhadas
Sorria com aquilo tudo fervendo
Gostava das atrapalhadas
Iam um a outro merecendo
Nas incontáveis embrulhadas.
Ao término ele se despede
E ela sem querer separação
No ouvido do amante pede
- “Fique meu coração”
E ele aos caprichos cede
E não contém a emoção.
Essa mulher tinha um casal
Um menino de dez anos
Uma menina especial
Com o marido, nada de planos
Com o destruidor tudo normal
Mas só existiam desenganos.
O destruidor um tanto frágil
Foi aí que a mulher se fez
Como uma ema muito ágil
Cada semana era mais de três
E tome estrada e pedágio
Não lhe faltava freguês.
O lar dessa pobre infeliz
Nem havia mais no lugar
O marido que sempre lhe quis
Bebia em quase todo luar
E vomitava no chafariz
E cartas não ia entregar.
O destruidor e sua sina
Tinha o medo da traidora
E lhe chamava de menina
E de vez em quando de doutora
A mulher com isto se anima
E se torna mais sedutora.
Antes de ele aparecer
Arlete era direita e honesta
Aí o destruidor fez sofrer
Árvore caída de uma floresta
Caem máscaras ao amanhecer
Então o que lhe resta?
A família dela caloteira
O marido corno da cidade
Com receio da bandoleira
Fez todo tipo de caridade
Até tentou uma camareira
Mas logo dizendo a verdade.
O bebão não tendo dinheiro
Viu aquilo muito estranho
E desconfiando de um borracheiro
Por nome Pietro Castanho
Interrogou logo que ligeiro
Depois que tomou um banho.
A mulher toda amorosa
Disse – “Meu tesouro
Aceite a grana de sua gostosa
O que ganho é ouro
Vamos sair dessa vila sebosa
Você é meu tesouro”.
O corno todo orgulhoso
Da sua mulher querida
Porque todo corno é bondoso
Disse que a sua vida
Numa frase de pabuloso
- “Não tem melhor pedida!”
Doutor Praxedes Bitencourt
Que no Rio se encontrava
Ficou gordo igual a cururu
E quando em casa voltava
Nonô não mais tinha peru
Só de lamentos reclamava.
O marido de Arlinda beberrão
O de Nonô um desqualificado
O de Arlete um babacão
Como um encontro marcado
Os cornos e o doutor destruição
Pensava a gente do povoado.
O doutor Praxedes voltava
As férias foram vencidas
O povo logo se acostumava
E compraram várias bebidas
Na comemoração Nonô estava
Veio do Rio com roupas perdidas.
Arlinda voltou pro marido
Arlete o mesmo fez
Esqueceram do doutor sabido
E a vida cada uma refez
Cada homem que foi traído
Receberam flores mais de uma vez.
Ao chegar no Curimataú
A vida de Nonô mudou
A experiência ganha no Sul
Não quis mais o doutor
E quando lembrava o peru
Perguntava pelo pastor.
Até hoje vaga no mundo
Essa mulher traidora
De um arrependimento profundo
Nonô é mais que sofredora
No andar de um moribundo
Viaja na solidão criadora.
O tal doutor da ginecologia
Teve o diploma cassado
Usou tudo que sabia
E foi logo processado
Vive hoje de agonia
Arrependido do seu passado.
Muito antes do doutor
Era só de felicidade
Tudo bem que houve o pastor
Que iniciou toda esta maldade
Quando não se tem o amor
O lar se destrói em crueldade.
Esse cordel que eu fiz
Fala de traição e coisa ruim
No lar, vida de quem é infeliz
A destruição do não pelo sim
De homem, mulher, como se diz
A maldição do povo de Caim.
F I M
João Pessoa-PB, 22 de julho de 1989.
O DUELO DE UM CATÓLICO E UM PROTESTANTE - (I Parte)
Esta é a discussão que no repente
Eu passo a contar nesse momento
Um católico na praça com crente
No desafio de tamanho sentimento
Enquanto por ali passava gente
Espiando tamanho movimento.
Cada um do outro tão diferente
E no cordel de puro documento
Deu-se a peleja que logo se sente
O relógio de hora certa do jumento
E assim o povo alegremente
Foi-se fazendo o ajuntamento.
Cada olhar que o povo dava
Era uma peleja acontecendo
Quem não queria espiava
Quem espiava de dor ia morrendo
E ninguém dali se afastava
Mesmo quem tava sofrendo.
P. Tu és católico sem frequência
Se em mim tiver alguma loucura
Eu desculpo a tua ausência
É que ser crente é gostosura
Nos raios lúdicos da ciência
Vou te abençoar das alturas.
C. Sou criatura divina
E rezo com fé em Deus
Odeio gente cretina
Que fala até dos filhos seus
Tenho paciência, é minha sina
Para aturar até os fariseus.
P. O católico diz que é criatura
Divina e tem profunda paciência
Mas se esquece de que nas alturas
Ser crente é que serve na consciência
Aliviando o temor das amarguras
És araque da inteligência.
C. Eu sou católico de araque
Como bem diz o companheiro
Não me confunda com um traque
Eu sou muito mais ligeiro
Se você levar um baque
Não sou eu o traiçoeiro.
P. O baque vem por derradeiro
Com tua igreja que veio do Iraque
Terra lá do estrangeiro
Minha religião não é de ataque
Mas a sua é de forasteiro
Sou da fé do Cristão Isaque.
C. Eu não sei por que razão
Você fala desse jeito
O que vale é o coração
Esse que bate no peito
O resto é pura emoção
Que nos causa tanto defeito.
P. Do coração sei do valor
Do sagrado que vem do Pai
Prego a palavra do Senhor
Em mim coisa ruim não cai
Já que você me afrontou
No caminho do bem você não vai.
C. Lembre-se da gratidão
Veja o pobre no seu leito
Essa minha religião
Tem liberdade e direito
A sua é só confusão
Prefiro viver assim desse jeito.
P. O católico é por demais abençoado
O crente sempre acha uma saída
Quando se paga todo pecado
Melhora a nossa vida
O coração fica marcado
E a mente fica sentida.
C. A igreja que fui batizado
É luz inteira da minha guarida
Se eu tiver agora errado
Não me importo com coisa partida
Pensas muito em pecado
Esquece até da própria vida.
P. Você aborda muito bem
A história que o velho contou
Se esquece de que lá no além
Há paz e com certeza o amor
E não existe aqui ninguém
Que desvenda o segredo da dor.
C. A dor é necessária
Ao homem na caminhada
Independe da faixa etária
Como boi em vaquejada
Apesar da vida sedentária
É exemplo para a boiada.
P. E se você sabe também
Guarde consigo, por favor
O lenço que sempre vem
Carregando o frio e o calor
Em Jesus encontro o bem
Que chega depois do amor.
C. Filosofar é bom demais
É por isso que sou assim
Um defensor da bandeira da paz
Um condenador de Caim
E na porta de lá de trás
Há bondade e não coisa ruim.
P. A porta fica pra você
Que tem várias para entrar
Eu só posso querer
A que vai me aceitar
Aceitei Cristo no viver
E você tem que aceitar.
C. É por isso que já faço mais
Um pingado de cheiro jasmim
Cravado no peito de um rapaz
Dilacerando o poder de Rasputim
Te vejo entre os capataz
Tangendo o cheiro de coisa ruim.
P. Sou crente e digo o seguinte
Fazer o bem é ter coragem
Porém, este quadro - pinte
As cores de toda imagem
E aqui chegará um ouvinte
Que olhará toda paisagem.
C. Minha arte não é pintura
Sou um artista da rua
Enceno o pecado e a loucura
E namoro a menina Lua
Não sou feito Zé Tontura
Que fala de mim e da vida tua.
P. Diga a todo pedinte
Que não se pode fazer contagem
A conta quando passa de vinte
Troca o olhar da imagem
Surge portanto o ouvinte
Nasce daí a libertinagem.
C. Meu amigo eu vos digo
Com vontade de expressar
Um sonho que percorre o umbigo
Faz em nós raiz brotar
O sossego de sermos amigos
É deixar o outro conquistar.
P. A conquista tem seu preço
O preço é muito alto
Ao teu lado me aborreço
Mas sei o momento exato
Enquanto você vive de Terço
Ser crente é mais que fato.
C. No livre lar do abrigo
Não é a igreja que vai salvar
É o coração do nosso abrigo
Que no interior vem se alojar
Venha correr perigo
Pra de vida poder falar.
P. Não me permita ser gentil
Neste embate tão meu
Não porque estou no Brasil
E sim, Pedro Paulo Bartolomeu
Porque o azul da cor anil
Borrou todo sonho teu.
C. O embate existe e é verdade
Não este que queres impor
Não conclames em si a maldade
Revejas o que fala do amor
És gente de não sentir saudade
Nota-se por tudo que já falou.
P. Através de um assobio
O Mestre já me conheceu
Abriu a porta e sorriu
Salvação ele me prometeu
E minha igreja ele construiu
Que aceita lá até ateu.
C. Só o que sabes neste embate
E não me venha com choro nem vela
Isso aqui não pode nunca dar empate
Chega de cair na esparrela
Quero ver o desempate
Se tu és religioso ou já era.
P. Não me chame pro combate
Sei que tens vontades nela
Porque a moça é grande arte
Esposa de guarda de sentinela
Teu olhar pisca em Marte
Chame-a para ficar com ela.
C. Ficar com ela eu não fico
E não quero nunca conselho
Ela não me ama, vive de bico
Vende a velho e pentelho
Fique você que é rico
Olhe a cara dela no espelho.
O mundo inteiro me pede
Pede-me e faço questão
Cada dedo meu mede
Um metro e meio de paixão
A bondade por si antecede
Findo aqui o cordel meu cidadão.
F I M
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2005.
O DUELO DE UM CATÓLICO E UM PROTESTANTE - (II Parte)
Esta é a discussão que no repente
Eu passo a contar nesse momento
Um católico na praça com crente
No desafio de tamanho sentimento
Enquanto por ali passava gente
Espiando tamanho movimento.
Cada um do outro tão diferente
E no cordel de puro documento
Deu-se a peleja que logo se sente
O relógio de hora certa do jumento
E assim o povo alegremente
Foi-se fazendo o ajuntamento.
Cada olhar que o povo dava
Era uma peleja acontecendo
Quem não queria espiava
Quem espiava de dor ia morrendo
E ninguém dali se afastava
Mesmo quem tava sofrendo.
P. Tu és católico sem frequência
Se em mim tiver alguma loucura
Eu desculpo a tua ausência
É que ser crente é gostosura
Nos raios lúdicos da ciência
Vou te abençoar das alturas.
C. Sou criatura divina
E rezo com fé em Deus
Odeio gente cretina
Que fala até dos filhos seus
Tenho paciência, é minha sina
Para aturar até os fariseus.
P. O católico diz que é criatura
Divina e tem profunda paciência
Mas se esquece de que nas alturas
Ser crente é que serve na consciência
Aliviando o temor das amarguras
És araque da inteligência.
C. Eu sou católico de araque
Como bem diz o companheiro
Não me confunda com um traque
Eu sou muito mais ligeiro
Se você levar um baque
Não sou eu o traiçoeiro.
P. O baque vem por derradeiro
Com tua igreja que veio do Iraque
Terra lá do estrangeiro
Minha religião não é de ataque
Mas a sua é de forasteiro
Sou da fé do Cristão Isaque.
C. Eu não sei por que razão
Você fala desse jeito
O que vale é o coração
Esse que bate no peito
O resto é pura emoção
Que nos causa tanto defeito.
P. Do coração sei do valor
Do sagrado que vem do Pai
Prego a palavra do Senhor
Em mim coisa ruim não cai
Já que você me afrontou
No caminho do bem você não vai.
C. Lembre-se da gratidão
Veja o pobre no seu leito
Essa minha religião
Tem liberdade e direito
A sua é só confusão
Prefiro viver assim desse jeito.
P. O católico é por demais abençoado
O crente sempre acha uma saída
Quando se paga todo pecado
Melhora a nossa vida
O coração fica marcado
E a mente fica sentida.
C. A igreja que fui batizado
É luz inteira da minha guarida
Se eu tiver agora errado
Não me importo com coisa partida
Pensas muito em pecado
Esquece até da própria vida.
P. Você aborda muito bem
A história que o velho contou
Se esquece de que lá no além
Há paz e com certeza o amor
E não existe aqui ninguém
Que desvenda o segredo da dor.
C. A dor é necessária
Ao homem na caminhada
Independe da faixa etária
Como boi em vaquejada
Apesar da vida sedentária
É exemplo para a boiada.
P. E se você sabe também
Guarde consigo, por favor
O lenço que sempre vem
Carregando o frio e o calor
Em Jesus encontro o bem
Que chega depois do amor.
C. Filosofar é bom demais
É por isso que sou assim
Um defensor da bandeira da paz
Um condenador de Caim
E na porta de lá de trás
Há bondade e não coisa ruim.
P. A porta fica pra você
Que tem várias para entrar
Eu só posso querer
A que vai me aceitar
Aceitei Cristo no viver
E você tem que aceitar.
C. É por isso que já faço mais
Um pingado de cheiro jasmim
Cravado no peito de um rapaz
Dilacerando o poder de Rasputim
Te vejo entre os capataz
Tangendo o cheiro de coisa ruim.
P. Sou crente e digo o seguinte
Fazer o bem é ter coragem
Porém, este quadro - pinte
As cores de toda imagem
E aqui chegará um ouvinte
Que olhará toda paisagem.
C. Minha arte não é pintura
Sou um artista da rua
Enceno o pecado e a loucura
E namoro a menina Lua
Não sou feito Zé Tontura
Que fala de mim e da vida tua.
P. Diga a todo pedinte
Que não se pode fazer contagem
A conta quando passa de vinte
Troca o olhar da imagem
Surge portanto o ouvinte
Nasce daí a libertinagem.
C. Meu amigo eu vos digo
Com vontade de expressar
Um sonho que percorre o umbigo
Faz em nós raiz brotar
O sossego de sermos amigos
É deixar o outro conquistar.
P. A conquista tem seu preço
O preço é muito alto
Ao teu lado me aborreço
Mas sei o momento exato
Enquanto você vive de Terço
Ser crente é mais que fato.
C. No livre lar do abrigo
Não é a igreja que vai salvar
É o coração do nosso abrigo
Que no interior vem se alojar
Venha correr perigo
Pra de vida poder falar.
P. Não me permita ser gentil
Neste embate tão meu
Não porque estou no Brasil
E sim, Pedro Paulo Bartolomeu
Porque o azul da cor anil
Borrou todo sonho teu.
C. O embate existe e é verdade
Não este que queres impor
Não conclames em si a maldade
Revejas o que fala do amor
És gente de não sentir saudade
Nota-se por tudo que já falou.
P. Através de um assobio
O Mestre já me conheceu
Abriu a porta e sorriu
Salvação ele me prometeu
E minha igreja ele construiu
Que aceita lá até ateu.
C. Só o que sabes neste embate
E não me venha com choro nem vela
Isso aqui não pode nunca dar empate
Chega de cair na esparrela
Quero ver o desempate
Se tu és religioso ou já era.
P. Não me chame pro combate
Sei que tens vontades nela
Porque a moça é grande arte
Esposa de guarda de sentinela
Teu olhar pisca em Marte
Chame-a para ficar com ela.
Neste momento vou-me embora
Obrigado pela leitura deste cordel
Terminei, vou dar o fora
Lá vem polícia do quartel
Aquela madame de lado chora
Ao público tiro este chapéu.
O mundo inteiro me pede
Pede-me e faço questão
Cada dedo meu mede
Um metro e meio de paixão
A bondade por si antecede
Findo aqui o cordel meu cidadão.
F I M
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2005.
O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte I)
Tenho tanto o que fazer
Na tal elaboração
Quando faço este cordel
Tenho farta gratidão
Pro meu prezado leitor
Com amor no coração.
VIU era um sujeito
Com bastante tentação
Vivia aprontando tudo
Em qualquer ocasião
Não escolhia momento
No que se deu na religião.
Um dia o Padre Joaquim
Pároco de Alagoinha
Deu trabalho a VIU
Lhe fez seu coroinha
Por muito tempo o padre
Contou esta ladainha.
Disse que o moleque
Um cabra desajeitado
Quando era coroinha
VIU foi denunciado
Segundo a mulher do prefeito
VIU parecia um tarado.
Foi grande a confusão
A cidade toda parou
O prefeito Zeca Peixoto
Disso nada gostou
Pediu a saída de VIU
E o padre logo aceitou.
Só que VIU não era aquilo
Que a mulher comentava
Nestas coisas eu acredito
Porque ninguém contava
Uma só safadeza de VIU
Que na cabeça passava.
VIU longe da igreja
Pegou mal para o menino
O seu pai agricultor
Lhe desejou um destino
Não queria ele na roça
Preferia tocar o sino.
A mãe uma costureira
Certa feita foi brigar
Com a filha do prefeito
Que estava a papear
Falando mal do seu filho
Mãe nenhuma ia aguentar.
A filha toda pedante
Chamava de cabra safado
Isso a mãe ia se enchendo
E depois: Ele é tarado.
A mãe não suportando
Deixou um tapa marcado.
Bem feito praquela menina
Que não tinha educação
Sabendo disso a sobrinha
Foi tomar satisfação
Puxou os cabelos de Sara
E lhe deu grande empurrão.
A tia vendo a encrenca
Que ali se estabeleceu
Puxou a sobrinha de lado
E dizia: - Veja em que se meteu
Meu Deus do céu
Você na menina bateu.
A sobrinha era danada
E assim falou pra tia:
- Ela tava lhe agredindo
Eu não gosto de putaria
Se ela meter a besta
Eu lhe troco a ventania!
A filha do prefeito sangrando
Pra casa se dirigiu
Com certeza vinha coisa
Já pensava o menino VIU
E falando em voz alta
Foi dizendo: Puta que pariu!
A chegar em casa a mãe
VIU no instante se anima
Pois não sabia que era
A dita cuja sua prima
Era a famosa VAI
Que lhe tinha grande estima.
VIU perguntou a prima
O que tinha acontecido
VAI com a cara lambida:
- Ela teve o merecido!
Sua tia com medo
Esperava só o prometido.
É que a filha do prefeito
Prometeu uma vingança
E foi dizendo a VIU
Sem nenhuma esperança
De contornar o caso
Que ficou como herança.
Foi aí que começou
A história de VAI e VIU
Fiquem vocês sabendo
Vírgula nenhuma escapuliu
Esta é a mulher dupla
Que no Brasil existiu.
VIU disse a prima
Queria ser sacristão
Um pedido de pai
Com amor e devoção
Foi se abrindo com VAI
Com todo seu coração.
VAI era apaixonada
Mas o primo não sabia
Guardava este segredo
Com profunda alegria
Tudo que o primo abordava
Ela num instante fazia.
O prefeito da cidade
Por nome Zeca Peixoto
Vendo o sangue de Sara
Deu um grande arroto
Quem tinha feito aquilo
Com certeza estava morto.
E nesta agonia toda:
- Minha filha me diga?
Foi falando o prefeito
- Como foi esta briga?
A mulher dentro da sala
- Foi aquela rapariga?
Zeca Peixoto ficou puto
E a mandou se calar
Disse que era ele
Quem ia mesmo matar
Pra sua filha Sara
Disse: Onde ele está?
Sara limpou a cara
E disse deixasse com ela
O prefeito fumaçava
E bateu com força nela
Apanhou duas vezes
E adeus galinha com cabidela.
Este era o prato preferido
Da filha do senhor prefeito
Que com lágrimas caindo
Não dava pra ouvir direito
Contar todo o ocorrido
Esconder não tinha mais jeito.
Quando Zeca Peixoto
Soube de toda verdade
Não contou conversa
E usou de brutalidade
Chamou o capanga dele
E partiram para a cidade.
Foram direto à casa
Queriam com o velho falar
Não havia ninguém no recinto
E ficaram a esperar
Os donos estavam na igreja
E quaisquer horas iriam voltar.
O dia era de chuva
E o prefeito deu meia volta
Deixou ali o capanga
Pra entrar naquela porta
Deixar a cabeça de VAI
Toda de um lado torta.
Na volta da igreja
VIU algo estranho sentiu
Quando avistou de longe
O capanga Severino Biu
Que de tanto esperar
Ali mesmo dormiu.
VIU teve uma ideia
E VAI logo apoiou
Querosene pela calçada
E o fogo todo queimou
O coitado do capanga
Por si só se matou.
Pensou estar no inferno
Com diabo ter encontrado
O fogo que ele sentiu
Pagou todo o pecado
Morreu Severino Biu
Naquele dia azarado.
O pai de VIU era devoto
Do Santo Senhor São Bento
Rezou com fé o Pai Nosso
E fez logo um juramento
Pediu ao filho VIU
Que lhe trouxesse o jumento.
Vou fechando este cordel
Estava bem inspirado
Falei de muita gente
Neste drama arretado
Meu tema é brasileiro
Para leigo e letrado.
FIM
João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.
O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte II)
Depois desse pedido
O velho muito rezou
Ave Maria e tanto Pai Nosso
E naquela casa se ajoelhou
Sobre a vida do filho
Que no juramento firmou.
Montou no bicho e saiu
Foi direto à delegacia
Falar do fato ocorrido
Que houve naquele dia
O delegado Pereira
Atento ao velho ouvia.
Mandaram tirar o corpo
E fizeram o sepultamento
No cemitério da roça
Por nome Santa Livramento
- Foi o capanga sem parente.
Dizia o homem do loteamento.
O prefeito vendo o fato
Que vitimou Severino Biu
Deixou de lado a história
De perseguir o moleque VIU
Porém a sua filha Sara
Disso não desistiu.
Falou com sua amiga
E foram falar com VAI
Ao chegar naquela casa
Quase que tudo cai
Por sorte não houve nada
Dizia o velho seu pai.
VIU deu-lhe uma rasteira
Que Sara ficou caída
Sua amiga levou um tapa
Que tava tão distraída
E VIU ainda dizia:
- Tome cuidado na vida.
A filha do prefeito
Era uma barraqueira
Só levava desvantagem
E dava uma grande carreira
Prometendo se vingar
Por uma vida inteira.
Desta feita a Sara
Nada ao prefeito contou
Com a amiga Rozilda
Uma dupla formou
Cruzaram os dedos
E um plano mal planejou.
VIU pegou a prima
E foram falar com o vigário
Este não lhe deu ouvido
E lhe chamou de otário
VAI não gostou do assunto
E lhe chamou de arbitrário.
O padre ficou vermelho
E foi dizendo na ocasião
Que tirasse o cavalo da chuva
Nada de ser sacristão
Que fosse ajudar o pai
Na hora da plantação.
VIU não gostou, mas saiu
E VAI foi com ele também
O padre ficou sozinho
E não desejou o bem
VIU combinou com VAI
E foram muito mais além.
Voltaram à paróquia
E vejam o que aconteceu
Pegaram toda a hóstia
E o vinho o moleque bebeu
VAI dizia bem alto:
- O padre se fudeu!
O padre quando voltou
Tava tudo desarrumado
Sentia um cheiro horrível
O altar todo quebrado
Pediu em oração o nome
Mas nada de ser ofertado.
A dupla foi para a casa
Caindo pela estrada
Cada coisa que ouvia
Era grande a risada
Enquanto o Padre Joaquim
Não sabia da palhaçada.
O sonho de sacristão
Queria o pai do moleque
Mas nada forçado presta
Como ataque de beque
Ou deixar o ventilador
E ficar usando um leque.
Queria o menino VIU
Estudar pra ser doutor
A sua prima VAI
Deste assunto gostou
Disse que ia com ele
E feliz se aprontou.
VAI não tinha mãe
O seu pai não conheceu
Morava com a tia
Que logo se aborreceu
Disse que era coisa de homem
E assim procedeu.
Que ela estava proibida
E que só VIU viajaria
Mas a dupla sabendo disso
Alguma coisa aprontaria
Fugiram de madrugada
Com destino a Bahia.
Um menino e uma menina
Pra Cancão nenhum botar defeito
O agricultor seu pai
Foi direto ao prefeito
Não era mais Zeca
Já tinha havido um pleito.
O prefeito agora era
Um governo patriarcal
Tudo que o pai pedia
Atender era o natural
Botaram gente na busca
E só voltaram no carnaval.
