CORDÉIS DIVIDIDOS

O BRASIL ENCONTROU SAÍDA

Eu inicio este cordel

Em parceria vou terminar

Com base no Raul

Interessante continuar

Desde a década de oitenta

Só agora fiz publicar.

O Brasil encontrou saída

Sem achar a solução?

Sem encontrar o caminho

Para a sua salvação?

Com o povo amordaçado

Oprimido e algemado

Nas garras dessa inflação?

O Brasil encontrou saída

Sem achar o conteúdo?

A maioria sem nada

E a minoria com tudo?

Um rico forte e gorducho

Crescendo demais o bucho

E outro pobre e sambudo?

O Brasil encontrou saída

Sem achar o lenitivo?

Sem descobrir o roteiro

Que não seja negativo?

Valorizando o cruzeiro

No Brasil e no estrangeiro

Deixando o povo indeciso?

O povo encontrou saída

Sem a porta de emergência?

Sem a sua economia

Estar na independência?

Sem a sua política externa

Combinar com a interna

Que está sempre em decadência?

O Brasil encontrou saída

Sem vencer a carestia?

Com o povo sem liberdade

Sem plena democracia?

Para que na eleição

Disponha de opção

Na sua soberania?

O Brasil encontrou saída

Sem fazer Reforma Agrária?

Com as classes camponesas

Em situação precária?

Sem a distribuição

Da renda pela Nação

Pra toda classe operária?

O Brasil encontrou saída

Sem sair do pesadelo?

Com este salário mínimo

Sendo o maior desmantelo?

Com este triste salário

Deixando o pobre operário

Sem amor, carinho e zelo?

O Brasil encontrou saída

Entregando o Carajás?

Com toda Serra Pelada

E o outro que tem lá?

Traindo assim a história

Como também a memória

Do imortal JK?

O Brasil encontrou saída

Sem uma boa educação

Com o povo desinformado

Vivendo em contradição?

Com o nosso governante

Desonesto e ignorante

Só fazendo atrapalhação?

O Brasil encontrou saída

Pra resolver tanto problema?

Resolver o desemprego

E não criar muito dilema?

Vendo o povo desempregado

No seu canto, sufocado

Que só nos causa pena?

O Brasil encontrou saída

Pra acabar o desemprego?

Pais de famílias morrendo

Vivendo feito morcego?

É tanta gente doente

Que nos deixa tristemente

Nessas ruas só do arrego?

O Brasil encontrou saída

Apoiando o Pesquisador

Aquele que tanto estuda

Às vezes sem nenhum valor?

A doença se estabelece

O povo todo entristece

Causando somente a dor?

O Brasil encontrou saída

Entregando nossa riqueza

A politicagem é grande

Só destroem a natureza?

Com o índio sem opção

Só percebem a destruição?

Quando perdem sua grandeza?

O Brasil encontrou saída

Exportando sua madeira?

Deixando os povos das matas

Numa tremenda roubalheira?

A população já não aguenta

É tanta mentira que inventa

Nessa riqueza brasileira.

O Brasil encontrou saída

Ou ele mesmo se afundou?

Aquele que tanto estuda

Às vezes sem nenhum valor?

A doença se estabelece

O povo todo entristece

Causando somente a dor?

O Brasil encontrou saída

Valorizando as multinacionais?

Destruindo o patrimônio

Das indústrias nacionais?

Com mão de obra escrava

A sepultura pobre cava

Nos aumentos infernais?

O Brasil encontrou saída

Usando o nome de Deus?

Com o povo na ingenuidade

Na descoberta dos ateus?

A ciência e a religião

Mercadoria da ilusão

Nas crenças dos filhos teus?

O Brasil encontrou saída

No processo eleitoral?

Elegendo um candidato

Que simpatiza com o mal?

A política que vivemos

Nada nós resolvemos

Somente o poder capital?

O Brasil encontrou saída

Deixando o pobre mais pobre?

Enricando cotidianamente

Aquele chefe tão nobre?

O rico trafegando no ouro

Os outros comendo o couro

Na bacia banhada em cobre?

O Brasil encontrou saída

Matando a nossa criação?

Explodindo a falsa ideia

Do processo de evolução?

Gente que se acha inteligente

Não passa de uma demente

Usando erroneamente a religião?

O Brasil encontrou saída

No seu desenvolvimento?

Preservando a Amazônia

Que viver no sofrimento?

O estado não mais aguenta

É tanta luta sangrenta

É terra tendo pavimento.

O Brasil encontrou saída

Nos programas sociais?

O pobre tão precisado

Faz fila nos hospitais?

É triste ver esta nação

Sempre na contramão

Pelos políticos imorais?

O Brasil encontrou saída

Usando da força militar?

É tanta bala perdida

Que não dá pra suportar?

O pobre é o que sofre mais

Não quer guerra, só quer paz

Pois terminam de lhe matar.

O Brasil encontrou saída

Perdendo todos os direitos?

A Constituição é rasgada

E surgem os preconceitos?

A notícia é deturpada

E a política não resolve nada

Só usa o pobre nos pleitos?

O Brasil encontrou saída

Esquecendo a politicagem?

Deixando o nobre político

Vendedor da vagabundagem?

E aquele pobre eleitor

Que tanto aperreio passou

Hoje vive da sacanagem?

O Brasil encontrou saída

Vendendo seus jogadores?

Cada um saindo rico

E deixando os dissabores?

Nos times que eles jogam

No dinheiro se afogam

E o país perdendo horrores?

O Brasil encontrou saída

Maltratando a população?

A lei só beneficia ao poder

E dar voto em eleição.

O Congresso e o Senado

Do presidente pau mandado

Vive tamanha contradição.

O Brasil encontrou saída

Sem um governante sério?

Aquele que manda o povo

Direto ao cemitério?

Um país sem governante

Legalizando a amante

No jogo do adultério?

O Brasil encontrou saída

Sem sair desse buraco?

Se vendendo ao estrangeiro

Por ser tímido e fraco?

O povo não aguenta mais

Vive na guerra em vez da paz

Se encontram dentro de um saco.

O Brasil encontrou saída

Com toda Serra Pelada

E o outro que tem lá?

Traindo assim a história

Como também a memória

Do imortal JK?

Aqui vou terminando

Sem a ninguém acusar

Pois como brasileiro

Eu tenho o direito de opinar

Para que os brasileiros

Dos massacres estrangeiros

Procurem se libertar.

FIM

Guarabira-PB,10 de dezembro de 1982.

AUTO DA COMPADECIDA

Eu agora vou falar

Do nosso Circo Sem Pano

Montou bons espetáculos

No solo paraibano

Auto da Compadecida

É o nosso grande plano.

Ariano o Mestre paraibano

Foi ele que escreveu

Auto da Compadecida

E o sucesso aí nasceu

Primeiro em Pernambuco

Onde Ariano morreu.

Montado por muitos grupos

Circo Sem Pano também montou

Tem muita estrada pela frente

Espetáculo de grande valor

Um elenco de primeira

Sangue, suor e amor.

Começou no ano dois mil

Até hoje se apresenta

É o Auto da Compadecida

Com o elenco que arrebenta

É o Circo Sem Pano

Com sua linguagem atenta.

O desenho deste cordel

Foi Pádua Lucena que criou

Uma pintura para o Auto

Que ele logo desenhou

As mãos singelas do artista

Inspiração com muito amor.

Já andamos por lugares

Que não se pode acreditar

Até pátio de escola

Fomos se apresentar

É o Auto da Compadecida

Feito só para alegrar.

Quem ainda não assistiu

Vai ter como observar

A mudança de elenco

Antes do ano terminar

Cada ano que inicia

É nova semente germinar.

A primeira apresentação

Kleyton era o principal

Grande ator que nos deixou

Interpretação mais que legal

Chris Maurício lá na frente

E ficou sensacional.

Beto Black foi coringa

Vários papéis representou

De João Grilo ao Padre

Ele foi e representou

Obrigado Beto Black

Por tudo que nos deixou.

O João Grilo eu mesmo faço

E gosto dele fazer

No começo do projeto

Queria logo saber

Como ficaria tudo

Depois eu ia ver.

O parceiro de João Grilo

Tem o nome de Chicó

É um sujeito enrolado

Em tudo dá logo um nó

Faz cada presepada

E ainda levar a melhor.

O Padre personagem

É Marcílio o primeiro

Já passaram tantos

Mas este padre é certeiro

Só Marcílio fazendo ele

Num papel tão brasileiro.

Arlysson Araújo

Merece uma falação

Fez o Padre muito tempo

Por nome Padre João

É o padre do Auto

Personagem de paixão.

O Padeiro teve Rui

Que primeiro interpretou

Diego foi cabra bom

E bem feito trabalhou

Beto Black deu vida

E Paulo continuou.

Jesus, o Manuel

Paulo Ribeiro se interessou

O papel foi todo dele

E ninguém nunca tirou

Saiu por conta própria

Ator de grande valor.

Hoje o texto está mudado

Muito tempo tem se passado

Muitos já sairam

E entrou foi um bocado

Dando vida aos personagens

E muito bem se apresentado.

A Mulher do Padeiro

Foi Vanda quem primeiro fez

Depois entrou Luciana Portela

Apresentação quase todo mês

Temporada no Paulo Pontes

E no Ednaldo outra vez.

Nesse papel também

Silvana Pequeno também fez parte

Brilhou com seu talento

Nos deu uma grande arte

Dalila, Francijane e depois Aymê

É elenco melhor que o Planeta Marte.

O Major primeiro foi feito

Pelo conhecido Daniel Barbosa

Hoje se chama Dani

De nome já bem formosa

Foi também Severino

Aracaju lhe fez famosa.

Chicó tinha Pedro Neto

Até premiado em festival

Ganhou ator coadjuvante

E foi sensacional

Depois Jamerson Lucena

Pegou o papel e fez o tal.

Rejane e Daniele

Sílvia Josy e Adriana

De tudo elas fizeram um pouco

Sangue na veia que a arte emana

Nicole e Alessandra também

Na cena ninguém reclama.

Polyanna foi Nossa Senhora

Luciana Portela Mulher do Padeiro

Dalila Cartaxo e Puama Sheila

É o personagem por inteiro

É personagem e atriz

No teatro brasileiro.

Tito foi gato e cangaceiro

Na primeira montagem

No ano de dois mil

Construiu bem o personagem

Depois saiu de cena

Mas ficou uma boa imagem.

Auto da Compadecida

Escrita por Suassuna

Ariano Rei do Sertão

Vizinho de Araruna

Escreveu outras obras

Esse cabra que se apruma.

O desenho de Pádua Lucena

É pintura vanguardista

As mãos da arte do poeta

Esbanja as mãos de artista

É a cor que faz a santa

No saber tão realista.

O cangaço e o cordel

Completam o Auto

É um espetáculo

Que ganha grande salto

Se apresenta em local fechado

Até no meio do asfalto.

Em Mil Novecentos

Do ano cinquenta e seis

O Teatro Adolescente do Recife

Ganhou respaldo de uma só vez

Se apresentou e foi aclamado

E o público virou um bom freguês.

Ariano e Hermilo

Dois populares escritores

Fizeram pela cultura popular

O riso vencer as dores

Auto da Compadecida

De nós só tem louvores.

Kleyton Cruz e Pedro Neto

Erivan e Rui Macena

Sílvia Josy e Lu Buás

Está completa a cena

Jamerson e Daniel

Marcílio até hoje encena.

Polyanna e Luciana

Silvana e Francijane

Tantos personagens

Como batata e inhame

É assim que o teatro nasce

Não responda, nunca reclame.

A autorização do Ariano

A adaptação logo aceitou

O Grupo Circo Sem Pano

Logo em seguida montou

Obedecendo ao Velho Mestre

Que a tudo encantou.

Primeira parte terminada

Pra segunda vou partir

Falando do nosso Auto

Que deixou se permitir

Vinte anos de história

De vez em quando ressurgir.

FIM

João Pessoa-PB, 25 de setembro de 2017.

AUTO DA COMPADECIDA - (Segunda Parte)

Símbolo da nossa história

Ariano eternizou

Teve acesso à montagem

Com certeza ele gostou

Mesmo assistindo em vídeo

Ele então parabenizou.

É o Grupo de Teatro

Circo Sem Pano é conhecido

Já montou diversas peças

Mas pelo Auto é reconhecido

Um espetáculo paraibano

Para nós bem merecido.

Já ganhamos tantos prêmios

Em festivais pelo país

Em Congonhas lá em Minas

O público ficou feliz

Arrancamos gargalhadas

Era pra ganhar o povo diz.

Fomos para São João

Por nome Nepomuceno

Levamos todos os prêmios

Trabalho bom que merecemos

Voltar a São João

Nós todos pretendemos.

O ator ítalo Rômany

Foi destaque do Festival

Revelação como ator

Interpretação sensacional

O espetáculo como um todo

Foi muito mais do que legal.

Já nos apresentamos

Nos teatros da cidade

O ator Israel Ferbar

É só pura vaidade

Desde dois mil e doze

É o Bispo de verdade.

Este ator é engraçado

Encarnou o personagem

O pior é que a sobrancelha

É piada de maquiagem

O público que está presente

Ver-se logo essa imagem.

Alagoa Grande a cidade

De Jackson nos mereceu

No Caminho do Frio

O grupo lá apareceu

Auto da Compadecida

No Santa Inez aplauso recebeu.

Em Guarabira com muita honra

Geraldo Alverga em atividade

Auto se apresentando

E a plateia sorrindo de verdade

O grupo entrevistado

E o apoio da sociedade.

Lagoa de Dentro

Bem no meio da praça

Não deu para o Auto

Não há como ter graça

Lembrando do que houve

Acho que foi até pirraça.

Uma festa na cidade

E o espetáculo mal divulgado

O povo queria beber

O Auto sendo encerrado

Uma pena disse alguém

Um segurança soldado.

Sindsprev já deu apoio

Sindifisco acompanhou

Durante a montagem do Auto

Somado ao que o grupo gastou

Mas bem vinda são as finanças

Que no caixa do grupo entrou.

Hermano Queiroz é ator

Do Major e Severino

É cangaceiro da peste

E no grupo fez seu destino

Brevemente vem a volta

Mística que envolve desatino.

Ericsson Marques já fez parte

No elenco de cangaceiro

É um ator experiente

Texto na língua certeiro

O espetáculo é criativo

É caco o dia inteiro.

Se aqui eu fosse botar

Nomes que fizeram parte

Da história do espetáculo

Não daria pra esta arte

Se acaso eu esqueci

Por João Grilo você me trate.

Vamos gente se lembrar

Premio da Mostra Estadual

Primeiro lugar no popular

Fomos destaque no Festival

Concorremos com várias peças

Mas para nós foi só o grau.

Muita gente já passou

Hoje é outra profissão

O espetáculo agradece

Bem fundo do coração

Por tudo que eles fizeram

Na nossa apresentação.

Uma foi embora

Pra nunca mais voltar

Nosso querido Kleyton

Cruz que foi brilhar

No céu junto dos astros

João Grilo foi encontrar.

Um ator de primeira linha

Que tão cedo nos deixou

Quando fizemos a peça

Ele logo se mostrou

Um talento tão sensível

Desse grande ator.

HBI entrou na linha

Faz a nossa produção

Uma equipe de seriedade

Que trabalha com dedicação

Já produziu temporadas

E espera nova ação.

Já fiz experiência

Lá no Curso de Teatro

Montagem Teatral é o nome

E agora faço o relato

Muito bom o espetáculo

Como sempre num único ato.

No Theatro Santa Roza

Nossa primeira apresentação

Depois veio Lima Penante

Foi pra nós grande emoção

Em seguida Paulo Pontes

Casa lotada fez emoção.

Tem muita apresentação

Que vem até o próximo ano

Espero contar com o elenco

E criar quem sabe um plano

Eternizar o Auto

No Teatro Circo Sem Pano.

E aqui termina a história

E tem muito mais pra se contar

O cordel que contou esta

Com certeza vai esperar

Novas histórias deste grupo

Que tem o Auto se apresentar.

F I M

João Pessoa-PB, 25 de setembro de 2017.

BIU BESTA - (Parte I)

Severino de Lisboa

Era filho de Portugal

Em 1816 veio ao Brasil

Num navio sentimental

Vejamos esta história

De alguém tão anormal.

O pai de Severino era

Devoto de São Tomé

Casado com Joana Flores

Dançarina de cabaré

Ele veio em missão

Ensinar uma nova fé.

O pai dele e a mãe

Ficaram de orelha em pé

Queriam saber o motivo

Usando o nome da fé

Porque Severino crescia

E nada de falar em mulher.

Os dias se passavam

E Severino distante

Procurou o tal Celestino

Pra arrumar uma amante

Mas Celestino desconversou

Falando que era errante.

Severino ficou com raiva

E de casa não saiu

O pai ficou preocupado

Com as coisas do Brasil

Deu nele uma surra

E ele depressa escapuliu.

O danado se escondeu

Dentro de uma aldeia

O nativo deu a ele

Mel e sopa de aveia

Depois o Severino

Se apaixonou pela sereia.

A sereia era o encanto

Que o povo oferecia

Água limpa dos rios

E tudo que o amor sentia

Severino ficou triste

E voltou no mesmo dia.

Quando ele chegou em casa

Levou um grande sermão

Seu pai pediu desculpas

E lhe estendeu a mão

Severino ficou contente

Com a nova união.

No outro dia bem cedo

Severino foi à feira

Vender cabeça de bode

Na cintura uma peixeira

Ficou bem defronte

De um pé de oliveira.

Nenhum bode vendeu

E seu pai lhe perguntava

O que tinha acontecido

Se todo mundo gostava

Daquela carne de bode

Que o povo alimentava.

Severino não respondeu

E uma surra ele levou

O pai tirou o bode

E outra coisa levou

Um gamão para jogar

E pra feira ele voltou.

De novo chegando à feira

Foi depressa enganado

Compraram o seu gamão

E não deram nenhum trocado

De novo voltando à casa

Um apelido lhe foi botado.

Nascia naquele momento

Na história do meu Brasil

Qualquer Severino seria

Logo chamado de Biu

Foi assim que este nome

O apelido, enfim, consumiu.

A partir daquele instante

Biu ficou sendo Severino

E depois só por maldade

Besta foi seu desatino

Biu Besta do passado

Hoje trava o seu destino.

No interior de antigamente

Biu Besta era falado

Não havia dicionário

E ser besta era anotado

Biu Besta sem futuro

No Brasil ficou marcado.

Quem primeiro escreveu

Foi o folheto de cordel

Manoel Camilo dos Santos

Que hoje mora no céu

As Palhaçadas de Biu

Pelas mãos do menestrel.

A história virou lenda

No Cariri, Brejo e Sertão

No Agreste, Litoral

E causou grande emoção

Quando se falava em Biu

O Besta vinha na direção.

Biu Besta vendia Bode

Na feira do Reinado

Um dia sem entender

Ficou lá bem descuidado

A princesa portuguesa

Mandou o seu recado.

Disse praquele guarda

Que tirasse o vendedor

Mandasse ele pra longe

Porque ela nada gostou

E Biu saiu dizendo

Que ela, dele gostou.

O guarda lhe deu uma pisa

E o peste saiu correndo

O bode ficou na feira

Sujo, ficou fedendo

E Biu chegando em casa

Em tudo foi se batendo.

A mãe sem entender

E o pai ainda mais

Não fizeram nada com ele

Já era um pobre rapaz

Fazia tudo errado

E aprontava demais.

Biu depois do susto

Falou de tanta riqueza

Disse para o pai dele

Que tinha muita grandeza

O guarda foi enviado

A pedido da princesa.

Que o pai fosse com ele

A mão dela pedir

Que ela se apaixonou

Com aquele seu sorrir

E a mãe inconformada

Disse: Filho deixe de mentir.

Celestino o Professor

Foi depressa falar

Com aquele Biu Besta

Que queria se encontrar

Com a nobre filha do Rei

Que na feira foi olhar.

Biu ficou inconformado

E disse que ia sozinho

Conhecer a sua noiva

Com aquele belo rostinho

Estava muito envolvido

E queria o seu carinho.

O pai fez uma promessa

E São Tomé atendeu

Deixou Biu de castigo

E quase que morreu

Só pensando na princesa

Que ele na feira conheceu.

Biu Besta pegou o bode

E foi na feira vender

Quando estava vendendo

A moça foi aparecer

Mais bonita que a primeira

Fazendo Biu esmorecer.

Quem devia não pagou

E Biu deu um chauzinho

A moça do seu reinado

Jogou aquele lencinho

Biu ficou abestalhado

Se achando o amorzinho.

Ele voltou pra casa

E ficou sem explicação

Não vendeu nenhum bode

Mas tinha animação

Falava daquela moça

E queria a permissão.

Ir direto no palácio

E falar a ela noivado

Queria ir com o pai

E foi com isto surrado

O Biu Besta sofria

E vivia sempre amuado.

Em matéria de amor

Biu era desajeitado

A moça que botasse olho

Ele queria logo noivado

Em tudo que ele fazia

O povo chamava: - Abestado!

Quando alguém faz algo

Que dá numa leseira

De Biu Besta é chamado

Nesta terra brasileira

Mas foi lá em Portugal

Que nasceu esta porqueira.

FIM

João Pessoa-PB, 01 de fevereiro de 2009.

BIU BESTA - Parte II

Severino de Coimbra Lisboa

Era filho de Portugal

Em 1816 veio ao Brasil

Num navio sentimental

Vejamos esta história

De alguém tão anormal.

O pai de Severino era

Devoto de São Tomé

Casado com Joana Flores

Dançarina de cabaré

Ele veio em missão

Ensinar uma nova fé.

Severino foi o terceiro

Desta família portuguesa

Que tinha vindo ao Brasil

Em busca de muita riqueza

Explorou uma grande aldeia

Desconhecendo sua grandeza.

Severino tinha seis anos

Quando aqui ele chegou

Trouxe na consciência

Muita saudade do que passou

Conheceu muito nativo

E muita bobagem aprontou.

A mãe de Severino era

Uma artista de primeira

Queria ensinar a dança

A toda nação brasileira

Mas o nativo já tinha

A sua cultura verdadeira.

Severino já com dez anos

Queria ser dançarino

Ficar ao lado da mãe

E não tocar mais o sino

Que seu pai tanto queria

Pro seu filho, o destino.

O pai era um beato

E vivia catequizando

Mas Severino queria

Ficar sozinho dançando

Não queria seguir o pai

Quando ele estava orando.

O pai não tolerava o filho

Ser assim daquele jeito

Pensou em ele ser padre

Porém, é este o defeito

Querer impor em tudo

E dar um novo conceito.

Nem uma coisa nem outra

Agradou aquele menino

Queria ser um poeta

Igualzinho ao nordestino

Acabou vendendo bode

Já era um clandestino.

O amigo da família era

O fiel e nobre Professor

Por nome de Celestino

De Severino ele cuidou

Mas o peste do menino

Nunca nada acertou.

Celestino foi o professor

De toda aquela aldeia

Quem desobedecesse

Na hora ia pra peia

Ensinava matemática

Até na hora da ceia.

Severino não aprendia

E tinha grande dificuldade

Errava muito na conta

Dizendo sentir saudade

A mãe levava pra reza

Na casa de Soledade.

Severino ficou curado

E não quis mais estudar

Celestino não entendeu

E foi ao seu pai explicar

Falou então, daquele ato

E como podia mudar?

Esse diálogo foi em vão

E de nada adiantou

Severino foi para feira

Exercer ser vendedor

Bode tinha de sobra

E ligeiro ele negociou.

O pai dele e a mãe

Ficaram de orelha em pé

Queriam saber o motivo

Usando o nome da fé

Porque Severino crescia

E nada de falar em mulher.

Os dias se passavam

E Severino distante

Procurou o tal Celestino

Pra arrumar uma amante

Mas Celestino desconversou

Falando que era errante.

Severino ficou com raiva

E de casa não saiu

O pai ficou preocupado

Com as coisas do Brasil

Deu nele uma surra

E ele depressa escapuliu.

O danado se escondeu

Dentro de uma aldeia

O nativo deu a ele

Mel e sopa de aveia

Depois o Severino

Se apaixonou pela sereia.

A sereia era o encanto

Que o povo oferecia

Água limpa dos rios

E tudo que o amor sentia

Severino ficou triste

E voltou no mesmo dia.

Quando ele chegou em casa

Levou um grande sermão

Seu pai pediu desculpas

E lhe estendeu a mão

Severino ficou contente

Com a nova união.

No outro dia bem cedo

Severino foi à feira

Vender cabeça de bode

Na cintura uma peixeira

Ficou bem defronte

De um pé de oliveira.

Nenhum bode vendeu

E seu pai lhe perguntava

O que tinha acontecido

Se todo mundo gostava

Daquela carne de bode

Que o povo alimentava.

Severino não respondeu

E uma surra ele levou

O pai tirou o bode

E outra coisa levou

Um gamão para jogar

E pra feira ele voltou.

De novo chegando à feira

Foi depressa enganado

Compraram o seu gamão

E não deram nenhum trocado

De novo voltando à casa

Um apelido lhe foi botado.

Nascia naquele momento

Na história do meu Brasil

Qualquer Severino seria

Logo chamado de Biu

Foi assim que este nome

O apelido, enfim, consumiu.

A partir daquele instante

Biu ficou sendo Severino

E depois só por maldade

Besta foi seu desatino

Biu Besta do passado

Hoje trava o seu destino.

No interior de antigamente

Biu Besta era falado

Não havia dicionário

E ser besta era anotado

Biu Besta sem futuro

No Brasil ficou marcado.

Quem primeiro escreveu

Foi o folheto de cordel

Manoel Camilo dos Santos

Que hoje mora no céu

As Palhaçadas de Biu

Pelas mãos do menestrel.

A história virou lenda

No Cariri, Brejo e Sertão

No Agreste, Litoral

E causou grande emoção

Quando se falava em Biu

O Besta vinha na direção.

Biu Besta vendia Bode

Na feira do Reinado

Um dia sem entender

Ficou lá bem descuidado

A princesa portuguesa

Mandou o seu recado.

Disse praquele guarda

Que tirasse o vendedor

Mandasse ele pra longe

Porque ela nada gostou

E Biu saiu dizendo

Que ela, dele gostou.

O guarda lhe deu uma pisa

E o peste saiu correndo

O bode ficou na feira

Sujo, ficou fedendo

E Biu chegando em casa

Em tudo foi se batendo.

A mãe sem entender

E o pai ainda mais

Não fizeram nada com ele

Já era um pobre rapaz

Fazia tudo errado

E aprontava demais.

Biu depois do susto

Falou de tanta riqueza

Disse para o pai dele

Que tinha muita grandeza

O guarda foi enviado

A pedido da princesa.

Que o pai fosse com ele

A mão dela pedir

Que ela se apaixonou

Com aquele seu sorrir

E a mãe inconformada

Disse: Filho deixe de mentir.

Celestino o Professor

Foi depressa falar

Com aquele Biu Besta

Que queria se encontrar

Com a nobre filha do Rei

Que na feira foi olhar.

Biu ficou inconformado

E disse que ia sozinho

Conhecer a sua noiva

Com aquele belo rostinho

Estava muito envolvido

E queria o seu carinho.

O pai fez uma promessa

E São Tomé atendeu

Deixou Biu de castigo

E quase que morreu

Só pensando na princesa

Que ele na feira conheceu.

Biu Besta pegou o bode

E foi na feira vender

Quando estava vendendo

A moça foi aparecer

Mais bonita que a primeira

Fazendo Biu esmorecer.

Quem devia não pagou

E Biu deu um chauzinho

A moça do seu reinado

Jogou aquele lencinho

Biu ficou abestalhado

Se achando o amorzinho.

Ele voltou pra casa

E ficou sem explicação

Não vendeu nenhum bode

Mas tinha animação

Falava daquela moça

E queria a permissão.

Ir direto no palácio

E falar a ela noivado

Queria ir com o pai

E foi com isto surrado

O Biu Besta sofria

E vivia sempre amuado.

Em matéria de amor

Biu era desajeitado

A moça que botasse olho

Ele queria logo noivado

Em tudo que ele fazia

O povo chamava: abestado.

Quando alguém faz algo

Que dá numa leseira

De Biu Besta é chamado

Nesta terra brasileira

Mas foi lá em Portugal

Que nasceu esta porqueira.

FIM

João Pessoa-PB, 01 de fevereiro de 2009.

O FILÓSOFO BIU CABEÇA DE BOI (Primeira parte)

Não me digam o que devo

Nem o que posso fazer

Falar sério nunca me atrevo

E se falo é por merecer

É como a montanha e seu relevo

Caminhar por ela ao amanhecer.

Se acordar cedo nos faz bem

Acordar tarde nos dá satisfação

Eu sei que você sabe também

O valor de cada determinação

É como do católico o amém

Ao término de uma oração.

Só assim se forma a personalidade

Do homem e da mulher

Os dois se casam pela vontade

Se separam em nome da fé

Cada um é somente verdade

Como o preto estampado do café.

No entanto sem muita porcaria

É de Biu que vou falar

Um cabeça de boi da filosofia

Que viveu pelo mundo a pregar

E ser fã do Biu virou mania

Eu sei de tudo porque estava lá.

Numa palestra na Amazônia

Estando Biu com vinte anos

Seu pai que era da Polônia

Não gostava do filho os planos

Dava-lhe conselhos, tinha insônia

Porém, havia muitos desenganos.

Na palestra, Biu um tanto escroto

Abordou acerca da alimentação

E foi logo dando um arroto

Dizendo que era da digestão

- “Pena que o bucho fica torto”

Era o início de toda dissertação.

O público ria e delirava

E Biu todo sorridente dizia:

- “Que feliz o homem que corneava

E não a companheira que isto fazia”

Uma feminista ouvia e não gostava

No microfone a palavra pedia.

Só que o povo já estava com Biu

Gostava dele e fosse o que fosse

Um dia, não sei aonde, ninguém viu

Uma linda jovem lhe trouxe

Um ramalhete de flores que sumiu

Trocou ele por uma lata de doce.

Não gostou a moça que deu

Mas, Biu novamente filosofou

Porque ele era filho de Prometeu

E vendo uma rosa que logo murchou

Fez dela doce que era seu

E não um presente que nunca gostou.

A dama com os lábios enfurecidos

Partiu pra cima de Biu e tome beijo

E este com ajuda dos enfurecidos

Tascou-lhe outro que era do cortejo

Dizendo que ódio e amor são parecidos

E que senhorita furiosa é puro desejo.

A platéia foi a maior risadagem

Biu se sentia o próprio patrono

Abordou em torno da pabulagem

E foi dizendo assim do seu trono

Que pabuloso tinha muita coragem

Entregar a patroa pra outro dono.

Todos rindo daquela situação

Um homem não atento ao que ouviu

Se retirou e provocou confusão

- “Cabeça de Boi é esse Biu

Que fala sem ter noção

Por isso o teu amor nunca existiu”.

Houve um embate imundo

Biu se batizou e imediatamente

- “A partir de hoje neste mundo

Sou Biu Cabeça de Boi, decente

Nunca serei muito profundo

Apenas direi o que vem da mente” .

Um senhor de pouca visão

De um livro a página abriu

E chamando Biu na ocasião

E este com esta logo saiu

disse ao homem feito aberração

Tu és a água do meu cantil.

Assim Biu por onde palestrava

A filosofia andava por toda cabeça

O sexo feminino às vezes se zangava

É que Biu por algo que pareça

Dizia cada uma que lascava

- “Mulher do outro nem que se ofereça”.

Quem devia ficou furiosa

E Biu saiu-se com essa de novo

- “Se tem pecado a vida é gostosa

Se não tem ela é apenas falação

Melhor pecar como uma dengosa

Como a clara e a gema da ovulação”.

Os participantes deram gargalhadas

E o orador continuou a pregação

As dondocas ficaram revoltadas

Como Biu tinha aquela conclusão

E foi pau pra cima das mal amadas

Um levante pra lá de confusão.

A filosofia de Biu causava insensatez

Senhoras em plena loucura

Ao ouvir do profeta certa vez:

- “Que mulher bonita é doçura

As feias perdoassem a altivez”

Causando rebuliço e muita frescura.

Mesmo assim continuava palestrando

O movimento feminista impôs respeito

Mas Biu cada vez mais se mostrando

Dizia que “não gostar é um direito

E se eu falo o que estou pensando

É porque a frase surte efeito”.

Biu Cabeça de Boi já era um mito

Por onde andava multidões aplaudiam

Fosse homem, mulher, e tome grito

Moças e rapazes se agrediam

E Biu de longe ficava muito aflito

Com tudo aquilo que seus olhos viam.

No Paraná, numa palestra na Federal

Biu desafiou a lei da gravidade

Quando foi medicado, passou mal

Veio a terminar, mas que maldade

Biu de cabeça pra baixo era normal

O palestrante queria vencer a crueldade.

De tipóia no pescoço pendurada

Declamava versos de Camões

Imaginem a cabeça de Biu lascada

Em cima de um piso cheio de rachões

E o público alvo era uma rapaziada

Toda gaiata e cheia de palavrões.

Biu olhou pra um caro estudante

Fixou seu olhar e chamou o reitor

E este estava tão distante

Desta feita, pasmo, não gostou

A estudantada toda pedante

Fez pergunta e se atolou.

Uma ouvinte que não era paranaense

Quis desafiar Biu e fez uma aposta

Se Biu com aquela cabecinha de piauiense

Se gostava de mulher ou se ainda gosta

Porque ela uma feminina cearense

Nunca tinha visto tamanha bosta.

Biu ficou rosado e calmamente

Saiu da posição em que se encontrava

Tirou a tipóia e assim inteligentemente

Perguntou se a fulana namorava

E por que o chamava de competente

Na frente de quem ela mais amava?

A jovem nada conseguiu entender

E Biu pegou o dinheiro na mesa

A aposta foi ganha, pode crer

E com a luz toda acesa

Deu um beijo naquele ser

E saiu ligeiro como energia da represa.

A nordestina mais tarde cai a ficha

Biu não tinha opção sexual

Às vezes macho, às vezes bicha

Na sua cabeça tudo era normal

Desde que não se tivesse rixa

Tudo era visto de maneira natural.

Fora convidado para o exterior

E lá chegando grande era a recepção

Faixas grafadas de puro louvor

Aclamavam Biu e toda comissão

A palestra seria em defesa do amor

Nada melhor do que Biu na apelação.

As mulheres de Atenas chiaram

E caladas elas foram se retirando

Biu falando grego os gatos piaram

As corujas miaram e se arrastando

Pombos e pombas se agitaram

Mas ele nem aí, ia terminando.

