O POETA E O BARBEIRO, DOIS VOLUMES

Esta história não tem graça

Graça nenhuma ela tem

Se fosse você o poeta

Pensaria assim também

Por favor preste atenção

Me parece até coisa do além.

O poeta certo dia

Com a barba pra fazer

Procurou o seu barbeiro

Que não pôde lhe atender

Este então logo saiu

Pra outro salão conhecer.

Antes, porém o poeta

Supersticioso como era

Naquele dia andando

Encontrou com Dona Vera

Uma senhora maldosa

Onde tudo de ruim se espera.

Dona Vera calada estava

E o poeta bastante falante

Deu bom dia a senhora

Que lhe pareceu pedante

Olhou assim meio confusa

E o tempo ficou quase errante.

Nada dava por certo

Nas pretensões do poeta

Com a barba comprida

Seguia uma linha incerta

Parou no seu barbeiro

E a hora não estava certa.

O barbeiro então falou

Com profunda simpatia:

- Espere só dez minutos

É o tempo de garantia

Deixe eu terminar primeiro

O cabelo de Zé Maria.

O poeta ouvindo isto

Ficou a mente desnorteada

Estava pra lá de impaciente

Com a barba desajeitada

Pensava naquele dia

Final de manhã agitada.

Assim a confusão mental

No poeta depressa chegou

Este sem resposta alguma

Outro barbeiro procurou

Não quis ficar no antigo

Que tantas vezes esperou.

Saiu dali caminhando

E não encontrava resposta

O momento que ele vivia

Não merece nenhuma aposta

Vejamos o que se sucedeu

Que de contar ninguém gosta.

Chegando naquele salão

A história agora começa

Perguntou ao novo barbeiro

Se ele atendia com pressa

Sentou-se numa velha cadeira

Um belo adereço de peça.

Quanto era o preço da barba?

O poeta assim perguntou

O barbeiro respondeu ligeiro

E a quantia logo baixou

E assim foi conversando

Disto o poeta nada gostou.

E que o poeta se entrega

Nas mãos de seu barbeiro

E aquele novato conversava

Coisas do dia inteiro

O seu antigo e fie1 mestre

Não era assim de converseiro.

Entendia cada detalhe

De uma grande convivência

Tratava bem seu cliente

E lhe transmitia paciência

O poeta naquele momento

Pagava era uma penitência.

Sentado naquela cadeira

Com um barbeiro estranho

Piscou mil vezes o olho

Da cor claro castanho

E se impacientava

Feito ovelha em rebanho.

Só sei que o poeta

Tão depressa se arrependeu

Vulnerável numa cadeira

O medo de fato apareceu

Aquele barbeiro era a cara

Lá do povo fariseu.

Oh! Que dia triste

O poeta estava vivendo

Pensava no seu barbeiro

E a voz ia morrendo

Não entendia o momento

E porque estava sofrendo.

Sofria no seu íntimo

Só Deus sabe definir

O barbeiro com a voz lenta

Queria o poeta fugir

Estava preso num salão

E sem querer veio a sorrir.

Aquele novo barbeiro

Encontrado num beco estreito

Deixava o poeta intranquilo

E o coração tão forte no peito

Batia tão rápido o dito

E o suor fazia logo efeito.

Suava dos pés à cabeça

Aquele poeta barbudo

Aquelas histórias contadas

Final ruim em tudo

Era um carnaval sem data

Sem música e sem entrudo.

O barbeiro pressentiu

Aquela singela situação

Com aquele poeta intranquilo

Vivendo aquela condição

Na sua velha cadeira

Não dava qualquer opinião.

O que estava pra acontecer

Ficou vivo na memória

Foi quando aquele barbeiro

Que merece uma dedicatória

Puxou um palavreado

Que é motivo desta história.

Achou que o poeta

Fosse um amigo do passado

Este disse que não

- Então estou errado

Falou assim o barbeiro

Pensou que tinha encontrado.

Encontrou naquele momento

Alguém tão parecido

Deixando atônito o poeta

Num lugar desconhecido

O barbeiro com sua tesoura

Tinha o cliente merecido.

Cada palavra de ambos

Ecoava pelo recinto

O barbeiro queria do poeta

Se é que eu não minto

Talvez a sua poesia

Regada a vinho tinto.