Foram para o Ceará
E a polícia nada encontrou
Enquanto na Bahia a dupla
Na folia deitou e rolou
Bebeu numa cabana
E na conta nada pagou.
Os cearenses viviam
No encalço dos baderneiros
Queriam dar fim à dupla
Daqueles dois forasteiros
Que foram parar um dia
Na gruta dos cangaceiros.
Os dois já bem crescidos
Tiveram logo treinamento
Aprenderam a lidar com arma
Naquele enorme acampamento
O Capitão Chico Bondade
Não sabia do atrevimento.
De garra de um fuzil
VIU se chamava Caipora
A bela VAI se chamou
Morena de Pirapora
Esta completo o cangaço
Vejamos o que acontece agora.
O bando de Chico Bondade
Saíram pelo sertão
Levando muita comida
E muita munição
Atacaram povoados
E fizeram distribuição.
O que ganhava o bando
Era tudo distribuído
Quem matasse mais
Seria mais retribuído
O mundo de VAI e VIU
Estava mesmo estremecido.
Depois de muito tempo
Fugiram do tal cangaço
Jogaram as balas no rio
E deixaram aquele pedaço
Neste momento a dupla
Já vivia de beijo e abraço.
VAI e VIU eram juntados
E queriam uma nova vida
Depois da experiência
Curaria uma ferida
De tudo que fosse ruim
Tão logo uma despedida.
Chegaram numa fazenda
E pediram ao dono trabalho
O dono era nojento
E dizia: Vá pra caralho!
E a dupla o fogo acendeu
Como um jogo de baralho.
Deixou chegar madrugada
E os bois todos soltaram
O dono no outro dia
Nunca eles pegaram
Riam de alegria a dupla
Por tudo que aprontaram.
Numa pequena cidade
Resolveu se alojar
Num escritório de lei
Quis a dupla trabalhar
O juiz muito educado
Fez só um se empregar.
Fechando este cordel
Esta tal segunda parte
Vamos falar adiante
Com maestria e arte
Como foram avante
Andando por toda parte.
FIM
João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.
O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte III)
Naquele simples lugar
Vejam a situação
Distante ali de tudo
No trabalho contradição
O povo tudo abismado
Só prestando atenção.
VIU ganhou salário
E roupa nova comprou
VAI ficava sozinha na casa
Que logo ele alugou
Aos poucos ia dando certo
Naquele lugar de doutor.
Enquanto naquela cidade
O seu pai velho sofria
A mãe já tinha morrido
De tanta melancolia
Na casa apenas a mãe
A volta do filho pedia.
VIU era casado com VAI
Na igreja dos cangaceiros
Queria casar na igreja
Como todos os brasileiros
Não sentia confortável
Em deixar na terra herdeiros.
VAI com isto penava
Mas não dava o braço a torcer
Rezava todos os dias
Para o casamento acontecer
Sentiam saudade da vida
Mas tudo viam por perecer.
A cidade foi invadida
O lugar foi dominado
O cangaço novamente
Estava ali estampado
Era, porém outro bando
Que ali tinha entrado.
VIU desta vez tremeu
E correu pra residência
Planejou fazer com VAI
Uma arte de resistência
Matar todo aquele bando
E usaria de toda ciência.
Desligou as luzes da vila
E foi grande a escuridão
Cada cangaceiro passante
Perdia logo a mão
Era tanto gemido dado
Assombrou-se o capitão.
No outro dia foi grande
As mãos por todo lugar
Fizeram uma fogueira enorme
E uma e uma se queimar
Neste instante a dona VIU
Queria logo casar.
Nunca mais os cangaceiros
Atiraram em pontaria
Sem as mãos que matavam
Lembravam só daquele dia
Até que fim a igreja
Se enchia de alegria.
Era o casamento da dupla
Que tanta coisa aprontou
A cidade toda unida
E o casal por muito tempo esperou
Ficaram plantados na igreja
E nunca mais a dupla voltou.
A população com muita raiva
Se sentia angustiada
Por ter tratado assim
Depois ser abandonada
Mas agradeciam a eles
Pela aquela história acabada.
Foram para bem longe
E no caminho traquinagem
Davam cascudos em moleque
E era grande a sacanagem
Se viram cansados na estrada
E pararam numa pastagem.
Um velho que ia passando
Lhe chamou de Cancão
Outro de Malasartes
E foi assim por todo sertão
Lá na frente chamaram de Grilo
O segundo nome de João.
Uma senhora de idade
Chamada de Mãe Filó
Disse bem alto pro povo:
- Lá VAI o menino Chicó.
E ele voltando ao passado:
- Vá dar o seu Cê ó Có.
A menina buchuda
Um filho ela esperava
E foi dizendo ao marido
Um desses nomes ela botava
Deixasse nascer o menino
Para ver se ele aguentava.
Sem nenhum tostão no bolso
A dupla à terra natal voltou
Com um filho na tropa
E o pai logo abençoou
O prefeito do lugar
Um bom emprego arranjou.
O Padre Joaquim bem velho
Toda safadeza perdoou
Fez o batizado do menino
E como afilhado adotou
Nunca mais em trapalhada
Aquela dupla pensou.
Malasartes Pedro Cancão
Da Silva Grilo Chicó
Foi o nome do menino
Que não houve algo melhor
Quando crescesse o moleque
Talvez a coisa fosse pior.
Qual o apelido o menino
Com todo esse nome botado
Se chamaria de quem afinal
Por todo sertão afamado?
Esta era uma questão
Que lhe deixou o batizado.
O avô todo contente
Só vivia com Perequeté
Que bem pequeno já pedia:
- Minha mãe eu quero filé
Me traga cuscuz com leite
E um copo de café.
Sara já bem casada
Foi com VAI lá visitar
O marido dela era
O delegado do lugar
Que sabia do passado
E não queria confrontar.
VIU era uma pessoa
De tamanha importância
Chefe da prefeitura
Trabalhador de elegância
Ele e o prefeito de lá
Preferiam a distância.
O cargo de delegado
Dado pelo governador
Na política da cidade
Um era o opositor
Ninguém mais brigava
Viviam na paz e amor.
VAI voltou a estudar
E deu forças para o marido
Que de imediato topou
E ficou comprometido
Com o grana que ganhava
Muito tinha se divertido.
A dupla viveu feliz
Por tudo que aconteceu
Criaram o filho com amor
E o pai bem velho morreu
Até hoje não se sabe
O nome dela e o nome seu.
Uma história marcante
Que não tem apelação
VIU é um mistério
VAI tem muita paixão
A dupla aprontou tanto
Que nem se ouve a falação.
Mesmo depois de tudo
De todo acontecimento
O nome ninguém soube
E nem houve movimento
Todo mundo ficou calado
Para não ter aborrecimento.
A cidade atualmente
Se diz beneficiada
Pelo nome da dupla
Ela é tão procurada
Turistas chegam à cidade
E haja gente perguntada.
Muitos dos pesquisadores
Chegam diariamente
Querem ter a ciência
De tudo de antigamente
A mais velha das beatas
Explica tão calmamente.
Dizendo que VIU e VAI
Eram bons até demais
Que a moça não gostava
De falar com um rapaz
Se juntou com o primo
Que parecia com satanás.
Findo aqui este cordel
E vou pesquisar biografia
Com certeza eu direi
Ou hoje ou qualquer dia
Dizem que o nome da dupla
Talvez João, o outro, Maria.
FIM
João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.
O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte II)
Depois desse pedido
O velho muito rezou
Ave Maria e tanto Pai Nosso
E naquela casa se ajoelhou
Sobre a vida do filho
Que no juramento firmou.
Montou no bicho e saiu
Foi direto à delegacia
Falar do fato ocorrido
Que houve naquele dia
O delegado Pereira
Atento ao velho ouvia.
Mandaram tirar o corpo
E fizeram o sepultamento
No cemitério da roça
Por nome Santa Livramento
- Foi o capanga sem parente.
Dizia o homem do loteamento.
O prefeito vendo o fato
Que vitimou Severino Biu
Deixou de lado a história
De perseguir o moleque VIU
Porém a sua filha Sara
Disso não desistiu.
Falou com sua amiga
E foram falar com VAI
Ao chegar naquela casa
Quase que tudo cai
Por sorte não houve nada
Dizia o velho seu pai.
VIU deu-lhe uma rasteira
Que Sara ficou caída
Sua amiga levou um tapa
Que tava tão distraída
E VIU ainda dizia:
- Tome cuidado na vida.
A filha do prefeito
Era uma barraqueira
Só levava desvantagem
E dava uma grande carreira
Prometendo se vingar
Por uma vida inteira.
Desta feita a Sara
Nada ao prefeito contou
Com a amiga Rozilda
Uma dupla formou
Cruzaram os dedos
E um plano mal planejou.
VIU pegou a prima
E foram falar com o vigário
Este não lhe deu ouvido
E lhe chamou de otário
VAI não gostou do assunto
E lhe chamou de arbitrário.
O padre ficou vermelho
E foi dizendo na ocasião
Que tirasse o cavalo da chuva
Nada de ser sacristão
Que fosse ajudar o pai
Na hora da plantação.
VIU não gostou, mas saiu
E VAI foi com ele também
O padre ficou sozinho
E não desejou o bem
VIU combinou com VAI
E foram muito mais além.
Voltaram à paróquia
E vejam o que aconteceu
Pegaram toda a hóstia
E o vinho o moleque bebeu
VAI dizia bem alto:
- O padre se fudeu!
O padre quando voltou
Tava tudo desarrumado
Sentia um cheiro horrível
O altar todo quebrado
Pediu em oração o nome
Mas nada de ser ofertado.
A dupla foi para a casa
Caindo pela estrada
Cada coisa que ouvia
Era grande a risada
Enquanto o Padre Joaquim
Não sabia da palhaçada.
O sonho de sacristão
Queria o pai do moleque
Mas nada forçado presta
Como ataque de beque
Ou deixar o ventilador
E ficar usando um leque.
Queria o menino VIU
Estudar pra ser doutor
A sua prima VAI
Deste assunto gostou
Disse que ia com ele
E feliz se aprontou.
VAI não tinha mãe
O seu pai não conheceu
Morava com a tia
Que logo se aborreceu
Disse que era coisa de homem
E assim procedeu.
Que ela estava proibida
E que só VIU viajaria
Mas a dupla sabendo disso
Alguma coisa aprontaria
Fugiram de madrugada
Com destino a Bahia.
Um menino e uma menina
Pra Cancão nenhum botar defeito
O agricultor seu pai
Foi direto ao prefeito
Não era mais Zeca
Já tinha havido um pleito.
O prefeito agora era
Um governo patriarcal
Tudo que o pai pedia
Atender era o natural
Botaram gente na busca
E só voltaram no carnaval.
Foram para o Ceará
E a polícia nada encontrou
Enquanto na Bahia a dupla
Na folia deitou e rolou
Bebeu numa cabana
E na conta nada pagou.
Os cearenses viviam
No encalço dos baderneiros
Queriam dar fim à dupla
Daqueles dois forasteiros
Que foram parar um dia
Na gruta dos cangaceiros.
Os dois já bem crescidos
Tiveram logo treinamento
Aprenderam a lidar com arma
Naquele enorme acampamento
O Capitão Chico Bondade
Não sabia do atrevimento.
De garra de um fuzil
VIU se chamava Caipora
A bela VAI se chamou
Morena de Pirapora
Esta completo o cangaço
Vejamos o que acontece agora.
O bando de Chico Bondade
Saíram pelo sertão
Levando muita comida
E muita munição
Atacaram povoados
E fizeram distribuição.
O que ganhava o bando
Era tudo distribuído
Quem matasse mais
Seria mais retribuído
O mundo de VAI e VIU
Estava mesmo estremecido.
Depois de muito tempo
Fugiram do tal cangaço
Jogaram as balas no rio
E deixaram aquele pedaço
Neste momento a dupla
Já vivia de beijo e abraço.
VAI e VIU eram juntados
E queriam uma nova vida
Depois da experiência
Curaria uma ferida
De tudo que fosse ruim
Tão logo uma despedida.
Chegaram numa fazenda
E pediram ao dono trabalho
O dono era nojento
E dizia: Vá pra caralho!
E a dupla o fogo acendeu
Como um jogo de baralho.
Deixou chegar madrugada
E os bois todos soltaram
O dono no outro dia
Nunca eles pegaram
Riam de alegria a dupla
Por tudo que aprontaram.
Numa pequena cidade
Resolveu se alojar
Num escritório de lei
Quis a dupla trabalhar
O juiz muito educado
Fez só um se empregar.
Fechando este cordel
Esta tal segunda parte
Vamos falar adiante
Com maestria e arte
Como foram avante
Andando por toda parte.
FIM
João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.
O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA- (Parte III)
Naquele simples lugar
Vejam a situação
Distante ali de tudo
No trabalho contradição
O povo tudo abismado
Só prestando atenção.
VIU ganhou salário
E roupa nova comprou
VAI ficava sozinha na casa
Que logo ele alugou
Aos poucos ia dando certo
Naquele lugar de doutor.
Enquanto naquela cidade
O seu pai velho sofria
A mãe já tinha morrido
De tanta melancolia
Na casa apenas a mãe
A volta do filho pedia.
VIU era casado com VAI
Na igreja dos cangaceiros
Queria casar na igreja
Como todos os brasileiros
Não sentia confortável
Em deixar na terra herdeiros.
VAI com isto penava
Mas não dava o braço a torcer
Rezava todos os dias
Para o casamento acontecer
Sentiam saudade da vida
Mas tudo viam por perecer.
A cidade foi invadida
O lugar foi dominado
O cangaço novamente
Estava ali estampado
Era, porém outro bando
Que ali tinha entrado.
VIU desta vez tremeu
E correu pra residência
Planejou fazer com VAI
Uma arte de resistência
Matar todo aquele bando
E usaria de toda ciência.
Desligou as luzes da vila
E foi grande a escuridão
Cada cangaceiro passante
Perdia logo a mão
Era tanto gemido dado
Assombrou-se o capitão.
No outro dia foi grande
As mãos por todo lugar
Fizeram uma fogueira enorme
E uma e uma se queimar
Neste instante a dona VIU
Queria logo casar.
Nunca mais os cangaceiros
Atiraram em pontaria
Sem as mãos que matavam
Lembravam só daquele dia
Até que fim a igreja
Se enchia de alegria.
Era o casamento da dupla
Que tanta coisa aprontou
A cidade toda unida
E o casal por muito tempo esperou
Ficaram plantados na igreja
E nunca mais a dupla voltou.
A população com muita raiva
Se sentia angustiada
Por ter tratado assim
Depois ser abandonada
Mas agradeciam a eles
Pela aquela história acabada.
Foram para bem longe
E no caminho traquinagem
Davam cascudos em moleque
E era grande a sacanagem
Se viram cansados na estrada
E pararam numa pastagem.
Um velho que ia passando
Lhe chamou de Cancão
Outro de Malasartes
E foi assim por todo sertão
Lá na frente chamaram de Grilo
O segundo nome de João.
Uma senhora de idade
Chamada de Mãe Filó
Disse bem alto pro povo:
- Lá VAI o menino Chicó.
E ele voltando ao passado:
- Vá dar o seu Cê ó Có.
A menina buchuda
Um filho ela esperava
E foi dizendo ao marido
Um desses nomes ela botava
Deixasse nascer o menino
Para ver se ele aguentava.
Sem nenhum tostão no bolso
A dupla à terra natal voltou
Com um filho na tropa
E o pai logo abençoou
O prefeito do lugar
Um bom emprego arranjou.
O Padre Joaquim bem velho
Toda safadeza perdoou
Fez o batizado do menino
E como afilhado adotou
Nunca mais em trapalhada
Aquela dupla pensou.
Malasartes Pedro Cancão
Da Silva Grilo Chicó
Foi o nome do menino
Que não houve algo melhor
Quando crescesse o moleque
Talvez a coisa fosse pior.
Qual o apelido o menino
Com todo esse nome botado
Se chamaria de quem afinal
Por todo sertão afamado?
Esta era uma questão
Que lhe deixou o batizado.
O avô todo contente
Só vivia com Perequeté
Que bem pequeno já pedia:
- Minha mãe eu quero filé
Me traga cuscuz com leite
E um copo de café.
Sara já bem casada
Foi com VAI lá visitar
O marido dela era
O delegado do lugar
Que sabia do passado
E não queria confrontar.
VIU era uma pessoa
De tamanha importância
Chefe da prefeitura
Trabalhador de elegância
Ele e o prefeito de lá
Preferiam a distância.
O cargo de delegado
Dado pelo governador
Na política da cidade
Um era o opositor
Ninguém mais brigava
Viviam na paz e amor.
VAI voltou a estudar
E deu forças para o marido
Que de imediato topou
E ficou comprometido
Com o grana que ganhava
Muito tinha se divertido.
A dupla viveu feliz
Por tudo que aconteceu
Criaram o filho com amor
E o pai bem velho morreu
Até hoje não se sabe
O nome dela e o nome seu.
Uma história marcante
Que não tem apelação
VIU é um mistério
VAI tem muita paixão
A dupla aprontou tanto
Que nem se ouve a falação.
Mesmo depois de tudo
De todo acontecimento
O nome ninguém soube
E nem houve movimento
Todo mundo ficou calado
Para não ter aborrecimento.
A cidade atualmente
Se diz beneficiada
Pelo nome da dupla
Ela é tão procurada
Turistas chegam à cidade
E haja gente perguntada.
Muitos dos pesquisadores
Chegam diariamente
Querem ter a ciência
De tudo de antigamente
A mais velha das beatas
Explica tão calmamente.
Dizendo que VIU e VAI
Eram bons até demais
Que a moça não gostava
De falar com um rapaz
Se juntou com o primo
Que parecia com satanás.
Findo aqui este cordel
E vou pesquisar biografia
Com certeza eu direi
Ou hoje ou qualquer dia
Dizem que o nome da dupla
Talvez João, o outro, Maria.
FIM
João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.
O LEÃO DO CIRCO E O GATO ROUXINOL - ( A Fábula)
Todo mundo do Castelo
Um bairro bem popular
Já ouviu o que eu conto
Sem nem pestanejar
A história dum leão
Que veio se apresentar.
Como atração de circo
Racion Iara o nome
Tinha leão desnutrido
Que só passava fome
Rouxinol por pouquinho
Quase que o bicho come.
O povo inteiro sabe
Eu mesmo vi bem de perto
Aquele leão magrinho
Com aquele olhão aberto
Querendo se alimentar
Daquele futuro incerto.
O povo fazia fila
Só para ver o leão
Ele ali sem vida
Só batia o coração
A pirralhada alegre
Tinha muita emoção.
Rouxinol não foi comido
E uma briga travou
Com Joca, o leão
O gato quase ganhou
A dupla fez logo trato
Que Mixengo me contou.
O Roxinol sobreviveu
E todo gato quis saber
Como ele escapou
E como podia ser
O leão mesmo sem força
Por que não quis lhe comer?
E assim alguém contou
Que me perdi no caminho
Só sei que Rouxinol
Continuou no seu cantinho
Cuidou bem de sua pele
Lhe trataram com carinho.
Circo Racion Iara
É saudade da infância
Menino levava gato
Tão grande ignorância
Receber uma entrada
Naquela circunstância.
Tudo era tão inocente
Que não dá pra descrever
Receber um bom ingresso
Pra ver Ferrinho fazer
Palhaçada toda noite
Só vendo para crer.
O Castelo todo em festa
E o circo lá por detrás
Daquele nosso mercado
A muito tempo atrás
A gente queria entrar
Mas, chegou o satanás.
O nome dela foi Maria
Uma bela bailarina
Que pediu aos meninos
Aquela tão triste sina
Levar gato pra leão
E a ruindade se anima.
O leão não tinha mais
Forças pra apresentar
Vivia ali cansado
Não queria trabalhar
Era a fome danada
Só gato pra alimentar.
Menino é bicho ruim
E de tudo faz uma festa
Pegando um saco grande
Que ele mesmo detesta
Mas quer pegar o gato
Nem que seja pela testa.
Muito gato foi comido
Muito então, logo escapou
Rouxinol o mais famoso
Tanta história me contou
O leão brigou com ele
E ele foi o vencedor.
Neste dia o Castelo
A Jesus pediu perdão
Em nome daqueles meninos
Que não tinham coração
Colocando um pobre gato
Para ser alimentação.
O circo foi-se embora
E o Leão quis logo saber
Onde andava Rouxinol
Que o bicho queria ver
Levar um papo amigo
Que só vendo para crer.
Rouxinol sabendo disso
Foi encontrar o leão
Chegando bem perto dele
Se ouvia a falação
Um frescando com outro
Feito briga de irmão.
Um grande abraço foi
Dado com muito chororô
Surge o bode perneta
Que a muito tempo morou
Na Apolônio Nóbrega
Pouco tempo se mudou.
Chegou cachorro Bandite
Trazendo a cachorrada
Apertou a mão do bode
E deu aquela gaitada
Joca deu um urro grande
Que trouxe a Trovoada.
Trovoada a galinha
Que Dona Isabel criava
Enxerida que só a gota
E pra Joca se mostrava
O gato Mingau não gostou
A Rouxinol se queixava.
O leão ouvia tudo
E queria sair correndo
Não quis explicação
Foi logo bruto, dizendo:
Eu vir falar com Rouxinol
E tanta gente se metendo!
Elisa com Seu Alfredo
Avisaram a Seu Orlando
Que o circo tinha chegado
E já estavam armando
Que ele tivesse cuidado
No filho chamado Lando.
Rouxinol foi candidato
Na chapa da Oposição
Aqui mesmo no Castelo
e venceu a eleição
do grupo mal comandado
Pelo político leão.
Logo em seguida ele
Casou com a gata Mel
A mais bonita do bairro
Feito estrela do céu
E depois foi me pedir
Que fizesse um cordel.
O leão é da Receita
Quer levar nosso dinheiro
Tomou abuso do povo
O chama de pirangueiro
Criou o Imposto de Renda
Com ordens do estrangeiro.
Não queira dizer que não
Que isto não aconteceu
Pergunte a Dona Celina
ou ao cômico Memeu
Se isto não é verdade
E como tudo se deu.
Está chegando a hora
De tudo que se passou
Se é verdade ou mentira
se sabe, faça o favor
Nunca conte para ninguém
Que Rouxinol virou doutor.
Trabalhou por muito tempo
No Campus Universiário
Teve três gatas com Mel
Todas do signo de aquário
Foi um bom gerente de banco
Sucedido empresário.
O leão de vez em quando
Bota a juba pra cima
Quer fazer do Rouxinol
Um entrave na malha fina
Mas ele vai na Receita
E parte logo pra cima.
Mostrando todo recibo
Dizendo pra ter cuidado
E que ele se lembrasse
Do duelo empatado
Porque estava desposto
A deixa-lo derrotado.
E assim caro leitor
Esta obra de ficção
Que vive na literatura
Fábula de reflexão
Fazendo o Rouxinol
Um respeito pra leão.
Chego logo no final
E faço agradecimento
Pela leitura em pauta
Deste acontecimento
Contado sem pretensão
Por este amigo Bento.
F I M
João Pessoa-PB, 18 de maio de 1999.
LEÃO DO CIRCO E O GATO ROUXINOL - (A Fábula nº 01)
Tem coisas que acontecem
Na nossa preciosa vida
Que até o Jesus Cristo
O Maior de todos, duvida
O que conto desta fábula
Que eu já dava como perdida.
Rouxinol vivia solto
Pelas ruas do Castelo
Nunca foi bem tratado
Como foi Gato Pitelo
De vez em quando levava
Uma tapa de chinelo.
Vizinhança terrível
A Rouxinol desprezava
Porque este bicho gato
Todo mundo atanazava
Subindo em cima de mesa
Tudo ele mastigava.
Chega um circo no Castelo
Com sua grande atração
A belezura da selva
Na figura dum leão
Muito magro e desnutrido
Precisando alimentação.
Tão pobre era o circo
Uma grande lona furada
Ferrinho era o palhaço
O xodó da meninada
Que de noite recebia
Muita boa gargalhada.