Da Grécia para o Egito

Biu estava no auditório

O ditador que era de conflito

Solicitou de Biu ida ao consultório

Passar para ele as leis do grito

E Biu foi direto ao ambulatório.

Tomou injeção e remédio na boca

Conheceu uma egípcia e ficou vidrado

A dama que falo era de idade pouca

E ela queria presenciar o resultado

E deu a Biu uma horrível sopa

Que Biu cuspiu tudo ao lado.

Findo aqui a primeira parte

Deste cabra de valor

Que engrandece a cultura

Sem deixar nenhum pudor

Por onde o bicho passa

Tem alguém que se lascou.

FIM

João Pessoa-PB, 15 de agosto de 1990.

O FILÓSOFO BIU CABEÇA DE BO - (Segunda Parte)

No mundo das palestras

Biu enfrentou até a morte

Tudo que pronunciava

Tinha o poder muito forte

O que ganhou fazendo isso

Vejamos a sua sorte.

Uma palestra suspensa

De mala e cuia partiu

Direto para o Japão

Chegando o teto caiu

O melhor era fazer

Voltar de novo ao Brasil.

Ao chegar o bicho teve descanso

Foi pra uma praia deserta orar

E lá fez amizade com muito ganso

E uma tese inteira fez brotar:

-“Por que aquele bichinho era tão manso

E qual hora melhor de se alimentar?”

Os gansos eram inteligentes

E provocaram Biu numa discussão

Ambos ficavam arreganhando os dentes

Aí, Biu gravou dos gansos toda a ação

E foi na praia com os dementes

Lavar a alma e pedir explicação.

Biu resolveu um ganso provar

Levou à panela e comeu fresquinho

Os restantes nunca quis lhe procurar

E Biu, hospedava um colarinho

Era comendo, escrevendo, tudo anotar

Foram férias regadas a gansos e vinho.

A ilha era apenas de Biu

E ele passou tempo além

O que não foi visto, sumiu

Felicidade o ganso não tem

Conclusão de quem gosta de pernil

Sal e brasa e cachaça também.

Mensagens eram recebidas

E respostas nunca dadas

E assim Biu deixa entristecidas

As pessoas das arquibancadas

Que lhe esperavam, enlouquecidas

E assim o melhor de todas as chegadas.

Soltaram fogos de artifício

Bandas de inversão de valores

Bailarinas dançando no edifício

Chamavam Biu de “meus amores”

E este tremia até o orifício

De entrar no estádio cheio de dores.

O governador anuncia a presença

E Biu cheio de vaidade começa

Agradece a quem tem crença

O governador sai às pressa

O prefeito de olho na imprensa

Ouve tudo que lhe interessa.

O delírio foi tamanho

O espectador ficou chateado

Biu saiu e foi-se um rebanho

O prefeito sendo fotografado

Biu depressa caiu num banho

Estava sujo e um cheiro enjoado.

Viajou Biu pras terras de Leonardo

Dar cursos e receber muito dinheiro

Decifrar a Lisa em papel pautado

E assim voltar do estrangeiro

Com fama de sujeito arretado

Valor indiscutível de ser brasileiro.

Na Itália falou de Pedro paraibano

Pintor do quadro do Grito do Ipiranga

E quase que entrou pelo cano

Porque Da Vince ficou sem tanga

Biu apenas dizia: “Aquele fulano”

Os romanos putos ficaram de zanga.

Isso ainda é pouco, eu sei

Direto pra França num vôo fretado

Biu condecorado, “nunca pequei”

Dizia ele a quem tivesse perguntado

E assim um francês que falar não deixei

Quase que mata Biu, abraçado.

Voltou à América e nesta ocasião

Estava na Argentina pregando

E Kempes já ruim do coração

Fazia perguntas e ia se lascando

Cada tirada de Biu era uma aflição

A família de Gardel foi se retirando.

”Os explorados da Espanha

Não pronunciaram ser vaiados

Eles são cheios de manha

Parece que são ensinados

A curar da cachola toda chanha”

E assim Biu fechou esses recados.

Voltou daquele país, sorridente

E muito dinheiro do Leste Europeu

Já caçou e foi caçado pela serpente

Mas foi aqui na Casa de Dona Memeu

Que nunca se via tristeza, só contente

Neste ambiente prazer Biu prometeu.

Onde ia cabeça de boi tinha que falar

E a multidão ficava só na espreita

Vendo seu palavreado comentar

Silenciar platéia que respeita

Disse Biu: “Estou a fim de chamegar”

E parece que foi coisa feita.

Uma loura de cabelos amarelados

Unhas vermelhas e sorriso artificial

Dava beijo em Biu daqueles estalados

De longe se ouvia o que não era normal

Aí o casal feito dois apaixonados

Foram beber e Biu se deu mal.

Acordou no outro dia cabaleando

A dançarina escapuliu e ninguém viu

E Biu lascado e com a situação frescando:

- “Da peste só conheci o pipiu”

E dele mesmo ia zombando

Imaginem o que pegou o mestre Biu!

Biu sabedor do acontecimento

Botou a boca e começou a refletir

Como era que ele dotado de conhecimento

Podia naquela tentação cair?

E caindo dissertou sobre o envelhecimento

Melhor hoje porque posso fugir.

Partiu pra Lisboa e muito tempo ficou

E quando na Amazônia fez morada

Lá mesmo muito tempo gastou

Tinha casa e uma índia namorada

Esta um par de chifre lhe botou

Novamente Biu gargalhou da presepada.

A índia mesmo assim quis ficar

Mas, ele muito macho, disse não

A infelicidade começou a reinar

Pajés colheram ervas da maldição

Fizeram trabalho que suspende o falar

E Biu quase se lasca do pulmão.

Da Amazônia nenhum comentário

Tinha ignorância e algo mais

Não dormia e se via sagitário

Era uma espécie de perda de paz

Vinganças de um tal sexagenário

Enquanto Potira muita falta lhe faz.

Biu mesmo assim se casou

Com uma senhorita cheia de tesão

Mas ele sem fôlego um dia pifou

E ela amiga e de herança na mão

Disse: “Será que tu não gostou

Da gostosura do meu vulcão?”

E foram muitas safadezas

Daqueles dois condenados

Ela plebéia das redondezas

Ele um ícone dos afamados

E na loja das miudezas

Muitos presentes eram comprados.

Biu Cabeça de Boi muito sofria

Solicita-se desde já, tratamento

Lá estava ele quase todo dia

E depois de todo sofrimento

Hemodiálise virou simpatia

No hospital com reconhecimento.

Mas se morrer fosse preciso

Sangue não topava doação

Mesmo precisando não estava indeciso

Jamais sangue naquela condição

Não deixava de dar seu habitual riso

Quanto mais ria mais penava o coração.

A situação piorou e Biu tremendo

O medo era um tanto enorme

E sendo assim, Biu foi morrendo

E pra sua morte exigiu um uniforme

Contando o que estava acontecendo

E a população em si sem um conforme.

No entanto, como resolver tudo aquilo?

Porque perder Biu não era agradável

Ele brincando dizia que era um esquilo

Perfurador de sonhos e amável

E depois das asneiras caía no cochilo

Deitado no tálamo pro suspiro terminável.

Se hospitalizou definitivamente

A situação era pra lá de séria

Constatou-se um nódulo impertinente

Como também uma outra bactéria

Tudo isso assim tão de repente

Lascando Biu logo pela artéria.

E já próximo do seu leito derradeiro

Acompanhado de tanta gente de bem

Biu suspirou e consigo veio o berreiro

E ele diz: “Que mulher é como xerém

Vai uma e vem cem”, fez-se o bagunceiro

Fechando os olhos e não vendo mais ninguém.

Assim se finda um mito

Filósofo que aqui passou

Mesmo sendo retórico

Era um ente de puro amor

Homenagear este cabra

É fazer dele o teu valor.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de março de 2000.

MANÉ DE TIA CHICA - (primeira parte)

Estou escrevendo de novo

Este cordel que deletei

Ficou na memória

Mas ou menos assim comecei

E pra encurtar a história

Vamos ver o que farei.

Mané de Tia Chica

Era rico e bagunceiro

Sua vida de menino

Era um bicho encrenqueiro

Apontava o destino

Do cabra presepeiro.

Levava vantagem em tudo

Nas pequenas coisas da vida

Filho de Sinhá Zefinha

Mané de mente poluída

Filho de Chico de Biuzinha

Era zanga ao perder a corrida.

Dona Zefinha morreu

Juntamente com Seu Chico

Criado por Tia Chica

Fazendeira da Tico-Tico

Brincava quando criança

Era assim Mané de Passarico.

Passarico era redondeza

Do Major Francisco Matia

Homem rico e da sociedade

Brabo no medo da valentia

Sério e de falar verdade

Dava em Mané todo dia.

Mané era esperto

Rico que só vendo

Não tinha sorte no amor

O coração fica logo sofrendo

Falar disso é causar dor

E Mané tá quase morrendo.

Quando pequeno Mané

Brigava e dava em menino

As queixas eram diárias

E tome surra no cretino

Coitado daquele Mané

Vivia batendo sino.

Dona Chica, coitada

Gostava demais de Mané

Mas este era levado

Dava tia olé

Perverso e malcriado

Só queria ser Pelé.

Fazia aposta e ganhava

E quando perdia ninguém via

De olho numa bela senhora

Mané entrava numa agonia

Quando soube lhe deu um fora

Quase morre de pneumonia.

Deu um nó no rabo

De vaca que tava prenha

O pai puxou a orelha de Mané

E esse se meteu na brenha

Recebeu cascudo e pontapé

Rezo a Nossa Senhora da Penha.

Chico de Biuzinha

Não era nome verdadeiro

Assim era mais conhecido

Francisco Matias Brasileiro

Não sei por que tal apelido

Do pai do presepeiro.

Não sei o nome da sua mãe

Mas pouco importa no momento

O personagem principal é Mané

Ver como se deu seu nascimento

Tenho que ficar de pé

Pra contar o acontecimento.

Mané não era filho legítimo

De Chico e de Zefinha

Foi encontrado numa sacola

Trocado por uma galinha

Por um homem que pedia esmola

Na porta da comadre vizinha.

O casal não tinha filho

E Mané era o único herdeiro

Dona Zefinha cuidadosa

O batizou de Manoel Matias Brasileiro

Cuidou do rebento, tão jeitosa

Mas não tinha jeito o encrenqueiro.

O batizado de Mané foi coisa

Pra ninguém botar defeito

Quem a fez foi uma empresa

E Mané já era sem jeito

Dez cabeças de gado na mesa

E Mané pedia rejeito.

Cagou na roupa do padre

Mijou na madrinha Nonô

E berrou feito um jumento

Pra ele parar com o chororô

Teve a bênção do Papa Bento

E da entidade Xangô.

Mané crescia bonito

Sadio e filho de fazendeiro

E era natural que o safado

Fosse tão desordeiro

Talvez fruto do pecado

Das invasões do estrangeiro.

Falo em desordem

Porque é assim que vejo

Mané aprontava na fazenda

E soltou na casa percevejo

Tocou fogo dentro de uma venda

E disse que era seu desejo.

Quando o pai sabia

Era peia no lombo

E Mané como desentendido

Fez uma égua cair no tombo

Não era mais que atrevido

O telhado ficava um rombo.

Ninguém mais aguentava

Daquele menino as safadezas

Não tinha surra que resolvesse

Mandava de volta às profundezas

E se ele um dia merecesse

Talvez tivesse todas as riquezas.

O assunto é sério

E não saiam da leitura

Isso é o que captei

De Mané tanta frescura

Nem sei se me lembrei

De contar mais uma loucura.

Já falei da sua infância

E agora peço atenção

Levando vantagem em tudo

Vivia assim o molecão

Crescidinho e todo parrudo

Atrevido e brigão.

Não tinha pai e nem mãe

Tia Chica logo lhe adotou

E Mané nunca queria perder

Não tinha sorte no amor

Aprontava sem ver pra crer

Resultado disso a dor.

Pois é, tanta riqueza

Tanta loucura por nada

O cabra era um sem sorte

Mané logo deu uma olhada

Uma menina vinda do Norte

Quis ser sua namorada.

Mas quando dela se aproximou

Ela se fez de mal entendida

Pediu segurança ao pessoal

Em Mané grande ferida

O bicho levou um pau

Era safada a atrevida.

Não tinha desse mundo

Que Mané não botasse o olho

Mas não tinha sorte o sujeito

Lhe chamaram até de Chico Piolho

Nele a dona botava defeito

Porque o bicho comia repolho.

Tanta riqueza pra nada

E a personalidade sendo formada

Mané queria vida boa

No amor só dá mancada

E tava na cara daquela pessoa

Dele ninguém gostava.

Na idade de adolescente

Herdeiro dos brasileiros

Mané tomou as terras dos colonos

E eles saíram como forasteiros

Deixou todos em abandonos

Contratou até fuzileiros.

Quanto mais tinha

Mas Mané queria porque queria

Tinha banco na capital

Condomínio de mil casas na Bahia

Edifício de repartição federal

Mas lhe faltava a alegria.

E até hoje ninguém sabe

A falta de sorte no amor

Desse famoso Mané Matias

Mas seu coração não tinha valor

Criado e amado por uma tia

Na vida um sofredor.

Ficou mais rico

Do que sua Tia que lhe criou

Rios de dinheiro o bicho tinha

Seu passado lhe causa pavor

E até hoje não come galinha

Ninguém a razão do pavor.

Sua tia já velha

Passa tudo pro nome de Mané

E este ainda acha pouco

Fecha e doidos dão no pé

Quer um hospital de louco

Dentro uma capela de fé.

F I M

João Pessoa-PB, 09 de maio de 2001.

MANÉ DE TIA CHICA - (segunda parte)

Fez tudo isso e tranquilo ficou

É sangue de barata o cretino

Só pensa em riqueza e destruição

Mas é assim o seu destino

Sabe de toda reza e de oração

Mas lhe falta coração de menino.

Quanto mais ganhava

Mas Mané queria ganhar

E quanto mais tinha dinheiro

Só queria na vida ganhar

Mandava pro estrangeiro

No banco alheio depositar.

Levava vantagem em tudo

Menos na questão do amor

Eu sei quem faz aqui paga

Que veio ao mundo só pro horror

Acho que ele era uma praga

Tinha guerra e nunca amor.

Mané não tinha mais ninguém

Vivia sozinho sem ser amado

Não tinha uma mulher nesse mundo

Desse chance aquele desgraçado?

Que pelo menos um segundo

Pelo mundo era amaldiçoado.

Tinha não, não tinha mesmo

O cabra era mesmo azarado

Nas coisas vindas do coração

Ao ver uma mulher ficava grudado

Ele não transmitia nenhuma emoção

De fato era um azarado.

Não tinha amigos, eu sei

Usava todos com pagamento

E não valorizava seus empregados

Entrava ano e não dava aumento

Todos eram mal tratados

Mané da pessoa era o sofrimento.

Sua tia já morta

Não tinha com quem falar

Era uma solidão sem fim

Tudo queria ganhar

Mas mesmo assim

Algum dia tem que pagar.

O tempo de criança passou

O tempo de menino foi-se embora

Mané já grande não conhecia paixão

Mulheres lhe davam um grande fora

Era um bicho espumando de solidão

Como cavalo na chegada da espora.

Cada dia Mané mais rico

Mais solidão em seu viver

Possuidor de bens incontáveis

E mandava todo mundo sofrer

Mas não ajudava aos miseráveis

Seu lema era ganhar e nunca perder.

Era ruim aquele cabra

Não valia uma cocada

Não queria saber de parente

Família tão desgraçada

Dizia que essa gente

Vivia de luxo e marmelada.

E a família toda triste

Apesar de todo mundo rico

Mas Mané era muito ingrato

Dizia – tome no butico

Com dez mil pares de sapato

Só dou a vocês meu tico-tico.

Tico-tico era um papagaio

Que nada falava

E já perto de morrer

Mané a todo mundo enganava

A família sempre a perder

E tico-tico somente chiava.

Era um palavreado sem dó

Daquele pobre infeliz

Achava que tinha poder no mundo

Falar nisso, Mané nunca quis

E numa sacola, bem no fundo

Dizia ao mundo ser feliz.

Ai daquele que falasse

Do seu passado de troca

Por uma galinha foi trocado

E hoje não passa de cobra choca

Pelo casal foi bem cuidado

Dizem que veio de Itapororoca.

Mané não confia em ninguém

Tudo passa pela sua mão

Ai daquele que ele desconfiar

Do cabra todo cunhão

Manda por inteiro capar

É verdade meu irmão.

Eu me pergunto, meu Deus

Mané, que tanto aprontou

Vai terminar este cordel

E as maldades que deixou?

Ganhando lugar no céu

Nada, porque o cabra pecou.

Pra frente é que se anda

Vamos ver no que vai dar

Se Mané pagará o prejuízo

Deixa esse povo falar

Mesmo no final do juízo

Vamos pra frente caminhar.

O bicho continuava aprontando

E desta feita numa aposta imensa

Ganhou vinte mil hectares de chão

Foi-se embora e nada de recompensa

Coitado do Chico do Riachão

Ficou só com uma imprensa.

Mané era ruim, não é verdade?

Não ajuda ninguém nessa vida

Vive só de lucro e luxo

Que lhe faça guarida

Mas não tem um relabucho

Que aponte agora uma saída.

Tem castigo maior

Do que viver desse jeito

Sozinho e dessa maneira

Mané tinha um defeito

E pra acabar a brincadeira

Mané ainda tem direito?

Pois é, quem faz aqui

Aqui mesmo faz o pagamento

Mané tinha um pequeno pinto

Morria de vergonha o nojento

Não vi, mas também não minto

Só sei que esse era o sofrimento.

Um dos empregados

Sabendo de toda essa verdade

Caboetou em toda a redondeza

Na descoberta daquela crueldade

Mané colocou toda a sua riqueza

A serviço daquela maldade.

Mané ficou pra lá de furioso

E viajou pra fora da Nação

Dispensou os empregados

Tomando conta do seu torrão

Deixou todos os delegados

Seguindo os passos do cidadão.

A notícia se espalhava

Rapidamente por toda cidade

Mané distante, quando iria voltar?

Com ele e sua vaidade

O povo queria mesmo era frescar

Dizer ao povo toda a verdade.

No estrangeiro, Mané

Arranjou uma norte-americana

Achando que Mané era abestalhado

A gringa ficou sem nenhuma grana

Desafiou aquele malvado

Depois a bicha foi em cana.

Não tinha jeito esse Mané

Em matéria de dinheiro

Não tinha quem dele ganhasse

Ai quem falasse em pistoleiro

Só não queria que ninguém matasse

Mané era mais que bandoleiro.

Mané mandava surrar

Apostava e ganhava aposta

Tomava terra e coisa e tal

E nunca caiu na bosta

Aspecto de um grande mal

Sua língua logo se encosta.

No estrangeiro ficando mais rico

Mané não sabia onde botar riqueza

Ficou sócio do Banco Mundial

E voltou ao país nos braços da nobreza

Deu um golpe num fulano de tal

Mané nos deu muita tristeza.

Manoel Matias foi eleito

Governador do Estado

Depois presidente da Nação

Um famoso coronel endieirado

Dono das terras de todo Sertão

O sujeito era endiabrado.

Mané ficou sendo

O indicador de toda politicagem

O chefe maior de toda eleição

Só pra prática da sacanagem

Fechou uma praia na região

E ali fez a sua paisagem.

Na política Mané era assim

Mandava botar e tirar

O cabra não tinha voz nem voto

Na parede ele mandava pregar

Quando falhava tome foto

E uma surra prometida dar.

A sacanagem era tanta

Que pra falar com Mané

O cabra só via de ano em ano

Mas ainda sem uma mulher

E tome tanto desengano

No povo dava somente olé.

F I M

João Pessoa-PB, 09 de maio de 2001.

MANÉ DE TIA CHICA - (terceira parte)

Eu vou abrir este cordel

Pra o público conhecer

Cada detalhe escrito

Precisamos perceber

Do que nós somos capazes

Fazer tudo reverter.

Pois nenhum amor na vida

Mané no coração possuía

A idade avançava de repente

E de fora muita gente via

E Mané parecia que não era gente

Tinha ruindade e calado sofria.

Quem pensava em passar a perna

Em Mané em algum momento

Tirasse o cavalo da chuva

Era um vinho no enchimento

Comprou toda plantação de uva

De um tal Mané de Bento.

Dono de fazendas de bovino

De uva, acerola e mamão

Fornecedor número um do café

E comprou as fábricas de todo Japão

Pagou toda propaganda do Rei Pelé

Com dinheiro vindo da plantação.

Era riqueza que não se acabava

E o povo ainda calado queria

Ficar frente a frente com Mané

Com aquele senhor viveria?

Perguntar por que nenhuma mulher

Com ele viver gostaria.

Mané dizer ser heterossexual

Preconceituoso até dizer basta

Era machista de marca maior

E assim talvez fosse a sua casta

Mas tinha aquilo cotó

Na sua mente vasta.

Ele espantava qualquer cristã

Com suas palavras de conquista

Era um jumento quadrado

Não tinha ninguém na lista

Em questão de ser amado

Não era nada de artista.

E o segredo de Mané

Bem perto da descoberta

Até porque era ainda donzelo

Que se escondia por trás da coberta

E tinha um pequenino pitelo

Não que isso não nos aperta.

Mané usava vinte pares

De cueca samba canção

Pra levantar a moral do bicho

Uma louca foi a opção

E numa festa lá em Carrapicho

A louca fugiu com seu calção.

Mané corria de um lado

A louca do outro corria

Mané gritava e pedia clemência

Confundiu Mané com vigia

A mulher em plena demência

Apontava Mané e a putaria.

Essa ficou na história

E pouca gente sabia dela

Mas Mané inteligente

E este voltou pra ela

Encheu o vigia de aguardente

E deu uma surra nela.

Mané era um azarado

Em toda questão de sentimento

No capital não existiu mais famoso

Deixou gente em sofrimento

E como Mané era guloso

Comprava até arrependimento.

Mané de tanto dinheiro que tinha

No próprio fazia conta

No banco que depositava

Só pra Mané fazer afronta

O juro cada vez aumentava

E de tanto a cabeça ficava tonta.

Desesperado com mulher

Mané queria aumentar o pinto

Foi pra Polônia fazer operação

Colocar outro no recinto

E era feia aquela situação

Se preocupava com o distinto.

Não havia condição

Não tinha dinheiro que pagasse

Aquele aumento de sexo

E Mané queria que aumentasse

Porque não havia nem reflexo

E dinheiro nenhum pagasse.

O pinto foi muito judiado

Amassado e deu uma doença

Mané dizia que pagava o que fosse

Era tarde, não tinha mais crença

E quando a biópsia o médico trouxe

Melhor tirá-lo aquela ofensa.

Não tinha como aumentar

O tamanho já era o bastante

O seu problema era na mente

Tamanho não é importante

Não no pinto da frente

Mas no que fica mais adiante.

Quando a ficha caiu de Mané

O tempo já era diferente

Seu passado não podia limpar

A ruindade causada a tanta gente

E foi na doença que veio a reclamar

Mané era um total demente.

Mané quis voltar a Passarico

Pagar todos os pecados

No lugar deserto e profundo

Pensava nos maus tratados

Lá nos cafundós do mundo

Pagar contas dos antepassados.

Quimioterapia Mané fez

E nada de cura se aproximar

Mané fazia promessa

De logo tão logo se curar

E tinha logo pressa

Pois de novo queria aprontar.

Mas nada é como a gente

De certa maneira quer

Tudo tem olho do divino

Se curou e se deu bem com mulher

E não é que aquele cretino

Na religião começou botar fé.

Abriu um lar pra criança

Um abrigo pra idoso

Dez escolas para os pobres

E foi viver com Anita Barroso

Recebeu dinheiro dos nobres

E o chamaram de Mané Gostoso.

Uma mulata vinda da África

Bonita que não tem por aqui

Botou o pinto pra funcionar

E Passarico quis reconstruir

Chegou um menino pra criar

E Mané começou a sorrir.

A infância estava naquele lugar

Na doença Mané se redimiu

Mas o filho que ele deixou

Na história Mané sumiu

Na política ele plantou

Ser do bem nunca se permitiu.

Anita herdeira de tudo

Juntamente com o filho

Melhor senhora da redondeza

Dinheiro não era empecilho

Ajudava a quem tinha pobreza

Florava na terra o milho.

Deu continuidade às obras

Administradora de mão cheia

Pedro Matias se meteu na política

Muito diferente do cabra de peia

Gostava de ouvir qualquer crítica

Mesmo vinda da boca de uma sereia.

Foi-se embora o Mané

Que perdeu muito tempo na vida

Em busca de riqueza sem valor

Conheceu a cicatriz de toda ferida

Teve que passar pelo caminho da dor

De cada uma fez despedida.

Estou me despedindo de novo

Deste cordel que tinha deletado

Pois resgatei um pouco do que sabia

Hoje já paguei esse pecado

Vejo em Mané muita euforia

E no leitor um grande desagrado.

Mandaram e-mail pra mim

E pedem clemência

Eu não respondi

Perdi a paciência

Esse Mané e a tia

Só ouvem sofrência.

Não quero cometer equívoco

E nem tampouco me esquivar

Sei que Mané não merece respeito

Não é bom nem falar

Mané tem lá o seu direito

E é melhor nós se calar.

E aqui com a permissão

De Mané e de vocês

Vou ficando por aqui

Que contei mais de uma vez

Aliviar meu coração

Dessa história eu sou freguês.

Vou terminar o que fiz

Com bastante alegria

Deixando o grande leitor

Na sua real primazia

Fazendo a reflexão

Neste tão bendito dia.

F I M

João Pessoa-PB, 09 de maio de 2001.

DESTINO DE SERIDÓ PELAS MÃOS DE BADARÓ - (Parte Primeira)

Há muitos anos atrás

Me contou Compadre Chicó

Havia entre as montanhas

Um cabra por nome Badaró

Criador de muita história

E dançador de carimbó.

Se a memória não falha

Inventou ele o futebol

Jogava toda manhã

Com bola feita de cipó

Nunca perdeu uma partida

Bem lembrou a minha vó.

A montanha era encantada

E tinha o nome de Jericó

Ninguém chegava tão perto

Pelo forte calor do sol

E quem isso arriscasse

Logo pegava um tersol.

Chicó tinha um motivo

Pra falar desse tal Badaró

É que toda sua família

Principalmente Pedro Bó

Morria tudo de medo

Quando cantava o rouxinol.

Esse pássaro quando cantava

Aparecia Dona Maria do Ó

Feito a cumade fulosinha

Que mete logo o cipó

Pois esta mulher encantada

Quase mata o Pedro Bó.

Quantas noites eu passei

Ouvindo aquele velho Chicó

Com suas belas histórias

Que me deixava na pior

Eu pensei ir na montanha

Mas tive medo do sol.

Badaró tinha uma casa

Rodeada de girassol

Até hoje sinto o cheiro

Quando chego num brechó

É que esta flor do campo

Não envelhece feito formol.

Houve uma briga interna

E o novo nome foi Seridó

A montanha se desenvolvia

É aí que está o nó

Houve depois uma guerra

E o vencedor foi Badaró.

Este homem era forte

E junto do irmão Pataxó

Tomou outras montanhas

E tirou de lá o sol

Trouxe pra ele a lua

Mas nada ficou melhor.

Naquela terra de dia

Se fazia bastante paletó

Uma fábrica gigante

Por nome de Cafundó

Exportava muita roupa

A preço de muito suor.

O trabalhador explorado

Queria um lugar ao sol

Levava pisa todo dia

A mando de Badaró

Era muito sofrimento

Como assim falou Chicó.

O nome de antigamente

Batizado de Jericó

Depois da guerra trocado

Pelo nome de Seridó

E já havia alguém dizendo

Que poderia ser Chapecó.

Mas o nome não vingou

Por força de Mororó

Irmão caçula do chefe

Que se chamava Badaró

Pois este jovem guerreiro

Queria de volta Jericó.

Dizia em alta voz

Sem muito borogodó

Que seu irmão não fizesse

Nada por si só

Que ouvisse aquele povo

Da sua terra Jericó.

Este fato engrossou

Quando chegou lá um espanhol

Vindo nas asas de um gavião

E trouxe consigo o voleibol

O povo aprendeu com a mão

A resolver logo aquele nó.

Badaró nada gostou

E expulsou logo o espanhol

Botou trezentos homens

Apontando para o feofó

Que deixasse aquela terra

A maior no futebol.

O espanhol deu uma carreira

E pegou logo um trenó

Desceu ladeira abaixo

E ficou com um braço só

Gritando alto dizia:

- Adeus querido voleibol.

A montanha produzia

Além da fábrica de paletó

Uma nova indústria

Invenção do caçula Mororó

Foi a maior investida

A produção de um tal lençol.

O paletó tinha um brilho

Feito de pele de mocó

Produzido em larga escala

Com o símbolo de Bozó

Uma marca respeitada

Vendida até pra Faraó.

O povo lá não plantava

E tudo vinha de Caxitó

Uma montanha pequena

Liderada por Rabicó

Que mandava o alimento

Em troca de lençol.

Caxitó declarou guerra

E chamou o líder de Bocó

Foi a guerra mais sangrenta

Vencida de novo por Badaró

Fez aquele povo escravo

E deu de presente a Mororó.

Mororó chegando lá

Criou logo um xilindró

Botar lá os revoltados

Pra morrer de colesterol

Dar muita massa ao preso

Pra depois ficar cotó.

Foi só pegar o poder

Que ele fez o forrobodó

Investiu na venda de terra

E fez de Joana o seu xodó

Mulher bonita da terra

Filha caçula de Rabicó.

Teve festa de casamento

E o padre foi João Curió

Que abençoou o casal

Na frente do velho Badaró

Que estava muito cansado

Com saudade do velho sol.

É que o dia era frio

E de vez em quando um tororó

Nascia, portanto a chuva

Que o batizou de Mongol

Era assim chamada a chuva

Nas terras de Badaró.

A produção industrial

Foi comprada pela minha avó

Não sei se é verdade

Dizia assim o velho Chicó

Que prendia a gente inteira

Fumando assim o seu boró.

Cada tragada que ele dava

Latia bem perto o cão Filó

De vez em quando chegava

Um delicioso pão de ló

Feito por Dona Santa

Irmã mais velha de Seu Chicó.

Zezinho todo atiçado

De posse de seu anzol

Dava uma risada tão grande

Que espantava o gato Jiló

Foi aí que de repente

Nasceu o caldo de mocotó.

Uma montanha mais distante

Por nome de Maceió

Havia nela um pensador

Conhecido por Capitão Mor

Invencível nas batalhas

Mas temia muito Badaró.

Lá se produzia muito

Feito da carne de socó

Uma comida muito gostosa

Por nome de mocotó

Foi isso que provocou

A ira maior de Badaró.

Parou a produção que tinha

E queria tomar Maceió

Porém não queria ir pra guerra

Mandou resolver o irmão Mororó

Foi aí que a coisa pegou

Tudo por causa de um mocotó.

O exército desta montanha

Liderada pelo cabo Cocó

Saiu lambendo os beiços

Querendo caldo de mocotó

Foi quando houve a vitória

Do famoso Capitão Mor.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de março de 2007.

DESTINO DE SERIDÓ PELAS MÃOS DE BADARÓ - (segunda parte)

Vou dando continuidade

Em ritmo de sibemol

Escrevendo o destino

Do famoso Badaró

Homem de antigamente

Na música do Tororó.

Badaró ficou furioso

Com a morte de Mororó

Prometeu vingança ligeiro

Praquele Capitão Mor

Que venceu a batalha

Do comando do cabo Cocó.

Depois de perder a luta

Já cansado o velho Badaró

Ordenou outra invasão

Na montanha de Cabrobró

Não sabia aquele velho

Que levaria a pior.

Pois quando chegou lá

A rezadeira Dona Dodó

Uma senhora de 90 vidas

Preparou um tal de cerol

Que colocou em cada pipa

E fez morrer o jovem Dicró.

Dicró era um guerreiro

Fazedor de bom paletó

Que quando tava na luta

Tomava chá de loló

Foi a pipa e o chá

Que sucumbiu o jovem Dicró.

Badaró não era o mesmo

E passou a jogar dominó

Ganhava toda partida

E o dinheiro de todo arigó

Mas queria mais terra

Pra ele ser o dono só.

Esta feita não conseguiu

Porque havia uma tataravó

Possuidora de muito talento

Casada com Manuel Caracol

Este casal tinha fama

De ter inventado o basquetebol.

Morava o casal na montanha

Que se chamava Timbó

Era esse o único lugar

Que se dançava forró

Parecido com que havia

Na terra de Seridó.

Pois naquele lugar havia

A dança do carimbó

Dançada com muito empenho

Pela família de Badaró

Que queria a todo custo

Aprender dançar o forró.

Tataravó foi este o nome

Que me falou o velho Chicó

De posse do seu cachimbo

Feito por Maria Esquimó

Continua a história sorrindo

E me falava da jovem Biló.

Biló era a neta mais velha

Do famoso Badaró

Pois a menina sofria

Do vício de cheirar pó

Pois o tempo se passando

E a dita cuja no caritó.

Sabendo disso o senhor

Por nome Capitão Mor

Foi direto pedir a mão

De Rosalinda Biló

E no casamento o povo

Tome caldo de mocotó.

No caldo foi colocado

Veneno por Badaró

Que matou ligeiro

O famoso Capitão Mor

E também nesta enroscada

Morreu também Tonho Gogó.

O casamento daquele tempo

Muito antes da bisavó

Era feito pra muita gente

Até o pôr do sol

Não como é feito hoje

Assim falou o velho Chicó.

Badaró ficou como dono

Do caldo bom de mocotó

E mais rico que nunca

Dito isto pela vovó

Que na época usava

Um charmoso bebidol.

Badaró era dançarino

De um tal de carimbó

Pois o cabra ficou tinindo

Campeão também de forró

Abriu muita casa de show

Dirigida pelo artista Totó.

Totó era um ator

Que herdava tudo de Jó

Até mesmo a paciência

Se parecia o filho de Ló

Com sua calmaria em pessoa

Confiança ele tinha de Badaró.

Totó criou a televisão

E a antena pôs no atol

A imagem ficava perfeita

Caprichava o velho Chicó

Crescia cada vez mais

O comércio de Badaró.

Tinha banco no lugar

Do gerente Zezé Bobó

Que foi formado na escola

Do diretor Biu de Viló

Tinha até supermercado

E se chamava Rococó.

