AS PROEZAS DE BIU BESTA

Severino de Coimbra Lisboa

Era filho de Portugal

Em 1816 veio ao Brasil

Num navio sentimental

Vejamos esta história

De alguém tão anormal.

O pai de Severino era

Devoto de São Tomé

Casado com Joana Flores

Dançarina de cabaré

Ele veio em missão

Ensinar uma nova fé.

Severino foi o terceiro

Desta família portuguesa

Que tinha vindo ao Brasil

Em busca de muita riqueza

Explorou uma grande aldeia

Desconhecendo sua grandeza.

Severino tinha seis anos

Quando aqui ele chegou

Trouxe na consciência

Muita saudade do que passou

Conheceu muito nativo

E muita bobagem aprontou.

A mãe de Severino era

Uma artista de primeira

Queria ensinar a dança

A toda nação brasileira

Mas o nativo já tinha

A sua cultura verdadeira.

Severino já com dez anos

Queria ser dançarino

Ficar ao lado da mãe

E não tocar mais o sino

Que seu pai tanto queria

Pro seu filho, o destino.

O pai era um beato

E vivia catequizando

Mas Severino queria

Ficar sozinho dançando

Não queria seguir o pai

Quando ele estava orando.

O pai não tolerava o filho

Ser assim daquele jeito

Pensou em ele ser padre

Porém, é este o defeito

Querer impor em tudo

E dar um novo conceito.

Nem uma coisa nem outra

Agradou aquele menino

Queria ser um poeta

Igualzinho ao nordestino

Acabou vendendo bode

Já era um clandestino.

O amigo da família era

O fiel e nobre Professor

Por nome de Celestino

De Severino ele cuidou

Mas o peste do menino

Nunca nada acertou.

Celestino foi o professor

De toda aquela aldeia

Quem desobedecesse

Na hora ia pra peia

Ensinava matemática

Até na hora da ceia.

Severino não aprendia

E tinha grande dificuldade

Errava muito na conta

Dizendo sentir saudade

A mãe levava pra reza

Na casa de Soledade.

Severino ficou curado

E não quis mais estudar

Celestino não entendeu

E foi ao seu pai explicar

Falou então, daquele ato

E como podia mudar?

Esse diálogo foi em vão

E de nada adiantou

Severino foi para feira

Exercer ser vendedor

Bode tinha de sobra

E ligeiro ele negociou.

O pai dele e a mãe

Ficaram de orelha em pé

Queriam saber o motivo

Usando o nome da fé

Porque Severino crescia

E nada de falar em mulher.

Os dias se passavam

E Severino distante

Procurou o tal Celestino

Pra arrumar uma amante

Mas Celestino desconversou

Falando que era errante.

Severino ficou com raiva

E de casa não saiu

O pai ficou preocupado

Com as coisas do Brasil

Deu nele uma surra

E ele depressa escapuliu.

O danado se escondeu

Dentro de uma aldeia

O nativo deu a ele

Mel e sopa de aveia

Depois o Severino

Se apaixonou pela sereia.

A sereia era o encanto

Que o povo oferecia

Água limpa dos rios

E tudo que o amor sentia

Severino ficou triste

E voltou no mesmo dia.

Quando ele chegou em casa

Levou um grande sermão

Seu pai pediu desculpas

E lhe estendeu a mão

Severino ficou contente

Com a nova união.

No outro dia bem cedo

Severino foi à feira

Vender cabeça de bode

Na cintura uma peixeira

Ficou bem defronte

De um pé de oliveira.

Nenhum bode vendeu

E seu pai lhe perguntava

O que tinha acontecido

Se todo mundo gostava

Daquela carne de bode

Que o povo alimentava.

Severino não respondeu

E uma surra ele levou

O pai tirou o bode

E outra coisa levou

Um gamão para jogar

E pra feira ele voltou.

De novo chegando à feira

Foi depressa enganado

Compraram o seu gamão

E não deram nenhum trocado

De novo voltando à casa

Um apelido lhe foi botado.

Nascia naquele momento

Na história do meu Brasil

Qualquer Severino seria

Logo chamado de Biu

Foi assim que este nome

O apelido, enfim, consumiu.

A partir daquele instante

Biu ficou sendo Severino

E depois só por maldade

Besta foi seu desatino

Biu Besta do passado

Hoje trava o seu destino.

No interior de antigamente

Biu Besta era falado

Não havia dicionário

E ser besta era anotado

Biu Besta sem futuro

No Brasil ficou marcado.

Quem primeiro escreveu

Foi o folheto de cordel

Manoel Camilo dos Santos

Que hoje mora no céu

As Palhaçadas de Biu

Pelas mãos do menestrel.

A história virou lenda

No Cariri, Brejo e Sertão

No Agreste, Litoral

E causou grande emoção

Quando se falava em Biu

O Besta vinha na direção.

Biu Besta vendia Bode

Na feira do Reinado

Um dia sem entender

Ficou lá bem descuidado

A princesa portuguesa

Mandou o seu recado.

Disse praquele guarda

Que tirasse o vendedor

Mandasse ele pra longe

Porque ela nada gostou

E Biu saiu dizendo

Que ela, dele gostou.

O guarda lhe deu uma pisa

E o peste saiu correndo

O bode ficou na feira

Sujo, ficou fedendo

E Biu chegando em casa

Em tudo foi se batendo.

FIM

João Pessoa-PB, 28 de setembro de 2008.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 24/08/2024
Reeditado em 25/08/2024
Código do texto: T8136298
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