O Circo Racion Iara
Tinha leão bem sarado
O corpo todo robusto
E bucho alimentado
Nas mãos do domador
Ele pagava pecado.
De tanto sofrer o bicho
Ele ficou bem desnutrido
De cidade em cidade
Nunca tinha se divertido
Perdeu aquele seu corpo
E ficou enfraquecido.
Coitado daquele leão
Tava cada dia pior
Que tal se ele provasse
Do sabor de Rouxinol?
Veremos como se deu
Esta questão que dá nó.
O danado desse circo
Por nome Racion Iara
Precisou soltar ingresso
Falou a dançarina Mara
Dizendo que o leão
Por gato tinha tara.
Foi a notícia correr
Pra menino se atiçar
Não houve ali no bairro
Um gato pra se salvar
O gato entrando na jaula
Ia com o leão brincar.
Quem foi do Castelo Branco
Pela década de setenta
Sabe o que estou falando
Isso jamais se inventa
Uma notícia tão ruim
Que meu juízo atormenta.
Jamelão foi o primeiro
Que o leão engoliu
Foi uma cena macabra
A que o menino viu
Até hoje ele pensa
No que escapuliu.
Tinha gente que levava
O gato de estimação
Quando o dono percebia
Já tinha sido refeição
Mastigada sem força
Pelo faminto leão.
O bicho era tão fraco
Que não saía do lugar
Pegava as suas patas
Pra com o gato lutar
Tantas foram as horas
Pro alimento entrar.
Dona Penha quando soube
Quis Xadaigo processar
Depois aquela beata
Deixou aquilo passar
Perdoou o leão do circo
Pra depois se confessar.
Dona Penha foi a dona
Do bonito gato Pitelo
Era o gato mais charmoso
Que já houve no Castelo
Comido pelo leão
Que desceu feito farelo.
Tudo isso era feito
De forma bem planejada
Quando um gato sumia
Era tanta presepada
Inda hoje tem pessoa
Ouvindo fica arretada.
Mixengo mais o Xadaigo
Uma dupla de presepeiro
Metia gato no saco
Até o de Seu Carneiro
Que todos lhe conheciam
Pelo nome de Tinteiro.
Menino tem cada coisa
Que só vendo para crer
Vou voltar a Rouxinol
Que teve muito saber
Livrou-se daquele saco
E com o leão foi se ver.
Chegando naquele circo
Foi direto no leão
Bem de mansinho na jaula
Teve esculhambação
Rouxinol fedia muito
Mas teve disposição.
O leão ficou com medo
E fez logo um trato
Disse que depois daquela
Não comeria mais gato
E Rouxinol aproveitando
Falou o mesmo de rato.
O povo ficou pensando
O que disse o Rouxinol
O leão mudou de ideia
E não levou a melhor
Imaginação de criança
Que não espera o pior.
Rouxinol entrou na jaula
Praquele grande embate
Aquela luta felina
Ficou mesmo no empate
Rouxinol saiu bem contente
Fazendo sua parte.
Todo povo do Castelo
Ouve falar na história
Eu tão pequeno que era
Hoje guardo na memória
Da luta que foi travada
Pra Rouxinol uma glória.
O duelo deu empate
Somente pro leão
O vencedor foi de fato
Dito pela Conceição
Foi o gato Rouxinol
Quase virou refeição.
O leão com a brabeza
Em Rouxinol nem falava
E assim o Rei da Selva
Daquele jeito estava
Quando falavam de gato
Tão depressa vomitava.
Pense num gato de sorte
Virou mascote de menino
Deixou o rato de lado
Limpou bem o intestino
Não foi comida de leão
Mudou pra sempre o destino.
Esse gato Rouxinol
Do começo da avenida
Só tinha couro e osso
E o pelo de ferida
São recordações profundas
Que enchem a minha vida.
Estripulia de menino
Pro gato pede perdão
Distante da ecologia
Nada de comunicação
Importava o ingresso
Pra depois complicação.
O leão continuava
A fazer malabarismo
O público muito medroso
Com exibicionismo
As fofoqueiras do Castelo
Dizem: - Ele foi do nazismo.
Sei dizer que o leão
Ganhou logo liberdade
Foi morar no seu habitat
Pra esquecer a crueldade
Não foi culpado o sujeito
Viveu ele na castidade.
E aqui chego ao final
Desta fábula infantil
Contada pelo Cordel
A melhor deste Brasil
Ser menino era bom
Circo e banho de rio.
FIM
João Pessoa-PB, 18 de maio de 1999.
O VALENTÃO E O MAGO - (Início)
O compadre Mané Bento
Primo de Joca Tampinha
Filho de Juca Peixoto
Que é casado com Carminha
Morador de Labirinto
Lá para as bandas de Passinha.
Certo dia na cidade
Por força da valentia
Resolveu por conta própria
Bater em Pedro de Bia
Por causa desta briga
Quase perde a freguesia.
Vendedor de fumo bom
Era o dito conhecido
Nunca levantou o dedo
Dizia assim, Aparecido
Mas desta vez aconteceu
Com Pedro de Bia atrevido.
Pedro já tinha matado
Pra mais de cem no interior
Aparecido quase que morre
Depois de uma grande dor
De um tapa de Pedro de Bia
Que o olho de lugar trocou.
Labirinto era um engenho
De cana de açúcar de qualidade
Joca Tampinha era o dono
E não gostava de falsidade
Quando soube da notícia
Quase perde a identidade.
Chamou o primo pra dizer4
Que dali logo fugisse
Não gostava de encrenca
E via na frente a maluquice
O primo Mané Bento
Usou um ato de criancice.
Juca Peixoto era o feitor
E não gostou do que ouviu
Teve um medo tão grande
Que a fala logo sumiu
Enquanto isso na cidade
Pedro de Bia pra longe partiu.
Mané Bento vaidoso
Tinha fumo de montão
Baixou o preço na hora
E foi chamado de valentão
Venceu a briga na feira
Com vaidade e satisfação.
Dona Carminha quando soube
Do fato pelo povo contado
Perdeu a voz de tanto assombro
Por medo do filho amado
Depois chorou durante um mês
Era o marido hospitalizado.
Juca Tampinha tinha medo
E não queria transparecer
Visitando Juca Peixoto
A carne começou a tremer
Chorava do lado do tio
E nada queria entender.
No Barracão de Mané Bento
Era grande a folegarem
O velho Beto Chiquito
Que gostava de pabulagem
Inventava mais história
E deixava uma mensagem.
Era abrir o olho do povo
Pra não haver covardia
Pois Pedro de Bia era covarde
E toda vez que a luta perdia
Não queria falar do assunto
E pra longe o bicho fugia.
Mané Bento ouvia tudo
E dava seu parecer
Falava que ganhou a luta
E ele fez por merecer
Nunca mais o Labirinto
O bandido ia tremer.
A alegria era tanta
Que caloteiro não pagava
Dividas eram perdoadas
E Mané Bento inda deixava
O fiado foi crescendo
E o dinheiro pouco restava.
Na saída do hospital
Com o sobrinho do seu lado
Foram falar pra Mané Bento
Que tivesse cuidado
O cabra tinha fugido
Mas logo era esperado.
Não contasse a vitória
Antes do tempo prometido
Pedro de Bia estava aprontando
E depois vinha o acontecido
O medo de Juca Peixoto
Era este fato escondido.
Mané Bento nem ligava
Na fala do velho pai
Pouco importa ele dizia:
- Daqui hoje ninguém sai
A fama do vencedor
Mais tarde ela cai.
Toda semana ele ia
Na feira fumo comprar
Quando chegava à cidade
Haja gente se lembrar
Da grande briga que teve
E era história pra contar.
Uma tal de Josefina
Irmã de Barra Funda
Falou até de uma dedada
Que levou pela bunda
Desse tal Pedro de Bia
Numa tarde de segunda.
Falou disso e chorou
E gostou do que ela viu
Mané Bento dá uma surra
No filho de José Biu
Que o peste se foi embora
Pra longe escapuliu.
Já́ o fazendeiro Augusto
Queria tudo saber
Fazia pergunta ao povo
E não conseguia entender
Como aquele frangote
Fez Mané Bento perder.
Dona Carminha tremia
E seu velho consolava
Sofria calada no canto
Um medo lhe atormentava
Um coração de mãe sofre
E pra chorar se ausentava.
O dono de Labirinto
O engenho botou à venda
Com medo de represália
E que ele não se arrependa
Dizia o primo Juca
Escorado numa tenda.
Se arrepender de que?
Dizia o Mané Bento
Quem fugiu foi o cabra
Depois do sofrimento
Ele que se cuide
Era este o discernimento.
Ninguém ouvia falar
Do tal Pedro de Bia
Pra onde tinha ido
E se voltava algum dia
Era conforto pra todos
E motivo de alegria.
Ninguém queria comprar
As terras de Labirinto
Se não me engano o juízo
Só Lourival Roberto Pinto
Deu uma proposta tão baixa
Que Juca ficou no recinto.
Ninguém tinha dinheiro
Para aquele engenho comprar
Não aparecia um Cristão
Que pudesse lhe ofertar
Uma proposta pra lá de boa
E na terra quisesse ficar.
O jeito foi esperar
O que pudesse acontecer
Viver assim com medo
Era tamanho o sofrer
Por causa de uma encrenca
Que o primo foi meter.
Mané Bento ainda por cima
Era teimoso de dar dó
Vivia contando história
Que nunca levou a pior
A surra dada em Pedro
Não achava ser a melhor.
Falava de outras lutas
Que o bicho participou
Todas elas vitorioso
E assim ele contou:
- Já briguei com mais de cem
Não fiquei nunca com dor.
- Dei rasteira no Diabo Quenga
E no peste Toucinho de Vaca
Antes de vir pra Labirinto
Destruí o Fragoso Paca
Dei lapada em Cu de Grude
Fiz correr Toinho da Jaca.
E se vocês querem saber
Não queiram saber de mim
Rasparam o sovaco de China
E lascaram o dente de Padim
Os dois chuparam o traseiro
Do jumento de Seu Inacim.
F I M
João Pessoa-PB, 17 de fevereiro de 2018.
O VALENTÃO E O MAGO - (Final)
O muro que Pedro deu
Foi direto no poderoso
Coitado do Chico
Morreu foi desgostoso
O ovo de cada lado
Ficou mais que horroroso.
A pancada foi tanta
Que o bicho mudou de lugar
Não teve como viver
Nem aqui, nem acolá
O melhor foi ele morrer
E no inferno se lamentar.
Do outro lado da feira
Seu Antônio fogueteiro
Um senhor respeitador
Se lembrava dum forasteiro
Que levou um bofetão
E foi direto pra Oitizeiro.
E com tudo isso contado
Podia Pedro de Bia fugir?
Só era acertar as contas
E depois, dava pra decidir
Mas primeiro preferiu
Tão cedo partir.
De repente o alvoroço
Corre gente pela feira
Voltou Pedro de Bia
E agora tinha uma peixeira
Coitado do Mané Bento
Deixar desta besteira.
De andar falando dos outros
Sem saber qual o destino
Berrava cabras e bodes
Na paróquia batia o sino
A peixeira do bandido
Foi herança de Balbino.
Balbino foi cangaceiro
Das tropas de Corisco
Depois fazedor de faca
Nas terras de Zé́ Francisco
Hoje era o protetor
Daquele sujeito arisco.
O mago Mané Bento
Nem a pestana mexia
Não esperava nunca
A volta de Pedro de Bia
Ficou ali se tremendo
Perdendo toda alegria.
Pedro de Bia voltava
Com Balbino do seu lado
Os dois pesavam muito
Como capanga contratado
Saíram procurando Mané
E ai dele se fosse achado.
Foi direto ao engenho
Na mesa uma oferta botou
O preço que Juca deu
A quantia o cabra dobrou
E lá́ os dois ficaram
E Mané Bento nada notou.
Entrou na venda de fumo
Não viu ninguém no lugar
Ficou desconfiado
Mas foi logo procurar
Havia tanto silêncio
Que começou a desconfiar.
De repente a lamparina
Acabou a iluminação
O escuro naquele dia
Foi pior que inflação
O chiado tomou conta
Daquela ocasião.
Mané Bento não entendeu
O que estava acontecendo
Passos pela casa
Seu coração logo sofrendo
Balbino que era gordo
O chão foi se tremendo.
A voz de Mané Bento
Ficou presa na garganta
Não conseguia dizer nada
E tinha fome de janta
No escuro da noite
Um vulto estranho levanta.
Com a voz do outro mundo
A dupla logo aprontou
Partiram pra cima do mago
Mas uma rasteira ficou
Gritavam feito demônio
Mas Mané Bento não se assustou.
Logo percebeu a coisa
Da vingança do derrotado
Deu uma volta no escuro
E meteu o dedo no fresado
Gritava o velho Balbino
No chão o corpo estirado.
Mané Bento sabedor
Da coisa que ali estava
Zombou com voz de morto
E Balbino no chão gritava
É Me livra Mané Bento
É Não sou que aqui estava.
Pedro de Bia bandido
Querendo a luta vencer
Acendeu a lamparina
E com peixeira começou a bater
Mané pulava feito macaco
E sem faca ia sofrer.
Balbino pediu por tudo
Que dali fossem embora
Mas o danado do Pedro
Era galo ruim de espora
Não ia deixar o engenho
Que era dele agora.
O braço de Mané Bento
Pequeno e bem certeiro
Acertou o dente de Pedro
Era sangue e mal cheiro
Na cidade aumentava mais
As conversas de fofoqueiro.
Alecrim do velho Pomba
Casado com Mãe Candinha
Quis saber onde estava
A família de Carminha
Contaria tudo pra mãe
E escreveu logo uma cartinha.
Mendonça lá́ da serra
Que vende fumo também
Criou um sindicato
Dos valentes do além
Dizia que tinha morrido
Pro povo dizer amém.
No engenho a cara
Que o bem que Deus nos deu
Não tinha nada perfeito
No outro o outro bateu
Tudo modificado
A medicina se entristeceu.
A bunda de Mané Bento
No estômago ficou morando
A boca de Pedro de Bia
Sem dente foi se acostumando
O olho de cada um
Ia aos poucos se fechando.
Cada mãozada de Mané Bento
Na testa tome defeito
Coitado do Valente Pedro
Vencer o mago não tinha jeito
Quando tentava dar um golpe
O dedo virava rejeito.
Os dois cambaleando
Não quiseram se entregar
Lutaram até́ o fim
E ninguém soube explicar
No leito derradeiro
Foi difícil terminar.
Cada um com sua história
Não há razão pra tal assunto
Lado a lado na sala
Por cima do outro o defunto
Hoje moram na cidade
Por nome Pé́ Junto.
Cada gente de Labirinto
Não quer mais levar vantagem
O engenho não é mais o mesmo
Ficou somente a imagem
De uma luta sem sentido
Que mudou toda a paisagem.
De uma terra que tinha tudo
Onde a harmonia reinou
Agora é um mistério
Lá tudo que se plantou
O tempo destruiu tudo
Uma só́ árvore não ficou.
O diabo venceu a luta
A dupla saiu perdendo
A briga não leva a nada
E como vem acontecendo
A desordem no social
Deixa o bem se escondendo.
Juca Peixoto e Carminha
Na cova do filho amado
Choram a despedida
De um tempo que foi passado
Mané Bento tão pequeno
No engenho foi educado.
Depois de grande virou herói
De bocas desqualificadas
Morreu por força da vaidade
Do boi valente das vaquejadas
Pedro de Bia era o demônio
Daquelas falas contadas.
F I M
João Pessoa-PB, 17 de fevereiro de 2018.
POPULARES POETAS - (primeira parte)
Eu agora vou contar
Por favor preste atenção
Leia o que já ouviu
Fez tão bem ao coração
A poesia popular
Engrandece a Nação.
Os poetas populares
São tantos nesta pesquisa
Quem quer sabe o que faz
Quem faz sempre precisa
Viva o cordel paraibano
Entre poetas e poetisas.
Há muito tempo atrás
Morava lá em Pombal
Leandro Gomes de Barros
Símbolo da criação inicial
Perambulou por tantas feiras
Trocou folheto por capital.
A gênese desta história
Bebem na fonte de Ugolino
Criou versos na oralidade
Contribuiu com o destino
Sobreviveu o nosso cordel
Este foi o seu desatino.
Os Nunes que são tantos
Os Batistas também são
É repente, viola e cordel
Eis a grande contribuição
O cordel é tão paraibano
Como é rico em erudição.
Cordelistas paraibanos
São tantos existentes
A Paraíba é o celeiro
De letras e repentes
José Alves Sobrinho
Foi catalogar os diferentes.
O cordel paraibano
Tem história para contar
Foi o centro das atenções
Desta cultura milenar
Cada cidade deste estado
Tinha uma feira popular.
Havia muitos cordéis
Em cordões pendurados
A viola era dedilhada
Dos motes organizados
Viva o cordel paraibano
É dinheiro valorizado.
A Academia de Cordel
Do Vale do Paraíba
Agrega muitos poetas
Assim falou o nobre Escriba
É poesia dita cuja paraibana
Musicada pelo vizinho Capiba.
Jansen Filho é um grande nome
Que tinha o dom da poesia
Por onde o cabra andava
Era grande a euforia
Recitava vários versos
Haja fôlego e alegria.
O poeta e a poesia
É como a mãe e como o pai
Essa dupla anda junta
E a rima sempre sai
Quanto mais se tem poeta
Com ele a poesia vai.
A Paraíba é muita rica
Em todo campo cultural
Tem teatro, poesia
Tem música e carnaval
Ser filho da Paraíba
É viver no verso da moral.
O cordel paraibano
Tem nome que dá respeito
Leandro, Arêda e Leite
E Das Neves grande feito
A primeira mulher
No cordel fez seu direito.
Viva a poesia da Paraíba
Viva a rima paraibana
Com cheiro de mato seco
Da palha da cana caiana
Deus proteja, nós poetas
Do veneno da cobra caninana.
O poeta é muito simples
Com muita história pra contar
Seja dia ou seja tarde
Não há hora pra chegar
A poesia é água pura
Feita pra se degustar.
Poeta e Poesia é assim
As mesma coisa em ação
Um provoca o outro
Em termos de inspiração
O poeta da Paraíba
É êxtase que pulsa o coração.
Viva o poeta e a poesia
Que andam de mãos dadas
Construindo belos versos
Com frases tão recitadas
No meio da rua e da praça
São estrofes tão comentadas.
Dizem que o cabra nasce
Com a veia de poeta
Não sei se isto está certo
Por ventura é tanto incerta
O tempo é bom momento
Quando a porta está aberta.
A poesia de um poeta
É feita quase de inspiração
De noite o poeta dorme
De dia faz a sua criação
A poesia dita paraibana
Tem muita constelação.
É estrela que brilha tanto
No infinito lá do céu
É literatura infantil
De plebeu e menestrel
É poesia clássica de gosto
Bem juntinho do cordel.
Oh poeta de bancada
Que escreve com seu amor
No Brasil de Norte a Sul
Escrever tem muita dor
O cabra escreve o que pensa
Do ficar e do que passou.
O menino no papel
Pensa no primeiro verso
Pra ofertar a namorada
Num belo papel impresso
Falar de passado, poeta
É coisa que me interesso.
A Poesia é um sangue
Que trafega em todo Ser
Invade as inspirações
E elastece nosso viver
Ser poeta paraibano
Faz tudo isto entender.
A Paraíba é produtiva
Em tudo aquilo que faz
Mas a arte é seu destaque
Entre a guerra e a paz
Os versos paraibanos
O inverso deixou pra trás.
Sérgio de Castro Pinto
Políbio Alves meu amigo
Poetas de primeira
Coração de bom abrigo
Os versos destes poetas
É razão de estar contigo.
Neto Ferreira, Fábio Mozart
Chico Mulungu e Baraúna
Sander Lee e Sander Brow
No tronco da jacaúna
Fazendo belos versos
Que recordo Suassuna.
Vicente Campos e Jota Lima
Lino Sapo e Vavá da Luz
Este quarteto é fogo
No verso que nos conduz
Caminhando pelas pedras
Falam em nome de Jesus.
Marconi Araújo, presidente
De uma grande Academia
Dentro com tantos poetas
Que só fazem poesia
É estilhaço de versos
No repente e na cantoria.
Tiago Monteiro tem programa
Nas cordas de uma viola
É cantador que não falta
Feito cego pedindo esmola
Tem mote pra todo mundo
Que cabe numa sacola.
Thiago Alves tem a voz
Que dá gosto de se ouvir
Zé da Luz de Itabaiana
Feste este cabra sentir
Com sua interpretação
Coisa boa vai se fluir.
A Cristine Nobre e a Luciene
Trazem força na poesia
São efetivas no eterno
No sentar de uma academia
Trafegam em belas rimas
Entre dor e alegria.
E aqui vou terminar
Quero a todos agradecer
Se alguém eu esqueci
A poesia vai se ver
Obrigado de coração
Mais poetas vão conhecer.
FIM
João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 2020.
POPULARES POETAS - (segunda parte)
Esta obra que escrevi
Sobre poesia popular
Tanta gente de fora ficou
E eu tive que optar
Os grandes nomes peguei
E vamos agora publicar.
Em Prata vamos encontrar
Zé de Cazuza na boemia
Com a memória de menino
Faz a sua veia em maestria
Este velho é bem valente
Na dor e na alegria.
Pinto do Monteiro é grande
Nas lembranças da vovó
Cantou com muita gente
Na cantoria era o melhor
Um tal de Zé Limeira
Quase que leva a pior.
José Alves Sobrinho
Foi um grande pesquisador
Trouxe histórias de Zé Limeira
Em Campina ele mostrou
Discutiu com Orlando Tejo
Que o livro publicou.
Novos poetas surgem
E o cordel vem pela saia
Tem pessoa que recita
É um tal de Merlânio Maia
Valorizando a mulher
Dá empate nesta raia.
Bruno Gaudêncio chegou
Jairo Cezar soltou um verso
O poeta de Sapé
É poesia papel impresso
A dupla é muito boa
É saudade que te peço.
Irani Medeiros tem
A veia de pesquisador
É um grande poeta
Na fritura do amor
Por onde ele passa
A musa o verso conquistou.
Ele está em toda fase
Da poesia brasileira
Nosso Augusto dos Anjos
Tem verso na dianteira
Falou tanto de saudade
Sua poesia primeira.
Os que vem de fora
Dão a sua contribuição
Louro, Dimas e Otacílio
Do Litoral ao meu Sertão
Cantaram de improviso
O amor e a paixão.
Oliveira de Panelas também
Trouxe a viola na bagagem
Cantou com os Patriotas
E ficou a boa imagem
Navegando na saudade
No cactus da paisagem.
João Paraibano foi bom
No verso e na cantoria
Já cantou com tanta gente
E hoje é só melancolia
João merece aplauso
De Pernambuco a Bahia.
Zé Marcolino compositor
Poeta da grande Sumé
Descobriu tão cedo os versos
Dedicados à mulher
Gonzaga musicou
Na sanfona que virou fé.
Raphael de Carvalho teve
Grande veia cultural
Fez cordel e foi cantor
Como ator foi genial
Engolia o coração
Isso era sensacional.
Violeta Formiga e Anayde
Duas grandes escritoras
Tão cedo foram simbora
Cuidar de outras lavouras
A poesia desta dupla
É estudada por doutoras.
Antônio Mariano e Hildeberto
São críticos literários
Escrevem os seus poemas
No campo dos libertários
Os versos que deles brotam
Com o saber são solidários.
Relembrando os grandes cordelistas
Que no final do cordel assinavam
Eram iniciais ou mesmo o nome
E assim eles humildes deixaram
Uma marca de sabedoria
Que outros mais na frente contaram.
Eu também penso em fazer
O que eles lá atrás fizeram
Pôr o meu nome acróstico
E alguns já me disseram
É complicado o assunto
Muitas informações trouxeram.
Poesia é água corrente
Na veia de uma correnteza
Invade o sentimento humano
E destrói por completo a beleza
Deixa todo o mundo igual
Num repente de uma peleja.
O poeta e a poesia são únicos
Na terra da arte brasileira
Cada frase que a mente cria
É poesia que anda ligeira
O poeta pega a caneta
E responde com uma rasteira.