O tempo passa ligeiro

E a montanha era uma só

Plantando e vendendo

Com o lucro de todo suor

Do povo escravizado

Das terras de Seridó.

Houve uma revolta profunda

E de lá ninguém teve dó

Não escapou uma só pessoa

E reinava sozinho Badaró

Hoje ninguém chega lá

Com medo de Maria do Ó.

Todo mundo se esconde

Quando canta o rouxinol

Não se escondeu do assunto

Morreu duro Severino Bodó

A superstição deste povo

Vive no Museu de Quiproquó.

No museu está escrito

A eternidade de Badaró

O dono daquela montanha

Que hoje se chama Paiol

É de difícil acesso

Porque lá não chega o sol.

A noite a lua cheia

Ilumina toda a Seridó

Dar pra se ver de longe

Resquícios de Jericó

E todo mundo feliz dançando

A dança bonita do carimbó.

Quem quiser pesquisar

Entre na página da Bol

Se não ficar satisfeito

Dê uma entrada na Uol

Você vai conhecer direitinho

O que me falou o velho Chicó.

Se quiser saber dos livros

Eu até duvideodó

Que lá tenha alguma coisa

Daquele guerreiro Badaró

Talvez haja uma só palavra

E essa se chama Tejipió.

Porque eu quis pesquisar

E levei com isso foi a pior

Comecei a ter arrepios

Quando cantou o rouxinol

Olhei um livro que tinha

E me apareceu Maria do Ó.

Não aconselho ninguém

A querer pesquisar Jericó

E nem tampouco também

Buscar entender de Seridó

Fique com este cordel

Desta feita leve a melhor.

Se depender do estudo

E do meu fumo bororó

Pegue na minha pena

Torça e crie um nó

Arrebente tudo comigo

Mas limpe o meu suor.

Ele é feito de enzimas

Que liberta o potó

Das antenas de tv

Vou falar com o Chicó

Para ele me ajudar

Sobre o destino de Seridó.

Não se esqueça de perguntar

O que houve com Loló

A doida de dar em doido

Das terras de João Mocó

Empregado aposentado

Do antigo por nome Badaró.

E assim termina a história

Contada pelo Compadre Chicó

Que foi amigo em vida

Da minha querida vovó

Dono de engenho de açúcar

Foi ele quem inventou o etanol.

FIM

João Pessoa-PB, 20 de abril de 2009.

O DESTRUIDOR DE LAR FELIZ - (primeira parte)

Porém assim não dá

Nenhuma explicação

Se eu conto por contar

Vai faltar emoção

É como nada começar

Sem sentido e sem razão.

Era um marido fiel

Só tinha ele e a mulher

Mas era um bêbado cruel

Enchia a cara no mé

Com fama de xeleléu

Ia ao culto em nome da fé.

Sua mulher era direita

Saia comprida e vestido longo

Quando de noite se deita

Ouve a batucada do Congo

Um terreiro que dava receita

Era do macumbeiro Pernilongo.

O marido ciumento

Não tendo motivo

Caiu em sofrimento

Dizia: Sem a mulher não vivo!

E assim o acontecimento

De um cabra pensativo.

A mulher sabedora do amor

Do marido por ela

Envolveu-se com o pastor

E quase que bate biela

A dita cuja era um terror

E o pastor vibrado nela.

O pastor gostando da bichinha

Fez feira e pagou o prejuízo

Ela já era uma galinha

E não tinha juízo

Quando ciscava num terreiro

Dizia: Pernilongo de ti preciso!

O pastor todo sorridente

Invadiu aquela privacidade

E a safada toda contente

Quis contar a verdade

Só para azucrinar a mente

Do seu amante com maldade.

Morava nessa cidade

Um doutor bastante esperto

Ao receber a beldade

Foi logo objetivo e direto

Falou do tema saudade

E lhe prometeu um teto.

A mulher mais que depressa

Disse ser o coração do pastor

E lhe pediu uma compressa

E este para aliviar a dor

Disse: “Não me interessa

Afinal de contas sou doutor”.

Dr. Praxedes Bitencourt

Ginecologista da medicina

Conhecido pelo lenço azul

Da cor de uma piscina

Que usava lá em Curimataú

Era seu charme, dizia uma menina.

Mas o doutor entrava no lar

Destruía qualquer estima

E pra acabar de lascar

Meteu-se com uma cretina

Falou até em se casar

E vejam só esta sina.

E foi com ela para o Sul

Pediu férias do trabalho

E a mulher feliz que só cururu

Pulava na mão como um baralho

E o doutor como índio caramuru

Viajou com terno e agasalho.

A mulher era casada

Do casamento nada de filho

Na rodoviária abraçada

No olhar somente brilho

Não esperava a desgraçada

Futuramente empecilho.

Coitado do marido

Se vendo passado pra trás

E como tinha sido traído

A mulher não quis mais

Ficou com o coração ferido

E lhe entregou a satanás.

O pastor puto da vida

De Praxedes quis se vingar

Da igreja fez despedida

E disse: “Preciso viajar!

Só que nessa ida

Não resistiu, começou a chorar.

O choro era tanto

Que as irmãs também choravam

O pastor tido como santo

Habitantes lhe ignoravam

Até Jesus se escondeu num canto

E todas as lágrimas se agitavam.

O Bêbado por sua vez

Não tendo a mulher novamente

Contou de um até três

E foi aquele choro indecente

Jogou pedra na beata Inez

Estava quase demente.

Caindo tonta no chão

A pobre Inez dessa vez

Ao perceber a ação

Com a ajuda de sua presa

Abocanhou no bêbado a mão

E lhe deixou sem defesa.

Lá pras bandas do Sul

O doutor e a cangaeira

Toda semana um peru

Novinho vindo da feira

Ela se lembrava do pai Jaburu

E da família oliveira.

No Sul a vida é diferente

Nada se parece com o interior

Pra um homem muita gente

Cem mulher pra um doutor

E assim tão de repente

Surge o que se programou.

A comunidade em conflito

Casais juntos, porém separados

Só se ouve barulho e grito

Mundo dos desempregados

Terra de constante conflito

E o doutor um dos letrados.

A mulher ficava em casa

E o doutor dava plantão

Tirou da mulher a asa

E essa sem condição

Ia somente ao Plaza

Comprar a sua alimentação.

O destruidor entrou tinindo

Numa comadre indefesa

Um filme com ela assistindo

Daí a chamou de princesa

E a mão foi-se permitindo

E fez dela ‘vossa alteza’.

A mulher que já era safada

Ficou aberta à mensagem

Na cama uma tarada

Exibia-se com tatuagem

Os seios daquela malvada

Despontava uma linda paisagem.

Essa sujeita se chamava Arlinda

Tinha diploma de sacanagem

E botou o doutor na berlinda

Todos falavam da tatuagem

E o doutor dizia: “É linda!”

A cartilha de pura aprendizagem.

O doutor conhecedor de putaria

E de putaria um garanhão

Gostava quando ela gemia

E o chamava de gostosão

Isso quase todo dia

Era um jogo de enrolação.

Arlinda estava envolvida

Com aquele doutor

Era bastante atrevida

Gostava de sentir dor

E sempre ser batida

Um mundo só destruidor.

O doutor dava pra cacete

E ela dizia: “Quero mais!”

E ele com um porrete

Feito um capataz

Botava na boca dela um sorvete

E lia manchete dos jornais.

Aí ela foi à loucura

Com dor e com gelo

Pulava nas alturas

Segurava pelo cabelo

E soluçava feito uma doçura

Era grande o desmantelo.

Dentro de um quarto

Da casa ou do apartamento

Arlinda que era do mato

Não tinha aborrecimento

Mas fez com o doutor um trato

- Quero hoje um rebento!

O doutor ficou ferido

E mais do que sério

Pediu quase constrangido

- “Não posso, sou estéril”

Disse e ficou entristecido

Não por causa do adultério.

E assim se chega ao final

Contado nesse cordel

Não se trata de bem ou mal

De inferno ou céu

Muito menos de animal

Pra literatura tiro o chapéu.

F I M

João Pessoa-PB, 22 de julho de 1989

O DESTRUIDOR DE LAR FELIZ - (segunda parte)

O doutor ficou ferido

E mais do que sério

Pediu quase constrangido

- “Não posso, sou estéril”

Disse e ficou entristecido

Não por causa do adultério.

Arlinda vendo a besteira

Que lhe havia dito

Pegou a saboneteira

Rezou pra São Benedito

O doutor deu uma caganeira

Igual a um cabrito.

Foi preciso mais de hora

Pra uma recuperação

Tanto por parte da senhora

Quanto do médico safadão

Ninguém deu o fora

Recomeçou a traição.

Ela delirou de prazer

E cada dia mais apaixonada

Isso não pode ser

Dizia a mulher casada

E finalizava: “Nada de sofrer

Quero alegria nesta estrada”.

O doutor era um escroto

E usava a sua profissão

Um profissional torto

Nele não havia coração

Brincava de fazer aborto

Mais de cem pelo sertão.

O pastor voltou à igreja

E pediu perdão a Deus

Nada sabia dessa peleja

Pois era como os judeus

Onde quer que esteja

Vida longa aos fariseus.

Desde a cangaia levada

O pastor não mais se aprumou

A pregação sempre encerrada

Esperava a amante Nonô

Que no Sul estava ferrada

Acreditando num tal doutor.

Nonô era a mulher

Daquele bebão evangélico

O bebão em nome da fé

Usou um instrumento bélico

Ferindo o macumbeiro no pé

E prometendo vingança do médico.

O pastor mesmo disfarçando

Não escondia o sofrimento

Mesmo no culto orando

Não esquecia o lamento

O tempo ia passando

E era grande o tormento.

Era a hora desesperadora

Chegava ao interior

Uma jovem sonhadora

Caiu nos braços do pastor

Não era uma pecadora

Trazia consigo a dor.

O pastor logo recebeu

Uma missão importante

A neta de Bartolomeu

Não ia ser sua amante

No outro dia desapareceu

Na carroça de uma cartomante.

O pastor não resistiu

Foi-se embora do lugar

E tão de repente fugiu

O culto não quis celebrar

A palavra caiu

Melhor era se mandar.

O padre Joaquim Serrote

Na missa do domingo

Desejou boa sorte

E realizou até um bingo

Quem ganhou foi Zé do Norte

Vermelho que só um gringo.

Mas vamos voltar ao assunto

Do tal doutor ginecológico

E eu aqui me pergunto

O que é ser lógico

É comer do porco o presunto

Ou morar no zoológico?

Não há resposta agora

Ou talvez nunca se tenha

Como uma pessoa que chora

Ou uma fogueira sem lenha

É um cavalo sem espora

Subindo a ladeira da Penha.

Praxedes tem muita história

A começar destruidor de lar

Desta feita com Arlete Glória

Isso vai dar no que falar

Vejam só a dedicatória

Antes de eu terminar.

-“ Sou casada e bem casada

E não admito me separar

Quero por você ser amada

E muita emoção passar

Se eu ficar ultrapassada

Viajo pra nunca mais voltar!”.

Ao ouvir esse depoimento

O doutor ficou meio sem jeito

Passou a ser um tormento

Mas disse: - “Eu te aceito”

A partir daquele momento

A maldade era conceito.

Arlete perdeu a esperança

Entre o céu e o inferno

O destruidor comprou uma aliança

Vestiu um lindo e brilhoso terno

E pra ela abriu uma poupança

Deu um roupão pra usar no inverno.

Arlete chegava em casa tarde

O maridão preparava o jantar

E os dois sem muito alarde

Iam pro quarto deitar

O sono de pura maldade

Só queria lhe cornear.

O marido um Zé Mané

Não desconfiava do cheiro

O perfume caro de mulher

Porque era um cachaceiro

Desses que fede a chulé

Portanto era um carteiro.

Sempre bêbado o marido

Era enganado diariamente

Nem desconfiava que fosse traído

Quando menos de repente

Entra na casa o atrevido

Todo amavelmente.

Era o doutor da destruição

O que via botava a perder

O que sabia tinha perdição

Porém o era do seu querer

Somente ódio e traição

Coitada da mulher do prazer

Por tão pouco vivia aflição.

Arlete, oh mulher esperta

Não é a toa que esse sexo

Até diabo na hora certa

Ficou meio perplexo

Enganado com a porta aberta

Em história sem muito nexo.

O bebão separava e voltava

O cara não tinha para onde ir

E dizia que a mulher amava

E não queria nunca sair

E sempre em casa ficava

Não tinha pra onde fugir.

Arlete já tinha se acostumado

Com esta situação de risco

Vivendo com um bêbado

Lembrava do belo petisco

Depois do ato consumado

E o destruidor vivia arisco.

O personagem galanteador

Já tinha destruído outros lares

Inclusive Arlete, não é doutor?

Mandava paixão pelos ares

E assim o sujeito pensou

Levo ela e outras para os altares.

Arlete ficou risonha

E não deu uma palavra sequer

Ficou porém muito bisonha

Usou de chantagem essa mulher

Como faz uma cegonha

Que é mãe dos filhos e dá no pé.

Daquele dia em diante

A relação ficou confusa

Ela não se sentia amante

E dizia – “Você só me usa

E me faz uma grande errante”

O doutor com palavrão só acusa.

O doutor ouvindo aquilo

Não conteve o vocabulário

Jogou na madame um quilo

De dinheiro de todo salário

Mas mesmo assim intranquilo

Era a vida do salafrário.

O doutor ficou sabendo

Do perigo que lhe rondava

E o risco de vida se metendo

E cada vez mais se complicava

E o corno vingança prometendo

Um colega seu avisava.

O doutor ficou vermelho

Com medo e todo se tremendo

Olhando no espelho

E a mulher na cama gemendo

E ele implorava de joelho

- Não conte que estou morrendo!

F I M

João Pessoa-PB, 22 de julho de 1989.

O DESTRUIDOR DE LAR FELIZ - (terceira parte)

E na fragilidade o doutor perecendo

Enquanto ela dando gargalhadas

Sorria com aquilo tudo fervendo

Gostava das atrapalhadas

Iam um a outro merecendo

Nas incontáveis embrulhadas.

Ao término ele se despede

E ela sem querer separação

No ouvido do amante pede

- “Fique meu coração”

E ele aos caprichos cede

E não contém a emoção.

Essa mulher tinha um casal

Um menino de dez anos

Uma menina especial

Com o marido, nada de planos

Com o destruidor tudo normal

Mas só existiam desenganos.

O destruidor um tanto frágil

Foi aí que a mulher se fez

Como uma ema muito ágil

Cada semana era mais de três

E tome estrada e pedágio

Não lhe faltava freguês.

O lar dessa pobre infeliz

Nem havia mais no lugar

O marido que sempre lhe quis

Bebia em quase todo luar

E vomitava no chafariz

E cartas não ia entregar.

O destruidor e sua sina

Tinha o medo da traidora

E lhe chamava de menina

E de vez em quando de doutora

A mulher com isto se anima

E se torna mais sedutora.

Antes de ele aparecer

Arlete era direita e honesta

Aí o destruidor fez sofrer

Árvore caída de uma floresta

Caem máscaras ao amanhecer

Então o que lhe resta?

A família dela caloteira

O marido corno da cidade

Com receio da bandoleira

Fez todo tipo de caridade

Até tentou uma camareira

Mas logo dizendo a verdade.

O bebão não tendo dinheiro

Viu aquilo muito estranho

E desconfiando de um borracheiro

Por nome Pietro Castanho

Interrogou logo que ligeiro

Depois que tomou um banho.

A mulher toda amorosa

Disse – “Meu tesouro

Aceite a grana de sua gostosa

O que ganho é ouro

Vamos sair dessa vila sebosa

Você é meu tesouro”.

O corno todo orgulhoso

Da sua mulher querida

Porque todo corno é bondoso

Disse que a sua vida

Numa frase de pabuloso

- “Não tem melhor pedida!”

Doutor Praxedes Bitencourt

Que no Rio se encontrava

Ficou gordo igual a cururu

E quando em casa voltava

Nonô não mais tinha peru

Só de lamentos reclamava.

O marido de Arlinda beberrão

O de Nonô um desqualificado

O de Arlete um babacão

Como um encontro marcado

Os cornos e o doutor destruição

Pensava a gente do povoado.

O doutor Praxedes voltava

As férias foram vencidas

O povo logo se acostumava

E compraram várias bebidas

Na comemoração Nonô estava

Veio do Rio com roupas perdidas.

Arlinda voltou pro marido

Arlete o mesmo fez

Esqueceram do doutor sabido

E a vida cada uma refez

Cada homem que foi traído

Receberam flores mais de uma vez.

Ao chegar no Curimataú

A vida de Nonô mudou

A experiência ganha no Sul

Não quis mais o doutor

E quando lembrava o peru

Perguntava pelo pastor.

Até hoje vaga no mundo

Essa mulher traidora

De um arrependimento profundo

Nonô é mais que sofredora

No andar de um moribundo

Viaja na solidão criadora.

O tal doutor da ginecologia

Teve o diploma cassado

Usou tudo que sabia

E foi logo processado

Vive hoje de agonia

Arrependido do seu passado.

Muito antes do doutor

Era só de felicidade

Tudo bem que houve o pastor

Que iniciou toda esta maldade

Quando não se tem o amor

O lar se destrói em crueldade.

Esse cordel que eu fiz

Fala de traição e coisa ruim

No lar, vida de quem é infeliz

A destruição do não pelo sim

De homem, mulher, como se diz

A maldição do povo de Caim.

F I M

João Pessoa-PB, 22 de julho de 1989.

O DUELO DE UM CATÓLICO E UM PROTESTANTE - (I Parte)

Esta é a discussão que no repente

Eu passo a contar nesse momento

Um católico na praça com crente

No desafio de tamanho sentimento

Enquanto por ali passava gente

Espiando tamanho movimento.

Cada um do outro tão diferente

E no cordel de puro documento

Deu-se a peleja que logo se sente

O relógio de hora certa do jumento

E assim o povo alegremente

Foi-se fazendo o ajuntamento.

Cada olhar que o povo dava

Era uma peleja acontecendo

Quem não queria espiava

Quem espiava de dor ia morrendo

E ninguém dali se afastava

Mesmo quem tava sofrendo.

P. Tu és católico sem frequência

Se em mim tiver alguma loucura

Eu desculpo a tua ausência

É que ser crente é gostosura

Nos raios lúdicos da ciência

Vou te abençoar das alturas.

C. Sou criatura divina

E rezo com fé em Deus

Odeio gente cretina

Que fala até dos filhos seus

Tenho paciência, é minha sina

Para aturar até os fariseus.

P. O católico diz que é criatura

Divina e tem profunda paciência

Mas se esquece de que nas alturas

Ser crente é que serve na consciência

Aliviando o temor das amarguras

És araque da inteligência.

C. Eu sou católico de araque

Como bem diz o companheiro

Não me confunda com um traque

Eu sou muito mais ligeiro

Se você levar um baque

Não sou eu o traiçoeiro.

P. O baque vem por derradeiro

Com tua igreja que veio do Iraque

Terra lá do estrangeiro

Minha religião não é de ataque

Mas a sua é de forasteiro

Sou da fé do Cristão Isaque.

C. Eu não sei por que razão

Você fala desse jeito

O que vale é o coração

Esse que bate no peito

O resto é pura emoção

Que nos causa tanto defeito.

P. Do coração sei do valor

Do sagrado que vem do Pai

Prego a palavra do Senhor

Em mim coisa ruim não cai

Já que você me afrontou

No caminho do bem você não vai.

C. Lembre-se da gratidão

Veja o pobre no seu leito

Essa minha religião

Tem liberdade e direito

A sua é só confusão

Prefiro viver assim desse jeito.

P. O católico é por demais abençoado

O crente sempre acha uma saída

Quando se paga todo pecado

Melhora a nossa vida

O coração fica marcado

E a mente fica sentida.

C. A igreja que fui batizado

É luz inteira da minha guarida

Se eu tiver agora errado

Não me importo com coisa partida

Pensas muito em pecado

Esquece até da própria vida.

P. Você aborda muito bem

A história que o velho contou

Se esquece de que lá no além

Há paz e com certeza o amor

E não existe aqui ninguém

Que desvenda o segredo da dor.

C. A dor é necessária

Ao homem na caminhada

Independe da faixa etária

Como boi em vaquejada

Apesar da vida sedentária

É exemplo para a boiada.

P. E se você sabe também

Guarde consigo, por favor

O lenço que sempre vem

Carregando o frio e o calor

Em Jesus encontro o bem

Que chega depois do amor.

C. Filosofar é bom demais

É por isso que sou assim

Um defensor da bandeira da paz

Um condenador de Caim

E na porta de lá de trás

Há bondade e não coisa ruim.

P. A porta fica pra você

Que tem várias para entrar

Eu só posso querer

A que vai me aceitar

Aceitei Cristo no viver

E você tem que aceitar.

C. É por isso que já faço mais

Um pingado de cheiro jasmim

Cravado no peito de um rapaz

Dilacerando o poder de Rasputim

Te vejo entre os capataz

Tangendo o cheiro de coisa ruim.

P. Sou crente e digo o seguinte

Fazer o bem é ter coragem

Porém, este quadro - pinte

As cores de toda imagem

E aqui chegará um ouvinte

Que olhará toda paisagem.

C. Minha arte não é pintura

Sou um artista da rua

Enceno o pecado e a loucura

E namoro a menina Lua

Não sou feito Zé Tontura

Que fala de mim e da vida tua.

P. Diga a todo pedinte

Que não se pode fazer contagem

A conta quando passa de vinte

Troca o olhar da imagem

Surge portanto o ouvinte

Nasce daí a libertinagem.

C. Meu amigo eu vos digo

Com vontade de expressar

Um sonho que percorre o umbigo

Faz em nós raiz brotar

O sossego de sermos amigos

É deixar o outro conquistar.

P. A conquista tem seu preço

O preço é muito alto

Ao teu lado me aborreço

Mas sei o momento exato

Enquanto você vive de Terço

Ser crente é mais que fato.

C. No livre lar do abrigo

Não é a igreja que vai salvar

É o coração do nosso abrigo

Que no interior vem se alojar

Venha correr perigo

Pra de vida poder falar.

P. Não me permita ser gentil

Neste embate tão meu

Não porque estou no Brasil

E sim, Pedro Paulo Bartolomeu

Porque o azul da cor anil

Borrou todo sonho teu.

C. O embate existe e é verdade

Não este que queres impor

Não conclames em si a maldade

Revejas o que fala do amor

És gente de não sentir saudade

Nota-se por tudo que já falou.

P. Através de um assobio

O Mestre já me conheceu

Abriu a porta e sorriu

Salvação ele me prometeu

E minha igreja ele construiu

Que aceita lá até ateu.

C. Só o que sabes neste embate

E não me venha com choro nem vela

Isso aqui não pode nunca dar empate

Chega de cair na esparrela

Quero ver o desempate

Se tu és religioso ou já era.

P. Não me chame pro combate

Sei que tens vontades nela

Porque a moça é grande arte

Esposa de guarda de sentinela

Teu olhar pisca em Marte

Chame-a para ficar com ela.

C. Ficar com ela eu não fico

E não quero nunca conselho

Ela não me ama, vive de bico

Vende a velho e pentelho

Fique você que é rico

Olhe a cara dela no espelho.

O mundo inteiro me pede

Pede-me e faço questão

Cada dedo meu mede

Um metro e meio de paixão

A bondade por si antecede

Findo aqui o cordel meu cidadão.

F I M

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2005.

O DUELO DE UM CATÓLICO E UM PROTESTANTE - (II Parte)

Esta é a discussão que no repente

Eu passo a contar nesse momento

Um católico na praça com crente

No desafio de tamanho sentimento

Enquanto por ali passava gente

Espiando tamanho movimento.

Cada um do outro tão diferente

E no cordel de puro documento

Deu-se a peleja que logo se sente

O relógio de hora certa do jumento

E assim o povo alegremente

Foi-se fazendo o ajuntamento.

Cada olhar que o povo dava

Era uma peleja acontecendo

Quem não queria espiava

Quem espiava de dor ia morrendo

E ninguém dali se afastava

Mesmo quem tava sofrendo.

P. Tu és católico sem frequência

Se em mim tiver alguma loucura

Eu desculpo a tua ausência

É que ser crente é gostosura

Nos raios lúdicos da ciência

Vou te abençoar das alturas.

C. Sou criatura divina

E rezo com fé em Deus

Odeio gente cretina

Que fala até dos filhos seus

Tenho paciência, é minha sina

Para aturar até os fariseus.

P. O católico diz que é criatura

Divina e tem profunda paciência

Mas se esquece de que nas alturas

Ser crente é que serve na consciência

Aliviando o temor das amarguras

És araque da inteligência.

C. Eu sou católico de araque

Como bem diz o companheiro

Não me confunda com um traque

Eu sou muito mais ligeiro

Se você levar um baque

Não sou eu o traiçoeiro.

P. O baque vem por derradeiro

Com tua igreja que veio do Iraque

Terra lá do estrangeiro

Minha religião não é de ataque

Mas a sua é de forasteiro

Sou da fé do Cristão Isaque.

C. Eu não sei por que razão

Você fala desse jeito

O que vale é o coração

Esse que bate no peito

O resto é pura emoção

Que nos causa tanto defeito.

P. Do coração sei do valor

Do sagrado que vem do Pai

Prego a palavra do Senhor

Em mim coisa ruim não cai

Já que você me afrontou

No caminho do bem você não vai.

C. Lembre-se da gratidão

Veja o pobre no seu leito

Essa minha religião

Tem liberdade e direito

A sua é só confusão

Prefiro viver assim desse jeito.

P. O católico é por demais abençoado

O crente sempre acha uma saída

Quando se paga todo pecado

Melhora a nossa vida

O coração fica marcado

E a mente fica sentida.

C. A igreja que fui batizado

É luz inteira da minha guarida

Se eu tiver agora errado

Não me importo com coisa partida

Pensas muito em pecado

Esquece até da própria vida.

P. Você aborda muito bem

A história que o velho contou

Se esquece de que lá no além

Há paz e com certeza o amor

E não existe aqui ninguém

Que desvenda o segredo da dor.

C. A dor é necessária

Ao homem na caminhada

Independe da faixa etária

Como boi em vaquejada

Apesar da vida sedentária

É exemplo para a boiada.

P. E se você sabe também

Guarde consigo, por favor

O lenço que sempre vem

Carregando o frio e o calor

Em Jesus encontro o bem

Que chega depois do amor.

C. Filosofar é bom demais

É por isso que sou assim

Um defensor da bandeira da paz

Um condenador de Caim

E na porta de lá de trás

Há bondade e não coisa ruim.

P. A porta fica pra você

Que tem várias para entrar

Eu só posso querer

A que vai me aceitar

Aceitei Cristo no viver

E você tem que aceitar.

C. É por isso que já faço mais

Um pingado de cheiro jasmim

Cravado no peito de um rapaz

Dilacerando o poder de Rasputim

Te vejo entre os capataz

Tangendo o cheiro de coisa ruim.

P. Sou crente e digo o seguinte

Fazer o bem é ter coragem

Porém, este quadro - pinte

As cores de toda imagem

E aqui chegará um ouvinte

Que olhará toda paisagem.

C. Minha arte não é pintura

Sou um artista da rua

Enceno o pecado e a loucura

E namoro a menina Lua

Não sou feito Zé Tontura

Que fala de mim e da vida tua.

P. Diga a todo pedinte

Que não se pode fazer contagem

A conta quando passa de vinte

Troca o olhar da imagem

Surge portanto o ouvinte

Nasce daí a libertinagem.

C. Meu amigo eu vos digo

Com vontade de expressar

Um sonho que percorre o umbigo

Faz em nós raiz brotar

O sossego de sermos amigos

É deixar o outro conquistar.

P. A conquista tem seu preço

O preço é muito alto

Ao teu lado me aborreço

Mas sei o momento exato

Enquanto você vive de Terço

Ser crente é mais que fato.

C. No livre lar do abrigo

Não é a igreja que vai salvar

É o coração do nosso abrigo

Que no interior vem se alojar

Venha correr perigo

Pra de vida poder falar.

P. Não me permita ser gentil

Neste embate tão meu

Não porque estou no Brasil

E sim, Pedro Paulo Bartolomeu

Porque o azul da cor anil

Borrou todo sonho teu.

C. O embate existe e é verdade

Não este que queres impor

Não conclames em si a maldade

Revejas o que fala do amor

És gente de não sentir saudade

Nota-se por tudo que já falou.

P. Através de um assobio

O Mestre já me conheceu

Abriu a porta e sorriu

Salvação ele me prometeu

E minha igreja ele construiu

Que aceita lá até ateu.

C. Só o que sabes neste embate

E não me venha com choro nem vela

Isso aqui não pode nunca dar empate

Chega de cair na esparrela

Quero ver o desempate

Se tu és religioso ou já era.

P. Não me chame pro combate

Sei que tens vontades nela

Porque a moça é grande arte

Esposa de guarda de sentinela

Teu olhar pisca em Marte

Chame-a para ficar com ela.

Neste momento vou-me embora

Obrigado pela leitura deste cordel

Terminei, vou dar o fora

Lá vem polícia do quartel

Aquela madame de lado chora

Ao público tiro este chapéu.

O mundo inteiro me pede

Pede-me e faço questão

Cada dedo meu mede

Um metro e meio de paixão

A bondade por si antecede

Findo aqui o cordel meu cidadão.

F I M

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2005.

O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte I)

Tenho tanto o que fazer

Na tal elaboração

Quando faço este cordel

Tenho farta gratidão

Pro meu prezado leitor

Com amor no coração.

VIU era um sujeito

Com bastante tentação

Vivia aprontando tudo

Em qualquer ocasião

Não escolhia momento

No que se deu na religião.

Um dia o Padre Joaquim

Pároco de Alagoinha

Deu trabalho a VIU

Lhe fez seu coroinha

Por muito tempo o padre

Contou esta ladainha.

Disse que o moleque

Um cabra desajeitado

Quando era coroinha

VIU foi denunciado

Segundo a mulher do prefeito

VIU parecia um tarado.

Foi grande a confusão

A cidade toda parou

O prefeito Zeca Peixoto

Disso nada gostou

Pediu a saída de VIU

E o padre logo aceitou.

Só que VIU não era aquilo

Que a mulher comentava

Nestas coisas eu acredito

Porque ninguém contava

Uma só safadeza de VIU

Que na cabeça passava.

VIU longe da igreja

Pegou mal para o menino

O seu pai agricultor

Lhe desejou um destino

Não queria ele na roça

Preferia tocar o sino.

A mãe uma costureira

Certa feita foi brigar

Com a filha do prefeito

Que estava a papear

Falando mal do seu filho

Mãe nenhuma ia aguentar.

A filha toda pedante

Chamava de cabra safado

Isso a mãe ia se enchendo

E depois: Ele é tarado.

A mãe não suportando

Deixou um tapa marcado.

Bem feito praquela menina

Que não tinha educação

Sabendo disso a sobrinha

Foi tomar satisfação

Puxou os cabelos de Sara

E lhe deu grande empurrão.

A tia vendo a encrenca

Que ali se estabeleceu

Puxou a sobrinha de lado

E dizia: - Veja em que se meteu

Meu Deus do céu

Você na menina bateu.

A sobrinha era danada

E assim falou pra tia:

- Ela tava lhe agredindo

Eu não gosto de putaria

Se ela meter a besta

Eu lhe troco a ventania!

A filha do prefeito sangrando

Pra casa se dirigiu

Com certeza vinha coisa

Já pensava o menino VIU

E falando em voz alta

Foi dizendo: Puta que pariu!

A chegar em casa a mãe

VIU no instante se anima

Pois não sabia que era

A dita cuja sua prima

Era a famosa VAI

Que lhe tinha grande estima.

VIU perguntou a prima

O que tinha acontecido

VAI com a cara lambida:

- Ela teve o merecido!

Sua tia com medo

Esperava só o prometido.

É que a filha do prefeito

Prometeu uma vingança

E foi dizendo a VIU

Sem nenhuma esperança

De contornar o caso

Que ficou como herança.

Foi aí que começou

A história de VAI e VIU

Fiquem vocês sabendo

Vírgula nenhuma escapuliu

Esta é a mulher dupla

Que no Brasil existiu.

VIU disse a prima

Queria ser sacristão

Um pedido de pai

Com amor e devoção

Foi se abrindo com VAI

Com todo seu coração.

VAI era apaixonada

Mas o primo não sabia

Guardava este segredo

Com profunda alegria

Tudo que o primo abordava

Ela num instante fazia.

O prefeito da cidade

Por nome Zeca Peixoto

Vendo o sangue de Sara

Deu um grande arroto

Quem tinha feito aquilo

Com certeza estava morto.

E nesta agonia toda:

- Minha filha me diga?

Foi falando o prefeito

- Como foi esta briga?

A mulher dentro da sala

- Foi aquela rapariga?

Zeca Peixoto ficou puto

E a mandou se calar

Disse que era ele

Quem ia mesmo matar

Pra sua filha Sara

Disse: Onde ele está?

Sara limpou a cara

E disse deixasse com ela

O prefeito fumaçava

E bateu com força nela

Apanhou duas vezes

E adeus galinha com cabidela.

Este era o prato preferido

Da filha do senhor prefeito

Que com lágrimas caindo

Não dava pra ouvir direito

Contar todo o ocorrido

Esconder não tinha mais jeito.

Quando Zeca Peixoto

Soube de toda verdade

Não contou conversa

E usou de brutalidade

Chamou o capanga dele

E partiram para a cidade.

Foram direto à casa

Queriam com o velho falar

Não havia ninguém no recinto

E ficaram a esperar

Os donos estavam na igreja

E quaisquer horas iriam voltar.

O dia era de chuva

E o prefeito deu meia volta

Deixou ali o capanga

Pra entrar naquela porta

Deixar a cabeça de VAI

Toda de um lado torta.

Na volta da igreja

VIU algo estranho sentiu

Quando avistou de longe

O capanga Severino Biu

Que de tanto esperar

Ali mesmo dormiu.

VIU teve uma ideia

E VAI logo apoiou

Querosene pela calçada

E o fogo todo queimou

O coitado do capanga

Por si só se matou.

Pensou estar no inferno

Com diabo ter encontrado

O fogo que ele sentiu

Pagou todo o pecado

Morreu Severino Biu

Naquele dia azarado.

O pai de VIU era devoto

Do Santo Senhor São Bento

Rezou com fé o Pai Nosso

E fez logo um juramento

Pediu ao filho VIU

Que lhe trouxesse o jumento.