Ja o poeta queria

Dali sair correndo

Ir pra bem longe, bem longe

E o corpo todo fervendo

E pensava bem alto:

- O que ele esta querendo?

Queria o barbeiro conversar

Nada mais, porém é isto

Falar dos problemas da vida

Até mesmo da vida de Cristo

E o poeta tão ausente do fato:

- Neste momento nao existo.

De posse de uma espuma

Que parecia mais ondas do mar

Chegava bem junto ao poeta

E na barba toda ia passar

Passando e falando tão calmo

Era o barbeiro a trabalhar.

O poeta com a cara branca

Teve uma enorme surpresa

Foi quando o barbeiro falante

Se sentindo vossa alteza

Questionou aquele poeta

Com bastante delicadeza.

O barbeiro era personagem

De um filme de terror

Tinha todas as qualidades

Daquilo que nos dá pavor

E comentava com a espuma

História de um grande amor.

O poeta sem nada entender

Com o olho bem aberto

Dizia meio enrolado:

- De novo tudo é incerto

Termine logo esta barba

Estou ficando inquieto.

O barbeiro fez a pergunta

Que o salão estremeceu

Se o poeta já namorou

Ou se ele já conheceu

Uma antiga namorada

Que há muito tempo perdeu.

- Que coisa sem fundamento

O senhor vem questionar

E claro que nunca conheci

So quero a barba terminar

Que brincadeira sem graça

O barbeiro quer aprontar.

Este discurso o poeta

Colocou logo em prática

Não sabia que o barbeiro

Tinha a sua tática

De posse de sua navalha

Levou avante a matemática.

Somou a quantidade de dias

Que amou e foi amado

Vivia tão distante o amor

É porque tudo tinha acabado

Neste momento o poeta

Quase ficou cagado.

Com a navalha na garganta

O barbeiro sorrindo perguntava

- Nao era vocé que me traía

E com ela namorava?

O poeta ainda gaguejando:

- O senhor a ela pagava?

Passando aquela navalha

Por toda aquela garganta

O poeta tão frágil

Quase que se levanta

O barbeiro continuava:

- Ela era uma santa.

Como o poeta podia

Ter traído aquele barbeiro?

Só sei que disto tudo

Sofria um passageiro

Na cadeira sem correr

Encontrava um mensageiro.

Um mensageiro do terror

No barbeiro se estabelecia

Deixando o poeta sofrendo

Naquele tão triste dia

Por ter trocado um barbeiro

E vivido esta euforia.

No final da questão

O barbeiro ainda brincou

- Você ficou com medo

E quase se cagou

Com a navalha na mão

Ela quase te matou.

Aquele lugar tão estranho

Até hoje qual a verdade

Se o barbeiro queria matar

Com total crueldade

Cortar do poeta a garganta

E escrever a brutalidade?

O poeta e o barbeiro

É este cordel que não falha

Seja na ponta do lápis

Seja no aço de uma navalha

Não se deve trocar o certo

Por um punhado de migalha

F I M

João Pessoa-PB, 10 de novembro de 2018.

Volume II

Este Cordel Brasileiro

Pede a sua paciência

Para ler com atenção

Esta tão louca indecência

Tirada dessa verdade

Que se ver na consciência.

Existem coisas na vida

Sem nenhuma explicação

Nesta agonia danada

Que se tem a sensação

De ver o comportamento

Levando pra maldição.

Eu falo isto e sei porque

Do fato que aconteceu

Sobre um poeta barbudo

Que por pouco não morreu

Ao tirar sua barba

De cara lisa nasceu.

Num dia meio esquisito

Na manhã tudo se estraga

Poeta pensou consigo

Naquela bendita praga

Se acordando estranhamente

Cabeça feito uma draga.

Pensava aquele sujeito

Daquela barba comprida

Ir direto resolver

Certos problemas da vida

Depois de tomar um banho

Fez então sua partida.

Ele tão sozinho estava

Pensou com tanto carinho

Pedir boa companhia

Daquele nobre sobrinho

Para irem no seu barbeiro

Traçando aquele caminho.

Há tempos não se viam

Saíram dialogando

O menino perguntava

Esta conversa aumentando

Quanto custava o serviço

E se ele estava gostando.

Seu tio informava tudo

Com seu jeito prestativo

O importante neste dia

Era ficar mais ativo

Disse aquele pensador

Sem ser interrogativo.