Maria das Neves foi a primeira
Entre tantas que hoje escrevem
Unidas num só coração
Elas o bom cordel exercem
Da Paraíba a Alagoas
De avião ou de canoa
Elas respeito merecem.
Izabel Nascimento é pessoa
Cordelista sergipana
Fundou uma Academia
E mulher lá não reclama
Os versos de Izabel
Já li de cair na cama.
Daniela Bento de Aracaju
Com Izabel organizou
Uma coletânea das boas
Feita para qualquer leitor
É cordel que anda na linha
Na saia da amiga Dalinha
No gostar de puro amor.
A amiga pernambucana
Edilene cordelista
Com aquele chapéu de couro
Tem fama pra lá de artista
Estando em solidão profunda
Leio os de Dalinha Catunda
E fico logo otimista.
Lá vem a Tonha Mota
Com Maria Anilda falando
De um tal cordel de saia
Que Dalinha foi cantando
É a mulher dos grandes versos
Participante de congressos
Se eu não for vão se chegando.
Anny Karolinne é enfermeira
Herdou o dom da criação
Faz cordel com maestria
E usa cabeça e mão
Tem Anne Ferreira de Queimadas
Com belas e boas tiradas
Haja cordel de amor e paixão.
Maria Anilda é gente boa
Lá das terras do Ceará
Prende o povo na leitura
Só pra ver o quer que dá
Tem tanta mulher no cordel
Muito mais que anjo no céu
Chegou Cristine Nobre
Com seu trabalho em mãos
Feito para a leitura
De cidadãs e cidadãos
É poetisa de Academia
Acolhida pelos irmãos.
Paraíba tem o pôr do sol
Tem belas praia no litoral
Paraíba tem artistas
Tem Ariano intelectual
A Paraíba de Augusto
E o forró de Genival.
A Paraíba tem cultura
Do algodão e do alho
Na música é de primeira
Pelo nome de Ramalho
É Elba, Zé e Luiz
Cartas de um baralho.
Paraíba de mulher macho
Violeta, Anayde e Elizabeth
A sanfona de Flávio José
Encanta até o pivete
O som de Jackson
É pandeiro que se derrete.
Viva o povo paraibano
Na arte da poesia
Leandro Gomes de Barros
Na terra de Dona Maria
Tem Seu Zé e Seu João
É festa, é muita folia.
E aqui chego ao final
Deste meu belo cordel
Escrito na precisão
Na aba do meu chapéu
Falo de quem já morreu
E de quem vive neste plantel.
FIM
João Pessoa-PB, 23 de abril de 2019.
MULHERES GUERREIRAS
Eu vou contar o segredo
Da grande mulher guerreira
Nascida na Paraíba
Que se fez como enfermeira
Para cuidar dos pobres
Que brigavam de peixeira.
Era filha de Etelvina
Uma viúva da grana
Mas não precisou da mãe
Para ser rica e bacana
Lutando descobriu
O bom da cana caiana.
Ela quando era pequena
Naquele engenho brincando
Pegou uma palha da cana
Ficou só imaginando
Que aquilo lhe serviria
Foi logo se planejando.
Só via a zona rural
O centro só de passagem
Quando ia com a família
Ficando olhando a paisagem
Vendo todo aquele verde
Pensava naquela imagem.
Aquela que não saía
Daquela mente infantil
Criaria alguma coisa
Para o avanço do Brasil
No jipe ia logo atrás
Olhando o céu azul anil.
Sua mãe Dona Etelvina
Filha do major Soares
De vez em quando espiava
Essa menina nos ares
Dizia: - Queremos ver
Quando você ver os mares.
A mãe falava das praias
Que fica na capital.
Maria vive no engenho
Brincando no seu quintal
Com a menina mais nova
Do feitor Seu Juvenal.
Elas brincavam de tudo
Pouco mais de cientista
Com sua amiga Joana
Que pensava em ser artista
Se tornando professora
Uma leitora marxista.
Sobre o tema anterior
No centro dessa cidade
A Maria se encantava
Tinha muita vaidade
Era bastante educada
Só respondia verdade.
Dizendo pra sua mãe
Que não gostava de mar
Podia ir lá qualquer dia
Mas, no engenho ia ficar
Queria ser enfermeira
E teria que estudar.
O seu papai, Zé Venâncio
Homem de pouca conversa
Foi perguntando pra filha:
- O que é que te interessa
Se é através do estudo
Que se paga até promessa?
A Maria ouvindo aquilo
Ficou sem compreender
A mãe concordou com ele
No centro foram descer
Era tanta gente ali
E ela só quis conhecer.
Mas, antes do seu destino
Começou então refletir
O que seu pai tinha dito
Ela então veio sentir
Seu pai nem imaginava
E, portanto, nem ouvir.
É que ela queria ser
Enfermeira arretada
Pois, seu pai só falava
Dela sendo advogada
E ela desconsiderava
Era bom ficar calada.
Cambiteiro aposentado
Um tanto bastante esperto
Empregado do seu avô
Do coronel Adalberto
Por causa de uma peixeira
Nunca fez o que era certo.
A Maria chegou ali
E ficou só conversando
O cambiteiro Zezé
Foi somente se explicando
Que aquela palha da cana
Pois, quase foi lhe matando.
Despertando na menina
Tanta curiosidade
Enquanto a mãe fez a feira
Naquela bela cidade
A filha até pensava
Entrar na Universidade.
O Zezé foi e disse que ela
Era cagada sua avó
Que lhe tinha grande apreço
E pela mulher Soró
Que trabalhava na terra
Todo dia, sol a sol.
A menina quis saber
A história da peixeira
E Zezé disse que nada
Tudo era só brincadeira
Que ela fosse simbora
Fosse direto pra feira.
Que seu pai era sério
E não queria confusão
Maria logo atendeu
E ficou sem solução
A história do Seu Zezé
Lhe deixava sem ação.
Neste instante a mãe
Pergunta onde ela estava
Ela diz: - Em Seu Zezé
Que do engenho falava
As duas foram seguindo
Aonde o Venâncio pagava.
Era um mercadinho
Que tudo tinha lá
Da comida da casa
Se podia tudo comprar
Dona Etelvina e a filha
Acabaram de empacotar.
Venâncio pagou a conta
E perguntou para a filha
Se ela tinha sumido
Se foi direto pra uma ilha
E nesse instante a menina
Seu olho apenas brilha.
Vai dizendo ao pai
Tudo que sua mãe já sabia
E o pai disse que ela
Que se chamava Maria
Tivesse mais cuidado
E deixasse de fantasia.
Esquecesse o cambiteiro
E tudo que dele ouviu
Seu pai sempre foi bom
E ele foi quem fugiu
Deixando toda fornalha
Que por pouco não caiu.
Que seu Zezé era gente
E falava até demais
Que ela não se preocupasse
Que ele chamaria o rapaz
Pra ela conversar com ele
Na sua frente e não por trás.
Maria ficou tão triste
Indo pro engenho não falou
O pai falando com a mãe
E bem baixinho cochichou
Maria toda em silêncio
Naquele homem pensou.
Se seu pai chamasse ele
A história queria saber
O porquê de tudo isso
Estava torcendo pra ver
O que estava correto
Pra ela tudo entender.
Descendo daquele jipe
A Maria foi procurar
A sua amiga Joana
Tão somente pra conversar
Falar dos seus pais
E da história do mar.
Joana ouvia tudo
E se alegrou com a praia
Dizia para Maria
Que usaria a sua saia
Bordada pela mamãe
Uma bela paraguaia.
Tinha o nome de Nara
Aquela nobre senhora
Que veio de San Lorenzo
E nunca mais foi embora
Se casando no Brasil
E vendendo renda pra fora.
A dona Nara queria
Que sua filha estudasse
Ela e o seu marido
Não deixava que trabalhasse
Somente para o estudo
E que ela se formasse.
O feitor Pedro Bolero
Que dançava pra xuxu
O apelido lhe pegou
Numa festa em Caxitu
Conheceu a paraguaia
Numa cidade do Sul.
Joana tinha muito orgulho
Daquele simples casal
Que trabalhavam pra Venâncio
Naquele antigo hospital
E hoje viviam no engenho
Naquela vida normal.
O feitor era um homem
De tamanha confiança
Trabalhava no engenho
Por nome boa esperança
Era o xodó do povo
O principal da criança.
FIM
João Pessoa-PB, 21 de março de 2020.
MULHERES GUERREIRAS II
Maria fala pra Joana
Que ela fizesse planos
Pra ter uma vida melhor
Em todo passar dos anos
Ela tinha que ter foco
Pra esquecer os desenganos.
As duas meninas estavam
De férias escolares
Brincavam todos os dias
E se agoniava a Soares
A cozinheira que veio
Da cidade de Palmares.
Dona Etelvina chama Maria
Já é hora do almoço
Joana não quis ficar
Foi direto pro poço
Acompanhando a mãe
E seu cachorro colosso.
Depois da refeição
Maria no seu aposento
Não sai de sua cabeça
Todo aquele momento
Vivido lá na cidade
Que lhe causou até tormento.
E que seu Zezé
Um cambiteiro afamado
Tinha despertado nela
Que nada foi solucionado
Depois da conversa do pai
Que ficou até zangado.
Enquanto isso, chegava
A sua amiga, Joana
Despertando nela
Falar da cana caina
E as peixeiradas todas
Que ocorriam toda semana.
Joana sobe no quarto
E Maria começa a falar
Sobre aquele cambiteiro
Que não quis mais comentar
O que houve com ele
No engenho a trabalhar.
Joana dizia assim
Não querendo se meter
Que seu pai era amigo
E podia até ele trazer
Levaria ela pra lá
Sem o pai dela saber.
Maria de forma simples
Disse que essa história
O pai já tinha dito
E ficou na sua memória
Que ia trazer o seu Zezé
E pra ela é uma vitória.
FIM
João Pessoa-PB, 21 de março de 2020.
PATINETE DA MINHA INFÂNCIA
Eu sou de João Pessoa
Na Paraíba me criei
Descendo de patinete
Diversas vezes brinquei
Já tive tanto brinquedo
Certamente já contei.
Patinete faz rever
Sonho nenhum apagou
No meu tempo de criança
Linda saudade ficou
Me lembro do patinete
Que de tão frágil quebrou.
Meu mundo de brincadeira
Dava tempo na corrida
Daquela tal meninada
Com tanto prazer na vida
Ganhando velocidade
Se perdendo na subida.
O primeiro Patinete
Eu chamei de Pontaria
Um nome dum motorista
Que mais tarde morreria
Dei pro bicho lindo nome
Por amor com alegria.
Pontaria era pequeno
E não dava pra levar
O meu irmão queria tanto
Eu só mandava empurrar
Pois, eu levei foi uma surra
Para nunca mais brincar.
O Patinete quebrado
E eu tão somente chorava
Culpa daquele meu irmão
Que sozinho reclamava
Minha mãe ficou com pena
E pra mim só ajeitava.
Pontaria ficou bom
E dei tranquila voltinha
Meu mano todo contente
Numa tremenda ladainha
Entreguei com a tristeza
No canto de uma modinha.
Meu irmão que queda levou
E a mamãe se aborreceu
Pegou aquele Patinete
Logo desapareceu
Eu esperneava muito
Por tudo que aconteceu.
A pirralhada gritava
Tão somente pra brincar
Outros tantos chegavam
Haja gente se juntar
Corrida de patinete
Meu brinquedo popular.
Tem rolimã na tração
Meu patinete corria
Na ladeira do Castelo
Tanto menino subia
Aquele bicho veloz
Com certeza ganharia.
Era grande a alegria
Descendo no Patinete
Tinha tanta gente ali
Até mesmo Espaguete
Correndo mais do que tudo
Disputando com Chiclete.
Chiclete bom apelido
Do filho de Seu Mané
Batedor do mundo todo
Grita: - Deem o rolé!
A gente se revoltava
E dali dava no pé.
O Patinete de Toinho
Por demais bem elegante
Enfeitado de bandeira
Batizado de Elefante
Aquele bicho comprido
De colorido chocante.
Primeiro campeonato
Fiquei no quarto lugar
Didi ficou no segundo
Mixengo quis aprontar
Discordou do resultado
E fez tudo pra ganhar.
Na recontagem dos pontos
Mixengo chegou primeiro
Espaguete bem falou
Recebe logo terceiro
Tem seres inconformados
Surgindo grande berreiro.
Nesse prêmio teve taça
De beleza por sinal
Pendurada numa fita
Nas mãos de forma normal
Entregue pros vencedores
Nas festas do carnaval.
Mixengo ficou contente
Foi lavar seu Patinete
O Didi de Dona Creuza
Em cima do caminhão
Gritava pra todo mundo:
Campeão é Espaguete!
Espaguete não gostou
Com sua mãe foi se ver
Levou logo grande surra
O pai botou pra valer
Não sairia mais de dia
Nem também anoitecer.
Patinete é saudade
Tempo nenhum apagou
Brinquedo é infantil
Tanta saudade deixou
Lembro dum tal Patinete
Que na ladeira quebrou.
O de Beto logo foi
Feito com tudo pregado
Mas na ladeira quebrou
Nada é aproveitado
O dono do patinete
Ficou bastante zangado.
O patinete dali
Tinha seu nome botado
Eu dono de Pontaria
Tanto tempo consertado
Já o Nado, calango
Por ele todo pintado.
Tínhamos nomes de fruta
Já chegou nosso Maçã
Tremendo carro de Toinho
Com um grande rolimã
Se não fosse conhecido
Chamaríamos Romã.
Porque Toinho caçava
E um apelido pegou
Chamado de guriatã
Ele de nada gostou
Correndo no patinete
Ele um dia se zangou.
Na batida do patinete
Que era de Joãozinho
Uma confusão tamanha
Só houve um empurrãozinho
O Mixengo desapartou
E ficou com o carrinho.
Este era o nome certo
Do brinquedo Patinete
O carrinho dos meninos
Que ganhava de marinete
Com tanta velocidade
Gritavam: - Viva Espaguete!
Espaguete era veloz
Patinete de primeira
Nunca nós pegamos ele
Quando descia a ladeira
A roda do tal carrinho
Foi aquela quebradeira.
Todo mundo se aprontava
Para o tempo da corrida
Era aquela meninada
Com tanto prazer na vida
Ganhando velocidade
Na volta como na ida.
Era tanto menino
Que nunca deu pra contar
Fora outros que vinham
Com a gente se juntar
Correndo de patinete
Nossa forma de brincar.
Foram poucas todas brigas
Duma mãozada fictícia
Mixengo sendo maior
Namorado de Letícia
Apaziguando momento
Naquela boa notícia.
Nas lembranças que vivemos
É boa recordação
Mexe com o sentimento
E faz bem pro coração
Patinete foi brinquedo
Causando só emoção.
De roda de rolimã
Patinete só corria
Na ladeira do Castelo
Tanta gente lá subia
Que patinete veloz
Na certa só ganharia.
Pontaria na conquista
Grande desafiador
Com suas rodas gigantes
Tanta pista bem rodou
Meu brinquedo popular
Que me lembro com amor.
Chego no fim do Cordel
De Patinete falei
Daquele nosso carrinho
Que tanto tempo vibrei
Agora neste meu drama
Só eu sei do que passei.
FIM
João Pessoa-PB, 03 de maio de 2000.
A CANGAIA QUE TUA MÃE BOTOU COM O SACRISTÃO CHICO TRIPA - VOLUME I
Caro leitor queira entender
Sem tamanha discussão
A história deste homem
Mexe com o nosso coração
Que sujeito sem amor próprio
Mesmo depois da traição.
Ele se chama Damião
Sempre gostou de mulher
Casou-se com Florisvalda
Tudo em nome da santa fé
Sua mulher de vez em quando
De casa dava no pé.
Hoje em dia ele tem medo
De voltar pro seu sertão
Pode até ser morto
De foice, faca ou facão
Quer somente desabafar
E precisa só de atenção.
A beata Elisa já dizia
Que Chico era cretino
E gritava muito mais
Só lhe chamava de menino
Em nome da fé tomou pisa
E lhe fez ainda tocar o sino.
Florivalda começou a sair
Servir a sua religião
Lá se envolveu direito
Com um tal sacristão
Chico Tripa era o nome dele
Triste sina meu irmão.
O sacristão Chico Tripa
Se envolveu com Florisvalda
Foi amor à primeira vista
Que maldita condenada
Não respeitou nem o título
De fiel mulher casada.
Ela botou foi cangaia
Com um tal de Chico Tripa
Até hoje é uma tristeza
Quando lembra lá de Pipa
É que ele tem uma pousada
E me cobriu no pau da ripa.
A igreja de Chico Tripa
Não tomou nenhum partido
Desconheceu a sua história
De um pobre coração ferido
Ficou indiferente do caso
E lhe deixou muito sentido.
Florisvalda era gostosa
E tinha bastante vaidade
Não valorizou seu marido
E só lhe fez crueldade
Chifre dos pés à cabeça
Acabando a sua liberdade.
O sacristão era falante
E coordenava reuniões
Lá o bicho pegava todas
Que lhes dava os corações
Aconteceu com Florisvalda
Se envolveu nas emoções.
O sacristão se aproveitava
E tome cheiro no cangote
Florisvalda gostava disso
Tomando água de pote
Chico Tripa era sabido
E soube bem dar o bote.
Aquele tão pobre homem
Com o filho se abraçou
Cada um chorava mais
Nem sei quem mais chorou
Só sei que estre drama
O Damião sempre enfrentou.
Diante de uma simplicidade
O homem chorando quer
De todas as maneiras
Ser amado pela mulher
Ele ama a Florisvalda
E fala assim com tanta fé:
- Nasceu um menino em casa
De prontidão já desconfiei
Cagado e cuspido Chico Tripa
E de Francisco o nome botei
Sua mãe nega até hoje
Mas a verdade só eu sei.
Esta história toda lhe arrasa
E olha seu filho amado
Florisvalda perdeu a cabeça
E seu amor foi terminado
Ele sabe que é um corno
E não passa de um azarado.
Dizem que Chico era fogo
Na cama o bicho era brasa
Dava quatro por noite
Aí sua mulher se arrasa
Com ele era só uma
Na sua humilde casa.
Ele não culpa a mulher
Não entendo seu dissabor
Florisvalda reclama de tudo
Até um simples mau humor
Depois de um certo tempo
Ela somente lhe humilhou.
Meu leitor não se apresse
Este homem quer desabafar
Ele quer contar tudo
Você só tem que escutar
Este coitado já sofreu muito
Só quer a cabeça esfriar.
Segue pobre homem do campo
A desbulhar essa trajetória
Não sei qual conclusão
Só quero escrever a tua história
Fique à vontade e conte tudo
Aqueça bem a sua memória.
Abraçou o filho mais uma vez
Deu um respirar bem profundo
Olhou bem alto o tempo
E se fez lembrado no mundo
Muitas vezes por Chico
Somente chamado vagabundo.
O filho atento ao pai
Pediu quase chorando
Que ele não se matasse
Por tudo que vinha passando
Cada lágrima nos olhos
Era um rio se encontrando.
Eu que transcrevo sofro
É por isto que faço um rodeio
Coitado vivente sertanejo
É sofrimento e muito aperreio
Vamos deixar com o homem
O fim, o início e o meio:
- A cangaia que ela me botou
Só você entende e mais ninguém
De novo, obrigado meu povo
Isso é somente pro meu bem
Se ela fez isso já pagou
Com o mal e nunca com o bem.
Boa sorte ele desejou
O destino cada um é quem faz
O homem lhe quer o bem
É assim a sua modesta vida
Chico Tripa deixou a batina
Hoje de fazenda é capataz.
A cangaia que ele carrega
Dói até a coluna vertebral
Não reclama das dores
Depois de um abdominal
Se formou nessa vida
Só tendo o curso do Mobral.
A cangaia lhe dói por inteiro
Penetra os rins desse idiota
Que vive pedindo dinheiro
Já apanhou de um agiota
Quando olhou era o Chico
De cinto de ouro e bota.
Ele é capataz e tem dinheiro
E sabe cuidar de precisão
Hoje está devendo a ele
Quase de dívida um milhão
Veja no que passa o cabra
Mesmo depois de uma traição.
Se hoje o choro tem jeito
Não sei expressar sua dor
Pra criar tantos filhos assim
Como tanto dinheiro gastou
E ouve: - Chico Tripa tá mudado
Vive com a mulher do senhor.
Cada filho dele um pai tem
E ele cria sem condição
E dizia praquele filho:
- Você é filho do sacristão
És o fruto daquele dia
Daquela que chamam de traição.
Mas te crio com bastante amor
Queria tanto te contar
Sei que já é tarde
Não tenho mais como esperar
Se quiser procurar Chico
Eu sei como encontrar.
Damião é muito forte
E tem no peito gratidão
Ama cada um dos filhos
Como se fosse da geração
Porque no fundo ele sabe
Todos são do sacristão.
E assim termina a história
Deste homem que agonia
Levou cangaia e deu um salto
E hoje é fruto da poesia
Onde houver um corno
Lá está chorando Mané Maria.
F I M
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 2006.
A CANGAIA QUE TUA MÃE BOTOU COM O SACRISTÃO CHICO TRIPA - II
Essa história é muito triste
É triste, mas sigo adiante
Sua mãe foi uma amante
E até hoje a bicha não desiste
Ruim pra ela é só o que existe
Levei cangaia, que maldição
E pras bandas do meu lugar
Não posso nem lá chegar
Foi com um safado sacristão
Que a danada fez a funicação.
Chico Tripa era grande cretino
Um religioso da cara mais lisa
Em nome da fé me deu uma pisa
Me chamou também de menino
Aí completou que o meu destino
Era levar nessa vida cangaia
Ouvindo isso muito triste fiquei
Juro de pé que de nada gostei
Jamais fui me ter com rabo de saia
Se estou mentindo o céu me caia.
Sua mãe começou de casa sair
Pra uma bendita aula de religião
Lá encontrou esta peste de sacristão
E nessa ida o que estava por vir
Um culto que só podia permitir
Mulher bem casada frequentar
Então Florisvalda que era lá se foi
Nesse dia a coitada estava de boi
O sacristão com o olho a piscar
E ela calada deu logo a espiar.
Esse olhar durou um tanto bastante
E Florivalda toda atiçada e vaidosa
Achava que era linda e gostosa
E o sacristão ali todo falante
Estava bem vestido e elegante
Conduziu delicadamente a reunião
Ela toda sorridente foi depor
Um depoimento sobre o amor
O bicho se aproveitou da falação
E conquistou ela pelo coração.
Isso dá tristeza só no falar
E não havia antes tanta mentira
Tudo era sério, hoje o mundo gira
E girando não me queira perguntar
Se eles foram ao culto orar
Talvez tenham ido, não me interessa
O que vale dizer é a pouca vergonha
Da tua mãe esperta e medonha
Ir atrás de uma desgastada peça
Se ainda carrego comigo essa.
O sacristão safado se aproveitava
Beijava no cangote e língua na língua
Isso deixou morrendo à míngua
Florivalda disso, portanto gostava
E o bico do peito já palpitava
Foi assim que chego aqui e conto
E não tem essa de encobrir o errado
Se ela errou pague pelo pecado
Só que Chico Tripa quer afronto
Nunca vou que não estou tonto.
Nasceu um menino lá em casa
Que a condenada nunca explica
É cagado e cuspido Chico Tripa
Esta história toda me arrasa
Diz que Chico no sexo é uma brasa
Enquanto eu sofro sem nada entender
Por causa de uma mulher vadia
Que bota cangaia de noite e de dia
Ela diz que sou seu bem querer
Um corno de pleno e eterno sofrer.
Esse homem é pura ignorância
Como pode ser assim tão frio?
Só de narrar me causa arrepio
Um viver assim na inconstância
E ele não dá a mínima importância
Falar tranquilo de tanta traição
E assim vai vivendo seu viver confuso
Sua mulher tem a menos um parafuso
E ele um pobre coitado sem solução
Viver criando filho de sacristão.
Assim mesmo o homem segue
E contar sua trajetória continuo
Não sei se é ele ou eu que concluo
Só quero que ele nunca me negue
E sua verdadeira vida me entregue
Pra eu contar sem muito rodeio
Só assim de cada palavra citada
O fulano de tal sempre dá mancada
É sofrimento e muito aperreio
Não inicia, não termina, fica no meio.