Vou fechando este cordel

Estava bem inspirado

Falei de muita gente

Neste drama arretado

Meu tema é brasileiro

Para leigo e letrado.

FIM

João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.

O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte II)

Depois desse pedido

O velho muito rezou

Ave Maria e tanto Pai Nosso

E naquela casa se ajoelhou

Sobre a vida do filho

Que no juramento firmou.

Montou no bicho e saiu

Foi direto à delegacia

Falar do fato ocorrido

Que houve naquele dia

O delegado Pereira

Atento ao velho ouvia.

Mandaram tirar o corpo

E fizeram o sepultamento

No cemitério da roça

Por nome Santa Livramento

- Foi o capanga sem parente.

Dizia o homem do loteamento.

O prefeito vendo o fato

Que vitimou Severino Biu

Deixou de lado a história

De perseguir o moleque VIU

Porém a sua filha Sara

Disso não desistiu.

Falou com sua amiga

E foram falar com VAI

Ao chegar naquela casa

Quase que tudo cai

Por sorte não houve nada

Dizia o velho seu pai.

VIU deu-lhe uma rasteira

Que Sara ficou caída

Sua amiga levou um tapa

Que tava tão distraída

E VIU ainda dizia:

- Tome cuidado na vida.

A filha do prefeito

Era uma barraqueira

Só levava desvantagem

E dava uma grande carreira

Prometendo se vingar

Por uma vida inteira.

Desta feita a Sara

Nada ao prefeito contou

Com a amiga Rozilda

Uma dupla formou

Cruzaram os dedos

E um plano mal planejou.

VIU pegou a prima

E foram falar com o vigário

Este não lhe deu ouvido

E lhe chamou de otário

VAI não gostou do assunto

E lhe chamou de arbitrário.

O padre ficou vermelho

E foi dizendo na ocasião

Que tirasse o cavalo da chuva

Nada de ser sacristão

Que fosse ajudar o pai

Na hora da plantação.

VIU não gostou, mas saiu

E VAI foi com ele também

O padre ficou sozinho

E não desejou o bem

VIU combinou com VAI

E foram muito mais além.

Voltaram à paróquia

E vejam o que aconteceu

Pegaram toda a hóstia

E o vinho o moleque bebeu

VAI dizia bem alto:

- O padre se fudeu!

O padre quando voltou

Tava tudo desarrumado

Sentia um cheiro horrível

O altar todo quebrado

Pediu em oração o nome

Mas nada de ser ofertado.

A dupla foi para a casa

Caindo pela estrada

Cada coisa que ouvia

Era grande a risada

Enquanto o Padre Joaquim

Não sabia da palhaçada.

O sonho de sacristão

Queria o pai do moleque

Mas nada forçado presta

Como ataque de beque

Ou deixar o ventilador

E ficar usando um leque.

Queria o menino VIU

Estudar pra ser doutor

A sua prima VAI

Deste assunto gostou

Disse que ia com ele

E feliz se aprontou.

VAI não tinha mãe

O seu pai não conheceu

Morava com a tia

Que logo se aborreceu

Disse que era coisa de homem

E assim procedeu.

Que ela estava proibida

E que só VIU viajaria

Mas a dupla sabendo disso

Alguma coisa aprontaria

Fugiram de madrugada

Com destino a Bahia.

Um menino e uma menina

Pra Cancão nenhum botar defeito

O agricultor seu pai

Foi direto ao prefeito

Não era mais Zeca

Já tinha havido um pleito.

O prefeito agora era

Um governo patriarcal

Tudo que o pai pedia

Atender era o natural

Botaram gente na busca

E só voltaram no carnaval.

Foram para o Ceará

E a polícia nada encontrou

Enquanto na Bahia a dupla

Na folia deitou e rolou

Bebeu numa cabana

E na conta nada pagou.

Os cearenses viviam

No encalço dos baderneiros

Queriam dar fim à dupla

Daqueles dois forasteiros

Que foram parar um dia

Na gruta dos cangaceiros.

Os dois já bem crescidos

Tiveram logo treinamento

Aprenderam a lidar com arma

Naquele enorme acampamento

O Capitão Chico Bondade

Não sabia do atrevimento.

De garra de um fuzil

VIU se chamava Caipora

A bela VAI se chamou

Morena de Pirapora

Esta completo o cangaço

Vejamos o que acontece agora.

O bando de Chico Bondade

Saíram pelo sertão

Levando muita comida

E muita munição

Atacaram povoados

E fizeram distribuição.

O que ganhava o bando

Era tudo distribuído

Quem matasse mais

Seria mais retribuído

O mundo de VAI e VIU

Estava mesmo estremecido.

Depois de muito tempo

Fugiram do tal cangaço

Jogaram as balas no rio

E deixaram aquele pedaço

Neste momento a dupla

Já vivia de beijo e abraço.

VAI e VIU eram juntados

E queriam uma nova vida

Depois da experiência

Curaria uma ferida

De tudo que fosse ruim

Tão logo uma despedida.

Chegaram numa fazenda

E pediram ao dono trabalho

O dono era nojento

E dizia: Vá pra caralho!

E a dupla o fogo acendeu

Como um jogo de baralho.

Deixou chegar madrugada

E os bois todos soltaram

O dono no outro dia

Nunca eles pegaram

Riam de alegria a dupla

Por tudo que aprontaram.

Numa pequena cidade

Resolveu se alojar

Num escritório de lei

Quis a dupla trabalhar

O juiz muito educado

Fez só um se empregar.

Fechando este cordel

Esta tal segunda parte

Vamos falar adiante

Com maestria e arte

Como foram avante

Andando por toda parte.

FIM

João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.

O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte III)

Naquele simples lugar

Vejam a situação

Distante ali de tudo

No trabalho contradição

O povo tudo abismado

Só prestando atenção.

VIU ganhou salário

E roupa nova comprou

VAI ficava sozinha na casa

Que logo ele alugou

Aos poucos ia dando certo

Naquele lugar de doutor.

Enquanto naquela cidade

O seu pai velho sofria

A mãe já tinha morrido

De tanta melancolia

Na casa apenas a mãe

A volta do filho pedia.

VIU era casado com VAI

Na igreja dos cangaceiros

Queria casar na igreja

Como todos os brasileiros

Não sentia confortável

Em deixar na terra herdeiros.

VAI com isto penava

Mas não dava o braço a torcer

Rezava todos os dias

Para o casamento acontecer

Sentiam saudade da vida

Mas tudo viam por perecer.

A cidade foi invadida

O lugar foi dominado

O cangaço novamente

Estava ali estampado

Era, porém outro bando

Que ali tinha entrado.

VIU desta vez tremeu

E correu pra residência

Planejou fazer com VAI

Uma arte de resistência

Matar todo aquele bando

E usaria de toda ciência.

Desligou as luzes da vila

E foi grande a escuridão

Cada cangaceiro passante

Perdia logo a mão

Era tanto gemido dado

Assombrou-se o capitão.

No outro dia foi grande

As mãos por todo lugar

Fizeram uma fogueira enorme

E uma e uma se queimar

Neste instante a dona VIU

Queria logo casar.

Nunca mais os cangaceiros

Atiraram em pontaria

Sem as mãos que matavam

Lembravam só daquele dia

Até que fim a igreja

Se enchia de alegria.

Era o casamento da dupla

Que tanta coisa aprontou

A cidade toda unida

E o casal por muito tempo esperou

Ficaram plantados na igreja

E nunca mais a dupla voltou.

A população com muita raiva

Se sentia angustiada

Por ter tratado assim

Depois ser abandonada

Mas agradeciam a eles

Pela aquela história acabada.

Foram para bem longe

E no caminho traquinagem

Davam cascudos em moleque

E era grande a sacanagem

Se viram cansados na estrada

E pararam numa pastagem.

Um velho que ia passando

Lhe chamou de Cancão

Outro de Malasartes

E foi assim por todo sertão

Lá na frente chamaram de Grilo

O segundo nome de João.

Uma senhora de idade

Chamada de Mãe Filó

Disse bem alto pro povo:

- Lá VAI o menino Chicó.

E ele voltando ao passado:

- Vá dar o seu Cê ó Có.

A menina buchuda

Um filho ela esperava

E foi dizendo ao marido

Um desses nomes ela botava

Deixasse nascer o menino

Para ver se ele aguentava.

Sem nenhum tostão no bolso

A dupla à terra natal voltou

Com um filho na tropa

E o pai logo abençoou

O prefeito do lugar

Um bom emprego arranjou.

O Padre Joaquim bem velho

Toda safadeza perdoou

Fez o batizado do menino

E como afilhado adotou

Nunca mais em trapalhada

Aquela dupla pensou.

Malasartes Pedro Cancão

Da Silva Grilo Chicó

Foi o nome do menino

Que não houve algo melhor

Quando crescesse o moleque

Talvez a coisa fosse pior.

Qual o apelido o menino

Com todo esse nome botado

Se chamaria de quem afinal

Por todo sertão afamado?

Esta era uma questão

Que lhe deixou o batizado.

O avô todo contente

Só vivia com Perequeté

Que bem pequeno já pedia:

- Minha mãe eu quero filé

Me traga cuscuz com leite

E um copo de café.

Sara já bem casada

Foi com VAI lá visitar

O marido dela era

O delegado do lugar

Que sabia do passado

E não queria confrontar.

VIU era uma pessoa

De tamanha importância

Chefe da prefeitura

Trabalhador de elegância

Ele e o prefeito de lá

Preferiam a distância.

O cargo de delegado

Dado pelo governador

Na política da cidade

Um era o opositor

Ninguém mais brigava

Viviam na paz e amor.

VAI voltou a estudar

E deu forças para o marido

Que de imediato topou

E ficou comprometido

Com o grana que ganhava

Muito tinha se divertido.

A dupla viveu feliz

Por tudo que aconteceu

Criaram o filho com amor

E o pai bem velho morreu

Até hoje não se sabe

O nome dela e o nome seu.

Uma história marcante

Que não tem apelação

VIU é um mistério

VAI tem muita paixão

A dupla aprontou tanto

Que nem se ouve a falação.

Mesmo depois de tudo

De todo acontecimento

O nome ninguém soube

E nem houve movimento

Todo mundo ficou calado

Para não ter aborrecimento.

A cidade atualmente

Se diz beneficiada

Pelo nome da dupla

Ela é tão procurada

Turistas chegam à cidade

E haja gente perguntada.

Muitos dos pesquisadores

Chegam diariamente

Querem ter a ciência

De tudo de antigamente

A mais velha das beatas

Explica tão calmamente.

Dizendo que VIU e VAI

Eram bons até demais

Que a moça não gostava

De falar com um rapaz

Se juntou com o primo

Que parecia com satanás.

Findo aqui este cordel

E vou pesquisar biografia

Com certeza eu direi

Ou hoje ou qualquer dia

Dizem que o nome da dupla

Talvez João, o outro, Maria.

FIM

João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.

O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA - (Parte II)

Depois desse pedido

O velho muito rezou

Ave Maria e tanto Pai Nosso

E naquela casa se ajoelhou

Sobre a vida do filho

Que no juramento firmou.

Montou no bicho e saiu

Foi direto à delegacia

Falar do fato ocorrido

Que houve naquele dia

O delegado Pereira

Atento ao velho ouvia.

Mandaram tirar o corpo

E fizeram o sepultamento

No cemitério da roça

Por nome Santa Livramento

- Foi o capanga sem parente.

Dizia o homem do loteamento.

O prefeito vendo o fato

Que vitimou Severino Biu

Deixou de lado a história

De perseguir o moleque VIU

Porém a sua filha Sara

Disso não desistiu.

Falou com sua amiga

E foram falar com VAI

Ao chegar naquela casa

Quase que tudo cai

Por sorte não houve nada

Dizia o velho seu pai.

VIU deu-lhe uma rasteira

Que Sara ficou caída

Sua amiga levou um tapa

Que tava tão distraída

E VIU ainda dizia:

- Tome cuidado na vida.

A filha do prefeito

Era uma barraqueira

Só levava desvantagem

E dava uma grande carreira

Prometendo se vingar

Por uma vida inteira.

Desta feita a Sara

Nada ao prefeito contou

Com a amiga Rozilda

Uma dupla formou

Cruzaram os dedos

E um plano mal planejou.

VIU pegou a prima

E foram falar com o vigário

Este não lhe deu ouvido

E lhe chamou de otário

VAI não gostou do assunto

E lhe chamou de arbitrário.

O padre ficou vermelho

E foi dizendo na ocasião

Que tirasse o cavalo da chuva

Nada de ser sacristão

Que fosse ajudar o pai

Na hora da plantação.

VIU não gostou, mas saiu

E VAI foi com ele também

O padre ficou sozinho

E não desejou o bem

VIU combinou com VAI

E foram muito mais além.

Voltaram à paróquia

E vejam o que aconteceu

Pegaram toda a hóstia

E o vinho o moleque bebeu

VAI dizia bem alto:

- O padre se fudeu!

O padre quando voltou

Tava tudo desarrumado

Sentia um cheiro horrível

O altar todo quebrado

Pediu em oração o nome

Mas nada de ser ofertado.

A dupla foi para a casa

Caindo pela estrada

Cada coisa que ouvia

Era grande a risada

Enquanto o Padre Joaquim

Não sabia da palhaçada.

O sonho de sacristão

Queria o pai do moleque

Mas nada forçado presta

Como ataque de beque

Ou deixar o ventilador

E ficar usando um leque.

Queria o menino VIU

Estudar pra ser doutor

A sua prima VAI

Deste assunto gostou

Disse que ia com ele

E feliz se aprontou.

VAI não tinha mãe

O seu pai não conheceu

Morava com a tia

Que logo se aborreceu

Disse que era coisa de homem

E assim procedeu.

Que ela estava proibida

E que só VIU viajaria

Mas a dupla sabendo disso

Alguma coisa aprontaria

Fugiram de madrugada

Com destino a Bahia.

Um menino e uma menina

Pra Cancão nenhum botar defeito

O agricultor seu pai

Foi direto ao prefeito

Não era mais Zeca

Já tinha havido um pleito.

O prefeito agora era

Um governo patriarcal

Tudo que o pai pedia

Atender era o natural

Botaram gente na busca

E só voltaram no carnaval.

Foram para o Ceará

E a polícia nada encontrou

Enquanto na Bahia a dupla

Na folia deitou e rolou

Bebeu numa cabana

E na conta nada pagou.

Os cearenses viviam

No encalço dos baderneiros

Queriam dar fim à dupla

Daqueles dois forasteiros

Que foram parar um dia

Na gruta dos cangaceiros.

Os dois já bem crescidos

Tiveram logo treinamento

Aprenderam a lidar com arma

Naquele enorme acampamento

O Capitão Chico Bondade

Não sabia do atrevimento.

De garra de um fuzil

VIU se chamava Caipora

A bela VAI se chamou

Morena de Pirapora

Esta completo o cangaço

Vejamos o que acontece agora.

O bando de Chico Bondade

Saíram pelo sertão

Levando muita comida

E muita munição

Atacaram povoados

E fizeram distribuição.

O que ganhava o bando

Era tudo distribuído

Quem matasse mais

Seria mais retribuído

O mundo de VAI e VIU

Estava mesmo estremecido.

Depois de muito tempo

Fugiram do tal cangaço

Jogaram as balas no rio

E deixaram aquele pedaço

Neste momento a dupla

Já vivia de beijo e abraço.

VAI e VIU eram juntados

E queriam uma nova vida

Depois da experiência

Curaria uma ferida

De tudo que fosse ruim

Tão logo uma despedida.

Chegaram numa fazenda

E pediram ao dono trabalho

O dono era nojento

E dizia: Vá pra caralho!

E a dupla o fogo acendeu

Como um jogo de baralho.

Deixou chegar madrugada

E os bois todos soltaram

O dono no outro dia

Nunca eles pegaram

Riam de alegria a dupla

Por tudo que aprontaram.

Numa pequena cidade

Resolveu se alojar

Num escritório de lei

Quis a dupla trabalhar

O juiz muito educado

Fez só um se empregar.

Fechando este cordel

Esta tal segunda parte

Vamos falar adiante

Com maestria e arte

Como foram avante

Andando por toda parte.

FIM

João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.

O ENCRENQUEIRO E A ENCRENQUEIRA- (Parte III)

Naquele simples lugar

Vejam a situação

Distante ali de tudo

No trabalho contradição

O povo tudo abismado

Só prestando atenção.

VIU ganhou salário

E roupa nova comprou

VAI ficava sozinha na casa

Que logo ele alugou

Aos poucos ia dando certo

Naquele lugar de doutor.

Enquanto naquela cidade

O seu pai velho sofria

A mãe já tinha morrido

De tanta melancolia

Na casa apenas a mãe

A volta do filho pedia.

VIU era casado com VAI

Na igreja dos cangaceiros

Queria casar na igreja

Como todos os brasileiros

Não sentia confortável

Em deixar na terra herdeiros.

VAI com isto penava

Mas não dava o braço a torcer

Rezava todos os dias

Para o casamento acontecer

Sentiam saudade da vida

Mas tudo viam por perecer.

A cidade foi invadida

O lugar foi dominado

O cangaço novamente

Estava ali estampado

Era, porém outro bando

Que ali tinha entrado.

VIU desta vez tremeu

E correu pra residência

Planejou fazer com VAI

Uma arte de resistência

Matar todo aquele bando

E usaria de toda ciência.

Desligou as luzes da vila

E foi grande a escuridão

Cada cangaceiro passante

Perdia logo a mão

Era tanto gemido dado

Assombrou-se o capitão.

No outro dia foi grande

As mãos por todo lugar

Fizeram uma fogueira enorme

E uma e uma se queimar

Neste instante a dona VIU

Queria logo casar.

Nunca mais os cangaceiros

Atiraram em pontaria

Sem as mãos que matavam

Lembravam só daquele dia

Até que fim a igreja

Se enchia de alegria.

Era o casamento da dupla

Que tanta coisa aprontou

A cidade toda unida

E o casal por muito tempo esperou

Ficaram plantados na igreja

E nunca mais a dupla voltou.

A população com muita raiva

Se sentia angustiada

Por ter tratado assim

Depois ser abandonada

Mas agradeciam a eles

Pela aquela história acabada.

Foram para bem longe

E no caminho traquinagem

Davam cascudos em moleque

E era grande a sacanagem

Se viram cansados na estrada

E pararam numa pastagem.

Um velho que ia passando

Lhe chamou de Cancão

Outro de Malasartes

E foi assim por todo sertão

Lá na frente chamaram de Grilo

O segundo nome de João.

Uma senhora de idade

Chamada de Mãe Filó

Disse bem alto pro povo:

- Lá VAI o menino Chicó.

E ele voltando ao passado:

- Vá dar o seu Cê ó Có.

A menina buchuda

Um filho ela esperava

E foi dizendo ao marido

Um desses nomes ela botava

Deixasse nascer o menino

Para ver se ele aguentava.

Sem nenhum tostão no bolso

A dupla à terra natal voltou

Com um filho na tropa

E o pai logo abençoou

O prefeito do lugar

Um bom emprego arranjou.

O Padre Joaquim bem velho

Toda safadeza perdoou

Fez o batizado do menino

E como afilhado adotou

Nunca mais em trapalhada

Aquela dupla pensou.

Malasartes Pedro Cancão

Da Silva Grilo Chicó

Foi o nome do menino

Que não houve algo melhor

Quando crescesse o moleque

Talvez a coisa fosse pior.

Qual o apelido o menino

Com todo esse nome botado

Se chamaria de quem afinal

Por todo sertão afamado?

Esta era uma questão

Que lhe deixou o batizado.

O avô todo contente

Só vivia com Perequeté

Que bem pequeno já pedia:

- Minha mãe eu quero filé

Me traga cuscuz com leite

E um copo de café.

Sara já bem casada

Foi com VAI lá visitar

O marido dela era

O delegado do lugar

Que sabia do passado

E não queria confrontar.

VIU era uma pessoa

De tamanha importância

Chefe da prefeitura

Trabalhador de elegância

Ele e o prefeito de lá

Preferiam a distância.

O cargo de delegado

Dado pelo governador

Na política da cidade

Um era o opositor

Ninguém mais brigava

Viviam na paz e amor.

VAI voltou a estudar

E deu forças para o marido

Que de imediato topou

E ficou comprometido

Com o grana que ganhava

Muito tinha se divertido.

A dupla viveu feliz

Por tudo que aconteceu

Criaram o filho com amor

E o pai bem velho morreu

Até hoje não se sabe

O nome dela e o nome seu.

Uma história marcante

Que não tem apelação

VIU é um mistério

VAI tem muita paixão

A dupla aprontou tanto

Que nem se ouve a falação.

Mesmo depois de tudo

De todo acontecimento

O nome ninguém soube

E nem houve movimento

Todo mundo ficou calado

Para não ter aborrecimento.

A cidade atualmente

Se diz beneficiada

Pelo nome da dupla

Ela é tão procurada

Turistas chegam à cidade

E haja gente perguntada.

Muitos dos pesquisadores

Chegam diariamente

Querem ter a ciência

De tudo de antigamente

A mais velha das beatas

Explica tão calmamente.

Dizendo que VIU e VAI

Eram bons até demais

Que a moça não gostava

De falar com um rapaz

Se juntou com o primo

Que parecia com satanás.

Findo aqui este cordel

E vou pesquisar biografia

Com certeza eu direi

Ou hoje ou qualquer dia

Dizem que o nome da dupla

Talvez João, o outro, Maria.

FIM

João Pessoa-PB, 30 de setembro de 1998.

O LEÃO DO CIRCO E O GATO ROUXINOL - ( A Fábula)

Todo mundo do Castelo

Um bairro bem popular

Já ouviu o que eu conto

Sem nem pestanejar

A história dum leão

Que veio se apresentar.

Como atração de circo

Racion Iara o nome

Tinha leão desnutrido

Que só passava fome

Rouxinol por pouquinho

Quase que o bicho come.

O povo inteiro sabe

Eu mesmo vi bem de perto

Aquele leão magrinho

Com aquele olhão aberto

Querendo se alimentar

Daquele futuro incerto.

O povo fazia fila

Só para ver o leão

Ele ali sem vida

Só batia o coração

A pirralhada alegre

Tinha muita emoção.

Rouxinol não foi comido

E uma briga travou

Com Joca, o leão

O gato quase ganhou

A dupla fez logo trato

Que Mixengo me contou.

O Roxinol sobreviveu

E todo gato quis saber

Como ele escapou

E como podia ser

O leão mesmo sem força

Por que não quis lhe comer?

E assim alguém contou

Que me perdi no caminho

Só sei que Rouxinol

Continuou no seu cantinho

Cuidou bem de sua pele

Lhe trataram com carinho.

Circo Racion Iara

É saudade da infância

Menino levava gato

Tão grande ignorância

Receber uma entrada

Naquela circunstância.

Tudo era tão inocente

Que não dá pra descrever

Receber um bom ingresso

Pra ver Ferrinho fazer

Palhaçada toda noite

Só vendo para crer.

O Castelo todo em festa

E o circo lá por detrás

Daquele nosso mercado

A muito tempo atrás

A gente queria entrar

Mas, chegou o satanás.

O nome dela foi Maria

Uma bela bailarina

Que pediu aos meninos

Aquela tão triste sina

Levar gato pra leão

E a ruindade se anima.

O leão não tinha mais

Forças pra apresentar

Vivia ali cansado

Não queria trabalhar

Era a fome danada

Só gato pra alimentar.

Menino é bicho ruim

E de tudo faz uma festa

Pegando um saco grande

Que ele mesmo detesta

Mas quer pegar o gato

Nem que seja pela testa.

Muito gato foi comido

Muito então, logo escapou

Rouxinol o mais famoso

Tanta história me contou

O leão brigou com ele

E ele foi o vencedor.

Neste dia o Castelo

A Jesus pediu perdão

Em nome daqueles meninos

Que não tinham coração

Colocando um pobre gato

Para ser alimentação.

O circo foi-se embora

E o Leão quis logo saber

Onde andava Rouxinol

Que o bicho queria ver

Levar um papo amigo

Que só vendo para crer.

Rouxinol sabendo disso

Foi encontrar o leão

Chegando bem perto dele

Se ouvia a falação

Um frescando com outro

Feito briga de irmão.

Um grande abraço foi

Dado com muito chororô

Surge o bode perneta

Que a muito tempo morou

Na Apolônio Nóbrega

Pouco tempo se mudou.

Chegou cachorro Bandite

Trazendo a cachorrada

Apertou a mão do bode

E deu aquela gaitada

Joca deu um urro grande

Que trouxe a Trovoada.

Trovoada a galinha

Que Dona Isabel criava

Enxerida que só a gota

E pra Joca se mostrava

O gato Mingau não gostou

A Rouxinol se queixava.

O leão ouvia tudo

E queria sair correndo

Não quis explicação

Foi logo bruto, dizendo:

Eu vir falar com Rouxinol

E tanta gente se metendo!

Elisa com Seu Alfredo

Avisaram a Seu Orlando

Que o circo tinha chegado

E já estavam armando

Que ele tivesse cuidado

No filho chamado Lando.

Rouxinol foi candidato

Na chapa da Oposição

Aqui mesmo no Castelo

e venceu a eleição

do grupo mal comandado

Pelo político leão.

Logo em seguida ele

Casou com a gata Mel

A mais bonita do bairro

Feito estrela do céu

E depois foi me pedir

Que fizesse um cordel.

O leão é da Receita

Quer levar nosso dinheiro

Tomou abuso do povo

O chama de pirangueiro

Criou o Imposto de Renda

Com ordens do estrangeiro.

Não queira dizer que não

Que isto não aconteceu

Pergunte a Dona Celina

ou ao cômico Memeu

Se isto não é verdade

E como tudo se deu.

Está chegando a hora

De tudo que se passou

Se é verdade ou mentira

se sabe, faça o favor

Nunca conte para ninguém

Que Rouxinol virou doutor.

Trabalhou por muito tempo

No Campus Universiário

Teve três gatas com Mel

Todas do signo de aquário

Foi um bom gerente de banco

Sucedido empresário.

O leão de vez em quando

Bota a juba pra cima

Quer fazer do Rouxinol

Um entrave na malha fina

Mas ele vai na Receita

E parte logo pra cima.

Mostrando todo recibo

Dizendo pra ter cuidado

E que ele se lembrasse

Do duelo empatado

Porque estava desposto

A deixa-lo derrotado.

E assim caro leitor

Esta obra de ficção

Que vive na literatura

Fábula de reflexão

Fazendo o Rouxinol

Um respeito pra leão.

Chego logo no final

E faço agradecimento

Pela leitura em pauta

Deste acontecimento

Contado sem pretensão

Por este amigo Bento.

F I M

João Pessoa-PB, 18 de maio de 1999.

LEÃO DO CIRCO E O GATO ROUXINOL - (A Fábula nº 01)

Tem coisas que acontecem

Na nossa preciosa vida

Que até o Jesus Cristo

O Maior de todos, duvida

O que conto desta fábula

Que eu já dava como perdida.

Rouxinol vivia solto

Pelas ruas do Castelo

Nunca foi bem tratado

Como foi Gato Pitelo

De vez em quando levava

Uma tapa de chinelo.

Vizinhança terrível

A Rouxinol desprezava

Porque este bicho gato

Todo mundo atanazava

Subindo em cima de mesa

Tudo ele mastigava.

Chega um circo no Castelo

Com sua grande atração

A belezura da selva

Na figura dum leão

Muito magro e desnutrido

Precisando alimentação.

Tão pobre era o circo

Uma grande lona furada

Ferrinho era o palhaço

O xodó da meninada

Que de noite recebia

Muita boa gargalhada.

O Circo Racion Iara

Tinha leão bem sarado

O corpo todo robusto

E bucho alimentado

Nas mãos do domador

Ele pagava pecado.

De tanto sofrer o bicho

Ele ficou bem desnutrido

De cidade em cidade

Nunca tinha se divertido

Perdeu aquele seu corpo

E ficou enfraquecido.

Coitado daquele leão

Tava cada dia pior

Que tal se ele provasse

Do sabor de Rouxinol?

Veremos como se deu

Esta questão que dá nó.

O danado desse circo

Por nome Racion Iara

Precisou soltar ingresso

Falou a dançarina Mara

Dizendo que o leão

Por gato tinha tara.

Foi a notícia correr

Pra menino se atiçar

Não houve ali no bairro

Um gato pra se salvar

O gato entrando na jaula

Ia com o leão brincar.

Quem foi do Castelo Branco

Pela década de setenta

Sabe o que estou falando

Isso jamais se inventa

Uma notícia tão ruim

Que meu juízo atormenta.

Jamelão foi o primeiro

Que o leão engoliu

Foi uma cena macabra

A que o menino viu

Até hoje ele pensa

No que escapuliu.

Tinha gente que levava

O gato de estimação

Quando o dono percebia

Já tinha sido refeição

Mastigada sem força

Pelo faminto leão.

O bicho era tão fraco

Que não saía do lugar

Pegava as suas patas

Pra com o gato lutar

Tantas foram as horas

Pro alimento entrar.

Dona Penha quando soube

Quis Xadaigo processar

Depois aquela beata

Deixou aquilo passar

Perdoou o leão do circo

Pra depois se confessar.

Dona Penha foi a dona

Do bonito gato Pitelo

Era o gato mais charmoso

Que já houve no Castelo

Comido pelo leão

Que desceu feito farelo.

Tudo isso era feito

De forma bem planejada

Quando um gato sumia

Era tanta presepada

Inda hoje tem pessoa

Ouvindo fica arretada.

Mixengo mais o Xadaigo

Uma dupla de presepeiro

Metia gato no saco

Até o de Seu Carneiro

Que todos lhe conheciam

Pelo nome de Tinteiro.

Menino tem cada coisa

Que só vendo para crer

Vou voltar a Rouxinol

Que teve muito saber

Livrou-se daquele saco

E com o leão foi se ver.

Chegando naquele circo

Foi direto no leão

Bem de mansinho na jaula

Teve esculhambação

Rouxinol fedia muito

Mas teve disposição.

O leão ficou com medo

E fez logo um trato

Disse que depois daquela

Não comeria mais gato

E Rouxinol aproveitando

Falou o mesmo de rato.

O povo ficou pensando

O que disse o Rouxinol

O leão mudou de ideia

E não levou a melhor

Imaginação de criança

Que não espera o pior.

Rouxinol entrou na jaula

Praquele grande embate

Aquela luta felina

Ficou mesmo no empate

Rouxinol saiu bem contente

Fazendo sua parte.

Todo povo do Castelo

Ouve falar na história

Eu tão pequeno que era

Hoje guardo na memória

Da luta que foi travada

Pra Rouxinol uma glória.

O duelo deu empate

Somente pro leão

O vencedor foi de fato

Dito pela Conceição

Foi o gato Rouxinol

Quase virou refeição.

O leão com a brabeza

Em Rouxinol nem falava

E assim o Rei da Selva

Daquele jeito estava

Quando falavam de gato

Tão depressa vomitava.

Pense num gato de sorte

Virou mascote de menino

Deixou o rato de lado

Limpou bem o intestino

Não foi comida de leão

Mudou pra sempre o destino.

Esse gato Rouxinol

Do começo da avenida

Só tinha couro e osso

E o pelo de ferida

São recordações profundas

Que enchem a minha vida.

Estripulia de menino

Pro gato pede perdão

Distante da ecologia

Nada de comunicação

Importava o ingresso

Pra depois complicação.

O leão continuava

A fazer malabarismo

O público muito medroso

Com exibicionismo

As fofoqueiras do Castelo

Dizem: - Ele foi do nazismo.

Sei dizer que o leão

Ganhou logo liberdade

Foi morar no seu habitat

Pra esquecer a crueldade

Não foi culpado o sujeito

Viveu ele na castidade.

E aqui chego ao final

Desta fábula infantil

Contada pelo Cordel

A melhor deste Brasil

Ser menino era bom

Circo e banho de rio.

FIM

João Pessoa-PB, 18 de maio de 1999.

O VALENTÃO E O MAGO - (Início)

O compadre Mané Bento

Primo de Joca Tampinha

Filho de Juca Peixoto

Que é casado com Carminha

Morador de Labirinto

Lá para as bandas de Passinha.

Certo dia na cidade

Por força da valentia

Resolveu por conta própria

Bater em Pedro de Bia

Por causa desta briga

Quase perde a freguesia.

Vendedor de fumo bom

Era o dito conhecido

Nunca levantou o dedo

Dizia assim, Aparecido

Mas desta vez aconteceu

Com Pedro de Bia atrevido.

Pedro já tinha matado

Pra mais de cem no interior

Aparecido quase que morre

Depois de uma grande dor

De um tapa de Pedro de Bia

Que o olho de lugar trocou.

Labirinto era um engenho

De cana de açúcar de qualidade

Joca Tampinha era o dono

E não gostava de falsidade

Quando soube da notícia

Quase perde a identidade.

Chamou o primo pra dizer4

Que dali logo fugisse

Não gostava de encrenca

E via na frente a maluquice

O primo Mané Bento

Usou um ato de criancice.

Juca Peixoto era o feitor

E não gostou do que ouviu

Teve um medo tão grande

Que a fala logo sumiu

Enquanto isso na cidade

Pedro de Bia pra longe partiu.

Mané Bento vaidoso

Tinha fumo de montão

Baixou o preço na hora

E foi chamado de valentão

Venceu a briga na feira

Com vaidade e satisfação.

Dona Carminha quando soube

Do fato pelo povo contado

Perdeu a voz de tanto assombro

Por medo do filho amado

Depois chorou durante um mês

Era o marido hospitalizado.

Juca Tampinha tinha medo

E não queria transparecer

Visitando Juca Peixoto

A carne começou a tremer

Chorava do lado do tio

E nada queria entender.

No Barracão de Mané Bento

Era grande a folegarem

O velho Beto Chiquito

Que gostava de pabulagem

Inventava mais história

E deixava uma mensagem.

Era abrir o olho do povo

Pra não haver covardia

Pois Pedro de Bia era covarde

E toda vez que a luta perdia

Não queria falar do assunto

E pra longe o bicho fugia.

Mané Bento ouvia tudo

E dava seu parecer

Falava que ganhou a luta

E ele fez por merecer

Nunca mais o Labirinto

O bandido ia tremer.

A alegria era tanta

Que caloteiro não pagava

Dividas eram perdoadas

E Mané Bento inda deixava

O fiado foi crescendo

E o dinheiro pouco restava.