Com sua barba a fazer

A cara toda cobrindo

Só pensava em tirar ela

Que vivia resistindo

Se sentindo agoniado

Seu bigode sacudindo.

Naquele lugar chegando

O sobrinho olhou primeiro

Numa rapidez diz: - Tio

Eu acho que é seu barbeiro

Espie que multidão

O senhor é derradeiro.

Dito isto, aquele bom moço

Sem querer aperrear

Pois, ficou um pouco calado

Querendo se aproximar

Chegando neste salão

Tudo vem se atormentar.

Aquele barbeiro antigo

Que fez dele um bom cliente

Tava bastante ocupado

De freguesia decente

Naquele local repleto

Cada qual mais exigente.

O seu barbeiro sorrindo

Para o poeta dizendo

Que ele entrasse, se sentasse

E foi logo respondendo:

- Olhe bem este salão

O senhor assim tá vendo.

O poeta não entendeu

O seu cantinho de origem

E viu a tal quantidade

Onde todos ali exigem

Despediu do barbeiro

Tendo em seguida vertigem.

De repente em beco escuro

Um senhor ele encontrou

Dono da barbearia

Por ali mesmo ficou

O sobrinho acompanhando

Deste lugar não gostou.

Este jovem quis saber

Se o mercado tinha alguém

Que fizesse aquela barba

Pagando pouco vintém

Mas o poeta direto:

- Não vou mais pra seu ninguém!

Porém, o simples barbeiro

Com a perna feridenta

Nariz cheio de cabelo

A unha tão grande e nojenta

Causou no poeta, medo

E grosseiro, disse: Senta!

Aquela voz das profundas

Chegando ao estremecer

O poeta se entregou

Querendo compreender

Ficou do lado de fora

E começou a descrever.

Cabelo deste senhor

Sujo, bem despenteado

Deixando aquele poeta

Confuso, desesperado

Já sentado na cadeira

De parafuso quebrado.

Quase nada dava certo

Nas pretensões do poeta

Com a barba bem comprida

Segue depressa uma meta

Parando no seu barbeiro

A sala estava completa.

Que dia triste, meu Deus!

Este poeta nervoso

Pensando tanta bobagem

Num ritmo bem assombroso

Nunca entendia o momento

Mas se fez de corajoso.

Perecendo no seu íntimo

Deus que sabe definir

O barbeiro com voz lenta

Só tentava escapulir

Tava preso num salão

Sem querer veio a sorrir.

Aquele barbeiro deixa

Este ambiente ordinário

Deste poeta intranquilo

Ali, posto sedentário

Naquela velha cadeira

No mais tristonho cenário.

Todas as palavras do homem

No recinto ecoavam

Quis provocar no poeta

Fatos que se passavam

Talvez em vários poemas

De ouvir se lamentavam.

Como o poeta podia

Discutir a sua sorte?

Sofre aquele cavalheiro

Com receios de uma morte

Peça, gênero terror

Onde se acabava o forte.

Este mais novo barbeiro

Foi puxando um papo estranho

Falando de seus amores

Feito cabras em rebanho

Abordando todos eles

Sua orelha, olhe o tamanho.

Comunicação estridente

Animal conto de fada

E o poeta já dopado

Abrindo o olho, não ver nada

Se mostrando indiferente

Ficou de cara fechada.

O que quis este barbeiro

Foi querer só descobrir

O porquê daquele fato

Que nem podia fugir

Naquele cheiro por perto

E ele isto foi consentir.

Com navalha na garganta

E a barba cheia de espuma

O barbeiro no poder

Diz terrivelmente: - Suma!

A situação era triste

E o poeta não se apruma.

Poeta na tremedeira

Porque algo lhe dava medo

E este barbeiro contava

Uma dose de segredo

E o pior de tudo aquilo

É o final deste enredo.

O barbeiro se insinua

Expondo que foi traído

Fez sinal com a navalha

E tascou: - Sou um protegido

Soube que minhas amantes

Tinham a ti conhecido!

Finalizo este Cordel

De forma bem amigável

Não é bom ser apressado

Por vezes é ser estável

Nunca trocar o seguro

Pelo que é condenável.

FIM

João Pessoa-PB, 08 de maio de 2020.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 22/08/2024
Reeditado em 23/08/2024
Código do texto: T8134663
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