Cangaia não é coisa da sua conta
Quem tem cabeça florida sou eu
Faço porque tudo isso é meu
E se tenho nada, nada me afronta
A cabeça às vezes fica tonta
O corpo quebrado nos deixa infeliz
É verdade o que digo, pode acreditar
É um pouco do que tenho pra contar
E se sofro é pelo cantar de um concriz
Pássaro de estima que o povo diz.
A cangaia que tua mãe me botou
Só tu deve saber e mais ninguém
Isso é somente para o teu bem
Se ela fez isso com certeza já pagou
E quem comeu na certa gostou
Comida nova é como capim no pasto
É assim que entendo meu padecer
Sei que ainda preciso crescer
Aceitar a cangaia que dá pro gasto
E dessa gota eu nunca me afasto.
Tua mãe botou cangaia antigamente
E já pagou por tudo, não é verdade?
Isso eu vejo que tudo foi pela vontade
E se pagou assim tão decentemente
É porque ela tem um esposo inteligente
Que não pensa em ir mais além
Deseja boa sorte e próspera paz
O destino cada um é quem faz
O homem dela lhe quer bastante bem
E se quer, ela dele gosta também.
Esse peso que ainda carrego
Me dói até a coluna vertebral
Mesmo tendo feito o Mobral
Quanto mais sei, porém muito nego
Às desgraças do mundo me entrego
E não tenho como me recuperar
É essa estranheza que me alimenta
Meu corpo e minha alma se contenta
E vou levando do jeito que dá
Esperando com calma o dia melhorar.
Sou azarado e sem sorte no amor
E feliz não sei o como é viver
Essa cangaia não precisava nascer
Atrapalhando e criando essa dor
De nada fui e porém nada sou
No respeito por mim pelo acontecido
E se tenho alguém o corno é logo falado
E a companheira sabendo faz o tratado
De botar cangaia com alguém desconhecido
E na maioria ainda me chama de querido.
Florivalda me deixou sem moral
Não tenho como dessa sair
Se corro é impossível fugir
E se fico posso até levar um pau
E criar chifre é algo assim tão normal
Que tua mãe me aplicou e se deu bem
Inveja de Chico Tripa tenho que ter
Vindo de casa na noite ou no amanhecer
É assim que na rua não valho um xerém
Se quero xodó ela diz que não tem.
Vejam vocês, meus amados senhores
O que é essa maligna traição
Deixa o cabra sem nenhuma ação
Não come, vive de horrores
Sente inveja, morre de dores
É assim que tudo acontece
Não tem como de repente fugir
Se perde muito, quer só consumir
Quando sem esperar o dia amanhece
O corpo estafado logo adormece.
E assim vou com ajuda prometendo
Colocar este folheto em estandarte
Uma espécie de obra de arte
Que passa celeremente conhecendo
Curiosidades de quem está lendo
Aventuras ou mesmo fato narrado
Não tem essa de não querer saber
O que se sabe é de puro merecer
E merecendo o corno é perdoado
Por todo chifre causador do pecado.
É assim por mero desconforto
Que surge essa ingrata falação
E surgindo já se tem assombração
É que o mundo anda pra lá de torto
E por mais que esse marido morto
Queira portanto paz e harmonia
Semente plantada, fruto dará
Na terra fértil de pajé e oxalá
Sei que cangaia tem a sua via
É chifre queimado de boa freguesia.
Depois que meu escritor comentou
Volto a palavrear sobre mim
Nunca tive sorte e já fui um dia Caim
Não matei Abel e ele nunca me matou
Se hoje meu pequeno capital contratou
Um cordelista conhecedor biográfico
Não tenho como me preocupar
Apenas meu sofrer é meu penar
E se choro nas linhas de um gráfico
Mudaria o rumo se fosse mágico.
A cangaia me dói por inteiro à alma
Penetra meus rins e me faz idiota
Já pedi empréstimo a um agiota
Muito dinheiro pra se ter calma
Uma cigana leu os riscos da minha palma
Explicou coisas que nem mesmo eu sabia
Me deu medo de corpo inteiro
Saí desesperado e num rio de flecheiro
Nadei nas águas e vi Santa Maria
Falando como vaca em profunda agonia.
Chico Tripa perdeu o emprego
E sonha com tua mãe diariamente
O bicho não larga o pé da gente
E olhe que ele vive de arrego
Se ele morresse seria um sossego
Mas a vida não é como a gente quer
Até cangaia o cara não está livre dela
Quando recebe cai na esparrela
O pior que não tenho sorte com mulher
Queria ser gentilmente o Rei Pelé.
Jogador de futebol não leva cangaia
Quando leva bota a nega pra fora
Sai de casa e de repente vai embora
Ela inventa tudo e um dia vai à praia
Dança na garrafa assim como lacraia
E quanto menos o sujeito espera
Tudo em volta é constrangedor
Não se deposita mais crédito no amor
A testa cresce e o homem se desespera
E na rua somos chamados: “O Fera”.
Essa que se diz esposa da minha pessoa
É falsa e só me quer nas precisões
Quando o tempo é espécie e paixões
Sofre aquele que ama e não perdoa
E por mais que a cangaia seja uma boa
Comigo não deu resultado positivo
Tive insônia e caguei o que não tinha
E toda comida que na boca vinha
Era jogada fora, tudo ofensivo
Cuidei do outro, fiquei impulsivo.
A cangaia que tua mãe botou
Com Chico Tripa rende um debate
E por favor nunca me trate
De ter levado chifre na testa
Apenas fiz disso uma possível festa
Sociedade nossa de péssima brincadeira
Um mal estar penetra todo neurônio
Acelera o ventre de Santo Antônio
Enquanto tua mãe dita chifreira
Posa de santa, mas é uma trepadeira.
Esse é o corno escrito em toda cidade
E tem gente que se torna importante
Não sabe se é perto ou se tá distante
Um safado que discorda de castidade
Mete o pau na nossa privacidade
Come o que quer e tudo enrola
São pormenores de nossa existência
Leva-se chifre e se ganha experiência
É jogador pesado e ruim de bola
Saber da verdade é o que me consola.
Meus filhos sabem de tudo
E do lado da mãe eles ficaram
E se eu disser que todos me picharam
Não pude falar, fiquei surdo e mudo
E não levar cangaia é algo que não me iludo
O mundo não pode ser intransigente
E sim a serviço do bem e da paz
Chico Tripa nessa história foi satanás
Conhecedor da fraqueza dessa gente
Deu um bote e escapuliu de repente.
Se hoje choro um choro melancólico
É porque não sei expressar a minha dor
E por mais que alguém nunca me amou
Eu sigo as trilhas do meu lado bucólico
Não sou protestante, não sou católico
Vivo a pescar nos rios de puro afluente
Vendo a natureza esbanjar criatividade
E quando na mídia houver conectividade
Acalentarei meu viver de demente
Levando cangaia e tomando aguardente.
E assim termina este palavreado
De um homem bastante compreensivo
Na legião de cangaia é um tanto inofensivo
E no trato da lei é um atrapalhado
E como sujeito seu viver está marcado
De impurezas que o tempo nos dá
E nunca faça como esse cidadão
Expor o chifre com tanta gratidão
Por isso queira este cordel terminar
Antes que Chico Tripa venha te pegar.
F I M
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 2001.
A LENDA DA MOURA TORTA - PARTE PRIMEIRA
Moura Torta é uma Lenda
Na pesquisa do folclorista
Contada em belos versos
Pela pena do cordelista
Uma quebradora de pote
Que pensava dar o bote
Feito cobra egoísta.
Num Reinado bem distante
Morava um Rei poderoso
Tinha com ele um Príncipe
Que se chamava Veloso
O seu filho já crescido
Era muito bem-querido
Por este monarca bondoso.
O Rei, seu pai, lhe pedia
Sempre batendo no peito
Que respeitasse a mulher
E fosse fiel no direito
Boas maneiras, ensinava
Pro filho que herdava
O trono com muito jeito.
Falava de melancia
Que tinha encantamento
Levasse ela onde fosse
Que teria casamento
Encontrou ali tão fácil
Ao redor do Palácio
E fez seu juramento.
Viajava o Rei Veloso
No seu cavalo Merino
Cavalgando nas estradas
Como fosse um menino
Guardando sabedoria
Levava a melancia
Que apontava o destino.
Bem distante e cansado
Avistou lindo riacho
Descendo do seu cavalo
Foi assim bem por debaixo
A sede lhe consumindo
Melancia se abrindo
Pra alegria do macho.
Pula uma moça tão bela
Que dentro dela morava
Ela, simplesmente nua
Seu coração palpitava
Pede algo para beber
Aquilo foi mais que dever
E ele água lhe dava.
A melancia encantada
Fazia parte da vida
Se alegrou o nobre Rei
Mas tinha que dar partida
Voltar ao grande Castelo
Trazer roupa e chinelo
Fez depressa a despedida.
Mas, ele antes de partir
Somente pensando nela
Olhava pra todo lado
E via a beleza dela
Junto da árvore frondosa
Numa sombra deliciosa
Foi explicando pra ela.
Ele, então, lhe pediu
Que na árvore subisse
Ficasse ali quietinha
E por favor não sumisse
Foi o que a moça tentou
Mas o capeta cutucou
Pedindo que o mal agisse.
Veloso, então regressa
Para seu lindo Reinado
Conselheiros e ajudantes
Era gente por todo lado
Para ver o Rei famoso
Com o sorriso formoso
Por Cupido ter encontrado.
Esta moça na árvore
Não tinha mais esperança
De ver de novo o Rei
No riso duma criança
Esperava impaciente
Com agonia na mente
De quem espera e alcança.
Próximo ao riacho
Um povoado existia
Muita gente penava
No poder da dinastia
Moura Torta, a moradora
Senhora trabalhadora
Muito desejo possuía.
Moura Torta quando ia
Buscar água lá na fonte
A moça não aguentava
Rindo abalava a ponte
A carregadora de pote
Pulava que só caçote
E logo ficou defronte.
A moça tudo contou
E a Moura tão de repente
Naquele instante, porém
Ela era uma serpente
Queria ter a beleza
Pensando na esperteza
Mas não foi inteligente.
Um pequeno alfinete
Na cabeça dela enfiou
Muito ligeiro, a moça
Numa pombinha transformou
Pra muito longe foi voando
E a Moura foi ficando
No lugar que o Rei botou.
Naquele lugar chegando
O bom Rei ali, pasmado:
- Cadê a bela moça
Que eu tenho procurado?
Disse e triste ficou
Uma lágrima brotou
Ele, quase desesperado.
A Moura disse então:
- Meu amado, foi o sol
Eu esperei longas horas
Que desceu este suor
E estou sendo sincera
Eu tenho medo de fera
Só pensava no pior.
Ela estava despida
Como a princesa do Rei
Veloso triste, dizia:
- Não foi esta que deixei
Bote ela na carruagem
Vamos seguir viagem
Por tudo que eu passei.
Lhe deram um figurino
Muitíssimo elegante
A danada ficou bonita
Pra tanto olhar palpitante
A ave por perto voava
Ela somente olhava
Seu rastro de meliante.
O Rei Veloso sofria
E não sabia disfarçar
Montado no seu Merino
Queria tão rápido chegar
No Palácio que morava
O coração não aguentava
Viria em seguida casar.
A Moura Torta queria
Se casar e ser Rainha
Porém, isto nunca houve
E foi grande a ladainha
Se Veloso dormiu, não sei
Mas chorou o nobre Rei
Naquela triste noitinha.
Logo de manhã, bem cedinho
A pombinha ali pisou
O jardineiro do Reino
O seu voo observou
E depois de mais de hora
Ela sem muita demora
Naquele jardim retornou.
Quando soube da notícia
A Moura ficou doente
Queria comer a pombinha
Com sal e com aguardente
E procurou o jardineiro
E foi dizendo primeiro:
- “De ave estou carente”!
Faltavam bem poucas horas
Pro casório acontecer
Moura Torta sofrendo
Por aquela trama saber
Quase perto de ser Rainha
Pra comer a bela pombinha
Mas isso não haveria de ser.
No outro dia, a pombinha
No jardim de novo chegou
O Jardineiro do Reino
Foi depressa e olhou
Em seguida foi embora
E sem muita demora
Praquele jardim voltou.
Eles estavam aprontando
A noiva para o altar
O Rei teve uma surpresa
Que lhe fez reanimar
A pombinha tinha encanto
Com aquele singelo canto
Fez tudo para explicar.
O Rei passando a mão
Um alfinete achou
Surge uma linda moça
Que na fonte ele deixou
Todo o Reino pasmado
Com o beijo ali trocado
Em nome do puro amor.
Ela disse tudo que houve
E o Rei, claro, acreditou
O casamento já pronto
A cerimônia continuou
Com a moça da melancia
Teve grande alegria
E com ela se casou.
A Moura Torta recebeu
Um castigo bem exemplar:
- Que voltasse pro seu povo
E aprendesse a não enganar!
E assim isto foi feito
A Moura curou o defeito
Pro só recomeçar.
No tempo da minha vó
A Moura Torta sofria
Imagine meu caro leitor
Que prazer um Rei sentia
Castigar uma criatura
Igual a par de ferradura
Nos cascos da cavalaria?
Chego aqui ao final
Desse tema popular
Contada por escritores
Que foram se dedicar
Escreveram com maestria
Tanta arte e poesia
Que agora fiz lembrar.
F I M
João Pessoa-PB, 23 de abril de 2018.
A LENDA DA MOURA TORTA
(Segunda Parte)
Autor: Bento Júnior
Brasileirinho da gema
Eu sou do velho Nordeste
Nascido na Paraíba
Tento fazer este teste
Organizando essa escrita
Juntando coisa já dita
Rindo do cabra da peste.
Vou versar a história
Da amiga Moura Torta
Contada pela vovó
No conto detrás da porta
No baú cheio de vida
Tanta já tão esquecida
Se ela é viva ou morta.
No tempo de antigamente
Onde só palácio havia
Morava só majestade
Tanta coisa boa comia
Moura Torta veio de lá
Só não pode mais estar
E isto a vovó sabia.
A Rainha muito querida
De toda aquela nação
Gostava muito do filho
Mas vivia em aflição
Ela e o Rei Marciano
Naquele dia do ano
Tomou aquela decisão.
Sabendo daquele desejo
Do filho que carregava
Viajar só pelo mundo
Foi isto que planejava
Encontrar com a princesa
Da mais pura beleza
Só assim se realizava.
Antes do filho partir
O Rei chegou a morrer
Pela lei da dinastia
Fez somente obedecer
Ficaria naquele trono
Seria dele seu dono
Até o seu falecer.
A Rainha Margarida
Vivia somente chorando
Não aguentava a perda
E com isso só pensando
No seu reinado tristonho
Tudo então era sonho
E assim foi-se acabando.
Não aguentou o tempo
Veio depressa a óbito
Foi encontrada sem vida
Próximo dum depósito
Pra tristeza daquele filho
Que resgatou o seu brilho
Pensando no propósito.
Veloso se tornou o Rei
Com a morte da Rainha
Não gostava daquela vida
Mesmo boa a que tinha
Andava pelo Castelo
Arrastando o chinelo
E sofria a sua madrinha.
Queriam um casamento
Para o grande herdeiro
Porém, teria que ser
Num momento certeiro
Seu tio Esperidião
Pensou lhe passar a mão
Num golpe de forasteiro.
Com a morte dos pais
Ele começa a pensar
No que todos falavam:
- O Rei precisa casar!
Assim mesmo ele fez
Pensou mais de uma vez
E foi tudo planejar.
Pensava ele um caminho
Pelo mundo a procurar
Uma mulher que amasse
E assim pudesse casar
Entregou todo o reinado
Pro conselheiro indicado
Até o dia dele voltar.
Já ouvia do grande Rei
O seu pai bastante amado
Numa fruta mais que bendita
E por ter lhe aconselhado:
- Leve uma boa melancia
Só abra onde houver água
Vai pular um ser encantado.
Não houve comitiva pra ele
Partiu sem ter poder
Quis encontrar a mulher
Que pudesse o bem fazer
Morrendo alegre com ela
Só cuidando bem dela
Até o seu falecer.
Na árvore, solitária
Ficou aquela tal princesa
Pensando naquele jovem
Que tinha rara beleza
Seria dele o seu fruto
Que já se encontrava enxuto
No amor, ternura e grandeza.
O Rei distante chegava
Na porta do seu Reinado
Conselheiros e ajudantes
Família por todo lado
Queriam ver Rei Veloso
Com o sorriso gostoso
E o coração bem marcado.
Ficaram tão curiosos
Foram com o Rei falar
E logo então, perguntando
No que podiam ajudar
Ele diz: - É coisa pouca
Quero vestimenta e touca
Para eu comigo levar.
Mas que roupa seria essa
Que tanto o Rei precisava?
Simples questionamento
Todo povo interrogava
E o Rei querendo dar olé
Diz que é pra uma mulher
Que na fonte lhe esperava.
E assim veio mais conversa
E todo mundo abismado
O conselheiro do Rei
Aquele que foi indicado
A Veloso perguntando:
- De quem estás a gostar?
E ele: - Eu estou tão apaixonado.
Seu tio Esperidião
Nunca quis se intrometer
Mandou buscar uma roupa
Pra o sobrinho trazer
Lindo traje de princesa
Que era de enorme beleza
Nunca igual iria se ver.
Com a comitiva do Rei
Segue depressa pro local
Foi tanta felicidade
Que não se pensou no mal
Na árvore que a moça estava
Bem perto a água passava
Na correnteza normal.
Lá no Castelo do Rei
Era intensa a falação
Seria o casório mais lindo
De toda aquela nação
Veloso se casaria
Cá moça da melancia
Começava a preparação.
Todo o Reino do lugar
Precisava ser convidado
O padrinho deste casório
Foi o conselheiro Bernardo
Escolha do nobre Rei
Que eu de repente gostei
Por ele ter acertado.
Moura Torta nunca se viu
Porque o espelho não se tinha
Não era como a bela moça
Nem parecia uma rainha
Vendo na sombra a beleza
Não aguentou, foi à loucura
E o pote quebrou na horinha.
Com o pote na cabeça
Saía sempre cantando:
- Sou bonita, bonitona
Aquela casa tô deixando
Não quero ser empregada
Nessa vida tenho nada
Adeus que estou amando.
Foi direto à patroa
E foi logo dizendo a ela:
- Eu sou muito mais linda
Junto da senhora sou bela
Não quero mais trabalhar
Só vou um dia sossegar
Seu encontrar minha costela.
Quando ela olhou para cima
Daquela árvore florida
Encontrou cá bela moça
A mais linda dessa vida
E subiu onde ela estava
Querendo saber, instigava
À princesa prometida.
Sabia do que esperava
Mas calma pro coração
Queria enganar o Rei
E logo assim fez questão
Transformando aquela rainha
Numa singela pombinha
No toque da sua mão.
Os conselheiros do Rei
Que estavam lhe protegendo
Falaram para o Veloso
E ele de pronto atendendo
Levar a moça ao altar
O Reino estava a esperar
O que vinha prometendo.
A festa seria grande
Por aí que ela se deu
Sendo contra o seu desejo
De tudo que aconteceu
Invés da moça formosa
Casou-se o Rei cá feiosa
No Palácio Vasco Pompeu.
Minha vó tão bem falava
Das terras dos menestréis
Lia histórias populares
Da coleção dos seus cordéis
Eu conheci a Moura Torta
Nem sei se é viva ou morta
No tempo dos coronéis.
Belezura de cordel
Entrego na tua mão
Nessa estrutura dos versos
Tem dedo do cidadão
Onde tiver uma estrofe
Jogo na palavra bofe
Rogando a Deus o perdão.
FIM
João Pessoa-PB, 16 de abril de 2018.
AS MOLECAGENS DE DOIS CABAS SAFADOS, VOLUME I
Me dê licença, minha boa gente
Dê licença que volto a contar
Vamos ler e depois recomeçar
Essa história tão alegremente
Me encontrei assim neste batente
Desafiando tempo e a hora
Por favor meu caro, não vá embora
O mundo é cruel e quer mudança
Enquanto eu pego a tua trança
Prefiro daqui nunca dar o fora.
Dê licença, minha gente
Dê licença, volto a contar
Vamos ler e recomeçar
Essa história alegremente
Me encontrei neste batente
Desafiando o tempo e a hora
Seja o que for não dê o fora.
Essa literatura que faz bem
Deixa todo mundo em paz
Pouca gente hoje faz
E se faz tem que ser lida também
O preço quase de um vintém
É assim que novamente descrevo
Esse cordel em grande relevo.
Esses dois cabas safados
Fazedores de coisas impossíveis
Grandes sujeitos, figuras incríveis
E não gostavam de ser encontrados
Sem nada fazer e desamparados
Só viviam de algo praticar
Ficar parado jamais pensar.
Vamos direto ao cordão
Rir até cair de costa
E por favor não faça aposta
Não vou contar o refrão
Nem tampouco a condição
Que hoje Xadaigo vive
Desempregado sobrevive.
Xadaigo com Mixengo era só diversão
Um circo que veio por nome Racion Iara
Os dois cabas com muita tara
Pegou gato pra ser comido pelo leão
Um desnutrido e sem a menor condição
Lutava contra o gato pra riso da pirralhada
Um ingresso pra sentar na arquibancada.
Quem tinha gato era só à procura
Pois não restava nenhum xaninho
Pobre dos coitadinho
Ao entrar na jaula era uma tortura
O leão jogava pra baixo, nas altura
Que maldade, que judiação
Matar os gatos sem dó no coração.
O Palhaço Ferrinho era uma graça
Melhor que ele se conta nos dedos
E a molecada só pensando nos brinquedos
Se divertia e depois todo mundo na praça
Com Xadaigo e Mixengo, que por pirraça
Contavam anedotas assim de cara
Era uma disputa pra entrar no Racion Iara
Essa história vazou e foi pau
Muita tristeza cada moleque acatou
O pai dizia: “Cadê meu Deus, o amor?”
E a criançada achando tudo anormal
Arrumou dinheiro limpando quintal
E foi ao circo ouvir palhaçadas
Só satisfazia dando enormes gaitadas.
Mixengo e Xadaigo era fodão
Palavras ecoadas vindas dos pirralhos
E até falar os nomes de caralhos
Com eles foi uma tremenda sensação
Viver com a dupla, divertidos na emoção
Não tinha parque que chegasse no lugar
Que a gente ia a dupla procurar,
O Parque de Diversão
Estrela do Mar era uma saudade
Mixengo na difusora com liberdade
Entregava bilhete e era confusão
Toinho deu uma carreira na contra-mão
E Xadaigo rindo de todo acontecimento
Ficava revoltado o menino Nascimento.
Quando a difusora anunciava
O nome de uma menina conhecida
Pela cor do vestido ou coisa parecida
Era carreira que ninguém pegava
E pra casa a gente logo chegava
No altifalante bem ligeiro
Sueli na voz do cantor José Ribeiro.
Sueli de vestido azul
Passeando com seus familiares
Rodrigo tinha por ela todos os olhares
Só que a gente trocava norte por sul
Ele ficava inchado feito sapo cururu
E a meninada contava de um até três
Saía Verônica na voz de Maurício Reis.
É o que novamente trago
Guardado na bolsa da minha sacola
Por favor não é nada de esmola
Vou dizer porque não estrago
Esse cordel com riso largo
Mixengo e Xadaigo no balanço da canoa
Sofria gente que não era a toa.
Palhaço Ferrinho de todo mundo zombava
Xadaigo e Mixengo todo dia ganhava entrada.
E ainda por cima a presença era anunciada
Não sei se por causa dos gatos que miava
E o Palhaço Ferrinho frescava
Parece que eles não tinham coração
Pegavam gatos pra servir de diversão.
E ninguém, mas ninguém entrava sem pagar
Ou pegava gato indecentemente
Ou pagava ingresso pra ficar logo na frente.
Até hoje dos gatinhos pena me dá
E onde agora cada gato se encontrar
Perdoem Mixengo e Xadaigo também
Por incrível que pareça a gente só queria o bem.
São recordações da juventude
Que eles nunca esquecem
Uma estátua em praça merecem
Talvez essa fosse a atitude
Não que essa plenitude
Lhe trouxesse a felicidade
Mas os deixaria com tanta saudade.