Na saída do hospital

Com o sobrinho do seu lado

Foram falar pra Mané Bento

Que tivesse cuidado

O cabra tinha fugido

Mas logo era esperado.

Não contasse a vitória

Antes do tempo prometido

Pedro de Bia estava aprontando

E depois vinha o acontecido

O medo de Juca Peixoto

Era este fato escondido.

Mané Bento nem ligava

Na fala do velho pai

Pouco importa ele dizia:

- Daqui hoje ninguém sai

A fama do vencedor

Mais tarde ela cai.

Toda semana ele ia

Na feira fumo comprar

Quando chegava à cidade

Haja gente se lembrar

Da grande briga que teve

E era história pra contar.

Uma tal de Josefina

Irmã de Barra Funda

Falou até de uma dedada

Que levou pela bunda

Desse tal Pedro de Bia

Numa tarde de segunda.

Falou disso e chorou

E gostou do que ela viu

Mané Bento dá uma surra

No filho de José Biu

Que o peste se foi embora

Pra longe escapuliu.

Já́ o fazendeiro Augusto

Queria tudo saber

Fazia pergunta ao povo

E não conseguia entender

Como aquele frangote

Fez Mané Bento perder.

Dona Carminha tremia

E seu velho consolava

Sofria calada no canto

Um medo lhe atormentava

Um coração de mãe sofre

E pra chorar se ausentava.

O dono de Labirinto

O engenho botou à venda

Com medo de represália

E que ele não se arrependa

Dizia o primo Juca

Escorado numa tenda.

Se arrepender de que?

Dizia o Mané Bento

Quem fugiu foi o cabra

Depois do sofrimento

Ele que se cuide

Era este o discernimento.

Ninguém ouvia falar

Do tal Pedro de Bia

Pra onde tinha ido

E se voltava algum dia

Era conforto pra todos

E motivo de alegria.

Ninguém queria comprar

As terras de Labirinto

Se não me engano o juízo

Só Lourival Roberto Pinto

Deu uma proposta tão baixa

Que Juca ficou no recinto.

Ninguém tinha dinheiro

Para aquele engenho comprar

Não aparecia um Cristão

Que pudesse lhe ofertar

Uma proposta pra lá de boa

E na terra quisesse ficar.

O jeito foi esperar

O que pudesse acontecer

Viver assim com medo

Era tamanho o sofrer

Por causa de uma encrenca

Que o primo foi meter.

Mané Bento ainda por cima

Era teimoso de dar dó

Vivia contando história

Que nunca levou a pior

A surra dada em Pedro

Não achava ser a melhor.

Falava de outras lutas

Que o bicho participou

Todas elas vitorioso

E assim ele contou:

- Já briguei com mais de cem

Não fiquei nunca com dor.

- Dei rasteira no Diabo Quenga

E no peste Toucinho de Vaca

Antes de vir pra Labirinto

Destruí o Fragoso Paca

Dei lapada em Cu de Grude

Fiz correr Toinho da Jaca.

E se vocês querem saber

Não queiram saber de mim

Rasparam o sovaco de China

E lascaram o dente de Padim

Os dois chuparam o traseiro

Do jumento de Seu Inacim.

F I M

João Pessoa-PB, 17 de fevereiro de 2018.

O VALENTÃO E O MAGO - (Final)

O muro que Pedro deu

Foi direto no poderoso

Coitado do Chico

Morreu foi desgostoso

O ovo de cada lado

Ficou mais que horroroso.

A pancada foi tanta

Que o bicho mudou de lugar

Não teve como viver

Nem aqui, nem acolá

O melhor foi ele morrer

E no inferno se lamentar.

Do outro lado da feira

Seu Antônio fogueteiro

Um senhor respeitador

Se lembrava dum forasteiro

Que levou um bofetão

E foi direto pra Oitizeiro.

E com tudo isso contado

Podia Pedro de Bia fugir?

Só era acertar as contas

E depois, dava pra decidir

Mas primeiro preferiu

Tão cedo partir.

De repente o alvoroço

Corre gente pela feira

Voltou Pedro de Bia

E agora tinha uma peixeira

Coitado do Mané Bento

Deixar desta besteira.

De andar falando dos outros

Sem saber qual o destino

Berrava cabras e bodes

Na paróquia batia o sino

A peixeira do bandido

Foi herança de Balbino.

Balbino foi cangaceiro

Das tropas de Corisco

Depois fazedor de faca

Nas terras de Zé́ Francisco

Hoje era o protetor

Daquele sujeito arisco.

O mago Mané Bento

Nem a pestana mexia

Não esperava nunca

A volta de Pedro de Bia

Ficou ali se tremendo

Perdendo toda alegria.

Pedro de Bia voltava

Com Balbino do seu lado

Os dois pesavam muito

Como capanga contratado

Saíram procurando Mané

E ai dele se fosse achado.

Foi direto ao engenho

Na mesa uma oferta botou

O preço que Juca deu

A quantia o cabra dobrou

E lá́ os dois ficaram

E Mané Bento nada notou.

Entrou na venda de fumo

Não viu ninguém no lugar

Ficou desconfiado

Mas foi logo procurar

Havia tanto silêncio

Que começou a desconfiar.

De repente a lamparina

Acabou a iluminação

O escuro naquele dia

Foi pior que inflação

O chiado tomou conta

Daquela ocasião.

Mané Bento não entendeu

O que estava acontecendo

Passos pela casa

Seu coração logo sofrendo

Balbino que era gordo

O chão foi se tremendo.

A voz de Mané Bento

Ficou presa na garganta

Não conseguia dizer nada

E tinha fome de janta

No escuro da noite

Um vulto estranho levanta.

Com a voz do outro mundo

A dupla logo aprontou

Partiram pra cima do mago

Mas uma rasteira ficou

Gritavam feito demônio

Mas Mané Bento não se assustou.

Logo percebeu a coisa

Da vingança do derrotado

Deu uma volta no escuro

E meteu o dedo no fresado

Gritava o velho Balbino

No chão o corpo estirado.

Mané Bento sabedor

Da coisa que ali estava

Zombou com voz de morto

E Balbino no chão gritava

É Me livra Mané Bento

É Não sou que aqui estava.

Pedro de Bia bandido

Querendo a luta vencer

Acendeu a lamparina

E com peixeira começou a bater

Mané pulava feito macaco

E sem faca ia sofrer.

Balbino pediu por tudo

Que dali fossem embora

Mas o danado do Pedro

Era galo ruim de espora

Não ia deixar o engenho

Que era dele agora.

O braço de Mané Bento

Pequeno e bem certeiro

Acertou o dente de Pedro

Era sangue e mal cheiro

Na cidade aumentava mais

As conversas de fofoqueiro.

Alecrim do velho Pomba

Casado com Mãe Candinha

Quis saber onde estava

A família de Carminha

Contaria tudo pra mãe

E escreveu logo uma cartinha.

Mendonça lá́ da serra

Que vende fumo também

Criou um sindicato

Dos valentes do além

Dizia que tinha morrido

Pro povo dizer amém.

No engenho a cara

Que o bem que Deus nos deu

Não tinha nada perfeito

No outro o outro bateu

Tudo modificado

A medicina se entristeceu.

A bunda de Mané Bento

No estômago ficou morando

A boca de Pedro de Bia

Sem dente foi se acostumando

O olho de cada um

Ia aos poucos se fechando.

Cada mãozada de Mané Bento

Na testa tome defeito

Coitado do Valente Pedro

Vencer o mago não tinha jeito

Quando tentava dar um golpe

O dedo virava rejeito.

Os dois cambaleando

Não quiseram se entregar

Lutaram até́ o fim

E ninguém soube explicar

No leito derradeiro

Foi difícil terminar.

Cada um com sua história

Não há razão pra tal assunto

Lado a lado na sala

Por cima do outro o defunto

Hoje moram na cidade

Por nome Pé́ Junto.

Cada gente de Labirinto

Não quer mais levar vantagem

O engenho não é mais o mesmo

Ficou somente a imagem

De uma luta sem sentido

Que mudou toda a paisagem.

De uma terra que tinha tudo

Onde a harmonia reinou

Agora é um mistério

Lá tudo que se plantou

O tempo destruiu tudo

Uma só́ árvore não ficou.

O diabo venceu a luta

A dupla saiu perdendo

A briga não leva a nada

E como vem acontecendo

A desordem no social

Deixa o bem se escondendo.

Juca Peixoto e Carminha

Na cova do filho amado

Choram a despedida

De um tempo que foi passado

Mané Bento tão pequeno

No engenho foi educado.

Depois de grande virou herói

De bocas desqualificadas

Morreu por força da vaidade

Do boi valente das vaquejadas

Pedro de Bia era o demônio

Daquelas falas contadas.

F I M

João Pessoa-PB, 17 de fevereiro de 2018.

POPULARES POETAS - (primeira parte)

Eu agora vou contar

Por favor preste atenção

Leia o que já ouviu

Fez tão bem ao coração

A poesia popular

Engrandece a Nação.

Os poetas populares

São tantos nesta pesquisa

Quem quer sabe o que faz

Quem faz sempre precisa

Viva o cordel paraibano

Entre poetas e poetisas.

Há muito tempo atrás

Morava lá em Pombal

Leandro Gomes de Barros

Símbolo da criação inicial

Perambulou por tantas feiras

Trocou folheto por capital.

A gênese desta história

Bebem na fonte de Ugolino

Criou versos na oralidade

Contribuiu com o destino

Sobreviveu o nosso cordel

Este foi o seu desatino.

Os Nunes que são tantos

Os Batistas também são

É repente, viola e cordel

Eis a grande contribuição

O cordel é tão paraibano

Como é rico em erudição.

Cordelistas paraibanos

São tantos existentes

A Paraíba é o celeiro

De letras e repentes

José Alves Sobrinho

Foi catalogar os diferentes.

O cordel paraibano

Tem história para contar

Foi o centro das atenções

Desta cultura milenar

Cada cidade deste estado

Tinha uma feira popular.

Havia muitos cordéis

Em cordões pendurados

A viola era dedilhada

Dos motes organizados

Viva o cordel paraibano

É dinheiro valorizado.

A Academia de Cordel

Do Vale do Paraíba

Agrega muitos poetas

Assim falou o nobre Escriba

É poesia dita cuja paraibana

Musicada pelo vizinho Capiba.

Jansen Filho é um grande nome

Que tinha o dom da poesia

Por onde o cabra andava

Era grande a euforia

Recitava vários versos

Haja fôlego e alegria.

O poeta e a poesia

É como a mãe e como o pai

Essa dupla anda junta

E a rima sempre sai

Quanto mais se tem poeta

Com ele a poesia vai.

A Paraíba é muita rica

Em todo campo cultural

Tem teatro, poesia

Tem música e carnaval

Ser filho da Paraíba

É viver no verso da moral.

O cordel paraibano

Tem nome que dá respeito

Leandro, Arêda e Leite

E Das Neves grande feito

A primeira mulher

No cordel fez seu direito.

Viva a poesia da Paraíba

Viva a rima paraibana

Com cheiro de mato seco

Da palha da cana caiana

Deus proteja, nós poetas

Do veneno da cobra caninana.

O poeta é muito simples

Com muita história pra contar

Seja dia ou seja tarde

Não há hora pra chegar

A poesia é água pura

Feita pra se degustar.

Poeta e Poesia é assim

As mesma coisa em ação

Um provoca o outro

Em termos de inspiração

O poeta da Paraíba

É êxtase que pulsa o coração.

Viva o poeta e a poesia

Que andam de mãos dadas

Construindo belos versos

Com frases tão recitadas

No meio da rua e da praça

São estrofes tão comentadas.

Dizem que o cabra nasce

Com a veia de poeta

Não sei se isto está certo

Por ventura é tanto incerta

O tempo é bom momento

Quando a porta está aberta.

A poesia de um poeta

É feita quase de inspiração

De noite o poeta dorme

De dia faz a sua criação

A poesia dita paraibana

Tem muita constelação.

É estrela que brilha tanto

No infinito lá do céu

É literatura infantil

De plebeu e menestrel

É poesia clássica de gosto

Bem juntinho do cordel.

Oh poeta de bancada

Que escreve com seu amor

No Brasil de Norte a Sul

Escrever tem muita dor

O cabra escreve o que pensa

Do ficar e do que passou.

O menino no papel

Pensa no primeiro verso

Pra ofertar a namorada

Num belo papel impresso

Falar de passado, poeta

É coisa que me interesso.

A Poesia é um sangue

Que trafega em todo Ser

Invade as inspirações

E elastece nosso viver

Ser poeta paraibano

Faz tudo isto entender.

A Paraíba é produtiva

Em tudo aquilo que faz

Mas a arte é seu destaque

Entre a guerra e a paz

Os versos paraibanos

O inverso deixou pra trás.

Sérgio de Castro Pinto

Políbio Alves meu amigo

Poetas de primeira

Coração de bom abrigo

Os versos destes poetas

É razão de estar contigo.

Neto Ferreira, Fábio Mozart

Chico Mulungu e Baraúna

Sander Lee e Sander Brow

No tronco da jacaúna

Fazendo belos versos

Que recordo Suassuna.

Vicente Campos e Jota Lima

Lino Sapo e Vavá da Luz

Este quarteto é fogo

No verso que nos conduz

Caminhando pelas pedras

Falam em nome de Jesus.

Marconi Araújo, presidente

De uma grande Academia

Dentro com tantos poetas

Que só fazem poesia

É estilhaço de versos

No repente e na cantoria.

Tiago Monteiro tem programa

Nas cordas de uma viola

É cantador que não falta

Feito cego pedindo esmola

Tem mote pra todo mundo

Que cabe numa sacola.

Thiago Alves tem a voz

Que dá gosto de se ouvir

Zé da Luz de Itabaiana

Feste este cabra sentir

Com sua interpretação

Coisa boa vai se fluir.

A Cristine Nobre e a Luciene

Trazem força na poesia

São efetivas no eterno

No sentar de uma academia

Trafegam em belas rimas

Entre dor e alegria.

E aqui vou terminar

Quero a todos agradecer

Se alguém eu esqueci

A poesia vai se ver

Obrigado de coração

Mais poetas vão conhecer.

FIM

João Pessoa-PB, 08 de janeiro de 2020.

POPULARES POETAS - (segunda parte)

Esta obra que escrevi

Sobre poesia popular

Tanta gente de fora ficou

E eu tive que optar

Os grandes nomes peguei

E vamos agora publicar.

Em Prata vamos encontrar

Zé de Cazuza na boemia

Com a memória de menino

Faz a sua veia em maestria

Este velho é bem valente

Na dor e na alegria.

Pinto do Monteiro é grande

Nas lembranças da vovó

Cantou com muita gente

Na cantoria era o melhor

Um tal de Zé Limeira

Quase que leva a pior.

José Alves Sobrinho

Foi um grande pesquisador

Trouxe histórias de Zé Limeira

Em Campina ele mostrou

Discutiu com Orlando Tejo

Que o livro publicou.

Novos poetas surgem

E o cordel vem pela saia

Tem pessoa que recita

É um tal de Merlânio Maia

Valorizando a mulher

Dá empate nesta raia.

Bruno Gaudêncio chegou

Jairo Cezar soltou um verso

O poeta de Sapé

É poesia papel impresso

A dupla é muito boa

É saudade que te peço.

Irani Medeiros tem

A veia de pesquisador

É um grande poeta

Na fritura do amor

Por onde ele passa

A musa o verso conquistou.

Ele está em toda fase

Da poesia brasileira

Nosso Augusto dos Anjos

Tem verso na dianteira

Falou tanto de saudade

Sua poesia primeira.

Os que vem de fora

Dão a sua contribuição

Louro, Dimas e Otacílio

Do Litoral ao meu Sertão

Cantaram de improviso

O amor e a paixão.

Oliveira de Panelas também

Trouxe a viola na bagagem

Cantou com os Patriotas

E ficou a boa imagem

Navegando na saudade

No cactus da paisagem.

João Paraibano foi bom

No verso e na cantoria

Já cantou com tanta gente

E hoje é só melancolia

João merece aplauso

De Pernambuco a Bahia.

Zé Marcolino compositor

Poeta da grande Sumé

Descobriu tão cedo os versos

Dedicados à mulher

Gonzaga musicou

Na sanfona que virou fé.

Raphael de Carvalho teve

Grande veia cultural

Fez cordel e foi cantor

Como ator foi genial

Engolia o coração

Isso era sensacional.

Violeta Formiga e Anayde

Duas grandes escritoras

Tão cedo foram simbora

Cuidar de outras lavouras

A poesia desta dupla

É estudada por doutoras.

Antônio Mariano e Hildeberto

São críticos literários

Escrevem os seus poemas

No campo dos libertários

Os versos que deles brotam

Com o saber são solidários.

Relembrando os grandes cordelistas

Que no final do cordel assinavam

Eram iniciais ou mesmo o nome

E assim eles humildes deixaram

Uma marca de sabedoria

Que outros mais na frente contaram.

Eu também penso em fazer

O que eles lá atrás fizeram

Pôr o meu nome acróstico

E alguns já me disseram

É complicado o assunto

Muitas informações trouxeram.

Poesia é água corrente

Na veia de uma correnteza

Invade o sentimento humano

E destrói por completo a beleza

Deixa todo o mundo igual

Num repente de uma peleja.

O poeta e a poesia são únicos

Na terra da arte brasileira

Cada frase que a mente cria

É poesia que anda ligeira

O poeta pega a caneta

E responde com uma rasteira.

Maria das Neves foi a primeira

Entre tantas que hoje escrevem

Unidas num só coração

Elas o bom cordel exercem

Da Paraíba a Alagoas

De avião ou de canoa

Elas respeito merecem.

Izabel Nascimento é pessoa

Cordelista sergipana

Fundou uma Academia

E mulher lá não reclama

Os versos de Izabel

Já li de cair na cama.

Daniela Bento de Aracaju

Com Izabel organizou

Uma coletânea das boas

Feita para qualquer leitor

É cordel que anda na linha

Na saia da amiga Dalinha

No gostar de puro amor.

A amiga pernambucana

Edilene cordelista

Com aquele chapéu de couro

Tem fama pra lá de artista

Estando em solidão profunda

Leio os de Dalinha Catunda

E fico logo otimista.

Lá vem a Tonha Mota

Com Maria Anilda falando

De um tal cordel de saia

Que Dalinha foi cantando

É a mulher dos grandes versos

Participante de congressos

Se eu não for vão se chegando.

Anny Karolinne é enfermeira

Herdou o dom da criação

Faz cordel com maestria

E usa cabeça e mão

Tem Anne Ferreira de Queimadas

Com belas e boas tiradas

Haja cordel de amor e paixão.

Maria Anilda é gente boa

Lá das terras do Ceará

Prende o povo na leitura

Só pra ver o quer que dá

Tem tanta mulher no cordel

Muito mais que anjo no céu

Chegou Cristine Nobre

Com seu trabalho em mãos

Feito para a leitura

De cidadãs e cidadãos

É poetisa de Academia

Acolhida pelos irmãos.

Paraíba tem o pôr do sol

Tem belas praia no litoral

Paraíba tem artistas

Tem Ariano intelectual

A Paraíba de Augusto

E o forró de Genival.

A Paraíba tem cultura

Do algodão e do alho

Na música é de primeira

Pelo nome de Ramalho

É Elba, Zé e Luiz

Cartas de um baralho.

Paraíba de mulher macho

Violeta, Anayde e Elizabeth

A sanfona de Flávio José

Encanta até o pivete

O som de Jackson

É pandeiro que se derrete.

Viva o povo paraibano

Na arte da poesia

Leandro Gomes de Barros

Na terra de Dona Maria

Tem Seu Zé e Seu João

É festa, é muita folia.

E aqui chego ao final

Deste meu belo cordel

Escrito na precisão

Na aba do meu chapéu

Falo de quem já morreu

E de quem vive neste plantel.

FIM

João Pessoa-PB, 23 de abril de 2019.

MULHERES GUERREIRAS

Eu vou contar o segredo

Da grande mulher guerreira

Nascida na Paraíba

Que se fez como enfermeira

Para cuidar dos pobres

Que brigavam de peixeira.

Era filha de Etelvina

Uma viúva da grana

Mas não precisou da mãe

Para ser rica e bacana

Lutando descobriu

O bom da cana caiana.

Ela quando era pequena

Naquele engenho brincando

Pegou uma palha da cana

Ficou só imaginando

Que aquilo lhe serviria

Foi logo se planejando.

Só via a zona rural

O centro só de passagem

Quando ia com a família

Ficando olhando a paisagem

Vendo todo aquele verde

Pensava naquela imagem.

Aquela que não saía

Daquela mente infantil

Criaria alguma coisa

Para o avanço do Brasil

No jipe ia logo atrás

Olhando o céu azul anil.

Sua mãe Dona Etelvina

Filha do major Soares

De vez em quando espiava

Essa menina nos ares

Dizia: - Queremos ver

Quando você ver os mares.

A mãe falava das praias

Que fica na capital.

Maria vive no engenho

Brincando no seu quintal

Com a menina mais nova

Do feitor Seu Juvenal.

Elas brincavam de tudo

Pouco mais de cientista

Com sua amiga Joana

Que pensava em ser artista

Se tornando professora

Uma leitora marxista.

Sobre o tema anterior

No centro dessa cidade

A Maria se encantava

Tinha muita vaidade

Era bastante educada

Só respondia verdade.

Dizendo pra sua mãe

Que não gostava de mar

Podia ir lá qualquer dia

Mas, no engenho ia ficar

Queria ser enfermeira

E teria que estudar.

O seu papai, Zé Venâncio

Homem de pouca conversa

Foi perguntando pra filha:

- O que é que te interessa

Se é através do estudo

Que se paga até promessa?

A Maria ouvindo aquilo

Ficou sem compreender

A mãe concordou com ele

No centro foram descer

Era tanta gente ali

E ela só quis conhecer.

Mas, antes do seu destino

Começou então refletir

O que seu pai tinha dito

Ela então veio sentir

Seu pai nem imaginava

E, portanto, nem ouvir.

É que ela queria ser

Enfermeira arretada

Pois, seu pai só falava

Dela sendo advogada

E ela desconsiderava

Era bom ficar calada.

Cambiteiro aposentado

Um tanto bastante esperto

Empregado do seu avô

Do coronel Adalberto

Por causa de uma peixeira

Nunca fez o que era certo.

A Maria chegou ali

E ficou só conversando

O cambiteiro Zezé

Foi somente se explicando

Que aquela palha da cana

Pois, quase foi lhe matando.

Despertando na menina

Tanta curiosidade

Enquanto a mãe fez a feira

Naquela bela cidade

A filha até pensava

Entrar na Universidade.

O Zezé foi e disse que ela

Era cagada sua avó

Que lhe tinha grande apreço

E pela mulher Soró

Que trabalhava na terra

Todo dia, sol a sol.

A menina quis saber

A história da peixeira

E Zezé disse que nada

Tudo era só brincadeira

Que ela fosse simbora

Fosse direto pra feira.

Que seu pai era sério

E não queria confusão

Maria logo atendeu

E ficou sem solução

A história do Seu Zezé

Lhe deixava sem ação.

Neste instante a mãe

Pergunta onde ela estava

Ela diz: - Em Seu Zezé

Que do engenho falava

As duas foram seguindo

Aonde o Venâncio pagava.

Era um mercadinho

Que tudo tinha lá

Da comida da casa

Se podia tudo comprar

Dona Etelvina e a filha

Acabaram de empacotar.

Venâncio pagou a conta

E perguntou para a filha

Se ela tinha sumido

Se foi direto pra uma ilha

E nesse instante a menina

Seu olho apenas brilha.

Vai dizendo ao pai

Tudo que sua mãe já sabia

E o pai disse que ela

Que se chamava Maria

Tivesse mais cuidado

E deixasse de fantasia.

Esquecesse o cambiteiro

E tudo que dele ouviu

Seu pai sempre foi bom

E ele foi quem fugiu

Deixando toda fornalha

Que por pouco não caiu.

Que seu Zezé era gente

E falava até demais

Que ela não se preocupasse

Que ele chamaria o rapaz

Pra ela conversar com ele

Na sua frente e não por trás.

Maria ficou tão triste

Indo pro engenho não falou

O pai falando com a mãe

E bem baixinho cochichou

Maria toda em silêncio

Naquele homem pensou.

Se seu pai chamasse ele

A história queria saber

O porquê de tudo isso

Estava torcendo pra ver

O que estava correto

Pra ela tudo entender.

Descendo daquele jipe

A Maria foi procurar

A sua amiga Joana

Tão somente pra conversar

Falar dos seus pais

E da história do mar.

Joana ouvia tudo

E se alegrou com a praia

Dizia para Maria

Que usaria a sua saia

Bordada pela mamãe

Uma bela paraguaia.

Tinha o nome de Nara

Aquela nobre senhora

Que veio de San Lorenzo

E nunca mais foi embora

Se casando no Brasil

E vendendo renda pra fora.

A dona Nara queria

Que sua filha estudasse

Ela e o seu marido

Não deixava que trabalhasse

Somente para o estudo

E que ela se formasse.

O feitor Pedro Bolero

Que dançava pra xuxu

O apelido lhe pegou

Numa festa em Caxitu

Conheceu a paraguaia

Numa cidade do Sul.

Joana tinha muito orgulho

Daquele simples casal

Que trabalhavam pra Venâncio

Naquele antigo hospital

E hoje viviam no engenho

Naquela vida normal.

O feitor era um homem

De tamanha confiança

Trabalhava no engenho

Por nome boa esperança

Era o xodó do povo

O principal da criança.

FIM

João Pessoa-PB, 21 de março de 2020.

MULHERES GUERREIRAS II

Maria fala pra Joana

Que ela fizesse planos

Pra ter uma vida melhor

Em todo passar dos anos

Ela tinha que ter foco

Pra esquecer os desenganos.

As duas meninas estavam

De férias escolares

Brincavam todos os dias

E se agoniava a Soares

A cozinheira que veio

Da cidade de Palmares.

Dona Etelvina chama Maria

Já é hora do almoço

Joana não quis ficar

Foi direto pro poço

Acompanhando a mãe

E seu cachorro colosso.

Depois da refeição

Maria no seu aposento

Não sai de sua cabeça

Todo aquele momento

Vivido lá na cidade

Que lhe causou até tormento.

E que seu Zezé

Um cambiteiro afamado

Tinha despertado nela

Que nada foi solucionado

Depois da conversa do pai

Que ficou até zangado.

Enquanto isso, chegava

A sua amiga, Joana

Despertando nela

Falar da cana caina

E as peixeiradas todas

Que ocorriam toda semana.

Joana sobe no quarto

E Maria começa a falar

Sobre aquele cambiteiro

Que não quis mais comentar

O que houve com ele

No engenho a trabalhar.

Joana dizia assim

Não querendo se meter

Que seu pai era amigo

E podia até ele trazer

Levaria ela pra lá

Sem o pai dela saber.

Maria de forma simples

Disse que essa história

O pai já tinha dito

E ficou na sua memória

Que ia trazer o seu Zezé

E pra ela é uma vitória.

FIM

João Pessoa-PB, 21 de março de 2020.

PATINETE DA MINHA INFÂNCIA

Eu sou de João Pessoa

Na Paraíba me criei

Descendo de patinete

Diversas vezes brinquei

Já tive tanto brinquedo

Certamente já contei.

Patinete faz rever

Sonho nenhum apagou

No meu tempo de criança

Linda saudade ficou

Me lembro do patinete

Que de tão frágil quebrou.

Meu mundo de brincadeira

Dava tempo na corrida

Daquela tal meninada

Com tanto prazer na vida

Ganhando velocidade

Se perdendo na subida.

O primeiro Patinete

Eu chamei de Pontaria

Um nome dum motorista

Que mais tarde morreria

Dei pro bicho lindo nome

Por amor com alegria.

Pontaria era pequeno

E não dava pra levar

O meu irmão queria tanto

Eu só mandava empurrar

Pois, eu levei foi uma surra

Para nunca mais brincar.

O Patinete quebrado

E eu tão somente chorava

Culpa daquele meu irmão

Que sozinho reclamava

Minha mãe ficou com pena

E pra mim só ajeitava.

Pontaria ficou bom

E dei tranquila voltinha

Meu mano todo contente

Numa tremenda ladainha

Entreguei com a tristeza

No canto de uma modinha.

Meu irmão que queda levou

E a mamãe se aborreceu

Pegou aquele Patinete

Logo desapareceu

Eu esperneava muito

Por tudo que aconteceu.

A pirralhada gritava

Tão somente pra brincar

Outros tantos chegavam

Haja gente se juntar

Corrida de patinete

Meu brinquedo popular.

Tem rolimã na tração

Meu patinete corria

Na ladeira do Castelo

Tanto menino subia

Aquele bicho veloz

Com certeza ganharia.

Era grande a alegria

Descendo no Patinete

Tinha tanta gente ali

Até mesmo Espaguete

Correndo mais do que tudo

Disputando com Chiclete.

Chiclete bom apelido

Do filho de Seu Mané

Batedor do mundo todo

Grita: - Deem o rolé!

A gente se revoltava

E dali dava no pé.

O Patinete de Toinho

Por demais bem elegante

Enfeitado de bandeira

Batizado de Elefante

Aquele bicho comprido

De colorido chocante.

Primeiro campeonato

Fiquei no quarto lugar

Didi ficou no segundo

Mixengo quis aprontar

Discordou do resultado

E fez tudo pra ganhar.

Na recontagem dos pontos

Mixengo chegou primeiro

Espaguete bem falou

Recebe logo terceiro

Tem seres inconformados

Surgindo grande berreiro.

Nesse prêmio teve taça

De beleza por sinal

Pendurada numa fita

Nas mãos de forma normal

Entregue pros vencedores

Nas festas do carnaval.

Mixengo ficou contente

Foi lavar seu Patinete

O Didi de Dona Creuza

Em cima do caminhão

Gritava pra todo mundo:

Campeão é Espaguete!

Espaguete não gostou

Com sua mãe foi se ver

Levou logo grande surra

O pai botou pra valer

Não sairia mais de dia

Nem também anoitecer.

Patinete é saudade

Tempo nenhum apagou

Brinquedo é infantil

Tanta saudade deixou

Lembro dum tal Patinete

Que na ladeira quebrou.

O de Beto logo foi

Feito com tudo pregado

Mas na ladeira quebrou

Nada é aproveitado

O dono do patinete

Ficou bastante zangado.

O patinete dali

Tinha seu nome botado

Eu dono de Pontaria

Tanto tempo consertado

Já o Nado, calango

Por ele todo pintado.

Tínhamos nomes de fruta

Já chegou nosso Maçã

Tremendo carro de Toinho

Com um grande rolimã

Se não fosse conhecido

Chamaríamos Romã.

Porque Toinho caçava

E um apelido pegou

Chamado de guriatã

Ele de nada gostou

Correndo no patinete

Ele um dia se zangou.

Na batida do patinete

Que era de Joãozinho

Uma confusão tamanha

Só houve um empurrãozinho

O Mixengo desapartou

E ficou com o carrinho.

Este era o nome certo

Do brinquedo Patinete

O carrinho dos meninos

Que ganhava de marinete

Com tanta velocidade

Gritavam: - Viva Espaguete!

Espaguete era veloz

Patinete de primeira

Nunca nós pegamos ele

Quando descia a ladeira

A roda do tal carrinho

Foi aquela quebradeira.

Todo mundo se aprontava

Para o tempo da corrida

Era aquela meninada

Com tanto prazer na vida

Ganhando velocidade

Na volta como na ida.

Era tanto menino

Que nunca deu pra contar

Fora outros que vinham

Com a gente se juntar

Correndo de patinete

Nossa forma de brincar.

Foram poucas todas brigas

Duma mãozada fictícia

Mixengo sendo maior

Namorado de Letícia

Apaziguando momento

Naquela boa notícia.

Nas lembranças que vivemos

É boa recordação

Mexe com o sentimento

E faz bem pro coração

Patinete foi brinquedo

Causando só emoção.

De roda de rolimã

Patinete só corria

Na ladeira do Castelo

Tanta gente lá subia

Que patinete veloz

Na certa só ganharia.

Pontaria na conquista

Grande desafiador

Com suas rodas gigantes

Tanta pista bem rodou

Meu brinquedo popular

Que me lembro com amor.

Chego no fim do Cordel

De Patinete falei

Daquele nosso carrinho

Que tanto tempo vibrei

Agora neste meu drama

Só eu sei do que passei.

FIM

João Pessoa-PB, 03 de maio de 2000.

A CANGAIA QUE TUA MÃE BOTOU COM O SACRISTÃO CHICO TRIPA - VOLUME I

Caro leitor queira entender

Sem tamanha discussão

A história deste homem

Mexe com o nosso coração

Que sujeito sem amor próprio

Mesmo depois da traição.

Ele se chama Damião

Sempre gostou de mulher

Casou-se com Florisvalda

Tudo em nome da santa fé

Sua mulher de vez em quando

De casa dava no pé.

Hoje em dia ele tem medo

De voltar pro seu sertão

Pode até ser morto

De foice, faca ou facão

Quer somente desabafar

E precisa só de atenção.

A beata Elisa já dizia

Que Chico era cretino

E gritava muito mais

Só lhe chamava de menino

Em nome da fé tomou pisa

E lhe fez ainda tocar o sino.

Florivalda começou a sair

Servir a sua religião

Lá se envolveu direito

Com um tal sacristão

Chico Tripa era o nome dele

Triste sina meu irmão.

O sacristão Chico Tripa

Se envolveu com Florisvalda

Foi amor à primeira vista

Que maldita condenada

Não respeitou nem o título

De fiel mulher casada.

Ela botou foi cangaia

Com um tal de Chico Tripa

Até hoje é uma tristeza

Quando lembra lá de Pipa

É que ele tem uma pousada

E me cobriu no pau da ripa.

A igreja de Chico Tripa

Não tomou nenhum partido

Desconheceu a sua história

De um pobre coração ferido

Ficou indiferente do caso

E lhe deixou muito sentido.

Florisvalda era gostosa

E tinha bastante vaidade

Não valorizou seu marido

E só lhe fez crueldade

Chifre dos pés à cabeça

Acabando a sua liberdade.

O sacristão era falante

E coordenava reuniões

Lá o bicho pegava todas

Que lhes dava os corações

Aconteceu com Florisvalda

Se envolveu nas emoções.

O sacristão se aproveitava

E tome cheiro no cangote

Florisvalda gostava disso

Tomando água de pote

Chico Tripa era sabido

E soube bem dar o bote.

Aquele tão pobre homem

Com o filho se abraçou

Cada um chorava mais

Nem sei quem mais chorou

Só sei que estre drama

O Damião sempre enfrentou.

Diante de uma simplicidade

O homem chorando quer

De todas as maneiras

Ser amado pela mulher

Ele ama a Florisvalda

E fala assim com tanta fé:

- Nasceu um menino em casa

De prontidão já desconfiei

Cagado e cuspido Chico Tripa

E de Francisco o nome botei

Sua mãe nega até hoje

Mas a verdade só eu sei.

Esta história toda lhe arrasa

E olha seu filho amado

Florisvalda perdeu a cabeça

E seu amor foi terminado

Ele sabe que é um corno

E não passa de um azarado.

Dizem que Chico era fogo

Na cama o bicho era brasa

Dava quatro por noite

Aí sua mulher se arrasa

Com ele era só uma

Na sua humilde casa.

Ele não culpa a mulher

Não entendo seu dissabor

Florisvalda reclama de tudo

Até um simples mau humor

Depois de um certo tempo

Ela somente lhe humilhou.

Meu leitor não se apresse

Este homem quer desabafar

Ele quer contar tudo

Você só tem que escutar

Este coitado já sofreu muito

Só quer a cabeça esfriar.

Segue pobre homem do campo

A desbulhar essa trajetória

Não sei qual conclusão

Só quero escrever a tua história

Fique à vontade e conte tudo

Aqueça bem a sua memória.

Abraçou o filho mais uma vez

Deu um respirar bem profundo

Olhou bem alto o tempo

E se fez lembrado no mundo

Muitas vezes por Chico

Somente chamado vagabundo.

O filho atento ao pai

Pediu quase chorando

Que ele não se matasse

Por tudo que vinha passando

Cada lágrima nos olhos

Era um rio se encontrando.

Eu que transcrevo sofro

É por isto que faço um rodeio

Coitado vivente sertanejo

É sofrimento e muito aperreio

Vamos deixar com o homem

O fim, o início e o meio:

- A cangaia que ela me botou

Só você entende e mais ninguém

De novo, obrigado meu povo

Isso é somente pro meu bem

Se ela fez isso já pagou

Com o mal e nunca com o bem.

Boa sorte ele desejou

O destino cada um é quem faz

O homem lhe quer o bem

É assim a sua modesta vida

Chico Tripa deixou a batina

Hoje de fazenda é capataz.

A cangaia que ele carrega

Dói até a coluna vertebral

Não reclama das dores

Depois de um abdominal

Se formou nessa vida

Só tendo o curso do Mobral.

A cangaia lhe dói por inteiro

Penetra os rins desse idiota

Que vive pedindo dinheiro

Já apanhou de um agiota

Quando olhou era o Chico

De cinto de ouro e bota.

Ele é capataz e tem dinheiro

E sabe cuidar de precisão

Hoje está devendo a ele

Quase de dívida um milhão

Veja no que passa o cabra

Mesmo depois de uma traição.

Se hoje o choro tem jeito

Não sei expressar sua dor

Pra criar tantos filhos assim

Como tanto dinheiro gastou

E ouve: - Chico Tripa tá mudado

Vive com a mulher do senhor.

Cada filho dele um pai tem

E ele cria sem condição

E dizia praquele filho:

- Você é filho do sacristão

És o fruto daquele dia

Daquela que chamam de traição.

Mas te crio com bastante amor

Queria tanto te contar

Sei que já é tarde

Não tenho mais como esperar

Se quiser procurar Chico

Eu sei como encontrar.

Damião é muito forte

E tem no peito gratidão

Ama cada um dos filhos

Como se fosse da geração

Porque no fundo ele sabe

Todos são do sacristão.

E assim termina a história

Deste homem que agonia

Levou cangaia e deu um salto

E hoje é fruto da poesia

Onde houver um corno

Lá está chorando Mané Maria.

F I M

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 2006.

A CANGAIA QUE TUA MÃE BOTOU COM O SACRISTÃO CHICO TRIPA - II

Essa história é muito triste

É triste, mas sigo adiante

Sua mãe foi uma amante

E até hoje a bicha não desiste

Ruim pra ela é só o que existe

Levei cangaia, que maldição

E pras bandas do meu lugar

Não posso nem lá chegar

Foi com um safado sacristão

Que a danada fez a funicação.

Chico Tripa era grande cretino

Um religioso da cara mais lisa

Em nome da fé me deu uma pisa

Me chamou também de menino

Aí completou que o meu destino

Era levar nessa vida cangaia

Ouvindo isso muito triste fiquei

Juro de pé que de nada gostei

Jamais fui me ter com rabo de saia

Se estou mentindo o céu me caia.

Sua mãe começou de casa sair

Pra uma bendita aula de religião

Lá encontrou esta peste de sacristão

E nessa ida o que estava por vir

Um culto que só podia permitir

Mulher bem casada frequentar

Então Florisvalda que era lá se foi

Nesse dia a coitada estava de boi

O sacristão com o olho a piscar

E ela calada deu logo a espiar.

Esse olhar durou um tanto bastante

E Florivalda toda atiçada e vaidosa

Achava que era linda e gostosa

E o sacristão ali todo falante

Estava bem vestido e elegante

Conduziu delicadamente a reunião

Ela toda sorridente foi depor

Um depoimento sobre o amor

O bicho se aproveitou da falação

E conquistou ela pelo coração.

Isso dá tristeza só no falar

E não havia antes tanta mentira

Tudo era sério, hoje o mundo gira

E girando não me queira perguntar

Se eles foram ao culto orar

Talvez tenham ido, não me interessa

O que vale dizer é a pouca vergonha

Da tua mãe esperta e medonha

Ir atrás de uma desgastada peça

Se ainda carrego comigo essa.

O sacristão safado se aproveitava

Beijava no cangote e língua na língua

Isso deixou morrendo à míngua

Florivalda disso, portanto gostava

E o bico do peito já palpitava

Foi assim que chego aqui e conto

E não tem essa de encobrir o errado

Se ela errou pague pelo pecado

Só que Chico Tripa quer afronto

Nunca vou que não estou tonto.

Nasceu um menino lá em casa

Que a condenada nunca explica

É cagado e cuspido Chico Tripa

Esta história toda me arrasa

Diz que Chico no sexo é uma brasa

Enquanto eu sofro sem nada entender

Por causa de uma mulher vadia

Que bota cangaia de noite e de dia

Ela diz que sou seu bem querer

Um corno de pleno e eterno sofrer.

Esse homem é pura ignorância

Como pode ser assim tão frio?

Só de narrar me causa arrepio

Um viver assim na inconstância

E ele não dá a mínima importância

Falar tranquilo de tanta traição

E assim vai vivendo seu viver confuso

Sua mulher tem a menos um parafuso

E ele um pobre coitado sem solução

Viver criando filho de sacristão.

Assim mesmo o homem segue

E contar sua trajetória continuo

Não sei se é ele ou eu que concluo

Só quero que ele nunca me negue

E sua verdadeira vida me entregue

Pra eu contar sem muito rodeio

Só assim de cada palavra citada

O fulano de tal sempre dá mancada

É sofrimento e muito aperreio

Não inicia, não termina, fica no meio.

Cangaia não é coisa da sua conta

Quem tem cabeça florida sou eu

Faço porque tudo isso é meu

E se tenho nada, nada me afronta

A cabeça às vezes fica tonta

O corpo quebrado nos deixa infeliz

É verdade o que digo, pode acreditar

É um pouco do que tenho pra contar

E se sofro é pelo cantar de um concriz

Pássaro de estima que o povo diz.

A cangaia que tua mãe me botou

Só tu deve saber e mais ninguém

Isso é somente para o teu bem

Se ela fez isso com certeza já pagou

E quem comeu na certa gostou

Comida nova é como capim no pasto

É assim que entendo meu padecer

Sei que ainda preciso crescer

Aceitar a cangaia que dá pro gasto

E dessa gota eu nunca me afasto.

Tua mãe botou cangaia antigamente

E já pagou por tudo, não é verdade?

Isso eu vejo que tudo foi pela vontade

E se pagou assim tão decentemente

É porque ela tem um esposo inteligente

Que não pensa em ir mais além

Deseja boa sorte e próspera paz

O destino cada um é quem faz

O homem dela lhe quer bastante bem

E se quer, ela dele gosta também.

Esse peso que ainda carrego

Me dói até a coluna vertebral

Mesmo tendo feito o Mobral

Quanto mais sei, porém muito nego

Às desgraças do mundo me entrego

E não tenho como me recuperar

É essa estranheza que me alimenta

Meu corpo e minha alma se contenta

E vou levando do jeito que dá

Esperando com calma o dia melhorar.

Sou azarado e sem sorte no amor

E feliz não sei o como é viver

Essa cangaia não precisava nascer

Atrapalhando e criando essa dor

De nada fui e porém nada sou

No respeito por mim pelo acontecido

E se tenho alguém o corno é logo falado

E a companheira sabendo faz o tratado

De botar cangaia com alguém desconhecido

E na maioria ainda me chama de querido.

Florivalda me deixou sem moral

Não tenho como dessa sair

Se corro é impossível fugir

E se fico posso até levar um pau

E criar chifre é algo assim tão normal

Que tua mãe me aplicou e se deu bem

Inveja de Chico Tripa tenho que ter

Vindo de casa na noite ou no amanhecer

É assim que na rua não valho um xerém

Se quero xodó ela diz que não tem.

Vejam vocês, meus amados senhores

O que é essa maligna traição

Deixa o cabra sem nenhuma ação

Não come, vive de horrores

Sente inveja, morre de dores

É assim que tudo acontece

Não tem como de repente fugir

Se perde muito, quer só consumir

Quando sem esperar o dia amanhece

O corpo estafado logo adormece.

E assim vou com ajuda prometendo

Colocar este folheto em estandarte

Uma espécie de obra de arte

Que passa celeremente conhecendo

Curiosidades de quem está lendo

Aventuras ou mesmo fato narrado

Não tem essa de não querer saber

O que se sabe é de puro merecer

E merecendo o corno é perdoado

Por todo chifre causador do pecado.

É assim por mero desconforto

Que surge essa ingrata falação

E surgindo já se tem assombração

É que o mundo anda pra lá de torto

E por mais que esse marido morto

Queira portanto paz e harmonia

Semente plantada, fruto dará

Na terra fértil de pajé e oxalá

Sei que cangaia tem a sua via

É chifre queimado de boa freguesia.

Depois que meu escritor comentou

Volto a palavrear sobre mim

Nunca tive sorte e já fui um dia Caim

Não matei Abel e ele nunca me matou

Se hoje meu pequeno capital contratou

Um cordelista conhecedor biográfico

Não tenho como me preocupar

Apenas meu sofrer é meu penar

E se choro nas linhas de um gráfico

Mudaria o rumo se fosse mágico.

A cangaia me dói por inteiro à alma

Penetra meus rins e me faz idiota

Já pedi empréstimo a um agiota

Muito dinheiro pra se ter calma

Uma cigana leu os riscos da minha palma

Explicou coisas que nem mesmo eu sabia

Me deu medo de corpo inteiro

Saí desesperado e num rio de flecheiro

Nadei nas águas e vi Santa Maria

Falando como vaca em profunda agonia.

Chico Tripa perdeu o emprego

E sonha com tua mãe diariamente

O bicho não larga o pé da gente

E olhe que ele vive de arrego

Se ele morresse seria um sossego

Mas a vida não é como a gente quer

Até cangaia o cara não está livre dela

Quando recebe cai na esparrela

O pior que não tenho sorte com mulher

Queria ser gentilmente o Rei Pelé.

Jogador de futebol não leva cangaia

Quando leva bota a nega pra fora

Sai de casa e de repente vai embora

Ela inventa tudo e um dia vai à praia

Dança na garrafa assim como lacraia

E quanto menos o sujeito espera

Tudo em volta é constrangedor

Não se deposita mais crédito no amor

A testa cresce e o homem se desespera

E na rua somos chamados: “O Fera”.

Essa que se diz esposa da minha pessoa

É falsa e só me quer nas precisões

Quando o tempo é espécie e paixões

Sofre aquele que ama e não perdoa

E por mais que a cangaia seja uma boa

Comigo não deu resultado positivo

Tive insônia e caguei o que não tinha

E toda comida que na boca vinha

Era jogada fora, tudo ofensivo

Cuidei do outro, fiquei impulsivo.

A cangaia que tua mãe botou

Com Chico Tripa rende um debate

E por favor nunca me trate

De ter levado chifre na testa

Apenas fiz disso uma possível festa

Sociedade nossa de péssima brincadeira

Um mal estar penetra todo neurônio

Acelera o ventre de Santo Antônio

Enquanto tua mãe dita chifreira

Posa de santa, mas é uma trepadeira.

Esse é o corno escrito em toda cidade

E tem gente que se torna importante

Não sabe se é perto ou se tá distante

Um safado que discorda de castidade

Mete o pau na nossa privacidade

Come o que quer e tudo enrola

São pormenores de nossa existência

Leva-se chifre e se ganha experiência

É jogador pesado e ruim de bola

Saber da verdade é o que me consola.

Meus filhos sabem de tudo

E do lado da mãe eles ficaram

E se eu disser que todos me picharam

Não pude falar, fiquei surdo e mudo

E não levar cangaia é algo que não me iludo

O mundo não pode ser intransigente

E sim a serviço do bem e da paz

Chico Tripa nessa história foi satanás

Conhecedor da fraqueza dessa gente

Deu um bote e escapuliu de repente.

Se hoje choro um choro melancólico

É porque não sei expressar a minha dor

E por mais que alguém nunca me amou

Eu sigo as trilhas do meu lado bucólico

Não sou protestante, não sou católico

Vivo a pescar nos rios de puro afluente

Vendo a natureza esbanjar criatividade

E quando na mídia houver conectividade

Acalentarei meu viver de demente

Levando cangaia e tomando aguardente.

E assim termina este palavreado

De um homem bastante compreensivo

Na legião de cangaia é um tanto inofensivo

E no trato da lei é um atrapalhado

E como sujeito seu viver está marcado

De impurezas que o tempo nos dá

E nunca faça como esse cidadão

Expor o chifre com tanta gratidão

Por isso queira este cordel terminar

Antes que Chico Tripa venha te pegar.

F I M

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 2001.

A LENDA DA MOURA TORTA - PARTE PRIMEIRA

Moura Torta é uma Lenda

Na pesquisa do folclorista

Contada em belos versos

Pela pena do cordelista

Uma quebradora de pote

Que pensava dar o bote

Feito cobra egoísta.

Num Reinado bem distante

Morava um Rei poderoso

Tinha com ele um Príncipe

Que se chamava Veloso

O seu filho já crescido

Era muito bem-querido

Por este monarca bondoso.

O Rei, seu pai, lhe pedia

Sempre batendo no peito

Que respeitasse a mulher

E fosse fiel no direito

Boas maneiras, ensinava

Pro filho que herdava

O trono com muito jeito.

Falava de melancia

Que tinha encantamento

Levasse ela onde fosse

Que teria casamento

Encontrou ali tão fácil

Ao redor do Palácio

E fez seu juramento.

Viajava o Rei Veloso

No seu cavalo Merino

Cavalgando nas estradas

Como fosse um menino

Guardando sabedoria

Levava a melancia

Que apontava o destino.

Bem distante e cansado

Avistou lindo riacho

Descendo do seu cavalo

Foi assim bem por debaixo

A sede lhe consumindo

Melancia se abrindo

Pra alegria do macho.

Pula uma moça tão bela

Que dentro dela morava

Ela, simplesmente nua

Seu coração palpitava

Pede algo para beber

Aquilo foi mais que dever

E ele água lhe dava.

A melancia encantada

Fazia parte da vida

Se alegrou o nobre Rei

Mas tinha que dar partida

Voltar ao grande Castelo

Trazer roupa e chinelo

Fez depressa a despedida.

Mas, ele antes de partir

Somente pensando nela

Olhava pra todo lado

E via a beleza dela

Junto da árvore frondosa

Numa sombra deliciosa

Foi explicando pra ela.

Ele, então, lhe pediu

Que na árvore subisse

Ficasse ali quietinha

E por favor não sumisse

Foi o que a moça tentou

Mas o capeta cutucou

Pedindo que o mal agisse.

Veloso, então regressa

Para seu lindo Reinado

Conselheiros e ajudantes

Era gente por todo lado

Para ver o Rei famoso

Com o sorriso formoso

Por Cupido ter encontrado.

Esta moça na árvore

Não tinha mais esperança

De ver de novo o Rei

No riso duma criança

Esperava impaciente

Com agonia na mente

De quem espera e alcança.

Próximo ao riacho

Um povoado existia

Muita gente penava

No poder da dinastia

Moura Torta, a moradora

Senhora trabalhadora

Muito desejo possuía.

Moura Torta quando ia

Buscar água lá na fonte

A moça não aguentava

Rindo abalava a ponte

A carregadora de pote

Pulava que só caçote

E logo ficou defronte.

A moça tudo contou

E a Moura tão de repente

Naquele instante, porém

Ela era uma serpente

Queria ter a beleza

Pensando na esperteza

Mas não foi inteligente.

Um pequeno alfinete

Na cabeça dela enfiou

Muito ligeiro, a moça

Numa pombinha transformou

Pra muito longe foi voando

E a Moura foi ficando

No lugar que o Rei botou.

Naquele lugar chegando

O bom Rei ali, pasmado:

- Cadê a bela moça

Que eu tenho procurado?

Disse e triste ficou

Uma lágrima brotou

Ele, quase desesperado.

A Moura disse então:

- Meu amado, foi o sol

Eu esperei longas horas

Que desceu este suor

E estou sendo sincera

Eu tenho medo de fera

Só pensava no pior.

Ela estava despida

Como a princesa do Rei

Veloso triste, dizia:

- Não foi esta que deixei

Bote ela na carruagem

Vamos seguir viagem

Por tudo que eu passei.

Lhe deram um figurino

Muitíssimo elegante

A danada ficou bonita

Pra tanto olhar palpitante

A ave por perto voava

Ela somente olhava

Seu rastro de meliante.

O Rei Veloso sofria

E não sabia disfarçar

Montado no seu Merino

Queria tão rápido chegar

No Palácio que morava

O coração não aguentava

Viria em seguida casar.

A Moura Torta queria

Se casar e ser Rainha

Porém, isto nunca houve

E foi grande a ladainha

Se Veloso dormiu, não sei

Mas chorou o nobre Rei

Naquela triste noitinha.

Logo de manhã, bem cedinho

A pombinha ali pisou

O jardineiro do Reino

O seu voo observou

E depois de mais de hora

Ela sem muita demora

Naquele jardim retornou.

Quando soube da notícia

A Moura ficou doente

Queria comer a pombinha

Com sal e com aguardente

E procurou o jardineiro

E foi dizendo primeiro:

- “De ave estou carente”!

Faltavam bem poucas horas

Pro casório acontecer

Moura Torta sofrendo

Por aquela trama saber

Quase perto de ser Rainha

Pra comer a bela pombinha

Mas isso não haveria de ser.

No outro dia, a pombinha

No jardim de novo chegou

O Jardineiro do Reino

Foi depressa e olhou

Em seguida foi embora

E sem muita demora

Praquele jardim voltou.

Eles estavam aprontando

A noiva para o altar

O Rei teve uma surpresa

Que lhe fez reanimar

A pombinha tinha encanto

Com aquele singelo canto

Fez tudo para explicar.

O Rei passando a mão

Um alfinete achou

Surge uma linda moça

Que na fonte ele deixou

Todo o Reino pasmado

Com o beijo ali trocado

Em nome do puro amor.

Ela disse tudo que houve

E o Rei, claro, acreditou

O casamento já pronto

A cerimônia continuou

Com a moça da melancia

Teve grande alegria

E com ela se casou.

A Moura Torta recebeu

Um castigo bem exemplar:

- Que voltasse pro seu povo

E aprendesse a não enganar!

E assim isto foi feito

A Moura curou o defeito

Pro só recomeçar.

No tempo da minha vó

A Moura Torta sofria

Imagine meu caro leitor

Que prazer um Rei sentia

Castigar uma criatura

Igual a par de ferradura

Nos cascos da cavalaria?

Chego aqui ao final

Desse tema popular

Contada por escritores

Que foram se dedicar

Escreveram com maestria

Tanta arte e poesia

Que agora fiz lembrar.

F I M

João Pessoa-PB, 23 de abril de 2018.

A LENDA DA MOURA TORTA

(Segunda Parte)

Autor: Bento Júnior

Brasileirinho da gema

Eu sou do velho Nordeste

Nascido na Paraíba

Tento fazer este teste

Organizando essa escrita

Juntando coisa já dita

Rindo do cabra da peste.

Vou versar a história

Da amiga Moura Torta

Contada pela vovó

No conto detrás da porta

No baú cheio de vida

Tanta já tão esquecida

Se ela é viva ou morta.

No tempo de antigamente

Onde só palácio havia

Morava só majestade

Tanta coisa boa comia

Moura Torta veio de lá

Só não pode mais estar

E isto a vovó sabia.

A Rainha muito querida

De toda aquela nação

Gostava muito do filho

Mas vivia em aflição

Ela e o Rei Marciano

Naquele dia do ano

Tomou aquela decisão.

Sabendo daquele desejo

Do filho que carregava

Viajar só pelo mundo

Foi isto que planejava

Encontrar com a princesa

Da mais pura beleza

Só assim se realizava.

Antes do filho partir

O Rei chegou a morrer

Pela lei da dinastia

Fez somente obedecer

Ficaria naquele trono

Seria dele seu dono

Até o seu falecer.

A Rainha Margarida

Vivia somente chorando

Não aguentava a perda

E com isso só pensando

No seu reinado tristonho

Tudo então era sonho

E assim foi-se acabando.

Não aguentou o tempo

Veio depressa a óbito

Foi encontrada sem vida

Próximo dum depósito

Pra tristeza daquele filho

Que resgatou o seu brilho

Pensando no propósito.

Veloso se tornou o Rei

Com a morte da Rainha

Não gostava daquela vida

Mesmo boa a que tinha

Andava pelo Castelo

Arrastando o chinelo

E sofria a sua madrinha.

Queriam um casamento

Para o grande herdeiro

Porém, teria que ser

Num momento certeiro

Seu tio Esperidião

Pensou lhe passar a mão

Num golpe de forasteiro.

Com a morte dos pais

Ele começa a pensar

No que todos falavam:

- O Rei precisa casar!

Assim mesmo ele fez

Pensou mais de uma vez

E foi tudo planejar.

Pensava ele um caminho

Pelo mundo a procurar

Uma mulher que amasse

E assim pudesse casar

Entregou todo o reinado

Pro conselheiro indicado

Até o dia dele voltar.

Já ouvia do grande Rei

O seu pai bastante amado

Numa fruta mais que bendita

E por ter lhe aconselhado:

- Leve uma boa melancia

Só abra onde houver água

Vai pular um ser encantado.

Não houve comitiva pra ele

Partiu sem ter poder

Quis encontrar a mulher

Que pudesse o bem fazer

Morrendo alegre com ela

Só cuidando bem dela

Até o seu falecer.

Na árvore, solitária

Ficou aquela tal princesa

Pensando naquele jovem

Que tinha rara beleza

Seria dele o seu fruto

Que já se encontrava enxuto

No amor, ternura e grandeza.

O Rei distante chegava

Na porta do seu Reinado

Conselheiros e ajudantes

Família por todo lado

Queriam ver Rei Veloso

Com o sorriso gostoso

E o coração bem marcado.

Ficaram tão curiosos

Foram com o Rei falar

E logo então, perguntando

No que podiam ajudar

Ele diz: - É coisa pouca

Quero vestimenta e touca

Para eu comigo levar.

Mas que roupa seria essa

Que tanto o Rei precisava?

Simples questionamento

Todo povo interrogava

E o Rei querendo dar olé

Diz que é pra uma mulher

Que na fonte lhe esperava.

E assim veio mais conversa

E todo mundo abismado

O conselheiro do Rei

Aquele que foi indicado

A Veloso perguntando:

- De quem estás a gostar?

E ele: - Eu estou tão apaixonado.

Seu tio Esperidião

Nunca quis se intrometer

Mandou buscar uma roupa

Pra o sobrinho trazer

Lindo traje de princesa

Que era de enorme beleza

Nunca igual iria se ver.

Com a comitiva do Rei

Segue depressa pro local

Foi tanta felicidade

Que não se pensou no mal

Na árvore que a moça estava

Bem perto a água passava

Na correnteza normal.

Lá no Castelo do Rei

Era intensa a falação

Seria o casório mais lindo

De toda aquela nação

Veloso se casaria

Cá moça da melancia

Começava a preparação.

Todo o Reino do lugar

Precisava ser convidado

O padrinho deste casório

Foi o conselheiro Bernardo

Escolha do nobre Rei

Que eu de repente gostei

Por ele ter acertado.

Moura Torta nunca se viu

Porque o espelho não se tinha

Não era como a bela moça

Nem parecia uma rainha

Vendo na sombra a beleza

Não aguentou, foi à loucura

E o pote quebrou na horinha.

Com o pote na cabeça

Saía sempre cantando:

- Sou bonita, bonitona

Aquela casa tô deixando

Não quero ser empregada

Nessa vida tenho nada

Adeus que estou amando.

Foi direto à patroa

E foi logo dizendo a ela:

- Eu sou muito mais linda

Junto da senhora sou bela

Não quero mais trabalhar

Só vou um dia sossegar

Seu encontrar minha costela.

Quando ela olhou para cima

Daquela árvore florida

Encontrou cá bela moça

A mais linda dessa vida

E subiu onde ela estava

Querendo saber, instigava

À princesa prometida.

Sabia do que esperava

Mas calma pro coração

Queria enganar o Rei

E logo assim fez questão

Transformando aquela rainha

Numa singela pombinha

No toque da sua mão.

Os conselheiros do Rei

Que estavam lhe protegendo

Falaram para o Veloso

E ele de pronto atendendo

Levar a moça ao altar

O Reino estava a esperar

O que vinha prometendo.

A festa seria grande

Por aí que ela se deu

Sendo contra o seu desejo

De tudo que aconteceu

Invés da moça formosa

Casou-se o Rei cá feiosa

No Palácio Vasco Pompeu.

Minha vó tão bem falava

Das terras dos menestréis

Lia histórias populares

Da coleção dos seus cordéis

Eu conheci a Moura Torta

Nem sei se é viva ou morta

No tempo dos coronéis.

Belezura de cordel

Entrego na tua mão

Nessa estrutura dos versos

Tem dedo do cidadão

Onde tiver uma estrofe

Jogo na palavra bofe

Rogando a Deus o perdão.

FIM

João Pessoa-PB, 16 de abril de 2018.

AS MOLECAGENS DE DOIS CABAS SAFADOS, VOLUME I

Me dê licença, minha boa gente

Dê licença que volto a contar

Vamos ler e depois recomeçar

Essa história tão alegremente

Me encontrei assim neste batente

Desafiando tempo e a hora

Por favor meu caro, não vá embora

O mundo é cruel e quer mudança

Enquanto eu pego a tua trança

Prefiro daqui nunca dar o fora.

Dê licença, minha gente

Dê licença, volto a contar

Vamos ler e recomeçar

Essa história alegremente

Me encontrei neste batente

Desafiando o tempo e a hora

Seja o que for não dê o fora.

Essa literatura que faz bem

Deixa todo mundo em paz

Pouca gente hoje faz

E se faz tem que ser lida também

O preço quase de um vintém

É assim que novamente descrevo

Esse cordel em grande relevo.

Esses dois cabas safados

Fazedores de coisas impossíveis

Grandes sujeitos, figuras incríveis

E não gostavam de ser encontrados

Sem nada fazer e desamparados

Só viviam de algo praticar

Ficar parado jamais pensar.

Vamos direto ao cordão

Rir até cair de costa

E por favor não faça aposta

Não vou contar o refrão

Nem tampouco a condição

Que hoje Xadaigo vive

Desempregado sobrevive.

Xadaigo com Mixengo era só diversão

Um circo que veio por nome Racion Iara

Os dois cabas com muita tara

Pegou gato pra ser comido pelo leão

Um desnutrido e sem a menor condição

Lutava contra o gato pra riso da pirralhada

Um ingresso pra sentar na arquibancada.

Quem tinha gato era só à procura

Pois não restava nenhum xaninho

Pobre dos coitadinho

Ao entrar na jaula era uma tortura

O leão jogava pra baixo, nas altura

Que maldade, que judiação

Matar os gatos sem dó no coração.

O Palhaço Ferrinho era uma graça

Melhor que ele se conta nos dedos

E a molecada só pensando nos brinquedos

Se divertia e depois todo mundo na praça

Com Xadaigo e Mixengo, que por pirraça

Contavam anedotas assim de cara

Era uma disputa pra entrar no Racion Iara

Essa história vazou e foi pau

Muita tristeza cada moleque acatou

O pai dizia: “Cadê meu Deus, o amor?”

E a criançada achando tudo anormal

Arrumou dinheiro limpando quintal

E foi ao circo ouvir palhaçadas

Só satisfazia dando enormes gaitadas.

Mixengo e Xadaigo era fodão

Palavras ecoadas vindas dos pirralhos

E até falar os nomes de caralhos

Com eles foi uma tremenda sensação

Viver com a dupla, divertidos na emoção

Não tinha parque que chegasse no lugar

Que a gente ia a dupla procurar,

O Parque de Diversão

Estrela do Mar era uma saudade

Mixengo na difusora com liberdade

Entregava bilhete e era confusão

Toinho deu uma carreira na contra-mão

E Xadaigo rindo de todo acontecimento

Ficava revoltado o menino Nascimento.

Quando a difusora anunciava

O nome de uma menina conhecida

Pela cor do vestido ou coisa parecida

Era carreira que ninguém pegava

E pra casa a gente logo chegava

No altifalante bem ligeiro

Sueli na voz do cantor José Ribeiro.

Sueli de vestido azul

Passeando com seus familiares

Rodrigo tinha por ela todos os olhares

Só que a gente trocava norte por sul

Ele ficava inchado feito sapo cururu

E a meninada contava de um até três

Saía Verônica na voz de Maurício Reis.

É o que novamente trago

Guardado na bolsa da minha sacola

Por favor não é nada de esmola

Vou dizer porque não estrago

Esse cordel com riso largo

Mixengo e Xadaigo no balanço da canoa

Sofria gente que não era a toa.

Palhaço Ferrinho de todo mundo zombava

Xadaigo e Mixengo todo dia ganhava entrada.

E ainda por cima a presença era anunciada

Não sei se por causa dos gatos que miava

E o Palhaço Ferrinho frescava

Parece que eles não tinham coração

Pegavam gatos pra servir de diversão.

E ninguém, mas ninguém entrava sem pagar

Ou pegava gato indecentemente

Ou pagava ingresso pra ficar logo na frente.

Até hoje dos gatinhos pena me dá

E onde agora cada gato se encontrar

Perdoem Mixengo e Xadaigo também

Por incrível que pareça a gente só queria o bem.

São recordações da juventude

Que eles nunca esquecem

Uma estátua em praça merecem

Talvez essa fosse a atitude

Não que essa plenitude

Lhe trouxesse a felicidade

Mas os deixaria com tanta saudade.

As festas do Padroeiro

Na Associação de Moradores

Logo depois dos louvores

Na frente o meu amor primeiro

Música no ar e Mixengo certeiro

Olhava a menina e me dava arrepio

Aquele caba só no assobio.

Era uma semana de paquera

Jovens vindas de toda redondeza

E no mínimo, com certeza

Ia ficar com alguma de vera

Só que de tanta espera

Chamei Xadaigo e pedi uma forcinha

E ele passou algumas mágicas palavrinhas.

Não há como de fato negar

A importância destes dois

Só que muito tempo depois

Mixengo com onda de se casar

Ia todo mundo se lascar

Porque faltava um herói pra gente

E Xadaigo não fazia isso contente.

Xadaigo gostava de ajudar

Mas não abusasse dele, não

Porque ele vinha pra gente com oião

E dizia: “ De novo? Vá se lascar!”

E o pirralho se tremia só de ouvir falar

Melhor seria Mixengo fazer este papel

Ajudar a gente a ganhar lugar no céu.

Nessa onda toda vivida

Xadaigo e Mixengo aprontando

E a molecada toda gostando

De viver aquela coisa atrevida

De uma fatia de bolo perdida

Era só puramente aventuras

Todos os dias tantas loucuras.

Chegava circo, circo ia embora

Chegava parques de diversões

Festas, assustados e palavrões

Uma infância quem recordar chora

O coração do moleque implora

- “Conta mais uma Mixengo

Aquela da derrota do teu mengo”.

Mixengo ficava muito agitado

Quando falavam do seu time querido

Tinha camisa e calção e era parecido

Com um tal jogador que já é aposentado

O tempo não me diz quem é aparentado

Só sei que Mixengo era o nosso chefão

Junto de Xadaigo nos dava proteção.

No tempo que nós vivíamos

Não tinha essa onda de gangue

Não se ouvia falar de tanto sangue

Brigávamos eu sei, não sofríamos

Somente apanhavam e corríamos

Era essa a época naquele cantinho

Um lugar de viver e muito carinho.

Os meninos brincavam de bola

Pescavam e subiam em pé de coco

Se lascavam do joelho e o troco

Era ir pra casa e apanhar de sola

E isso até hoje me consola

Porque hoje o tempo mudou

A infância às vezes é puro dissabor.

Mixengo era caba safado

Xadaigo era até demais

Iam na frente, a gente sempre atrás

Presepadas que bom danado

Se fazia, mas tudo era controlado

Não se podia exceder as limitações

As lúdicas tinham muitas reflexões.

Tempo de carnaval o urso na rua

Com latas e estopas na agitação

Mixengo era o diabo cancão

Seu Mané na frente com sua perua

Levava menino e a única filha sua

Pra gente ficar só pra ela olhando

E no bairro todo o papangú passando.

Nós todos cantando músicas de carnaval

Tão pequenos e o frevo na veia

Às vezes na volta tinha menino na peia

Levava surra e tudo era pra lá de normal

Mas ninguém nunca foi para um hospital

No outro dia Mixengo ainda zombaria

Dizendo que a gente tava numa romaria.

O pai tantas vezes severo

Confiava nos senhores de fé

Mas não ouviam muito bem o Seu Mané

Que era na dele e muito sincero

De poucos amigos e nada de lero-lero

O bicho só porque tinha um carro

Tirava da cara do povo o sarro.