As festas do Padroeiro
Na Associação de Moradores
Logo depois dos louvores
Na frente o meu amor primeiro
Música no ar e Mixengo certeiro
Olhava a menina e me dava arrepio
Aquele caba só no assobio.
Era uma semana de paquera
Jovens vindas de toda redondeza
E no mínimo, com certeza
Ia ficar com alguma de vera
Só que de tanta espera
Chamei Xadaigo e pedi uma forcinha
E ele passou algumas mágicas palavrinhas.
Não há como de fato negar
A importância destes dois
Só que muito tempo depois
Mixengo com onda de se casar
Ia todo mundo se lascar
Porque faltava um herói pra gente
E Xadaigo não fazia isso contente.
Xadaigo gostava de ajudar
Mas não abusasse dele, não
Porque ele vinha pra gente com oião
E dizia: “ De novo? Vá se lascar!”
E o pirralho se tremia só de ouvir falar
Melhor seria Mixengo fazer este papel
Ajudar a gente a ganhar lugar no céu.
Nessa onda toda vivida
Xadaigo e Mixengo aprontando
E a molecada toda gostando
De viver aquela coisa atrevida
De uma fatia de bolo perdida
Era só puramente aventuras
Todos os dias tantas loucuras.
Chegava circo, circo ia embora
Chegava parques de diversões
Festas, assustados e palavrões
Uma infância quem recordar chora
O coração do moleque implora
- “Conta mais uma Mixengo
Aquela da derrota do teu mengo”.
Mixengo ficava muito agitado
Quando falavam do seu time querido
Tinha camisa e calção e era parecido
Com um tal jogador que já é aposentado
O tempo não me diz quem é aparentado
Só sei que Mixengo era o nosso chefão
Junto de Xadaigo nos dava proteção.
No tempo que nós vivíamos
Não tinha essa onda de gangue
Não se ouvia falar de tanto sangue
Brigávamos eu sei, não sofríamos
Somente apanhavam e corríamos
Era essa a época naquele cantinho
Um lugar de viver e muito carinho.
Os meninos brincavam de bola
Pescavam e subiam em pé de coco
Se lascavam do joelho e o troco
Era ir pra casa e apanhar de sola
E isso até hoje me consola
Porque hoje o tempo mudou
A infância às vezes é puro dissabor.
Mixengo era caba safado
Xadaigo era até demais
Iam na frente, a gente sempre atrás
Presepadas que bom danado
Se fazia, mas tudo era controlado
Não se podia exceder as limitações
As lúdicas tinham muitas reflexões.
Tempo de carnaval o urso na rua
Com latas e estopas na agitação
Mixengo era o diabo cancão
Seu Mané na frente com sua perua
Levava menino e a única filha sua
Pra gente ficar só pra ela olhando
E no bairro todo o papangú passando.
Nós todos cantando músicas de carnaval
Tão pequenos e o frevo na veia
Às vezes na volta tinha menino na peia
Levava surra e tudo era pra lá de normal
Mas ninguém nunca foi para um hospital
No outro dia Mixengo ainda zombaria
Dizendo que a gente tava numa romaria.
O pai tantas vezes severo
Confiava nos senhores de fé
Mas não ouviam muito bem o Seu Mané
Que era na dele e muito sincero
De poucos amigos e nada de lero-lero
O bicho só porque tinha um carro
Tirava da cara do povo o sarro.
Foi aí que a molecada quase se lasca
Olharam tanto pra filha daquele senhor
Que o velho sabendo, de nada gostou
Dizia que Cidinha iria pra o Alasca
Não ficaria aqui que ela se enrasca
Contou ao pai de quem tava a filha espiando
E Toinho quase se ferra quando em casa ia entrando.
Cidinha era metida a sabichona
Tudo da moda ela logo possuía
Teve festa na casa com Cantoria
Seu Mané de posse de sua sanfona
Metia os dedos pra delírio de uma gostosona
Que se rebolava toda em gesto dançante
Era uma moça que me lembro da roda gigante.
Chego agora no final
Dessa história contada
Vivida no meu Castelo
De forma engraçada
Xadaigo e o Mixengo
Que não bate o quengo
De toda meninada.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2010
AS MOLECAGENS DE DOIS CABAS SAFADOS - VOLUME II
Vou dando continuidade
Pelo que já comecei
Descrevendo neste cordel
Tudo que eu anotei
Se alguma coisa esquecer
É porque não quis dizer
E acredito já falei.
Tomar banho de rio
Logo no amanhecer
Xadaigo era nadador
Nunca podia perder
Mixengo nunca nadou
Ele sempre enganou
Nunca fomos entender.
Fizemos uma aposta
Xadaigo de mão cheia
Mixengo quase morre
Pense num caba de peia
Um dia quase perdemos
Nunca nada entendemos
Na noite de lua cheia.
Acompanhou a turma
Um caba só pra nadar
Mixengo não disse nada
E quase foi se ferrar
O caba nadava forte
Quase houve uma morte
Ele só queria ganhar.
Buscar caju no Altiplano
Mixengo era o chefão
Xadaigo queria o mandão
E quase que a gente entra pelo cano
Um tiro de sal pegou num sicrano
E quase que o desastre aconteceu
Por pouco ninguém morreu.
Foi uma grande carreira
Xadaigo foi o primeiro a correr
Mixengo quis logo se esconder
O dono do sítio puxou a peixeira
Joãozinho levou uma rasteira
Ai Mixego chegou por trás e tome paulada
Um cabra caiu e todo mundo em disparada.
Era sítio lá pras bandas do paú
E desta feita fomos pro abacaxi
Cestas e mais cestas tinha ali
O popular que ia tirar caju
Desta feita quase que fica nu
Homens montados em cavalos ligeiros
Botava pra cima dos bagunceiros.
Mixengo teve uma idéia rapidamente
Pegou a baliadeira e pedra meteu
O cavalo quase que se fodeu
O homem caído quis elegantemente
Saber porque toda aquela gente
Estava no sítio a roubar abacaxi
E teriam que sair logo dalí.
Xadaigo conseguiu o dono convencer
E todo mundo com abacaxi saiu
E Mixengo, puta que pariu
Quis o abacaxi todo devolver
Mas ninguém quis obedecer
Fomos pra casa cheio do fruto
E escapamos do homem bruto.
Mixengo no outro dia de cara feia
Falava que a gente tinha que ouvir
A verdade dele e não permitir
Fazer o errado, se não levava peia
Trazia um livro, dizia: “Leia
É a Bíblia Sagrada que fala de roubo
A gente não deve fazer, é coisa de bobo”.
Tomar banho de rio logo no amanhecer
Xadaigo era nadador de mão cheia
Mixengo era um caba de peia
Nadava pouco e a gente sem saber
Um dia quase que íamos perder
Um cara que veio com a turma nadar
E por pouco todo mundo ia se ferrar.
Tudo naquele tempo tinha o seu valor
Se fazíamos o certo não tínhamos certeza
Se era errado isso nos dava certa fortaleza
De vencer os obstáculos e não sentir dor
Correr campos e a tudo dá seu devido valor
Era assim com a recordar uma grande novela
Fechar os olhos e ver o elenco na tela.
Só sei que suas molecagens
Nunca tiveram o seu fim
Diziam que ser esperto não era ruim
E que diante das sacanagens
Eles mandavam lindas mensagens
Na época não tinha esse tal de celular
Mas os cabas sabiam se comunicar.
Usavam caixas de fósforos vazias
Uma a uma com cordão estirado
Falavam cada um de cada lado
E isso tudo pra gente eram fantasias
Falar e ser ouvido sem heresias
Dizer alô como fosse telefone
E em seguida dizer o próprio nome.
Tudo isso a molecada vivenciava
Ir ao cinema e na tela faroeste
Mixengo era um peste
Imitava o bandido que gostava
O mocinho Xadaigo a voz emprestava
Além das peladas diariamente
Calção sujo e pisa na gente.
Nos amores poucas explicações
A televisão da época puro romantismo
Nas calçadas aquele fanatismo
Saber quem ficava nas ocasiões
O artista destruidor de corações
Programações de cunho educacional
Monteiro Lobato era o senhor tal.
Contar piada, Mixengo humorista
O povo ria até cair de costa
Mas o bicho falava tanta bosta
Que a meninada não tirava a vista
Mixengo e Xadaigo era artista
Só faltava ter um ensinamento
Porque os cabas gostavam de movimento.
E assim foram tantos anos
Nós ali aprendendo com a escola
E Mixengo um dia trouxe uma pistola
É claro que não estava nos seus planos
Atirar e causar desenganos
A pistola era de mentira, quase verdadeira
Durango Kid de primeira.
Bole de gude e futebol de praia
Todo mundo na época participava
E empinar coruja todo mundo empinava
Das meninas Xadaigo falava da saia
E Mixengo quase fora da raia
Tinha uma prima que era perfeita
Falava manso, educada e direita.
Xadaigo logo botou o olho nela
Só que Mixengo também paquerava
E ela toda santinha já namorava
E os cabas inocentes querendo ela
E por pouco não caíram numa esparrela
O namorado num outro bairro vivia
E a prima um grande barraco queria.
Os pequenos com confiança
Dos pais por Mixengo que era sagrada
Iam pra praia logo cedo jogar uma pelada
E lá chegando tinham plena esperança
De dar um mergulho feito criança
A infância feliz de uma época de ternura
Pais e mães cobrindo toda a criatura.
Xadaigo nas suas descobertas sexuais
Uma velha com mais de setenta
Com cachimbo na mão que ninguém agüenta
Pega-lhe pelo braço e quer muito mais
Não um simples beijo de um rapaz
Enquanto ele se aproveitando da idade da senhora
Iniciou sua carreira e sem explicar caiu fora.
A velha pelo garoto apaixonada
Soluçava de não mais ter o menino
Este seguiu o seu destino
E esta com cheiro de fumo e perfumada
Escrevia bilhete e dava a molecada
E esta zombando nunca entregava
Porque Xadaigo já outra namorava.
Xadaigo desceu rápido a ladeira
E se encontrou com o Mestre Salú
Que atendia em silêncio um tal Jaburu
Um político que gostava muito de chaleira
Era um tal de xeleléu que não é brincadeira
Ouviam o Mestre e não escutavam o pivete
E depois foram contar a Espaguete.
Espaguete era um respeitado cidadão
Dono de posse e gente de primeira linha
Mas só dava ouvido a ladrão de galinha
E nessa peleja de Xadaigo com a situação
Que era coisa de funicação
Assombrados ficavam todos os moradores
Enviavam a criança pra os pastores.
Mixengo disse-me certa madrugada
Que no Polivalente estudou
Como uma nota baixa tirou
Estudou pela noite adiantada
E fez uma grande presepada
Deu um grande cascudo na professora
E esta se armou com sua tesoura.
Foi uma noite de falta de energia
A escola totalmente na escura
Mixengo vibrador e fã da frescura
Não contou conversa naquele dia
Fez isso com consciência de covardia
E a docente com dores cascudais
Chamou de todo discente os pais.
Só que não participou dessa proposta
É claro que vocês já sabem quem é
É ele mesmo, Mixengo batedor de mulher
E ainda por cima fez uma aposta
Pra professora desvendar a grande bosta
De saber quem era o autor do cascudo
E Mixengo ficava apenas mudo.
Mixengo um extraordinário estudante
Xadaigo metido a galo que não era cego
Como a bandeira na frente escrito Nego
Saíram rapidamente da cartomante
No meio do caminho vinha um elefante
Se esbarrou, mas tudo em nome do civismo
Marcharam firmes honrando o patriotismo.
Mixego e Xadaigo são parte da minha análise
E nesse rodopiar com a dupla em cena
Da professora, pois é, temos que ter pena
Pois precisavam passar por uma psicanálise
Enquanto o Mestre Salú já na hemodiálise
Dava boas vindas a todo sentido pueril
E eles, moleques, safados, mas também gentil.
Chego ao final desse lindo cordel
É de aventura que tanto se fala
Da flor o perfume o aroma exala
Por favor tire de todos o chapéu
Da abelha se tira o favo de mel
Dos versos a rima sempre fica
E o autor pensa e não complica.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de maio de 2011
PARARI
Bora gente refletir
Escritos do meu viver
Nessa terra Parari
Temos luz pra conviver
Organizar um cordel
Juntar num grande bedel
Rindo pra sobreviver.
Depois dessa simples rima
Que carrega o nome meu
Eu vou direto pro assunto
O problema já é teu
Vou falar de Parari
Do meu lindo cariri
Vou contar como se deu.
O mundo dá tantas voltas
Num globo que sempre gira
Chegando nessa cidade
O lugar todo me inspira
Para criar um cordel
Sem falar com seu bedel
Pro coração que suspira.
É pegar lápis de tinta
Pôr tudo nesse caderno
Dizer tudo que se sabe
No amor lindo e fraterno
Parari tem seus encantos
Muitos chamados de santos
No olhar vivo do Pai Eterno.
Parari virou cidade
Da Paraíba querida
Pertence ao cariri
Que lhe deu tanta guarida
De gente que reconhece
Bem distante agradece
O valor que tem a vida.
E terra dos sobrenomes
Dos Caluêtes prefeitos
Também dos Queiroz, dos Aires
Dos Alves, todos eleitos
Pra governar a cidade
Das brigas sem crueldade
Daqueles benditos pleitos.
O Jairo plantou semente
Genival também plantou
A Solange foi prefeita
Na terra que conquistou
Genival Filho também
Vamos ver se tem alguém
Que nunca disso gostou.
A Família dos Queiroz
Está nessa Prefeitura
Levando pro município
A nossa boa cultura
No São João, final de ano
Tem gente fazendo plano
Feitos da legislatura.
A Família Caluête
Dos Queiroz se tornou prima
Aires e Alves na gênese
A gestão fica de cima
É berço familiar
No Partido filiar
Pra temperar esse clima.
Quem passava em Parari
Lembra como se chegar
Estrada toda de barro
Pra essa poeira se pegar
Passando dentro do rio
Peixe nenhum dava pio
Pouca água pra entregar.
Hoje nós temos estrada
Asfalto por toda via
O sufoco do passado
Que naquele tempo havia
Hoje fazemos entrega
De tão rápida entrega
É tudo que se previa.
Prevendo futuro bom
Pra toda comunidade
Desde os tempos de Seu Jairo
É mais que realidade
Nos tempos de Genival
Tem bloco de carnaval
A vagar toda cidade.
As mulheres, companheiras
São devotas das ladainhas
Na fala de seus maridos
Todas elas são madrinhas
Pequenos que nasciam
Elas todas benziam:
Benção Comadre Nevinha.
Esta mulher tão guerreira
Sabendo do seu valor
Caminha pela cidade
Neste sol que dá calor
Abençoando afilhados
Muitos deles já formados
Com farda de tricolor.
A mulher de Genival
Foi por demais respeitada
Valorizando a cidade
Em eleição disputada
Resgata nossa memória
Nos tempos da palmatória
Por todos foi conquistada.
A querida Rita Meira
Também foi primeira dama
Esposa de Genival
Que pra ele jamais reclama
Rita Meira está com Deus
Cuidando dos filhos seus
Junto do marido que ama.
Poetas da medicina
Intelectuais do estado
A Paraíba tem muitos
Só tem que ser destacado
Ednaldo e tantos poetas
Com suas portas abertas
Deixam seu nome marcado.
Parari é um encanto
Que nos faz querer tão bem
É lugar que dá saudade
De todo mundo que vem
Quem chega fica feliz
Apreciando a matriz
De tudo belo que tem.
Hospitalidade séria
Parari tem seu destaque
Pessoas que vão sorrindo
Com o seu lindo sotaque
Falando dos seus mistérios
Sem tocar nos impropérios
Pra nunca levar um baque.
Sua economia é
Mandioca refeição
É predominantemente
Do milho tem produção
De feijão é produtora
É terra de professora
No campo da educação.
Parari é agricola
Terra de transformações
Nesse desenvolvimento
Das famílias tradições
Rica e diversificada
Bela cidade tão amada
Por todos os corações.
Os eventos culturais
Na colheita de quem planta
São João, São Pedro vem
Depois da semana santa
Trazendo tanta alegria
Na terra da poesia
Onde o povo se encanta.
Caluêtes e Queiroz
Nos viês da Prefeitura
Os primos e primas fortes
Numa gentil compostura
Família se reversando
Quem ganha administrando
Pro povo ter mais cultura.
Os pratos da Região
Tem galinha de capoeira
Feijão preto, muitas carnes
Feijoada de primeira
Tem cachaça artesanal
Da cana tradicional
Culinária brasileira.
Artesanato de barro
De madeira, de tecido
Parari é lugar de arte
Desse povo aguerrido
Dos seres acolhedores
Lugar de trabalhadores
Deste lugar tão querido.
População acolhedora
Parari logo destaca
Nesses setores agrícolas
A produção não é fraca
Tudo que se planta dar
Tem flores pra se mudar
Vem grão pra dentro da saca.
Parari das atrações
Dos gados que vão passar
Dos vaqueiros que gritam
E nunca vão fracassar
Minha Parari querida
Oh! Ternura preferida
De quem pensa regressar.
Nesse solo paraibano
Tem tanta terra que vi
Não troco nada no mundo
Pela bela Parari
Cariri da Paraíba
Da seca, da macaíba
Que me fez gostar de ti.
Parari tantas histórias
Dessas grandes travessias
Rios que transbordavam
Gente dentro das bacias
Meu Parari do progresso
Terra de grande sucesso
Dos amores e das folias.
Quem passa por Parari
Fica num grande desejo
Quer ficar morando aqui
Sinto nos olhos que vejo
Lembro do carro de boi
Meu amigo que se foi
Naquele grande cortejo.
Natureza exuberante
Nesta terra mais que bela
Parari nasceu distrito
Pintado numa aquarela
Solto fogo de artifício
Pra esse grande município
Pra gravar a minha tela.
Quem mora, também quem vem
Gostam tanto da cidade
Se não houvesse Parari
Digo com sinceridade
Ser feliz é o que importa
Alguém bate a tua porta
Pra dizer que tem saudade.
FIM
João Pessoa-PB, 31 de agosto de 2024.
CORDEL DA MARINALDA
Vou dar início a este cordel
Falando de uma pessoa
Que pretende ser candidata
Na disputa numa boa
Ser da cidade de Itapororoca
Como o remo e a canoa.
O homem quando não pensa
Diz que a cabeça é quem padece
Uma mulher metida em política
O eleitor bem que merece
Marinalda tem boas ideias
Em Itapororoca todo mundo conhece.
Porém, meus eleitores
Prestem a atenção no que vou falar
O voto é ouro e tem que se lutar
Peço licença pra chamar de amores
A todos vocês que são de lá
Pra ver nesta mulher os seus louvores...
Este cordel que está na mão
Mede a força de Marinalda
A mulher é uma abençoada
Trabalha com o amor no coração
Sente prazer na caminhada
É forte como uma canção...
É por isso, que vos peço
Através deste cordel
Uma luz brilhou no céu
Marinalda, eu te confesso
Itapororoca, cidade mel
É livre o teu acesso...
Itapororoca sabe do valor
Desta mulher do turismo
É paz de espírito, é civismo
Nas veias de puro amor
Na saúde, como o batismo
Marinalda é quase doutor...
E assim a mulher é dianteira
Na vida e na política
É como cidadã analítica
Brava e acima de tudo guerreira
Aceita uma boa crítica
Marinalda uma razão brasileira...
Na cidade ela chegou e marcou
E todo mundo teve bondade
Ela é mulher de caridade
Não se curva diante da dor
Ama e tem piedade
É raridade de puro esplendor...
Ela tem simplicidade
E gosta muito do que faz
E poderá fazer muito mais
Pelo povo desta cidade
Vereadora em nome da paz
É voto de pura honestidade...
Marinalda é mulher forte
Valente e tem determinação
Com esta mulher na Câmara
A cidade tem solução
Vamos eleger Marinalda
Ela é a nossa opção.
Esta mulher é competente
E vai ser a mais votada
Marinalda mais um na urna
Pra tua empreitada
Itapororoca ganha muito
Com a política respeitada.
Candidata da gente
Que traz significados
É política nova na Câmara
De ricos e flagelados
É Marinalda em cena
A ideia dos interessados.
Chegou a candidata
Itapororoca esperava
Querem marcar o voto
De emoção o povo chorava
Com o título em mãos
A política abençoava.
A mulher tem compromisso
Com a política muito mais
Sensibilidade no trajeto
Entre a guerra e a paz
Ela é uma grande líder
Esta Marinalda tem demais.
Marinalda bem que merece
Um voto de confiança
Para trabalhar para o velho
Para o jovem e à criança
Na Câmara Municipal
Ela é nossa esperança.
Marinalda é gente boa
E sabe como cuidar
A cidade agradece
Pelo apoio popular
Ela tem o compromisso
De o povo ajudar.
Ela tem muito projeto
Na cidade construir
A saúde deste povo
Pode reconstituir
Com Marinalda na política
O povo nunca vai partir.
Itapororoca terra de gente
Que carrega no seu boné
O nome de muita gente
E falta o nome desta mulher
Chama-se a Marinalda
Com devoção, carinho e fé.
Vamos juntos apoiar
Esta grande investida
Votando nesta mulher
E não tem outra saída
Ela muito representa
Se assim for permitida.
No dia da eleição
Pense nela com carinho
Marinalda tem muito apreço
E faz um bom caminho
Apoiando este povo
Com o cantar do passarinho.
A política está carente
De muita gente honesta
Chegou a Marinalda
Que o povo logo atesta
Marinalda no poder
Nome gravado na testa.
Ela está abençoada
Itapororoca lhe aclama
Viva a mulher Marinalda
Pra o povo que reclama
A vereadora do povo
Pra brilhar com sua chama.
No dia da eleição
Vamos todos eleger
A Marinalda guerreira
Que você deve saber
Ela vai fazer melhor
Muito mais por merecer.
Todo mundo acredita
Nesta grande mulher
Como sendo vereadora
Todo mundo ali quer
Ela carrega a fibra
Com amor e muita fé.
Marinalda você é forte
A sua vez breve vai chegar
Carregada pelos ombros
Você vai poder falar
Em defesa do nosso povo
Seja vereadora popular.
Ela vai se eleger
Com o voto popular
Marinalda mulher forte
Vem a todos conquistar
Fazendo um bom mandato
Ela vai realizar.
Houve uma eleição
Marinalda não se candidatou
Mas é chegada a hora
O povo em ti já votou
Pense agora Marinalda
O povo te conclamou.
Marinalda grande figura
Vai chegar a sua vez
Carregada pelos braços
Eu conto de um a seis
Ela vai ser a futura
Vereadora de vocês.
Falta muito pouco
Pra ela se eleger
Itapororoca agradece
Por ela ali nascer
Viva a nossa Paraíba
Terra que lhe fez crescer.
A política precisa de gente
Assim como você
Que vai dar o rumo
Num bonito parecer
Vai à Câmara Municipal
Ela não pode perder.
Vamos se pegar com Deus
Nesta bendita eleição
Trazendo esta mulher
Pra toda população
Esta vereadora será
Muito mais que um irmão.
E aqui chego ao final
Deste Cordel da Marinalda
Que faz lembrar ao povo
Esta grande empreitada
Viva a Câmara Municipal
Muito bem representada.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de maio de 2016.
O COMPADRE ZÉ MALASARTE
Vou contar a trajetória
De um sujeito popular
Compadre Zé Malasarte
Vivia a se aventurar
Com os jogos no caminho
Não parava de apostar.
Baralho era sua sina
Também dama e dominó
No xadrez era ligeiro
E no sinuca, um só nó
Mas o jogo do bicho
Era o que o deixava só.
Casado com Livramento
Uma mulher dedicada
Que amava o companheiro
Mas odiava a jogada
Toda vez que ele sumia
Ela ficava chateada.
Zé fugia dos conselhos
Procurava sempre um canto
Onde tivesse um jogo
Pra apostar seu encanto
No salão ou na rua
Corria como um manto.
Livramento, preocupada
Saía pra procurar
Sabia que o marido
Não tardava a se enfiar
Num boteco ou no salão
Pra seu vício sustentar.
Ele chegava escondido
No baralho logo entrava
Esquecia da mulher
Que por ele tanto amava
Se entregava às apostas
E o dinheiro acabava.
Certa vez, lá na calada
Zé Malasarte sumiu
Deixando a casa vazia
E a mulher nem percebeu
Quando ela deu por falta
Foi ver onde ele se meteu.
Livramento saiu brava
Com raiva no coração
Procurou em todo canto
Perguntou no quarteirão
E soube que o marido
Estava no salão.
Chegou lá, sem avisar
Entrou no meio do jogo
Zé Malasarte, nervoso
Já não via outro fogo
Ela parou na mesa
E lhe deu um desafogo:
- Zé, se tu não larga o vício
Eu juro, vai se dar mal!
Não vou mais ficar contigo
Dividindo o cabedal
Ou eu ou os jogos
Agora é o final.
Zé, sem muita saída
Olhou para o parceiro
Viu que tudo aquilo
Deixou de ser certeiro
A mulher era firme
E ele, um simples aventureiro.
Ele baixou sua cabeça
Com vergonha e arrependido
Pois sabia que Livramento
Sempre esteve ao seu lado unido
Mas o vício dominava
Seu coração tão perdido.
Mas o amor da sua esposa
Era forte e decidido
Ela não queria mais
Um homem tão iludido
Ou mudava sua vida
Ou seria despedido.
Zé, já meio cabisbaixo
Decidiu refletir
Sabia que sem Livramento
Seu mundo ia ruir
Largar o jogo ou perder
Quem o fazia sorrir.
Voltou pra casa pensando
Na proposta que escutou
De que valiam os jogos
Se o amor se apagou?
Zé Malasarte sabia
Que seu rumo então mudou.
O baralho ele guardou
Dama, dominó e xadrez
Sinuca e jogo do bicho
Tudo ele desfez
Pois sabia que sem ela
Sua vida não valia vez.
Livramento, então contente
Recebeu seu bom marido
Mas não sem lhe lembrar
Do passado já vivido.
- Se voltar aos jogos, Zé
Vai ficar bem esquecido
Ele prometeu na hora
Que nunca mais jogaria
E se tentasse a sorte
Seria só por folia
O amor ele escolheu
E de jogo desistiria.
Os amigos do salão
Não acreditaram, não
Que Zé Malasarte, o viciado
Largaria a tentação
Mas foi firme e decidido
Deu fim à perdição.
Os parceiros zombaram
Sentados naquela praça
Mas Zé, agora mudado
Já não queria a desgraça
Preferia o aconchego
Do amor que o abraça.
Com o tempo ele aprendeu
Que o amor é a sorte maior
Livramento lhe mostrou
Que é melhor viver melhor
E com o vício do jogo
Seu destino era pior.
Deixou de lado as cartas
Dominó, jogo de dama
Sinuca ficou distante
Em casa nada reclama
E Livramento sorria
Com Malasarte na cama.
A fama de Zé Malasarte
Correndo por este mundo
Descreve um jogador
Mas de um amor profundo
Quem quiser mais estudar
Não o chame de vagabundo.
- O salão ficou pra trás
E minha blusa regata
Agora só me dedico
Ao que a vida nos relata
O valor de uma mulher
Que de amor sempre nos mata!
Livramento na batalha
Nunca mais teve que brigar
Pois seu Zé virou um homem
Que só pensa em trabalhar
E juntos, bem felizes
Agora vão prosperar.
O vício foi vencido
Pela força do amor
Zé Malasarte entendeu
Que jogos não têm valor
E ao lado de Livramento
Ele é só vencedor.
A moral dessa história
É fácil de perceber
Quem se deixa levar
Pelo jogo, vai sofrer
Mas se optar pelo amor
Vai mais longe no viver.
Zé Malasarte ensinou
Que vida é mais prazerosa
Quando a gente escolhe
Fica mais deliciosa
O amor é a resposta
Da vida bem saborosa.
E Livramento, coitada
Teve muita paciência
Pra suportar as fugas
E a má influência
Mas no fim foi vitoriosa
Com sua inteligência.
Hoje eles são exemplo
De amor e de união
Deixaram pra trás o jogo
O vício e a perdição
E vivem agora em paz
Com a alma em elevação.
Se um dia encontrar Zé
Já não vai mais reconhecer
Pois o homem transformado
Já não quer mais se perder
Agora é só trabalho
E uma vida pra valer.
E assim termina a história
Do compadre jogador
Que trocou as cartas frias
Pelo abraço e calor
Venceu o vício cruel
E vive feliz no amor!
FIM
João Pessoa-PB, 02 de agosto de 2018.
A REVOLTA DOS PROTESTANTES
Certa feita num debate
Sem ter nada que fazer
Instigaram todo mundo
Que não quis mais debater
Pulava toda plateia
Como gente sem ideia
Por não saber responder.
Apresentadores fracos
Não quiseram enfrentar
A fúria daquele público
Que só pensa bagunçar
Que toda geração vive
Como também sobrevive
Se Jesus Cristo salvar.
A pergunta tão simplória
Se fez baita confusão
Nem precisava fazer
Exemplo religião
O público descontente
A maior parte de crente
Entrou numa negação.
FIM
João Pessoa-PB, 14 de fevereiro de 2023.
VELHO POLACO, O HOMEM MAIS VELHO DO MUNDO
Em um canto do sertão
Vive um homem de história
Polaco, aos duzentos anos
Tem uma vida de glória
Enterrou todos os seus
Que só resta na memória.
Hoje só tem um sobrinho
E uma sobrinha de oitenta
Mas sua saúde é de ferro
E a vida ainda lhe apresenta
Mora só em casa grande
Nunca pensou em tormenta.
Com um quintal imenso
Planta legumes e flores
Tem um verde que é imenso
Para acabar com as dores
Nove mulheres já passaram
Todas elas seus amores.
Mas o tempo, implacável
Levou todas no seu manto
Ele fala bem explicado
Cada uma com seu encanto
Com sabedoria e calma
Nunca ele criou pranto.
Polaco, homem de fé
Na solidão, faz poesia
Mantém sua vida tranquila
De um viver em harmonia
Duzentos anos de lembrança
De viver com alegria.
Ainda que a saudade aperte
Ele vive com dignidade
Com um olhar no horizonte
E um coração cheio de verdade
E assim segue o velho Polaco
Levando suas sinceridade.
Polaco fez duzentos anos
Vive em meio à solidão
Enterrou todos os seus
Só sobrinho e sobrinha em ação
Com saúde e bom humor
Cultiva o que é do coração.
Três filhos ele perdeu
A mãe e o pai também
O tempo passou ligeiro
Mas a fé não lhe é alguém
Em seu quintal, a vida brota
Florescendo até no além.
Um ajudante na casa
Cuida do seu dia a dia
Enquanto ele planta e colhe
Faz da vida uma poesia
Nos domingos, ele espera
Um café com alegria.
Os amigos se foram
Mas a memória é fiel
Histórias de outros tempos
De um tempo tão belo e cruel.
Vou tentar descrever
E botar neste cordel.
Na varanda, conta causos
Sobre a vida que passou
De amores e desenganos
E de tudo que enfrentou
Se alguém pergunta como
Ele diz que tudo passou.
Viver é um aprendizado
E a vida quer navegar
Ouvindo o canto das aves
Polaco se deixa levar
Entre risos e lembranças
Ele sabe como amar.
Se a noite chega tranquila,
E as estrelas vão brilhar,
Ele faz uma oração,
Agradecendo por estar.
Na luz da manhã clara,
O sol entra pela janela.
E Polaco, satisfeito,
Sabe que a vida é bela.
Os vizinhos o respeitam,
Um sábio no seu lugar,
Com a força de um gigante,
E a leveza de um amar.
Se a solidão aperta,
Ele canta uma canção,
Com a voz que ecoa forte,
E o coração em união.
No dia a dia sereno,
Cuida da sua plantação.
Cada flor, cada fruto,
É motivo de gratidão.
Polaco, homem de fé,
Nas ruas da procissão
Duzentos anos de história,
Pra fazer a comunhão.
E assim segue esse velho,
Com a alma em celebração,
Um guardião de lembranças,
E de um vasto coração.
Entre risos e tristezas,
Ele dança no riso de paixão.
Enterrou todos os seus
Só sobrinho e sobrinha em ação
Com saúde e bom humor
Cultiva o que é do coração
Sabe muito bem se cuidar
E diz que ainda tem tesão.
Três filhos ele perdeu
A mãe e o pai também
O tempo passou ligeiro
Mas a fé não lhe é alguém
Em seu quintal, a vida brota
Com os galos dizendo amém.
Nove mulheres já amou
Cada uma com seu encanto
Mas a vida é quem leva
E ele guarda seu manto
Fala claro, sem pressa
Sem ser chamado de santo.
Um ajudante na casa
Cuida do seu dia a dia
Enquanto ele planta e colhe
Faz da vida uma poesia
Nos domingos, ele espera
Um café em nostalgia.
Com lembranças do passado
E a saudade que conforta
Os amigos se foram
A sua memória reporta
As coisas do seu passado
Que quase ninguém importa.
Na varanda, conta causos
Sobre a vida que passou
De amores e desenganos
E de tudo que enfrentou
Se alguém pergunta como
Ele responde, com razão:
Viver é um aprendizado
E a vida é uma lição
Ouvindo o canto das aves
Polaco se deixa levar
Entre risos e lembranças
Ele sabe como amar.
Se a noite chega tranquila
E as estrelas vão brilhar
Ele faz uma oração
Agradecendo por estar
Na luz da manhã clara
O sol entra pela janela.
E Polaco, satisfeito
Sabe que a vida é bela
Os vizinhos o respeitam
Um sábio no seu lugar
Com a força de um gigante
E a leveza de um amar.
Se a solidão aperta
Ele canta uma canção
Com a voz que ecoa forte
E o coração em união
No dia a dia sereno
Cuida da sua plantação.
Cada flor, cada fruto
É motivo de gratidão
Polaco, homem de fé
É exemplo de compaixão
Duzentos anos de história
E uma rica educação.
E assim segue esse velho
Com a alma em celebração
Um guardião de lembranças
E de um vasto coração
Entre risos e tristezas
Ele dança com sensação.
Polaco, um poeta antigo
Que na terra é uma lida
E se um dia ele partir
Deixará como despedida
As histórias contadas
Que fazem parte da vida
Com um legado de amor
E a força da natureza
Polaco viverá sempre
Na memória e na beleza
Assim, a vida é feita
Na virtude e na incerteza.
FIM
João Pessoa-PB, 02 de março de 2010.
SANTA PAULA FRASSINETE
Cada prece que elevamos
Com fé a ela clamamos
Ela ouve, de coração
Cada pedido, em oração
Santa Paula, a mãe querida
Nos protege por toda vida.
Aos pobres, ela socorre
Seu amor nunca se esmore
É a santa da humildade
Que nos guia na verdade
Sua fé é luz divina
Que ao céu sempre nos destina.
No altar da devoção
Santa Paula é oração
Sua vida de pureza
Nos enche de fortaleza
Sua história é um louvor
Que reflete nosso amor.
Nos momentos de aflição
Seu nome é invocação
Santa Paula vem ligeira
Nos salva da dor inteira
Com seu manto estendido
Ela ouve nosso gemido.
Nos momentos de tristeza
Ela traz toda a beleza
Com sua mão protetora
Nos livra da dor traidora
Santa que nos dá guarida
Sempre em nossa vida.
No silêncio da oração
Paula ouve o coração
Cada súplica atendida
É prova de sua vida
Santa Paula, a fiel
Nos guia até o céu.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - A SOBRA
Na educação, um aliado
Trazendo saber sem fim
Acessível a todos
Luz que brilha, assim
Em aulas personalizadas
O futuro está em mim.
A vida é a nossa lei
Inteligência e amor
Juntos nós somos o brilho
No mais supremo valor
A máquina é importante
Vamos voar como condor.
É importante lembrar
Será que faz o que é certo?
Com bastante cuidado
Devemos está por perto
Máquinas e seres unidos
No pensamento aberto.
FIM
João Pessoa-PB, 02 de maio de 1998.
MARIA MIMOSA
Quem nunca ouviu, diga
Falar de Maria Mimosa
Catadora de lixo
Lá da Rua Formosa?
Pois saibam agora vocês
Como ela era dengosa.
Maria Mimosa era
Uma ilustre famosa
Nascida na pobreza
Porém, era caridosa
Com seu vestido azul
Ficava mais dengosa.
Catando aquele lixo
Sempre ali, caprichosa
Carregando os sonhos
E sendo muito jeitosa
Assim era a bela Maria
Que a chamavam de Mimosa.
Maria com seu vestido
Era um tanto perigosa
Despertava várias paixões
E sempre ali, carinhosa
Levando muitas cantadas
Numa árvore frandosa.
E assim, descrevo a jovem
Com a face saborosa
Amada ali por todos
Os da Rua Formosa
Vivendo assim do lixo
Nunca foi ela gulosa.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2000.
VAMOS ESTICAR A CORDA
Jamais estiquem a corda
Deixem tudo como tá
Certo general gritou
Por não ter o que falar
O Brasil é uma zona
Não podemos suportar.
A corda quer esticar
Ouça bem meu coroné
Essa dita é tão forte
E ninguém vai dar no pé
Nossa sede representa
Gosto bom que tem café.
Cada copo tem a fé
Que nos faz se permitir
Preparem robusta corda
Nem pense querer fugir
Na briga das esticadas
Louvável não desistir.
A corda quer se partir
No país deu largo nó
General saiu correndo
Em consciência cotó
Povo sequer intimida
Pro que vem não ser pior.
Militares tem suor
Sopra mais que jaburus
Discriminando civis
Em corpos pros urubus
A corda mora distante
Mais longa que sururus.
Pandemia tem o SUS
Plebe quer a ditadura
Aquele louco provoca
Tão pequena criatura
Não sabe bem o que faz
Nessa profunda loucura.
A rua é a doçura
Nossa corda tem amor
Façamos este levante
No burguês vai dar pavor
Moradores com problemas
Outroras acostumou.
Sabem do risco da dor
Continuam a sofrer
A classe média é fogo
Pensando que é poder
Sonha chegar a riqueza
E pobres não querem ser.
Você talvez vá fazer
Sugere tal general
Ele pensa no dinheiro
E pra nós trabalha mal
A corda meu coroné
É honra, não capital.
Militar tem hospital
Na saúde faz mistério
Tem vacina pelos bares
Num terrível impropério
Dá declarações absurdas
Todas elas sem critério.
Caixões vão pro cemitério
A corda é esticada
Muitos morrem de tédio
Denúncias não dão pra nada
Deputado senta bunda
Numa grande papelada.
Câmara desconfiada
É esse maior tormento
Uns se vendem por tão pouco
Outros fazem o lamento
Senado com baita grana
Pra criar seu movimento.
Haja tanto sofrimento
Causando só aflição
Vem chegando general
Daquela repartição
Faz malignas ameaças
Pra todo ser cidadão.
Nossa corda tem paixão
Líder povo bem ordeiro
Voz popular é de Deus
Governante passageiro
Vamos desatar o nó
Estimado brasileiro.
Quem luta é baderneiro
Me disse farta milícia
Valores se desgastando
Surgindo força fictícia
Nos faltando segurança
Dão pros ricos, a polícia.
No governo da malícia
Pirâmides enriquecem
Economia burguesa
Outros entes empobrecem
Tentamos o que fazer
As cordas nos fortalecem.
Populações entristecem
Continente mais estranho
A corrupção virou moda
É como se tomar banho
Tem uma corda comprida
Lá vem o povo castanho.
Tangeremos o rebanho
Voltarmos a ser feliz
Construindo novo tempo
A corda tem lá um xis
Marcado com nosso canto
Na voz que conduz Elis.
Todo povo sempre quis
Alegria sem ter medo
Estudar para saber
Escritos do bom enredo
Brasil precisa de paz
Isto jaz nenhum segredo.
Eles pensam que é cedo
Mas é chegada tal hora
As nossas armas são livros
Precisamos sair agora
Não podemos mais viver
Nosso filho é que chora.
Quem pensa quer ir embora
Principalmente meu pobre
Sem espaço pra viver
Sofre povo que é nobre
Sai procurando nas ruas
Um quilo de puro cobre.
Não tem comida que sobre
As quais nem virão pros pratos
A corda perdendo força
Passeatas fazem tratos
Generais cumprem acordos
Coronéis testam contratos.
Contas perdem seus extratos
Este banco levou renda
Negro proibido fazer
Nos terreiros, oferenda
Nossa dança ganhou corda
Militar você aprenda.
Não tem o trigo na venda
Perde-se todo salário
A boquinha vai crescendo
Para cabo sedentário
Capitão doma comando
Pro bando sexagenário.
Um crápula mandatário
Se torna mais populista
Enriquece burguesia
Mata fuzil ativista
Ele gosta de dá corda
Pedala como ciclista.
Sem apoio, bom artista
Não tem espaço na lei
Vivendo fazendo bico
Digo porque já passei
Amarguras doentias
Eu vivo só enfrentei.
A corda nunca deixei
Coroné tem a vacina
Aplique neste seu braço
Gritava bela menina
Nestas manifestações
O ódio se contamina.
Nada na tevê ensina
Apenas a linda corda
Não vá tentar desligar
Este general acorda
Vai te processar ligeiro
Esborrando pela borda.
Nós comemos até sorda
Fome que nos atrapalha
Mesa precisa de gente
Unidas numa só malha
Vencemos falso dever
Considerado canalha.
O bom atleta não falha
Não tem nem a preferência
Arrisca-se motoqueiro
Em si tanta paciência
Subindo ruas da vida
Maldiz ter inteligência.
Tenhamos a consciência
Tal ilustre condutor
Ser cúmplice dessa corda
Não serve para doutor
A morte da classe baixa
O vilão nem evitou.
Estiquem sim, por favor
Parem de soltar pilhéria
O país está no caos
Crescendo toda bactéria
Generais no conluio
Nesta tão vasta miséria.
FIM
João Pessoa-PB, 26 de julho de 2021.
BIBLIOTECA POETA BENTO JÚNIOR
Na escola Almirante Barroso,
Um homem de letras se ergueu,
Bento Júnior, o sábio e o prosa,
Poeta e mestre, seu talento floresceu,
Com cordéis, a cultura ele traz,
Faz da leitura um doce eficaz.
Na biblioteca, o saber é um canto,
Livros em prateleiras, sonhos a brilhar,
Os alunos buscam, um mundo tão santo,
Na poesia e nas páginas, vão se encontrar,
Bento os guia com carinho e amor,
Plantando no peito o saber e o valor.
O ator que vive em cada papel,
Com a voz e o riso, ele ensina,
Nos palcos da vida, um verdadeiro pincel,
Colorindo a história, a alma é divina,
As crianças escutam com olhos brilhantes,
E se tornam poetas, sonhadores vibrantes.
Com cordéis que falam da vida e da dor,
Ele ensina a arte de escrever,
A cada estrofe, um novo fervor,
Inspira os jovens a nunca se esquecer,
Que a literatura é ponte e é abrigo,
Um lar onde o saber sempre é amigo.
Homenageado em seu caminhar,
Recebe aplausos, carinho e emoção,
Os alunos o amam, vão sempre lembrar,
Do mestre que trouxe a luz da razão,
Na biblioteca, um farol reluzente,
Bento Júnior, um ícone presente.
Com suas sextilhas, ele canta a vida,
Do povo, da terra, das lutas e amores,
Cada verso é uma história bem querida,
Resgatando a cultura, a voz de muitos sabores,
Nos corredores, ecos de sabedoria,
Bento Júnior, na alma, uma sinfonia.
Ele ensina que a leitura é mágica,
Desperta a mente, transforma o olhar,
Na biblioteca, a vida é fantástica,
Um universo de ideias a explorar,
Os alunos, curiosos, com brilho no olhar,
Descobrem tesouros, prontos a navegar.
Na sala de aula, a troca é intensa,
Com debates e risos, o saber flui,
Bento Júnior, com amor, não tem crença,
A educação é o caminho que inclui,
Faz do aprendizado um belo baile,
Cada aluno, um passo, um novo detalhe.
E quando a tarde chega, o sol a se pôr,
Os alunos se vão, mas levam a lição,
O poeta Bento, com seu amor,
Plantou em cada um um novo coração,
Na biblioteca, a magia permanece,
E o saber, entre eles, nunca se esquece.
Assim é a vida do mestre querido,
Com cordéis e livros a inspirar,
Na escola Almirante, um sonho vivido,
Bento Júnior, sempre a iluminar,
Que a biblioteca seja um lar de saber,
E que todos possam sempre aprender.
Com seus versos, Bento vai além,
Contando histórias de um povo fiel,
Das lutas, das dores, dos risos também,
Cada cordel é um pedaço do céu,
Na biblioteca, ele cria um espaço,
Onde a voz do povo é sempre o laço.
As páginas dançam ao vento a soprar,
Os livros sussurram segredos de vida,
Com cada leitura, um novo despertar,
Desperta a mente, a alma é nutrida,
Os jovens, atentos, absorvem com ânimo,
Fazendo da escola um grande carisma.
Os cordéis na parede, enfeitam o lugar,
Com rimas e cores, arte a vibrar,
As crianças se reúnem, vão se inspirar,
A cada poema, uma nova história a contar,
Bento Júnior, com seu jeito sincero,
Ensina que a vida é um belo enredo.
E na sala de aula, a magia acontece,
Debates acesos, ideias a fluir,
O mestre, atento, nunca se esquece,
Que o aprendizado é sempre um porvir,
Com cada pergunta, um novo caminho,
Os alunos, em busca, seguem seu destino.
A biblioteca é um canto de alegria,
Um abrigo para todos que querem sonhar,
Bento é o farol que traz a harmonia,
Com seu amor, sempre a iluminar,
E cada livro, uma janela a abrir,
Para mundos novos, prontos a existir.
Nos dias de chuva, a leitura é festa,
Com cada estrofe, um novo horizonte,
Bento faz da sala um lar, uma orquestra,
Em cada verso, um poema, um monte,
As crianças riem, se emocionam também,
E o saber se espalha como o bem.
Nas mãos do poeta, a vida se transforma,
Cada palavra é um passo a dançar,
O saber é a chave, a alma se reforma,
Na biblioteca, o sonho vem nos guiar,
Os cordéis se tornam vozes e ecos,
Em cada coração, um novo apreço.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de outubro de 2024.
AS TORMENTAS DO VELHO DODÓ
No sertão quente a ferver,
Sinto a vida a me engolir,
Sem conforto pra viver,
Muita dor pra resistir,
Mas vou firme, sem tremer,
Mesmo ao risco de cair.
Vejo a seca a se instalar,
Tanta sede a consumir,
Pouco posso pra mudar,
Mas evito de insistir,
Me dá vontade de gritar,
Mas prefiro até calar.
E me falta o meu café,
Que me ajuda a resistir,
Neste velho e tosco chalé,
Fico a ponto de explodir,
Com a falta até do filé,
Que eu sempre pude ingerir.
Tenho o apelido de Dodó,
Desde o tempo de criança,
Sofro a seca, passo boró,
Mas não perco a esperança,
Mesmo com meu coração
Sofrendo na lembrança.
O céu preto de urubu,
São os tempos de miséria,
Lá no brejo o jaburu
Me mostra a dor tão séria,
Eu canto o meu cururu,
Esperando outra matéria.
Nesta vida, uma roda,
Que a sorte desenrola,
Faz do velho, outra moda,
Mas ao fim, ela me assola,
E essa dor quase doda,
Meu lamento se consola.
Fiz de tudo, fui com gosto,
Pra poder ter o meu pão,
Mas o tal do desgosto
Apertou meu coração,
E ao lembrar do teu rosto,
Vou seguindo a minha mão.
Tudo que eu tanto amei,
Pelo tempo, já chorei,
Até mesmo o que pesquei,
Pelas águas eu deixei,
Mas em nada me ancorei,
Minha sina eu aceitei.
Sinto às vezes o tal medo,
De seguir sem solução,
Mas aponto o meu dedo
Na fé, com decisão,
E se a vida pede cedo,
Me levanto da prisão.