Foi aí que a molecada quase se lasca

Olharam tanto pra filha daquele senhor

Que o velho sabendo, de nada gostou

Dizia que Cidinha iria pra o Alasca

Não ficaria aqui que ela se enrasca

Contou ao pai de quem tava a filha espiando

E Toinho quase se ferra quando em casa ia entrando.

Cidinha era metida a sabichona

Tudo da moda ela logo possuía

Teve festa na casa com Cantoria

Seu Mané de posse de sua sanfona

Metia os dedos pra delírio de uma gostosona

Que se rebolava toda em gesto dançante

Era uma moça que me lembro da roda gigante.

Chego agora no final

Dessa história contada

Vivida no meu Castelo

De forma engraçada

Xadaigo e o Mixengo

Que não bate o quengo

De toda meninada.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2010

AS MOLECAGENS DE DOIS CABAS SAFADOS - VOLUME II

Vou dando continuidade

Pelo que já comecei

Descrevendo neste cordel

Tudo que eu anotei

Se alguma coisa esquecer

É porque não quis dizer

E acredito já falei.

Tomar banho de rio

Logo no amanhecer

Xadaigo era nadador

Nunca podia perder

Mixengo nunca nadou

Ele sempre enganou

Nunca fomos entender.

Fizemos uma aposta

Xadaigo de mão cheia

Mixengo quase morre

Pense num caba de peia

Um dia quase perdemos

Nunca nada entendemos

Na noite de lua cheia.

Acompanhou a turma

Um caba só pra nadar

Mixengo não disse nada

E quase foi se ferrar

O caba nadava forte

Quase houve uma morte

Ele só queria ganhar.

Buscar caju no Altiplano

Mixengo era o chefão

Xadaigo queria o mandão

E quase que a gente entra pelo cano

Um tiro de sal pegou num sicrano

E quase que o desastre aconteceu

Por pouco ninguém morreu.

Foi uma grande carreira

Xadaigo foi o primeiro a correr

Mixengo quis logo se esconder

O dono do sítio puxou a peixeira

Joãozinho levou uma rasteira

Ai Mixego chegou por trás e tome paulada

Um cabra caiu e todo mundo em disparada.

Era sítio lá pras bandas do paú

E desta feita fomos pro abacaxi

Cestas e mais cestas tinha ali

O popular que ia tirar caju

Desta feita quase que fica nu

Homens montados em cavalos ligeiros

Botava pra cima dos bagunceiros.

Mixengo teve uma idéia rapidamente

Pegou a baliadeira e pedra meteu

O cavalo quase que se fodeu

O homem caído quis elegantemente

Saber porque toda aquela gente

Estava no sítio a roubar abacaxi

E teriam que sair logo dalí.

Xadaigo conseguiu o dono convencer

E todo mundo com abacaxi saiu

E Mixengo, puta que pariu

Quis o abacaxi todo devolver

Mas ninguém quis obedecer

Fomos pra casa cheio do fruto

E escapamos do homem bruto.

Mixengo no outro dia de cara feia

Falava que a gente tinha que ouvir

A verdade dele e não permitir

Fazer o errado, se não levava peia

Trazia um livro, dizia: “Leia

É a Bíblia Sagrada que fala de roubo

A gente não deve fazer, é coisa de bobo”.

Tomar banho de rio logo no amanhecer

Xadaigo era nadador de mão cheia

Mixengo era um caba de peia

Nadava pouco e a gente sem saber

Um dia quase que íamos perder

Um cara que veio com a turma nadar

E por pouco todo mundo ia se ferrar.

Tudo naquele tempo tinha o seu valor

Se fazíamos o certo não tínhamos certeza

Se era errado isso nos dava certa fortaleza

De vencer os obstáculos e não sentir dor

Correr campos e a tudo dá seu devido valor

Era assim com a recordar uma grande novela

Fechar os olhos e ver o elenco na tela.

Só sei que suas molecagens

Nunca tiveram o seu fim

Diziam que ser esperto não era ruim

E que diante das sacanagens

Eles mandavam lindas mensagens

Na época não tinha esse tal de celular

Mas os cabas sabiam se comunicar.

Usavam caixas de fósforos vazias

Uma a uma com cordão estirado

Falavam cada um de cada lado

E isso tudo pra gente eram fantasias

Falar e ser ouvido sem heresias

Dizer alô como fosse telefone

E em seguida dizer o próprio nome.

Tudo isso a molecada vivenciava

Ir ao cinema e na tela faroeste

Mixengo era um peste

Imitava o bandido que gostava

O mocinho Xadaigo a voz emprestava

Além das peladas diariamente

Calção sujo e pisa na gente.

Nos amores poucas explicações

A televisão da época puro romantismo

Nas calçadas aquele fanatismo

Saber quem ficava nas ocasiões

O artista destruidor de corações

Programações de cunho educacional

Monteiro Lobato era o senhor tal.

Contar piada, Mixengo humorista

O povo ria até cair de costa

Mas o bicho falava tanta bosta

Que a meninada não tirava a vista

Mixengo e Xadaigo era artista

Só faltava ter um ensinamento

Porque os cabas gostavam de movimento.

E assim foram tantos anos

Nós ali aprendendo com a escola

E Mixengo um dia trouxe uma pistola

É claro que não estava nos seus planos

Atirar e causar desenganos

A pistola era de mentira, quase verdadeira

Durango Kid de primeira.

Bole de gude e futebol de praia

Todo mundo na época participava

E empinar coruja todo mundo empinava

Das meninas Xadaigo falava da saia

E Mixengo quase fora da raia

Tinha uma prima que era perfeita

Falava manso, educada e direita.

Xadaigo logo botou o olho nela

Só que Mixengo também paquerava

E ela toda santinha já namorava

E os cabas inocentes querendo ela

E por pouco não caíram numa esparrela

O namorado num outro bairro vivia

E a prima um grande barraco queria.

Os pequenos com confiança

Dos pais por Mixengo que era sagrada

Iam pra praia logo cedo jogar uma pelada

E lá chegando tinham plena esperança

De dar um mergulho feito criança

A infância feliz de uma época de ternura

Pais e mães cobrindo toda a criatura.

Xadaigo nas suas descobertas sexuais

Uma velha com mais de setenta

Com cachimbo na mão que ninguém agüenta

Pega-lhe pelo braço e quer muito mais

Não um simples beijo de um rapaz

Enquanto ele se aproveitando da idade da senhora

Iniciou sua carreira e sem explicar caiu fora.

A velha pelo garoto apaixonada

Soluçava de não mais ter o menino

Este seguiu o seu destino

E esta com cheiro de fumo e perfumada

Escrevia bilhete e dava a molecada

E esta zombando nunca entregava

Porque Xadaigo já outra namorava.

Xadaigo desceu rápido a ladeira

E se encontrou com o Mestre Salú

Que atendia em silêncio um tal Jaburu

Um político que gostava muito de chaleira

Era um tal de xeleléu que não é brincadeira

Ouviam o Mestre e não escutavam o pivete

E depois foram contar a Espaguete.

Espaguete era um respeitado cidadão

Dono de posse e gente de primeira linha

Mas só dava ouvido a ladrão de galinha

E nessa peleja de Xadaigo com a situação

Que era coisa de funicação

Assombrados ficavam todos os moradores

Enviavam a criança pra os pastores.

Mixengo disse-me certa madrugada

Que no Polivalente estudou

Como uma nota baixa tirou

Estudou pela noite adiantada

E fez uma grande presepada

Deu um grande cascudo na professora

E esta se armou com sua tesoura.

Foi uma noite de falta de energia

A escola totalmente na escura

Mixengo vibrador e fã da frescura

Não contou conversa naquele dia

Fez isso com consciência de covardia

E a docente com dores cascudais

Chamou de todo discente os pais.

Só que não participou dessa proposta

É claro que vocês já sabem quem é

É ele mesmo, Mixengo batedor de mulher

E ainda por cima fez uma aposta

Pra professora desvendar a grande bosta

De saber quem era o autor do cascudo

E Mixengo ficava apenas mudo.

Mixengo um extraordinário estudante

Xadaigo metido a galo que não era cego

Como a bandeira na frente escrito Nego

Saíram rapidamente da cartomante

No meio do caminho vinha um elefante

Se esbarrou, mas tudo em nome do civismo

Marcharam firmes honrando o patriotismo.

Mixego e Xadaigo são parte da minha análise

E nesse rodopiar com a dupla em cena

Da professora, pois é, temos que ter pena

Pois precisavam passar por uma psicanálise

Enquanto o Mestre Salú já na hemodiálise

Dava boas vindas a todo sentido pueril

E eles, moleques, safados, mas também gentil.

Chego ao final desse lindo cordel

É de aventura que tanto se fala

Da flor o perfume o aroma exala

Por favor tire de todos o chapéu

Da abelha se tira o favo de mel

Dos versos a rima sempre fica

E o autor pensa e não complica.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de maio de 2011

PARARI

Bora gente refletir

Escritos do meu viver

Nessa terra Parari

Temos luz pra conviver

Organizar um cordel

Juntar num grande bedel

Rindo pra sobreviver.

Depois dessa simples rima

Que carrega o nome meu

Eu vou direto pro assunto

O problema já é teu

Vou falar de Parari

Do meu lindo cariri

Vou contar como se deu.

O mundo dá tantas voltas

Num globo que sempre gira

Chegando nessa cidade

O lugar todo me inspira

Para criar um cordel

Sem falar com seu bedel

Pro coração que suspira.

É pegar lápis de tinta

Pôr tudo nesse caderno

Dizer tudo que se sabe

No amor lindo e fraterno

Parari tem seus encantos

Muitos chamados de santos

No olhar vivo do Pai Eterno.

Parari virou cidade

Da Paraíba querida

Pertence ao cariri

Que lhe deu tanta guarida

De gente que reconhece

Bem distante agradece

O valor que tem a vida.

E terra dos sobrenomes

Dos Caluêtes prefeitos

Também dos Queiroz, dos Aires

Dos Alves, todos eleitos

Pra governar a cidade

Das brigas sem crueldade

Daqueles benditos pleitos.

O Jairo plantou semente

Genival também plantou

A Solange foi prefeita

Na terra que conquistou

Genival Filho também

Vamos ver se tem alguém

Que nunca disso gostou.

A Família dos Queiroz

Está nessa Prefeitura

Levando pro município

A nossa boa cultura

No São João, final de ano

Tem gente fazendo plano

Feitos da legislatura.

A Família Caluête

Dos Queiroz se tornou prima

Aires e Alves na gênese

A gestão fica de cima

É berço familiar

No Partido filiar

Pra temperar esse clima.

Quem passava em Parari

Lembra como se chegar

Estrada toda de barro

Pra essa poeira se pegar

Passando dentro do rio

Peixe nenhum dava pio

Pouca água pra entregar.

Hoje nós temos estrada

Asfalto por toda via

O sufoco do passado

Que naquele tempo havia

Hoje fazemos entrega

De tão rápida entrega

É tudo que se previa.

Prevendo futuro bom

Pra toda comunidade

Desde os tempos de Seu Jairo

É mais que realidade

Nos tempos de Genival

Tem bloco de carnaval

A vagar toda cidade.

As mulheres, companheiras

São devotas das ladainhas

Na fala de seus maridos

Todas elas são madrinhas

Pequenos que nasciam

Elas todas benziam:

Benção Comadre Nevinha.

Esta mulher tão guerreira

Sabendo do seu valor

Caminha pela cidade

Neste sol que dá calor

Abençoando afilhados

Muitos deles já formados

Com farda de tricolor.

A mulher de Genival

Foi por demais respeitada

Valorizando a cidade

Em eleição disputada

Resgata nossa memória

Nos tempos da palmatória

Por todos foi conquistada.

A querida Rita Meira

Também foi primeira dama

Esposa de Genival

Que pra ele jamais reclama

Rita Meira está com Deus

Cuidando dos filhos seus

Junto do marido que ama.

Poetas da medicina

Intelectuais do estado

A Paraíba tem muitos

Só tem que ser destacado

Ednaldo e tantos poetas

Com suas portas abertas

Deixam seu nome marcado.

Parari é um encanto

Que nos faz querer tão bem

É lugar que dá saudade

De todo mundo que vem

Quem chega fica feliz

Apreciando a matriz

De tudo belo que tem.

Hospitalidade séria

Parari tem seu destaque

Pessoas que vão sorrindo

Com o seu lindo sotaque

Falando dos seus mistérios

Sem tocar nos impropérios

Pra nunca levar um baque.

Sua economia é

Mandioca refeição

É predominantemente

Do milho tem produção

De feijão é produtora

É terra de professora

No campo da educação.

Parari é agricola

Terra de transformações

Nesse desenvolvimento

Das famílias tradições

Rica e diversificada

Bela cidade tão amada

Por todos os corações.

Os eventos culturais

Na colheita de quem planta

São João, São Pedro vem

Depois da semana santa

Trazendo tanta alegria

Na terra da poesia

Onde o povo se encanta.

Caluêtes e Queiroz

Nos viês da Prefeitura

Os primos e primas fortes

Numa gentil compostura

Família se reversando

Quem ganha administrando

Pro povo ter mais cultura.

Os pratos da Região

Tem galinha de capoeira

Feijão preto, muitas carnes

Feijoada de primeira

Tem cachaça artesanal

Da cana tradicional

Culinária brasileira.

Artesanato de barro

De madeira, de tecido

Parari é lugar de arte

Desse povo aguerrido

Dos seres acolhedores

Lugar de trabalhadores

Deste lugar tão querido.

População acolhedora

Parari logo destaca

Nesses setores agrícolas

A produção não é fraca

Tudo que se planta dar

Tem flores pra se mudar

Vem grão pra dentro da saca.

Parari das atrações

Dos gados que vão passar

Dos vaqueiros que gritam

E nunca vão fracassar

Minha Parari querida

Oh! Ternura preferida

De quem pensa regressar.

Nesse solo paraibano

Tem tanta terra que vi

Não troco nada no mundo

Pela bela Parari

Cariri da Paraíba

Da seca, da macaíba

Que me fez gostar de ti.

Parari tantas histórias

Dessas grandes travessias

Rios que transbordavam

Gente dentro das bacias

Meu Parari do progresso

Terra de grande sucesso

Dos amores e das folias.

Quem passa por Parari

Fica num grande desejo

Quer ficar morando aqui

Sinto nos olhos que vejo

Lembro do carro de boi

Meu amigo que se foi

Naquele grande cortejo.

Natureza exuberante

Nesta terra mais que bela

Parari nasceu distrito

Pintado numa aquarela

Solto fogo de artifício

Pra esse grande município

Pra gravar a minha tela.

Quem mora, também quem vem

Gostam tanto da cidade

Se não houvesse Parari

Digo com sinceridade

Ser feliz é o que importa

Alguém bate a tua porta

Pra dizer que tem saudade.

FIM

João Pessoa-PB, 31 de agosto de 2024.

CORDEL DA MARINALDA

Vou dar início a este cordel

Falando de uma pessoa

Que pretende ser candidata

Na disputa numa boa

Ser da cidade de Itapororoca

Como o remo e a canoa.

O homem quando não pensa

Diz que a cabeça é quem padece

Uma mulher metida em política

O eleitor bem que merece

Marinalda tem boas ideias

Em Itapororoca todo mundo conhece.

Porém, meus eleitores

Prestem a atenção no que vou falar

O voto é ouro e tem que se lutar

Peço licença pra chamar de amores

A todos vocês que são de lá

Pra ver nesta mulher os seus louvores...

Este cordel que está na mão

Mede a força de Marinalda

A mulher é uma abençoada

Trabalha com o amor no coração

Sente prazer na caminhada

É forte como uma canção...

É por isso, que vos peço

Através deste cordel

Uma luz brilhou no céu

Marinalda, eu te confesso

Itapororoca, cidade mel

É livre o teu acesso...

Itapororoca sabe do valor

Desta mulher do turismo

É paz de espírito, é civismo

Nas veias de puro amor

Na saúde, como o batismo

Marinalda é quase doutor...

E assim a mulher é dianteira

Na vida e na política

É como cidadã analítica

Brava e acima de tudo guerreira

Aceita uma boa crítica

Marinalda uma razão brasileira...

Na cidade ela chegou e marcou

E todo mundo teve bondade

Ela é mulher de caridade

Não se curva diante da dor

Ama e tem piedade

É raridade de puro esplendor...

Ela tem simplicidade

E gosta muito do que faz

E poderá fazer muito mais

Pelo povo desta cidade

Vereadora em nome da paz

É voto de pura honestidade...

Marinalda é mulher forte

Valente e tem determinação

Com esta mulher na Câmara

A cidade tem solução

Vamos eleger Marinalda

Ela é a nossa opção.

Esta mulher é competente

E vai ser a mais votada

Marinalda mais um na urna

Pra tua empreitada

Itapororoca ganha muito

Com a política respeitada.

Candidata da gente

Que traz significados

É política nova na Câmara

De ricos e flagelados

É Marinalda em cena

A ideia dos interessados.

Chegou a candidata

Itapororoca esperava

Querem marcar o voto

De emoção o povo chorava

Com o título em mãos

A política abençoava.

A mulher tem compromisso

Com a política muito mais

Sensibilidade no trajeto

Entre a guerra e a paz

Ela é uma grande líder

Esta Marinalda tem demais.

Marinalda bem que merece

Um voto de confiança

Para trabalhar para o velho

Para o jovem e à criança

Na Câmara Municipal

Ela é nossa esperança.

Marinalda é gente boa

E sabe como cuidar

A cidade agradece

Pelo apoio popular

Ela tem o compromisso

De o povo ajudar.

Ela tem muito projeto

Na cidade construir

A saúde deste povo

Pode reconstituir

Com Marinalda na política

O povo nunca vai partir.

Itapororoca terra de gente

Que carrega no seu boné

O nome de muita gente

E falta o nome desta mulher

Chama-se a Marinalda

Com devoção, carinho e fé.

Vamos juntos apoiar

Esta grande investida

Votando nesta mulher

E não tem outra saída

Ela muito representa

Se assim for permitida.

No dia da eleição

Pense nela com carinho

Marinalda tem muito apreço

E faz um bom caminho

Apoiando este povo

Com o cantar do passarinho.

A política está carente

De muita gente honesta

Chegou a Marinalda

Que o povo logo atesta

Marinalda no poder

Nome gravado na testa.

Ela está abençoada

Itapororoca lhe aclama

Viva a mulher Marinalda

Pra o povo que reclama

A vereadora do povo

Pra brilhar com sua chama.

No dia da eleição

Vamos todos eleger

A Marinalda guerreira

Que você deve saber

Ela vai fazer melhor

Muito mais por merecer.

Todo mundo acredita

Nesta grande mulher

Como sendo vereadora

Todo mundo ali quer

Ela carrega a fibra

Com amor e muita fé.

Marinalda você é forte

A sua vez breve vai chegar

Carregada pelos ombros

Você vai poder falar

Em defesa do nosso povo

Seja vereadora popular.

Ela vai se eleger

Com o voto popular

Marinalda mulher forte

Vem a todos conquistar

Fazendo um bom mandato

Ela vai realizar.

Houve uma eleição

Marinalda não se candidatou

Mas é chegada a hora

O povo em ti já votou

Pense agora Marinalda

O povo te conclamou.

Marinalda grande figura

Vai chegar a sua vez

Carregada pelos braços

Eu conto de um a seis

Ela vai ser a futura

Vereadora de vocês.

Falta muito pouco

Pra ela se eleger

Itapororoca agradece

Por ela ali nascer

Viva a nossa Paraíba

Terra que lhe fez crescer.

A política precisa de gente

Assim como você

Que vai dar o rumo

Num bonito parecer

Vai à Câmara Municipal

Ela não pode perder.

Vamos se pegar com Deus

Nesta bendita eleição

Trazendo esta mulher

Pra toda população

Esta vereadora será

Muito mais que um irmão.

E aqui chego ao final

Deste Cordel da Marinalda

Que faz lembrar ao povo

Esta grande empreitada

Viva a Câmara Municipal

Muito bem representada.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de maio de 2016.

O COMPADRE ZÉ MALASARTE

Vou contar a trajetória

De um sujeito popular

Compadre Zé Malasarte

Vivia a se aventurar

Com os jogos no caminho

Não parava de apostar.

Baralho era sua sina

Também dama e dominó

No xadrez era ligeiro

E no sinuca, um só nó

Mas o jogo do bicho

Era o que o deixava só.

Casado com Livramento

Uma mulher dedicada

Que amava o companheiro

Mas odiava a jogada

Toda vez que ele sumia

Ela ficava chateada.

Zé fugia dos conselhos

Procurava sempre um canto

Onde tivesse um jogo

Pra apostar seu encanto

No salão ou na rua

Corria como um manto.

Livramento, preocupada

Saía pra procurar

Sabia que o marido

Não tardava a se enfiar

Num boteco ou no salão

Pra seu vício sustentar.

Ele chegava escondido

No baralho logo entrava

Esquecia da mulher

Que por ele tanto amava

Se entregava às apostas

E o dinheiro acabava.

Certa vez, lá na calada

Zé Malasarte sumiu

Deixando a casa vazia

E a mulher nem percebeu

Quando ela deu por falta

Foi ver onde ele se meteu.

Livramento saiu brava

Com raiva no coração

Procurou em todo canto

Perguntou no quarteirão

E soube que o marido

Estava no salão.

Chegou lá, sem avisar

Entrou no meio do jogo

Zé Malasarte, nervoso

Já não via outro fogo

Ela parou na mesa

E lhe deu um desafogo:

- Zé, se tu não larga o vício

Eu juro, vai se dar mal!

Não vou mais ficar contigo

Dividindo o cabedal

Ou eu ou os jogos

Agora é o final.

Zé, sem muita saída

Olhou para o parceiro

Viu que tudo aquilo

Deixou de ser certeiro

A mulher era firme

E ele, um simples aventureiro.

Ele baixou sua cabeça

Com vergonha e arrependido

Pois sabia que Livramento

Sempre esteve ao seu lado unido

Mas o vício dominava

Seu coração tão perdido.

Mas o amor da sua esposa

Era forte e decidido

Ela não queria mais

Um homem tão iludido

Ou mudava sua vida

Ou seria despedido.

Zé, já meio cabisbaixo

Decidiu refletir

Sabia que sem Livramento

Seu mundo ia ruir

Largar o jogo ou perder

Quem o fazia sorrir.

Voltou pra casa pensando

Na proposta que escutou

De que valiam os jogos

Se o amor se apagou?

Zé Malasarte sabia

Que seu rumo então mudou.

O baralho ele guardou

Dama, dominó e xadrez

Sinuca e jogo do bicho

Tudo ele desfez

Pois sabia que sem ela

Sua vida não valia vez.

Livramento, então contente

Recebeu seu bom marido

Mas não sem lhe lembrar

Do passado já vivido.

- Se voltar aos jogos, Zé

Vai ficar bem esquecido

Ele prometeu na hora

Que nunca mais jogaria

E se tentasse a sorte

Seria só por folia

O amor ele escolheu

E de jogo desistiria.

Os amigos do salão

Não acreditaram, não

Que Zé Malasarte, o viciado

Largaria a tentação

Mas foi firme e decidido

Deu fim à perdição.

Os parceiros zombaram

Sentados naquela praça

Mas Zé, agora mudado

Já não queria a desgraça

Preferia o aconchego

Do amor que o abraça.

Com o tempo ele aprendeu

Que o amor é a sorte maior

Livramento lhe mostrou

Que é melhor viver melhor

E com o vício do jogo

Seu destino era pior.

Deixou de lado as cartas

Dominó, jogo de dama

Sinuca ficou distante

Em casa nada reclama

E Livramento sorria

Com Malasarte na cama.

A fama de Zé Malasarte

Correndo por este mundo

Descreve um jogador

Mas de um amor profundo

Quem quiser mais estudar

Não o chame de vagabundo.

- O salão ficou pra trás

E minha blusa regata

Agora só me dedico

Ao que a vida nos relata

O valor de uma mulher

Que de amor sempre nos mata!

Livramento na batalha

Nunca mais teve que brigar

Pois seu Zé virou um homem

Que só pensa em trabalhar

E juntos, bem felizes

Agora vão prosperar.

O vício foi vencido

Pela força do amor

Zé Malasarte entendeu

Que jogos não têm valor

E ao lado de Livramento

Ele é só vencedor.

A moral dessa história

É fácil de perceber

Quem se deixa levar

Pelo jogo, vai sofrer

Mas se optar pelo amor

Vai mais longe no viver.

Zé Malasarte ensinou

Que vida é mais prazerosa

Quando a gente escolhe

Fica mais deliciosa

O amor é a resposta

Da vida bem saborosa.

E Livramento, coitada

Teve muita paciência

Pra suportar as fugas

E a má influência

Mas no fim foi vitoriosa

Com sua inteligência.

Hoje eles são exemplo

De amor e de união

Deixaram pra trás o jogo

O vício e a perdição

E vivem agora em paz

Com a alma em elevação.

Se um dia encontrar Zé

Já não vai mais reconhecer

Pois o homem transformado

Já não quer mais se perder

Agora é só trabalho

E uma vida pra valer.

E assim termina a história

Do compadre jogador

Que trocou as cartas frias

Pelo abraço e calor

Venceu o vício cruel

E vive feliz no amor!

FIM

João Pessoa-PB, 02 de agosto de 2018.

A REVOLTA DOS PROTESTANTES

Certa feita num debate

Sem ter nada que fazer

Instigaram todo mundo

Que não quis mais debater

Pulava toda plateia

Como gente sem ideia

Por não saber responder.

Apresentadores fracos

Não quiseram enfrentar

A fúria daquele público

Que só pensa bagunçar

Que toda geração vive

Como também sobrevive

Se Jesus Cristo salvar.

A pergunta tão simplória

Se fez baita confusão

Nem precisava fazer

Exemplo religião

O público descontente

A maior parte de crente

Entrou numa negação.

FIM

João Pessoa-PB, 14 de fevereiro de 2023.

VELHO POLACO, O HOMEM MAIS VELHO DO MUNDO

Em um canto do sertão

Vive um homem de história

Polaco, aos duzentos anos

Tem uma vida de glória

Enterrou todos os seus

Que só resta na memória.

Hoje só tem um sobrinho

E uma sobrinha de oitenta

Mas sua saúde é de ferro

E a vida ainda lhe apresenta

Mora só em casa grande

Nunca pensou em tormenta.

Com um quintal imenso

Planta legumes e flores

Tem um verde que é imenso

Para acabar com as dores

Nove mulheres já passaram

Todas elas seus amores.

Mas o tempo, implacável

Levou todas no seu manto

Ele fala bem explicado

Cada uma com seu encanto

Com sabedoria e calma

Nunca ele criou pranto.

Polaco, homem de fé

Na solidão, faz poesia

Mantém sua vida tranquila

De um viver em harmonia

Duzentos anos de lembrança

De viver com alegria.

Ainda que a saudade aperte

Ele vive com dignidade

Com um olhar no horizonte

E um coração cheio de verdade

E assim segue o velho Polaco

Levando suas sinceridade.

Polaco fez duzentos anos

Vive em meio à solidão

Enterrou todos os seus

Só sobrinho e sobrinha em ação

Com saúde e bom humor

Cultiva o que é do coração.

Três filhos ele perdeu

A mãe e o pai também

O tempo passou ligeiro

Mas a fé não lhe é alguém

Em seu quintal, a vida brota

Florescendo até no além.

Um ajudante na casa

Cuida do seu dia a dia

Enquanto ele planta e colhe

Faz da vida uma poesia

Nos domingos, ele espera

Um café com alegria.

Os amigos se foram

Mas a memória é fiel

Histórias de outros tempos

De um tempo tão belo e cruel.

Vou tentar descrever

E botar neste cordel.

Na varanda, conta causos

Sobre a vida que passou

De amores e desenganos

E de tudo que enfrentou

Se alguém pergunta como

Ele diz que tudo passou.

Viver é um aprendizado

E a vida quer navegar

Ouvindo o canto das aves

Polaco se deixa levar

Entre risos e lembranças

Ele sabe como amar.

Se a noite chega tranquila,

E as estrelas vão brilhar,

Ele faz uma oração,

Agradecendo por estar.

Na luz da manhã clara,

O sol entra pela janela.

E Polaco, satisfeito,

Sabe que a vida é bela.

Os vizinhos o respeitam,

Um sábio no seu lugar,

Com a força de um gigante,

E a leveza de um amar.

Se a solidão aperta,

Ele canta uma canção,

Com a voz que ecoa forte,

E o coração em união.

No dia a dia sereno,

Cuida da sua plantação.

Cada flor, cada fruto,

É motivo de gratidão.

Polaco, homem de fé,

Nas ruas da procissão

Duzentos anos de história,

Pra fazer a comunhão.

E assim segue esse velho,

Com a alma em celebração,

Um guardião de lembranças,

E de um vasto coração.

Entre risos e tristezas,

Ele dança no riso de paixão.

Enterrou todos os seus

Só sobrinho e sobrinha em ação

Com saúde e bom humor

Cultiva o que é do coração

Sabe muito bem se cuidar

E diz que ainda tem tesão.

Três filhos ele perdeu

A mãe e o pai também

O tempo passou ligeiro

Mas a fé não lhe é alguém

Em seu quintal, a vida brota

Com os galos dizendo amém.

Nove mulheres já amou

Cada uma com seu encanto

Mas a vida é quem leva

E ele guarda seu manto

Fala claro, sem pressa

Sem ser chamado de santo.

Um ajudante na casa

Cuida do seu dia a dia

Enquanto ele planta e colhe

Faz da vida uma poesia

Nos domingos, ele espera

Um café em nostalgia.

Com lembranças do passado

E a saudade que conforta

Os amigos se foram

A sua memória reporta

As coisas do seu passado

Que quase ninguém importa.

Na varanda, conta causos

Sobre a vida que passou

De amores e desenganos

E de tudo que enfrentou

Se alguém pergunta como

Ele responde, com razão:

Viver é um aprendizado

E a vida é uma lição

Ouvindo o canto das aves

Polaco se deixa levar

Entre risos e lembranças

Ele sabe como amar.

Se a noite chega tranquila

E as estrelas vão brilhar

Ele faz uma oração

Agradecendo por estar

Na luz da manhã clara

O sol entra pela janela.

E Polaco, satisfeito

Sabe que a vida é bela

Os vizinhos o respeitam

Um sábio no seu lugar

Com a força de um gigante

E a leveza de um amar.

Se a solidão aperta

Ele canta uma canção

Com a voz que ecoa forte

E o coração em união

No dia a dia sereno

Cuida da sua plantação.

Cada flor, cada fruto

É motivo de gratidão

Polaco, homem de fé

É exemplo de compaixão

Duzentos anos de história

E uma rica educação.

E assim segue esse velho

Com a alma em celebração

Um guardião de lembranças

E de um vasto coração

Entre risos e tristezas

Ele dança com sensação.

Polaco, um poeta antigo

Que na terra é uma lida

E se um dia ele partir

Deixará como despedida

As histórias contadas

Que fazem parte da vida

Com um legado de amor

E a força da natureza

Polaco viverá sempre

Na memória e na beleza

Assim, a vida é feita

Na virtude e na incerteza.

FIM

João Pessoa-PB, 02 de março de 2010.

SANTA PAULA FRASSINETE

Cada prece que elevamos

Com fé a ela clamamos

Ela ouve, de coração

Cada pedido, em oração

Santa Paula, a mãe querida

Nos protege por toda vida.

Aos pobres, ela socorre

Seu amor nunca se esmore

É a santa da humildade

Que nos guia na verdade

Sua fé é luz divina

Que ao céu sempre nos destina.

No altar da devoção

Santa Paula é oração

Sua vida de pureza

Nos enche de fortaleza

Sua história é um louvor

Que reflete nosso amor.

Nos momentos de aflição

Seu nome é invocação

Santa Paula vem ligeira

Nos salva da dor inteira

Com seu manto estendido

Ela ouve nosso gemido.

Nos momentos de tristeza

Ela traz toda a beleza

Com sua mão protetora

Nos livra da dor traidora

Santa que nos dá guarida

Sempre em nossa vida.

No silêncio da oração

Paula ouve o coração

Cada súplica atendida

É prova de sua vida

Santa Paula, a fiel

Nos guia até o céu.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - A SOBRA

Na educação, um aliado

Trazendo saber sem fim

Acessível a todos

Luz que brilha, assim

Em aulas personalizadas

O futuro está em mim.

A vida é a nossa lei

Inteligência e amor

Juntos nós somos o brilho

No mais supremo valor

A máquina é importante

Vamos voar como condor.

É importante lembrar

Será que faz o que é certo?

Com bastante cuidado

Devemos está por perto

Máquinas e seres unidos

No pensamento aberto.

FIM

João Pessoa-PB, 02 de maio de 1998.

MARIA MIMOSA

Quem nunca ouviu, diga

Falar de Maria Mimosa

Catadora de lixo

Lá da Rua Formosa?

Pois saibam agora vocês

Como ela era dengosa.

Maria Mimosa era

Uma ilustre famosa

Nascida na pobreza

Porém, era caridosa

Com seu vestido azul

Ficava mais dengosa.

Catando aquele lixo

Sempre ali, caprichosa

Carregando os sonhos

E sendo muito jeitosa

Assim era a bela Maria

Que a chamavam de Mimosa.

Maria com seu vestido

Era um tanto perigosa

Despertava várias paixões

E sempre ali, carinhosa

Levando muitas cantadas

Numa árvore frandosa.

E assim, descrevo a jovem

Com a face saborosa

Amada ali por todos

Os da Rua Formosa

Vivendo assim do lixo

Nunca foi ela gulosa.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2000.

VAMOS ESTICAR A CORDA

Jamais estiquem a corda

Deixem tudo como tá

Certo general gritou

Por não ter o que falar

O Brasil é uma zona

Não podemos suportar.

A corda quer esticar

Ouça bem meu coroné

Essa dita é tão forte

E ninguém vai dar no pé

Nossa sede representa

Gosto bom que tem café.

Cada copo tem a fé

Que nos faz se permitir

Preparem robusta corda

Nem pense querer fugir

Na briga das esticadas

Louvável não desistir.

A corda quer se partir

No país deu largo nó

General saiu correndo

Em consciência cotó

Povo sequer intimida

Pro que vem não ser pior.

Militares tem suor

Sopra mais que jaburus

Discriminando civis

Em corpos pros urubus

A corda mora distante

Mais longa que sururus.

Pandemia tem o SUS

Plebe quer a ditadura

Aquele louco provoca

Tão pequena criatura

Não sabe bem o que faz

Nessa profunda loucura.