Com palavra faço rima,
Pra dar força ao meu cantar,
Meu cordel chega na cima,
Com a brisa a balançar,
Como fruta da boa lima,
Que o sertão vem perfumar.
Vem da madre, um carinho,
Do padre, uma oração,
E a comadre no caminho
Com um beijo de afeição,
Sou do sertão um vizinho,
Que resiste de paixão.
Sigo firme, subo a rampa,
No calor, venço o suor,
Mas se a dor de novo tampa
Todo sonho promissor,
Minha vida, lá na campa,
Viverá com todo amor.
Sonho em ir além de Roma,
Tendo paz para seguir,
Mas a vida só me doma
Com tristeza a consumir,
E a tristeza que me toma
Eu nem mesmo quero ouvir.
Sem conforto na minha cama,
Lembro o rosto de uma dama,
Cujo sorriso me chama,
Como o brilho de uma chama,
Que ao meu peito sempre inflama,
Todo amor que lá derrama.
Meu lar sem forro e sem teto,
Mas com fé sigo na estrada,
Pois ao fim, o bem é certo,
Vou erguendo a caminhada,
Mesmo com suor por perto,
Minha luta é respeitada.
Na cozinha o velho funil,
Gotejando lentamente,
E o cheiro do pernil,
Se mistura na corrente,
Saudade do meu Brasil,
Do sertão e sua gente.
Vejo um bicho, um tal papão,
Assustando a criançada,
Mas eu sempre fui pimpão,
Brincadeira bem armada,
E pra espantar o sopão,
Vivo a história encantada.
Minha vida é feita em sorte,
Mesmo com a seca dura,
Vou seguindo sem suporte,
Procurando a paz tão pura,
Enfrentando até a morte,
Pois a fé que me segura.
Vejo ao longe uma perua
Passarinha pela rua,
E na noite vejo a lua
Refletindo sobre a rua,
Pois é ela que flutua
E encanta a vista sua.
Quando o tempo me fervia,
Meu vigor era bem forte,
Mas depois que eu sofria
E o cansaço fez-se norte,
Minha paz quase morria,
Mas renasce sem suporte.
Pois a vida é feito um sonho,
Que começa e vai embora,
Às vezes tão bisonho,
Mas que ao peito nunca chora,
Mesmo em tempos tristonho,
A esperança vem pra fora.
Vejo a tora no chão frio,
Derrubada pela luta,
E se algo me forra o brio,
Pois a força me machuca,
Vou seguindo como um rio
Que na seca sempre busca.
Sobre a velha e fraca ponte,
Caminhei sem desistir,
Eu bebi de muita fonte
Pra coragem me munir,
E que o tempo me conte
O que ainda vou sentir.
Cada tombo, uma lição,
Mas sempre volto a crescer,
Mesmo com o bombo no chão,
Não paro de aprender,
Vou juntando o coração
Pra nova história tecer.
Visitei muito doutor,
Pra poder me consolar,
Mas só encontro o amor
Pra de fato me ajudar,
Feito o Cristo redentor,
Minha fé vai me guiar.
Nessa vida, a minha sina,
Vou sem medo, vou feliz,
Pois a força feminina
Me sustenta, me bendiz,
E ao longe, uma tal mina,
Me inspira e sempre diz.
O sertão é mistério,
Carrega muitos segredos,
Tendo o tempo por critério
E o céu a mostrar enredos,
Caminho até o cemitério
Com coragem, sem ter medos.
Vejo o mundo um tanto menor,
Mas o sonho é tão maior,
Mesmo quando fico pior,
Meu suor vale o suor,
Vou lutar, não me demoro,
Pois coragem é o que imploro.
E uma vez amei mulher,
Que tão bela eu quis seguir,
Mas se ela me quiser,
Vou de novo até sorrir,
Digo agora e o que disser,
Meu coração é pra servir.
Meu sertão cheira a rosa,
Com perfume encantador,
Minha vida é toda prosa,
Vou cantando meu valor,
Quem na glosa mais se goza,
Sempre vence toda dor.
Ouço longe o som do sino,
Marcando o meu destino,
E no meu humilde tino,
Vou seguindo em bom caminho,
Pois a fé do peregrino
Vai tocando o meu destino.
E se um dia chega ao fim
Minha vida aqui por fim,
Digo em prece, digo sim,
Foi bonito o meu jardim,
Vou em paz, guardando em mim
A coragem que há em mim.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2020.
CORDEL DE PILÕES
Vou contar da minha terra
Que encanta o coração
É Pilões, cidade linda
Do sertão e do sertão
Com seus montes e cachoeiras
É pura inspiração.
Lá no brejo paraibano
Entre montes e verdor
Pilões é terra amena
Cheia de paz e calor
Seus filhos têm na veia
Orgulho e muito amor.
Das serras nasce a paisagem
Com vista de encantar
Em cada curva, a imagem
Faz qualquer um suspirar
Pilões é mesmo um sonho
Que ninguém quer acordar.
Suas ruas são tranquilas
Tem um jeito acolhedor
Gente simples e feliz
Com um sorriso e valor
Pilões é lar verdadeiro
Feito de esplendor.
É cidade pequenina
Mas tem muito a mostrar
Suas festas, seu folclore
Todo mundo quer dançar
Lá no São João animado
O forró vai balançar.
No inverno, um clima frio
Que aquece o coração
Com café e tapioca
É pura satisfação
Pilões é abrigo certo
Para quem busca emoção.
Suas matas são encantos
Rios que cortam o chão
Com trilhas e cachoeiras
Natureza em profusão
Pilões guarda em seu canto
A beleza do sertão.
Cachoeira do Ouricuri
É o recanto natural
Lá as águas vão descendo
Num cenário sem igual
Quem visita, não esquece
É um refúgio especial.
Nas serras verdes da zona
O ar é puro e frescor
Pilões se faz tão bonita
Com seu charme redentor
Cidade de clima ameno
Que inspira sempre amor.
A Capela do Rosário
Lá no alto a espiar
Guarda a fé do povo forte
Que não cansa de orar
Pilões é terra de crença
Onde Deus vem visitar.
O artesanato é vida
Feito com fé e suor
As mãos de pilonenses
Criam arte da melhor
São bordados, são lembranças
Que te tiram da pior.
E nas festas da colheita
A tradição se mantém
Com danças e com festejo
Pro povo dizer amém
Pilões é lugar sagrado
Bela terra que nos convém.
E a Festa do Cajuína
Todo ano a animar
Com música e alegria
Povo vem a celebrar
É Pilões, terra querida
Que só faz o bem vibrar.
O caju é um bom fruto
Que nasce em seus quintais
Dele , fazemos a festa
Meus doces cartões postais
Pilões se pinta de vida
Na luz desses pedestais.
A vista é fotográfica
Lá no alto do mirante
Montanhas e verdes matas
Tudo faz ser elegante
Pilões é paz verdadeira
De valor mais que gigante.
As crianças dessa terra
Fazem brincadeira na rua
Em Pilões, a vida flui
Com o brilho dessa lua
É a cidade dos sonhos
Com o bem se pactua.
Seus mercados, tão singelos
Com produtos da região
Tem milho, feijão, caju
Tudo é feito com paixão
Pilões é bem sertanejo
Com orgulho e tradição.
As praças são animadas
Cheias de gente a falar
Conversando, dando risada
Todos vêm a se encontrar
É Pilões, terra querida
Onde o povo é exemplar.
O sol brilha pelas ruas
No céu azul e sem fim
Pilões é sempre amada
Como um lar que é assim
Quem conhece, se encanta
Com seu belo jardim.
O artesão com paciência
Molda barro e faz brilhar
Das mãos, nascem esculturas
Que o mundo quer admirar
Pilões é arte e beleza
É cultura a nos guiar.
O povo trabalha duro
Tanto Ser trabalhador
Que faz da vida seu palco
No voo livre do condor
Em Pilões há muito orgulho
Na batalha és vencedor.
A cidade tão singela
Tem seu ritmo e seu tom
Com o canto da sanfona
Tudo fica mais bom
Pilões é melodia
Como verso e um bom dom.
O campo é fonte de vida
De sustento e de riqueza
Em Pilões, cada palmo
Guarda a força da nobreza
É o trabalho que edifica
E encanta a natureza.
Tem feira aos fins de semana
Gente vem de todo canto
Com frutas, grãos e caju
Num comércio bem franco
É Pilões em movimento
É o sertão cheio de encanto.
E no ritmo do forró
Cada festa é emoção
Com zabumba e sanfoneiro
Se ilumina o salão
Em Pilões, a alegria
Mora em cada cidadão.
Quem visita a minha terra
Logo quer se apaixonar
Com a beleza do campo
E o calor desse lugar
Pilões é terra de afeto
E quem vem quer ficar.
O crepúsculo ao fim da tarde
Deixa o céu mais eficaz
Em Pilões, o sol se esconde
Dando ao dia seu fim, paz
É um quadro abençoado
Que a todos satisfaz.
Lá tem a noite estrelada
Que brilha como um farol
É cenário abençoado
De lua e de girassol
Em Pilões, o céu é claro
É natureza e o sol.
Do café até o jantar
Pilões é pura sensação
Cada lar guarda seu brilho
E o carinho de um irmão
Com a bênção do sertão
Nossa terra é emoção.
O vento sopra sereno
Pelas serras a dançar
Em Pilões, tudo é ameno
Natureza a celebrar
É uma paz verdadeira
Que nos faz apaixonar.
Na Paraíba encantada
Pilões é o meu rincão
Terra de gente arretada
Com amor no coração
É a cidade acolhedora
Na fé e na comunhão.
Assim termina o cordel
De Pilões, terra querida
Que guarda em cada lareira
Um pedaço de vida
Quem conhece, nunca esquece
E nem vai querer despedida.
FIM
Pilões-PB, 18 de novembro de 1986.
O CORDEL DO PÃO
No campo o trigo semeia
Crescendo sob o clarão
Com o sol que tanto incendeia
Se espalha pelo sertão
Das mãos do homem se deita
No formato desse grão.
Trabalha com lucidez
O lavrador no roçado
Vai surgindo a criação
Do trigo bem cultivado
É o começo do pão
Com suor e com cuidado.
Passam dias de cuidado
O grão precisa crescer
Com água, terra e cuidado
A vida irá florescer
Quem planta trigo animado
Vai fartura receber.
Trigo dourado da vida
Chegou a hora da colheita
O pão ganha dimensão
Com força e grande receita
No moinho triturado
Na mesa a janta está feita.
Branca como algodão
A farinha é moída
Torna-se logo uma mão
E, misturada e mexida
Torna-se logo uma mão.
Com água, sal, nossa vida,
Vai surgindo um bom pão.
A massa logo se ajeita
Descansa, cresce e vigora
No forno quente espreita
Com aroma que aflora
É o pão que toma feição
Do trigo que a vida implora.
O padeiro, com cuidado
Amassa a massa com fé
Num ofício tão sagrado
Num bom copo de café
Pois do trigo abençoado
Faz o pão nosso de pé.
No forno, o cheiro encanta
A casa enche de sabor
Do trigo, a massa levanta
É obra de grande amor
O pão, que nunca se cansa
A fome acalma o clamor.
Com crosta dourada e bela
O pão surge no fogão
Na mesa ganha aquarela
Com manteiga ou requeijão
Sabor que ninguém cancela
É fonte de inspiração.
No café da nossa gente
O pão sempre está a brilhar
Um costume permanente
Que nos faz até sonhar
Com café, fica envolvente
Pronto para nos sustentar.
É na mesa de um nordeste
Que o pão nos vem com calor
Alimento que reveste
Do sertão o seu valor
Em cada migalha investe
Força e sabor em fervor.
Seja doce ou salgado
Tem formato ou textura
O pão nunca é renegado
Pois traz grande fartura
Do campo até o mercado
Sua fama é estrutura.
Pão de milho, pão de queijo
Cada um tem sua cor
Do Brasil é grande ensejo
Trazendo sempre o sabor
Na mesa é o grande almejo
Para o café e o amor.
Pão francês, baguete ou broa
Cada um com seu jeitinho
Na padaria se entoa
O prazer do nosso ninho
O pão com gosto que ecoa
Adoçando o caminho.
É no pão que se compartilha
O amor, a amizade
Traz união à família
E transforma a realidade
Com pão, se vence a partilha
De vida, sonho e verdade.
Há pão fresco, pão dormido
Tudo feito pra vocês
Com carinho repartido
Deixa o dia mais cortês
Cada pedaço é sentido
Em cada novo freguês.
O pão, alimento sagrado
De cada mesa e nação
Feito com zelo e cuidado
É símbolo de união
Na ceia, nunca ignorado
É benção para o irmão.
No Natal e na Páscoa bela
Tem sempre o pão a reinar
Em qualquer festa ou novela
Sua presença a brilhar
Pois o pão de toda tela
A alegria vem celebrar.
O pão fala de memória
De tempos que vão passar
Desde a mais longa história
É prato em cada lugar
Em cada mordida, a glória,
De um sabor a encantar.
Para o pobre e para o rico
O pão chega sem distinção
É carinho e é abrigo
Para qualquer cidadão
O pão, amigo antigo
Nunca nega sua mão.
Seja integral ou doce
Cada um tem seu valor
O pão no lar sempre trouxe
O sabor que é amor
Doce ou amargo fosse
É o nosso protetor.
Pão de fermento ou de centeio
Cada um com seu sabor
Na mesa traz um esteio
Fazendo o dia melhor
É o conforto e o meio
De um lar sempre acolhedor.
Diz o ditado do avô
Quem tem pão, tem tudo enfim
Pois na mesa, a gente amou
Esse fruto até o fim
Do trigo veio o valor
Que nos ampara assim.
O pão, que traz alegria
Nas manhãs de cada lar
Aquece como poesia
E nos faz sempre amar
O pão é melodia
Que nunca vai se acabar.
Seja em massa ou fermentado
A forma que ele é feito
Pão de milho bem dourado
Tem um sabor bem perfeito
Com carinho e cuidado
Sacia qualquer sujeito.
Do café até o jantar
O pão nos faz companhia
É sustento em qualquer lar
Pra tristeza é alegria
Do nascer até o findar
É o pão nossa harmonia.
Pão de casa, feito à mão
É mais gostoso, eu sei
Mas o pão de padaria
Tem um gosto de rei
Todo pão é a paixão
Das fomes que já passei.
Vai na cesta, vai à mesa
Como o mais fiel amigo
O pão acalma, traz leveza
É um sabor tão antigo
Em cada pedaço a certeza
De que o trigo está contigo.
Com manteiga, ou puro e leve
Cada mordida é prazer
É no pão que a fome deve
A chance de se deter
Quem come sabe, se atreve
E sente o dia a nascer.
Prepare seu coração
O pão lindo se dourando
Sente o cheiro em profusão
De quem, na fome esperando
Sente o cheiro em profusão
Muito mais que vida longa
É mais que simples ração.
Pão de sal, ou pão sovado
Tudo é pão de bom querer
Na história é celebrado
Por seu modo de aquecer
Em qualquer canto, é o legado
Que nos faz sempre viver.
E assim termina o cordel
Do pão, sabor sem igual
Que traz vida em seu papel
E acalma até o final
Pois o pão sempre é fiel
O alimento essencial.
FIM
João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1999.
VELHO DODÓ, SEGUNDA PARTE
Aquele meu Velho Dodó
No sertão quente a ferver
Mas vou firme, sem tremer
Sem conforto pra viver
Sodó sente a tristeza
Sinto a vida a me engolir
Muita dor pra resistir
Mesmo ao risco de cair
Que me ajuda a resistir
Fico a ponto de explodir
Que eu sempre pude ingerir
Tanta sede a consumir
Mas evito de insistir
Vejo a seca a se instalar
Pouco posso pra mudar
Me dá vontade de gritar
Mas prefiro até calar
E me falta o meu café
Neste velho e tosco chalé
Com a falta até do filé
Tenho o apelido de Dodó
Desde o tempo de criança
Sofro a seca, passo boró
Mas não perco a esperança
Mesmo com meu coração
Sofrendo na lembrança.
O céu preto de urubu
São os tempos de miséria
Lá no brejo o jaburu
Me mostra a dor tão séria
Eu canto o meu cururu
Esperando outra matéria.
Nesta vida, uma roda
Que a sorte desenrola
Faz do velho, outra moda
Mas ao fim, ela me assola
E essa dor quase doda
Meu lamento se consola.
Fiz de tudo, fui com gosto
Pra poder ter o meu pão
Mas o tal do desgosto
Matou mesmo até meu cão
E ao lembrar do teu rosto
Vou seguindo a minha mão.
Tudo que eu tanto amei
Pelo tempo, já chorei
Até mesmo o que pesquei
Pelas águas eu deixei
Mas em nada me ancorei
Minha sina eu aceitei.
Sinto às vezes o tal medo
De seguir sem solução
Mas aponto o meu dedo
Na fé, com decisão
E se a vida pede cedo
Me levanto da prisão.
Com palavra faço rima
Pra dar força ao meu cantar
Meu cordel chega na cima
Com a brisa a balançar
Como fruta da boa lima
Que o sertão vem perfumar.
Vem da madre, um carinho
Do padre, uma oração
E a comadre no caminho
Com um beijo de afeição
Sou do sertão um vizinho
Que resiste de paixão.
Sigo firme, subo a rampa
No calor, venço o suor
Mas se a dor de novo tampa
Todo sonho promissor
Minha vida, lá na campa
Viverá com todo amor.
Sonho em ir além de Roma
Tendo paz para seguir
Mas a vida só me doma
Com tristeza a consumir
E a tristeza que me toma
Eu nem mesmo quero ouvir.
Sem conforto na minha cama
Lembro o rosto de uma dama
Cujo sorriso me chama
Como o brilho de uma chama
Que ao meu peito sempre inflama
Todo amor que lá derrama.
Meu lar sem forro e sem teto
Mas com fé sigo na estrada
Pois ao fim, o bem é certo
Vou erguendo a caminhada
Mesmo com suor por perto
Minha luta é respeitada.
Na cozinha o velho funil
Gotejando lentamente
E o cheiro do pernil
Se mistura na corrente
Saudade do meu Brasil
Do sertão e sua gente.
Vejo um bicho, um tal papão
Assustando a criançada,
Mas eu sempre fui pimpão,
Brincadeira bem armada,
E pra espantar o sopão
Vivo a história encantada.
Minha vida é feita em sorte
Mesmo com a seca dura
Vou seguindo sem suporte
Procurando a paz tão pura
Enfrentando até a morte
Pois a fé que me segura.
Vejo ao longe uma perua
Passarinha pela rua
E na noite vejo a lua
Refletindo sobre a rua
Pois é ela que flutua
E encanta a vista sua.
Quando o tempo me fervia
Meu vigor era bem forte
Mas depois que eu sofria
E o cansaço fez-se norte
Minha paz quase morria
Mas renasce sem suporte.
Pois a vida é feito um sonho
Que começa e vai embora
Às vezes tão bisonho
Mas que ao peito nunca chora
Mesmo em tempos tristonho
A esperança vem pra fora.
Vejo a tora no chão frio
Derrubada pela luta
E se algo me forra o brio
Pois a força me machuca
Vou seguindo como um rio
Que na seca sempre busca.
Sobre a velha e fraca ponte
Caminhei sem desistir
Eu bebi de muita fonte
Pra coragem me munir
E que o tempo me conte
O que ainda vou sentir.
Cada tombo, uma lição
Mas sempre volto a crescer
Mesmo com o bombo no chão
Não paro de aprender
Vou juntando o coração
Pra nova história tecer.
Visitei muito doutor
Pra poder me consolar
Mas só encontro o amor
Pra de fato me ajudar
Feito o Cristo redentor
Minha fé vai me guiar.
Nessa vida, a minha sina
Vou sem medo, vou feliz
Pois a força feminina
Me sustenta, me bendiz
E ao longe, uma tal mina
Me inspira e sempre diz.
O sertão é mistério
Carrega muitos segredos
Tendo o tempo por critério
E o céu a mostrar enredos
Caminho até o cemitério
Com coragem, sem ter medos.
Vejo o mundo um tanto menor
Mas o sonho é tão maior
Mesmo quando fico pior
Meu suor vale o suor
Vou lutar, não me demoro
Pois coragem é o que imploro.
E uma vez amei mulher
Que tão bela eu quis seguir
Mas se ela me quiser
Vou de novo até sorrir
Digo agora e o que disser
Meu coração é pra servir.
Meu sertão cheira a rosa
Com perfume encantador
Minha vida é toda prosa
Vou cantando meu valor
Quem na glosa mais se goza
Sempre vence toda dor.
Ouço longe o som do sino
Marcando o meu destino
E no meu humilde tino
Vou seguindo em bom caminho
Pois a fé do peregrino
Vai tocando o meu destino.
E se um dia chega ao fim
Minha vida aqui por fim
Digo em prece, digo sim
Foi bonito o meu jardim
Vou em paz, guardando em mim
A coragem que há em mim.
FIM
João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2020.
FAZER UM NOVO CORDEL
COM ESSAS PALAVRAS RIMADAS
Naquele samba Batuque
Não tem quem faça um Truque
O mundo já foi do Duque
Naquela tremenda Costa
Os cartões ninguém Posta
Todos eles o povo Gosta
O navio para no Porto
Nenhum marinheiro Morto
Todo santo já fez Horto
Nesse belo pé de Jambo
O dançarino não é Bambo
Quis imitar um tal Rambo
Ninguém supera Médio
Tende todos a ter Tédio
É preciso tomar Remédio
Ninguém sabe quem é Louco
Só sabemos mesmo Pouco
O cidadão já ficou rouco
Na tremenda Rapidez
Fingem ter a Frigidez
Todos sofrem Palidez
Não seguram o Vício
Fazem sempre Malefício
Deliram de Sacrifício
Quem vai subir a Rampa
Guardem sempre longa Tampa
Quem fica logo se Campa
Dançam linda e bela Dança
O perfume sempre Lança
Encher os bolos de Pança
Tem que ser naquela Tora
Quem será mesmo a Nora
Onde vive é lá que Mora
Garganta cheia de Secura
Todos dizem que é Loucura
Precisam de mais Ternura
Sempre é bom dizer: - Me Calo
No fundo vivem o Talo
Desceu pelo fundo do Ralo
Surge um tremendo Rato
Quem fala diz: - Eu Bato
Outros dizem: - Por fim te Mato
Vive posto numa Testa
Nada mais é o que nos Resta
Se fez linda baita Festa
Não mandem o seu Recado
Palestras desse Senado
O plebeu ficou Zangado
Queimem naquela Fornalha
Não passou de ser Canalha
Tem lá uma grande Falha
É o risco de perder a Moral
Já pintamos um bom Sinal
As coisas ficam como Banal
Pra beber um suave Vinho
A madeira é de Pinho
O tecido dele é de Linho
Aquela finíssima Capa
Guarde que já vem o Rapa
Todos vivem numa Lapa
E quem é que nunca Deixa
Façamos a grande Queixa
Vivem querendo ter Reixa
O mundo não é mais Dono
Se perdeu um grande sono
O patrão perdeu o Trono
Ande sempre numa Linha
Comem tudo que é de Pinha
Quando chegou ela já Vinha
Bota
Frota
Rota
Servil
Covil
Funil
Rosa
Prosa
Glosa
Cenário
Plenário
Binário
Brava
Trava
grava
Sereia
Baleia
Semeia
Passeio
Ponteio
Receio
Suave
Grave
Trave
Relance
Lance
Chance
Matraca
Catraca
Fraca
Pele
Neve
Leve
Cena
Pena
Viena
Problema
Cinema
Lema
Caroço
Pique
Fique
Disque
Bate
Late
Cate
Belo
Relo
Chinelo
Moço
Poço
Salva
Calva
Veloz
Cansa
Mansa
Palma
Calma
Sonetista
Flautista
Contista
Cuidem daquele Filhote
Deixem de passar umTrote
Monte forte no Garrote
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Copa
Topa
Dopa
Reze
Tese
Reverse
Moço
Poço
Torço
Salva
Calva
Nalva
Veloz
Feroz
Queiroz
Cansa
Mansa
Descansa
Rama
Dama
Cama
Palma
Calma
Salma
Copa
Topa
Recopa
Mágico
Trágico
Hemorrágico
Floresta
Protesta
Contesta