A rua é a doçura

Nossa corda tem amor

Façamos este levante

No burguês vai dar pavor

Moradores com problemas

Outroras acostumou.

Sabem do risco da dor

Continuam a sofrer

A classe média é fogo

Pensando que é poder

Sonha chegar a riqueza

E pobres não querem ser.

Você talvez vá fazer

Sugere tal general

Ele pensa no dinheiro

E pra nós trabalha mal

A corda meu coroné

É honra, não capital.

Militar tem hospital

Na saúde faz mistério

Tem vacina pelos bares

Num terrível impropério

Dá declarações absurdas

Todas elas sem critério.

Caixões vão pro cemitério

A corda é esticada

Muitos morrem de tédio

Denúncias não dão pra nada

Deputado senta bunda

Numa grande papelada.

Câmara desconfiada

É esse maior tormento

Uns se vendem por tão pouco

Outros fazem o lamento

Senado com baita grana

Pra criar seu movimento.

Haja tanto sofrimento

Causando só aflição

Vem chegando general

Daquela repartição

Faz malignas ameaças

Pra todo ser cidadão.

Nossa corda tem paixão

Líder povo bem ordeiro

Voz popular é de Deus

Governante passageiro

Vamos desatar o nó

Estimado brasileiro.

Quem luta é baderneiro

Me disse farta milícia

Valores se desgastando

Surgindo força fictícia

Nos faltando segurança

Dão pros ricos, a polícia.

No governo da malícia

Pirâmides enriquecem

Economia burguesa

Outros entes empobrecem

Tentamos o que fazer

As cordas nos fortalecem.

Populações entristecem

Continente mais estranho

A corrupção virou moda

É como se tomar banho

Tem uma corda comprida

Lá vem o povo castanho.

Tangeremos o rebanho

Voltarmos a ser feliz

Construindo novo tempo

A corda tem lá um xis

Marcado com nosso canto

Na voz que conduz Elis.

Todo povo sempre quis

Alegria sem ter medo

Estudar para saber

Escritos do bom enredo

Brasil precisa de paz

Isto jaz nenhum segredo.

Eles pensam que é cedo

Mas é chegada tal hora

As nossas armas são livros

Precisamos sair agora

Não podemos mais viver

Nosso filho é que chora.

Quem pensa quer ir embora

Principalmente meu pobre

Sem espaço pra viver

Sofre povo que é nobre

Sai procurando nas ruas

Um quilo de puro cobre.

Não tem comida que sobre

As quais nem virão pros pratos

A corda perdendo força

Passeatas fazem tratos

Generais cumprem acordos

Coronéis testam contratos.

Contas perdem seus extratos

Este banco levou renda

Negro proibido fazer

Nos terreiros, oferenda

Nossa dança ganhou corda

Militar você aprenda.

Não tem o trigo na venda

Perde-se todo salário

A boquinha vai crescendo

Para cabo sedentário

Capitão doma comando

Pro bando sexagenário.

Um crápula mandatário

Se torna mais populista

Enriquece burguesia

Mata fuzil ativista

Ele gosta de dá corda

Pedala como ciclista.

Sem apoio, bom artista

Não tem espaço na lei

Vivendo fazendo bico

Digo porque já passei

Amarguras doentias

Eu vivo só enfrentei.

A corda nunca deixei

Coroné tem a vacina

Aplique neste seu braço

Gritava bela menina

Nestas manifestações

O ódio se contamina.

Nada na tevê ensina

Apenas a linda corda

Não vá tentar desligar

Este general acorda

Vai te processar ligeiro

Esborrando pela borda.

Nós comemos até sorda

Fome que nos atrapalha

Mesa precisa de gente

Unidas numa só malha

Vencemos falso dever

Considerado canalha.

O bom atleta não falha

Não tem nem a preferência

Arrisca-se motoqueiro

Em si tanta paciência

Subindo ruas da vida

Maldiz ter inteligência.

Tenhamos a consciência

Tal ilustre condutor

Ser cúmplice dessa corda

Não serve para doutor

A morte da classe baixa

O vilão nem evitou.

Estiquem sim, por favor

Parem de soltar pilhéria

O país está no caos

Crescendo toda bactéria

Generais no conluio

Nesta tão vasta miséria.

FIM

João Pessoa-PB, 26 de julho de 2021.

BIBLIOTECA POETA BENTO JÚNIOR

Na escola Almirante Barroso,

Um homem de letras se ergueu,

Bento Júnior, o sábio e o prosa,

Poeta e mestre, seu talento floresceu,

Com cordéis, a cultura ele traz,

Faz da leitura um doce eficaz.

Na biblioteca, o saber é um canto,

Livros em prateleiras, sonhos a brilhar,

Os alunos buscam, um mundo tão santo,

Na poesia e nas páginas, vão se encontrar,

Bento os guia com carinho e amor,

Plantando no peito o saber e o valor.

O ator que vive em cada papel,

Com a voz e o riso, ele ensina,

Nos palcos da vida, um verdadeiro pincel,

Colorindo a história, a alma é divina,

As crianças escutam com olhos brilhantes,

E se tornam poetas, sonhadores vibrantes.

Com cordéis que falam da vida e da dor,

Ele ensina a arte de escrever,

A cada estrofe, um novo fervor,

Inspira os jovens a nunca se esquecer,

Que a literatura é ponte e é abrigo,

Um lar onde o saber sempre é amigo.

Homenageado em seu caminhar,

Recebe aplausos, carinho e emoção,

Os alunos o amam, vão sempre lembrar,

Do mestre que trouxe a luz da razão,

Na biblioteca, um farol reluzente,

Bento Júnior, um ícone presente.

Com suas sextilhas, ele canta a vida,

Do povo, da terra, das lutas e amores,

Cada verso é uma história bem querida,

Resgatando a cultura, a voz de muitos sabores,

Nos corredores, ecos de sabedoria,

Bento Júnior, na alma, uma sinfonia.

Ele ensina que a leitura é mágica,

Desperta a mente, transforma o olhar,

Na biblioteca, a vida é fantástica,

Um universo de ideias a explorar,

Os alunos, curiosos, com brilho no olhar,

Descobrem tesouros, prontos a navegar.

Na sala de aula, a troca é intensa,

Com debates e risos, o saber flui,

Bento Júnior, com amor, não tem crença,

A educação é o caminho que inclui,

Faz do aprendizado um belo baile,

Cada aluno, um passo, um novo detalhe.

E quando a tarde chega, o sol a se pôr,

Os alunos se vão, mas levam a lição,

O poeta Bento, com seu amor,

Plantou em cada um um novo coração,

Na biblioteca, a magia permanece,

E o saber, entre eles, nunca se esquece.

Assim é a vida do mestre querido,

Com cordéis e livros a inspirar,

Na escola Almirante, um sonho vivido,

Bento Júnior, sempre a iluminar,

Que a biblioteca seja um lar de saber,

E que todos possam sempre aprender.

Com seus versos, Bento vai além,

Contando histórias de um povo fiel,

Das lutas, das dores, dos risos também,

Cada cordel é um pedaço do céu,

Na biblioteca, ele cria um espaço,

Onde a voz do povo é sempre o laço.

As páginas dançam ao vento a soprar,

Os livros sussurram segredos de vida,

Com cada leitura, um novo despertar,

Desperta a mente, a alma é nutrida,

Os jovens, atentos, absorvem com ânimo,

Fazendo da escola um grande carisma.

Os cordéis na parede, enfeitam o lugar,

Com rimas e cores, arte a vibrar,

As crianças se reúnem, vão se inspirar,

A cada poema, uma nova história a contar,

Bento Júnior, com seu jeito sincero,

Ensina que a vida é um belo enredo.

E na sala de aula, a magia acontece,

Debates acesos, ideias a fluir,

O mestre, atento, nunca se esquece,

Que o aprendizado é sempre um porvir,

Com cada pergunta, um novo caminho,

Os alunos, em busca, seguem seu destino.

A biblioteca é um canto de alegria,

Um abrigo para todos que querem sonhar,

Bento é o farol que traz a harmonia,

Com seu amor, sempre a iluminar,

E cada livro, uma janela a abrir,

Para mundos novos, prontos a existir.

Nos dias de chuva, a leitura é festa,

Com cada estrofe, um novo horizonte,

Bento faz da sala um lar, uma orquestra,

Em cada verso, um poema, um monte,

As crianças riem, se emocionam também,

E o saber se espalha como o bem.

Nas mãos do poeta, a vida se transforma,

Cada palavra é um passo a dançar,

O saber é a chave, a alma se reforma,

Na biblioteca, o sonho vem nos guiar,

Os cordéis se tornam vozes e ecos,

Em cada coração, um novo apreço.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de outubro de 2024.

AS TORMENTAS DO VELHO DODÓ

No sertão quente a ferver,

Sinto a vida a me engolir,

Sem conforto pra viver,

Muita dor pra resistir,

Mas vou firme, sem tremer,

Mesmo ao risco de cair.

Vejo a seca a se instalar,

Tanta sede a consumir,

Pouco posso pra mudar,

Mas evito de insistir,

Me dá vontade de gritar,

Mas prefiro até calar.

E me falta o meu café,

Que me ajuda a resistir,

Neste velho e tosco chalé,

Fico a ponto de explodir,

Com a falta até do filé,

Que eu sempre pude ingerir.

Tenho o apelido de Dodó,

Desde o tempo de criança,

Sofro a seca, passo boró,

Mas não perco a esperança,

Mesmo com meu coração

Sofrendo na lembrança.

O céu preto de urubu,

São os tempos de miséria,

Lá no brejo o jaburu

Me mostra a dor tão séria,

Eu canto o meu cururu,

Esperando outra matéria.

Nesta vida, uma roda,

Que a sorte desenrola,

Faz do velho, outra moda,

Mas ao fim, ela me assola,

E essa dor quase doda,

Meu lamento se consola.

Fiz de tudo, fui com gosto,

Pra poder ter o meu pão,

Mas o tal do desgosto

Apertou meu coração,

E ao lembrar do teu rosto,

Vou seguindo a minha mão.

Tudo que eu tanto amei,

Pelo tempo, já chorei,

Até mesmo o que pesquei,

Pelas águas eu deixei,

Mas em nada me ancorei,

Minha sina eu aceitei.

Sinto às vezes o tal medo,

De seguir sem solução,

Mas aponto o meu dedo

Na fé, com decisão,

E se a vida pede cedo,

Me levanto da prisão.

Com palavra faço rima,

Pra dar força ao meu cantar,

Meu cordel chega na cima,

Com a brisa a balançar,

Como fruta da boa lima,

Que o sertão vem perfumar.

Vem da madre, um carinho,

Do padre, uma oração,

E a comadre no caminho

Com um beijo de afeição,

Sou do sertão um vizinho,

Que resiste de paixão.

Sigo firme, subo a rampa,

No calor, venço o suor,

Mas se a dor de novo tampa

Todo sonho promissor,

Minha vida, lá na campa,

Viverá com todo amor.

Sonho em ir além de Roma,

Tendo paz para seguir,

Mas a vida só me doma

Com tristeza a consumir,

E a tristeza que me toma

Eu nem mesmo quero ouvir.

Sem conforto na minha cama,

Lembro o rosto de uma dama,

Cujo sorriso me chama,

Como o brilho de uma chama,

Que ao meu peito sempre inflama,

Todo amor que lá derrama.

Meu lar sem forro e sem teto,

Mas com fé sigo na estrada,

Pois ao fim, o bem é certo,

Vou erguendo a caminhada,

Mesmo com suor por perto,

Minha luta é respeitada.

Na cozinha o velho funil,

Gotejando lentamente,

E o cheiro do pernil,

Se mistura na corrente,

Saudade do meu Brasil,

Do sertão e sua gente.

Vejo um bicho, um tal papão,

Assustando a criançada,

Mas eu sempre fui pimpão,

Brincadeira bem armada,

E pra espantar o sopão,

Vivo a história encantada.

Minha vida é feita em sorte,

Mesmo com a seca dura,

Vou seguindo sem suporte,

Procurando a paz tão pura,

Enfrentando até a morte,

Pois a fé que me segura.

Vejo ao longe uma perua

Passarinha pela rua,

E na noite vejo a lua

Refletindo sobre a rua,

Pois é ela que flutua

E encanta a vista sua.

Quando o tempo me fervia,

Meu vigor era bem forte,

Mas depois que eu sofria

E o cansaço fez-se norte,

Minha paz quase morria,

Mas renasce sem suporte.

Pois a vida é feito um sonho,

Que começa e vai embora,

Às vezes tão bisonho,

Mas que ao peito nunca chora,

Mesmo em tempos tristonho,

A esperança vem pra fora.

Vejo a tora no chão frio,

Derrubada pela luta,

E se algo me forra o brio,

Pois a força me machuca,

Vou seguindo como um rio

Que na seca sempre busca.

Sobre a velha e fraca ponte,

Caminhei sem desistir,

Eu bebi de muita fonte

Pra coragem me munir,

E que o tempo me conte

O que ainda vou sentir.

Cada tombo, uma lição,

Mas sempre volto a crescer,

Mesmo com o bombo no chão,

Não paro de aprender,

Vou juntando o coração

Pra nova história tecer.

Visitei muito doutor,

Pra poder me consolar,

Mas só encontro o amor

Pra de fato me ajudar,

Feito o Cristo redentor,

Minha fé vai me guiar.

Nessa vida, a minha sina,

Vou sem medo, vou feliz,

Pois a força feminina

Me sustenta, me bendiz,

E ao longe, uma tal mina,

Me inspira e sempre diz.

O sertão é mistério,

Carrega muitos segredos,

Tendo o tempo por critério

E o céu a mostrar enredos,

Caminho até o cemitério

Com coragem, sem ter medos.

Vejo o mundo um tanto menor,

Mas o sonho é tão maior,

Mesmo quando fico pior,

Meu suor vale o suor,

Vou lutar, não me demoro,

Pois coragem é o que imploro.

E uma vez amei mulher,

Que tão bela eu quis seguir,

Mas se ela me quiser,

Vou de novo até sorrir,

Digo agora e o que disser,

Meu coração é pra servir.

Meu sertão cheira a rosa,

Com perfume encantador,

Minha vida é toda prosa,

Vou cantando meu valor,

Quem na glosa mais se goza,

Sempre vence toda dor.

Ouço longe o som do sino,

Marcando o meu destino,

E no meu humilde tino,

Vou seguindo em bom caminho,

Pois a fé do peregrino

Vai tocando o meu destino.

E se um dia chega ao fim

Minha vida aqui por fim,

Digo em prece, digo sim,

Foi bonito o meu jardim,

Vou em paz, guardando em mim

A coragem que há em mim.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2020.

CORDEL DE PILÕES

Vou contar da minha terra

Que encanta o coração

É Pilões, cidade linda

Do sertão e do sertão

Com seus montes e cachoeiras

É pura inspiração.

Lá no brejo paraibano

Entre montes e verdor

Pilões é terra amena

Cheia de paz e calor

Seus filhos têm na veia

Orgulho e muito amor.

Das serras nasce a paisagem

Com vista de encantar

Em cada curva, a imagem

Faz qualquer um suspirar

Pilões é mesmo um sonho

Que ninguém quer acordar.

Suas ruas são tranquilas

Tem um jeito acolhedor

Gente simples e feliz

Com um sorriso e valor

Pilões é lar verdadeiro

Feito de esplendor.

É cidade pequenina

Mas tem muito a mostrar

Suas festas, seu folclore

Todo mundo quer dançar

Lá no São João animado

O forró vai balançar.

No inverno, um clima frio

Que aquece o coração

Com café e tapioca

É pura satisfação

Pilões é abrigo certo

Para quem busca emoção.

Suas matas são encantos

Rios que cortam o chão

Com trilhas e cachoeiras

Natureza em profusão

Pilões guarda em seu canto

A beleza do sertão.

Cachoeira do Ouricuri

É o recanto natural

Lá as águas vão descendo

Num cenário sem igual

Quem visita, não esquece

É um refúgio especial.

Nas serras verdes da zona

O ar é puro e frescor

Pilões se faz tão bonita

Com seu charme redentor

Cidade de clima ameno

Que inspira sempre amor.

A Capela do Rosário

Lá no alto a espiar

Guarda a fé do povo forte

Que não cansa de orar

Pilões é terra de crença

Onde Deus vem visitar.

O artesanato é vida

Feito com fé e suor

As mãos de pilonenses

Criam arte da melhor

São bordados, são lembranças

Que te tiram da pior.

E nas festas da colheita

A tradição se mantém

Com danças e com festejo

Pro povo dizer amém

Pilões é lugar sagrado

Bela terra que nos convém.

E a Festa do Cajuína

Todo ano a animar

Com música e alegria

Povo vem a celebrar

É Pilões, terra querida

Que só faz o bem vibrar.

O caju é um bom fruto

Que nasce em seus quintais

Dele , fazemos a festa

Meus doces cartões postais

Pilões se pinta de vida

Na luz desses pedestais.

A vista é fotográfica

Lá no alto do mirante

Montanhas e verdes matas

Tudo faz ser elegante

Pilões é paz verdadeira

De valor mais que gigante.

As crianças dessa terra

Fazem brincadeira na rua

Em Pilões, a vida flui

Com o brilho dessa lua

É a cidade dos sonhos

Com o bem se pactua.

Seus mercados, tão singelos

Com produtos da região

Tem milho, feijão, caju

Tudo é feito com paixão

Pilões é bem sertanejo

Com orgulho e tradição.

As praças são animadas

Cheias de gente a falar

Conversando, dando risada

Todos vêm a se encontrar

É Pilões, terra querida

Onde o povo é exemplar.

O sol brilha pelas ruas

No céu azul e sem fim

Pilões é sempre amada

Como um lar que é assim

Quem conhece, se encanta

Com seu belo jardim.

O artesão com paciência

Molda barro e faz brilhar

Das mãos, nascem esculturas

Que o mundo quer admirar

Pilões é arte e beleza

É cultura a nos guiar.

O povo trabalha duro

Tanto Ser trabalhador

Que faz da vida seu palco

No voo livre do condor

Em Pilões há muito orgulho

Na batalha és vencedor.

A cidade tão singela

Tem seu ritmo e seu tom

Com o canto da sanfona

Tudo fica mais bom

Pilões é melodia

Como verso e um bom dom.

O campo é fonte de vida

De sustento e de riqueza

Em Pilões, cada palmo

Guarda a força da nobreza

É o trabalho que edifica

E encanta a natureza.

Tem feira aos fins de semana

Gente vem de todo canto

Com frutas, grãos e caju

Num comércio bem franco

É Pilões em movimento

É o sertão cheio de encanto.

E no ritmo do forró

Cada festa é emoção

Com zabumba e sanfoneiro

Se ilumina o salão

Em Pilões, a alegria

Mora em cada cidadão.

Quem visita a minha terra

Logo quer se apaixonar

Com a beleza do campo

E o calor desse lugar

Pilões é terra de afeto

E quem vem quer ficar.

O crepúsculo ao fim da tarde

Deixa o céu mais eficaz

Em Pilões, o sol se esconde

Dando ao dia seu fim, paz

É um quadro abençoado

Que a todos satisfaz.

Lá tem a noite estrelada

Que brilha como um farol

É cenário abençoado

De lua e de girassol

Em Pilões, o céu é claro

É natureza e o sol.

Do café até o jantar

Pilões é pura sensação

Cada lar guarda seu brilho

E o carinho de um irmão

Com a bênção do sertão

Nossa terra é emoção.

O vento sopra sereno

Pelas serras a dançar

Em Pilões, tudo é ameno

Natureza a celebrar

É uma paz verdadeira

Que nos faz apaixonar.

Na Paraíba encantada

Pilões é o meu rincão

Terra de gente arretada

Com amor no coração

É a cidade acolhedora

Na fé e na comunhão.

Assim termina o cordel

De Pilões, terra querida

Que guarda em cada lareira

Um pedaço de vida

Quem conhece, nunca esquece

E nem vai querer despedida.

FIM

Pilões-PB, 18 de novembro de 1986.

O CORDEL DO PÃO

No campo o trigo semeia

Crescendo sob o clarão

Com o sol que tanto incendeia

Se espalha pelo sertão

Das mãos do homem se deita

No formato desse grão.

Trabalha com lucidez

O lavrador no roçado

Vai surgindo a criação

Do trigo bem cultivado

É o começo do pão

Com suor e com cuidado.

Passam dias de cuidado

O grão precisa crescer

Com água, terra e cuidado

A vida irá florescer

Quem planta trigo animado

Vai fartura receber.

Trigo dourado da vida

Chegou a hora da colheita

O pão ganha dimensão

Com força e grande receita

No moinho triturado

Na mesa a janta está feita.

Branca como algodão

A farinha é moída

Torna-se logo uma mão

E, misturada e mexida

Torna-se logo uma mão.

Com água, sal, nossa vida,

Vai surgindo um bom pão.

A massa logo se ajeita

Descansa, cresce e vigora

No forno quente espreita

Com aroma que aflora

É o pão que toma feição

Do trigo que a vida implora.

O padeiro, com cuidado

Amassa a massa com fé

Num ofício tão sagrado

Num bom copo de café

Pois do trigo abençoado

Faz o pão nosso de pé.

No forno, o cheiro encanta

A casa enche de sabor

Do trigo, a massa levanta

É obra de grande amor

O pão, que nunca se cansa

A fome acalma o clamor.

Com crosta dourada e bela

O pão surge no fogão

Na mesa ganha aquarela

Com manteiga ou requeijão

Sabor que ninguém cancela

É fonte de inspiração.

No café da nossa gente

O pão sempre está a brilhar

Um costume permanente

Que nos faz até sonhar

Com café, fica envolvente

Pronto para nos sustentar.

É na mesa de um nordeste

Que o pão nos vem com calor

Alimento que reveste

Do sertão o seu valor

Em cada migalha investe

Força e sabor em fervor.

Seja doce ou salgado

Tem formato ou textura

O pão nunca é renegado

Pois traz grande fartura

Do campo até o mercado

Sua fama é estrutura.

Pão de milho, pão de queijo

Cada um tem sua cor

Do Brasil é grande ensejo

Trazendo sempre o sabor

Na mesa é o grande almejo

Para o café e o amor.

Pão francês, baguete ou broa

Cada um com seu jeitinho

Na padaria se entoa

O prazer do nosso ninho

O pão com gosto que ecoa

Adoçando o caminho.

É no pão que se compartilha

O amor, a amizade

Traz união à família

E transforma a realidade

Com pão, se vence a partilha

De vida, sonho e verdade.

Há pão fresco, pão dormido

Tudo feito pra vocês

Com carinho repartido

Deixa o dia mais cortês

Cada pedaço é sentido

Em cada novo freguês.

O pão, alimento sagrado

De cada mesa e nação

Feito com zelo e cuidado

É símbolo de união

Na ceia, nunca ignorado

É benção para o irmão.

No Natal e na Páscoa bela

Tem sempre o pão a reinar

Em qualquer festa ou novela

Sua presença a brilhar

Pois o pão de toda tela

A alegria vem celebrar.

O pão fala de memória

De tempos que vão passar

Desde a mais longa história

É prato em cada lugar

Em cada mordida, a glória,

De um sabor a encantar.

Para o pobre e para o rico

O pão chega sem distinção

É carinho e é abrigo

Para qualquer cidadão

O pão, amigo antigo

Nunca nega sua mão.

Seja integral ou doce

Cada um tem seu valor

O pão no lar sempre trouxe

O sabor que é amor

Doce ou amargo fosse

É o nosso protetor.

Pão de fermento ou de centeio

Cada um com seu sabor

Na mesa traz um esteio

Fazendo o dia melhor

É o conforto e o meio

De um lar sempre acolhedor.

Diz o ditado do avô

Quem tem pão, tem tudo enfim

Pois na mesa, a gente amou

Esse fruto até o fim

Do trigo veio o valor

Que nos ampara assim.

O pão, que traz alegria

Nas manhãs de cada lar

Aquece como poesia

E nos faz sempre amar

O pão é melodia

Que nunca vai se acabar.

Seja em massa ou fermentado

A forma que ele é feito

Pão de milho bem dourado

Tem um sabor bem perfeito

Com carinho e cuidado

Sacia qualquer sujeito.

Do café até o jantar

O pão nos faz companhia

É sustento em qualquer lar

Pra tristeza é alegria

Do nascer até o findar

É o pão nossa harmonia.

Pão de casa, feito à mão

É mais gostoso, eu sei

Mas o pão de padaria

Tem um gosto de rei

Todo pão é a paixão

Das fomes que já passei.

Vai na cesta, vai à mesa

Como o mais fiel amigo

O pão acalma, traz leveza

É um sabor tão antigo

Em cada pedaço a certeza

De que o trigo está contigo.

Com manteiga, ou puro e leve

Cada mordida é prazer

É no pão que a fome deve

A chance de se deter

Quem come sabe, se atreve

E sente o dia a nascer.

Prepare seu coração

O pão lindo se dourando

Sente o cheiro em profusão

De quem, na fome esperando

Sente o cheiro em profusão

Muito mais que vida longa

É mais que simples ração.

Pão de sal, ou pão sovado

Tudo é pão de bom querer

Na história é celebrado

Por seu modo de aquecer

Em qualquer canto, é o legado

Que nos faz sempre viver.

E assim termina o cordel

Do pão, sabor sem igual

Que traz vida em seu papel

E acalma até o final

Pois o pão sempre é fiel

O alimento essencial.

FIM

João Pessoa-PB, 08 de agosto de 1999.

VELHO DODÓ, SEGUNDA PARTE

Aquele meu Velho Dodó

No sertão quente a ferver

Mas vou firme, sem tremer

Sem conforto pra viver

Sodó sente a tristeza

Sinto a vida a me engolir

Muita dor pra resistir

Mesmo ao risco de cair

Que me ajuda a resistir

Fico a ponto de explodir

Que eu sempre pude ingerir

Tanta sede a consumir

Mas evito de insistir

Vejo a seca a se instalar

Pouco posso pra mudar

Me dá vontade de gritar

Mas prefiro até calar

E me falta o meu café

Neste velho e tosco chalé

Com a falta até do filé

Tenho o apelido de Dodó

Desde o tempo de criança

Sofro a seca, passo boró

Mas não perco a esperança

Mesmo com meu coração

Sofrendo na lembrança.

O céu preto de urubu

São os tempos de miséria

Lá no brejo o jaburu

Me mostra a dor tão séria

Eu canto o meu cururu

Esperando outra matéria.

Nesta vida, uma roda

Que a sorte desenrola

Faz do velho, outra moda

Mas ao fim, ela me assola

E essa dor quase doda

Meu lamento se consola.

Fiz de tudo, fui com gosto

Pra poder ter o meu pão

Mas o tal do desgosto

Matou mesmo até meu cão

E ao lembrar do teu rosto

Vou seguindo a minha mão.

Tudo que eu tanto amei

Pelo tempo, já chorei

Até mesmo o que pesquei

Pelas águas eu deixei

Mas em nada me ancorei

Minha sina eu aceitei.

Sinto às vezes o tal medo

De seguir sem solução

Mas aponto o meu dedo

Na fé, com decisão

E se a vida pede cedo

Me levanto da prisão.

Com palavra faço rima

Pra dar força ao meu cantar

Meu cordel chega na cima

Com a brisa a balançar

Como fruta da boa lima

Que o sertão vem perfumar.

Vem da madre, um carinho

Do padre, uma oração

E a comadre no caminho

Com um beijo de afeição

Sou do sertão um vizinho

Que resiste de paixão.

Sigo firme, subo a rampa

No calor, venço o suor

Mas se a dor de novo tampa

Todo sonho promissor

Minha vida, lá na campa

Viverá com todo amor.

Sonho em ir além de Roma

Tendo paz para seguir

Mas a vida só me doma

Com tristeza a consumir

E a tristeza que me toma

Eu nem mesmo quero ouvir.

Sem conforto na minha cama

Lembro o rosto de uma dama

Cujo sorriso me chama

Como o brilho de uma chama

Que ao meu peito sempre inflama

Todo amor que lá derrama.

Meu lar sem forro e sem teto

Mas com fé sigo na estrada

Pois ao fim, o bem é certo

Vou erguendo a caminhada

Mesmo com suor por perto

Minha luta é respeitada.

Na cozinha o velho funil

Gotejando lentamente

E o cheiro do pernil

Se mistura na corrente

Saudade do meu Brasil

Do sertão e sua gente.

Vejo um bicho, um tal papão

Assustando a criançada,

Mas eu sempre fui pimpão,

Brincadeira bem armada,

E pra espantar o sopão

Vivo a história encantada.

Minha vida é feita em sorte

Mesmo com a seca dura

Vou seguindo sem suporte

Procurando a paz tão pura

Enfrentando até a morte

Pois a fé que me segura.

Vejo ao longe uma perua

Passarinha pela rua

E na noite vejo a lua

Refletindo sobre a rua

Pois é ela que flutua

E encanta a vista sua.

Quando o tempo me fervia

Meu vigor era bem forte

Mas depois que eu sofria

E o cansaço fez-se norte

Minha paz quase morria

Mas renasce sem suporte.

Pois a vida é feito um sonho

Que começa e vai embora

Às vezes tão bisonho

Mas que ao peito nunca chora

Mesmo em tempos tristonho

A esperança vem pra fora.

Vejo a tora no chão frio

Derrubada pela luta

E se algo me forra o brio

Pois a força me machuca

Vou seguindo como um rio

Que na seca sempre busca.

Sobre a velha e fraca ponte

Caminhei sem desistir

Eu bebi de muita fonte

Pra coragem me munir

E que o tempo me conte

O que ainda vou sentir.

Cada tombo, uma lição

Mas sempre volto a crescer

Mesmo com o bombo no chão

Não paro de aprender

Vou juntando o coração

Pra nova história tecer.

Visitei muito doutor

Pra poder me consolar

Mas só encontro o amor

Pra de fato me ajudar

Feito o Cristo redentor

Minha fé vai me guiar.

Nessa vida, a minha sina

Vou sem medo, vou feliz

Pois a força feminina

Me sustenta, me bendiz

E ao longe, uma tal mina

Me inspira e sempre diz.

O sertão é mistério

Carrega muitos segredos

Tendo o tempo por critério

E o céu a mostrar enredos

Caminho até o cemitério

Com coragem, sem ter medos.

Vejo o mundo um tanto menor

Mas o sonho é tão maior

Mesmo quando fico pior

Meu suor vale o suor

Vou lutar, não me demoro

Pois coragem é o que imploro.

E uma vez amei mulher

Que tão bela eu quis seguir

Mas se ela me quiser

Vou de novo até sorrir

Digo agora e o que disser

Meu coração é pra servir.

Meu sertão cheira a rosa

Com perfume encantador

Minha vida é toda prosa

Vou cantando meu valor

Quem na glosa mais se goza

Sempre vence toda dor.

Ouço longe o som do sino

Marcando o meu destino

E no meu humilde tino

Vou seguindo em bom caminho

Pois a fé do peregrino

Vai tocando o meu destino.

E se um dia chega ao fim

Minha vida aqui por fim

Digo em prece, digo sim

Foi bonito o meu jardim

Vou em paz, guardando em mim

A coragem que há em mim.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de setembro de 2020.

FAZER UM NOVO CORDEL

COM ESSAS PALAVRAS RIMADAS

Naquele samba Batuque

Não tem quem faça um Truque

O mundo já foi do Duque

Naquela tremenda Costa

Os cartões ninguém Posta

Todos eles o povo Gosta

O navio para no Porto

Nenhum marinheiro Morto

Todo santo já fez Horto

Nesse belo pé de Jambo

O dançarino não é Bambo

Quis imitar um tal Rambo

Ninguém supera Médio

Tende todos a ter Tédio

É preciso tomar Remédio

Ninguém sabe quem é Louco

Só sabemos mesmo Pouco

O cidadão já ficou rouco

Na tremenda Rapidez

Fingem ter a Frigidez

Todos sofrem Palidez

Não seguram o Vício

Fazem sempre Malefício

Deliram de Sacrifício

Quem vai subir a Rampa

Guardem sempre longa Tampa

Quem fica logo se Campa

Dançam linda e bela Dança

O perfume sempre Lança

Encher os bolos de Pança

Tem que ser naquela Tora

Quem será mesmo a Nora

Onde vive é lá que Mora

Garganta cheia de Secura

Todos dizem que é Loucura

Precisam de mais Ternura

Sempre é bom dizer: - Me Calo

No fundo vivem o Talo

Desceu pelo fundo do Ralo

Surge um tremendo Rato

Quem fala diz: - Eu Bato

Outros dizem: - Por fim te Mato

Vive posto numa Testa

Nada mais é o que nos Resta

Se fez linda baita Festa

Não mandem o seu Recado

Palestras desse Senado

O plebeu ficou Zangado

Queimem naquela Fornalha

Não passou de ser Canalha

Tem lá uma grande Falha

É o risco de perder a Moral

Já pintamos um bom Sinal

As coisas ficam como Banal

Pra beber um suave Vinho

A madeira é de Pinho

O tecido dele é de Linho

Aquela finíssima Capa

Guarde que já vem o Rapa

Todos vivem numa Lapa

E quem é que nunca Deixa

Façamos a grande Queixa

Vivem querendo ter Reixa

O mundo não é mais Dono

Se perdeu um grande sono

O patrão perdeu o Trono

Ande sempre numa Linha

Comem tudo que é de Pinha

Quando chegou ela já Vinha

Bota

Frota

Rota

Servil

Covil

Funil

Rosa

Prosa

Glosa

Cenário

Plenário

Binário

Brava

Trava

grava

Sereia

Baleia

Semeia

Passeio

Ponteio

Receio

Suave

Grave

Trave

Relance

Lance

Chance

Matraca

Catraca

Fraca

Pele

Neve

Leve

Cena

Pena

Viena

Problema

Cinema

Lema

Caroço

Pique

Fique

Disque

Bate

Late

Cate

Belo

Relo

Chinelo

Moço

Poço

Salva

Calva

Veloz

Cansa

Mansa

Palma

Calma

Sonetista

Flautista

Contista

Cuidem daquele Filhote

Deixem de passar umTrote

Monte forte no Garrote

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Copa

Topa

Dopa

Reze

Tese

Reverse

Moço

Poço

Torço

Salva

Calva

Nalva

Veloz

Feroz

Queiroz

Cansa

Mansa

Descansa

Rama

Dama

Cama

Palma

Calma

Salma

Copa

Topa

Recopa

Mágico

Trágico

Hemorrágico

Floresta

Protesta

Contesta

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 25/08/2024
Reeditado em 03/11/2024
Código do texto: T8136843
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