O MENINO QUE PEIDAVA II

Eu retornando a Pilões

Pensava só encontrar

Aquele menino peidão

Somente pra gargalhar

Mas o que me contaram

Não é bom nem lhe contar

Porque me deixa chorar

O que vieram me dizer

Derodero fez esforço

E com isto veio sofrer

De tanto soltar pum

Estava difícil viver

Falaram que ao nascer

Derodero quis pedir

O pai foi um qualquer

Sua mãe não viu partir

A tia tomou de conta

E seu apelo veio sumir

E nunca mais viu surgir

Na sua vida nenhum amor

Na barriga do menino

Todas as noites era dor

Ele calado ficava

Diante de todo pavor

Tantas vezes fome passou

Inchando igual cururu

As suas necessidades

Não vou nem contar pra tu

Numa fedentina braba

Lembrava até urubu

Um primo de Caruaru

Lhe chamava esmoler

Trouxe roupa pra ele

E apelidou de seu chulé

A tia brigava tanto

Entenda tudo como é

Um familiar sem ter fé

Deixa Derodero pior

Aquele problema dele

Nunca entrou na melhor

Sua infância tristonha

Naquele estranho suor

Suava até sem ter sol

Que pingava pelo rosto

Não brincou de jogar bola

Vezes chamado encosto

Este primo sem apelo

Só lhe dava era desgosto

Naquele dia de agosto

Como sofreu este menino

Levado às pressas ao posto

Apontaram seu intestino

Com os gases embutidos

Estava traçado o destino

Aquele povo cretino

Nem quis ver o problema

Saiu espalhando a todos

Este profundo dilema

Dizendo que Derodero

Podia ser ator de cinema

Com este falso embrema

Ia crescendo Derodero

Controlando sua barriga

Algo pra lá de sincero

Quando entrou pra escola

Brigou com um tal Lerolero

De falar me desespero

Esta situação me intriga

Encrenca nunca foi dele

Nem tampouco fazer briga

A meninada canalha

Deus do céu é quem castiga

Com uma grande espiga

Bota cocô de cabrito

Fazem o cabra pegar

Causando muito atrito

Derodero não gostou

E foi dando aquele grito

A Mestra Só Dona Brito

Sem saber do ocorrido

Suspendeu Derodero

Sem ter ele merecido

Lerolero era o culpado

No final foi protegido

Com muita dor de ouvido

Derodero foi levar peia

A tia também sem saber

Pegou uma grande correia

Meteu nos pinhaços cru

Ignorância sem pareia

Naquele dia na ceia

Derodero ficou doente

Peidando que só a gota

Deixando o cabra contente

Não teria nem motivos

Mas ficava alegremente

Sua tia tão demente

Foi dizendo: não me enrola

Deixe desse seu pantim

E não vá deixar escola

Amarre esse seu bucho

Se não vai pedir esmola

Aquela gente na cola

Não deixava o bicho estudar

Chamando de todo nome

E tão cedo foi abandonar

A tia foi ter com a diretora

E um barraco foi aprontar

Os moleques pra confrontar

Pediam o menino de volta

Mas isto não vem ao caso

Tudo porém só revolta

O que sentia Derodero

Estambo que não se solta

A melancolia me envolta

Me deixa até sem vontade

No traço deste caminho

Tudo me causa saudade

Lembranças do Derodero

No circo da mocidade

Derodero liberdade

Soltando os seus peidões

Animando aquela gente

De todo amado Pilões

Com aquele seu jeito

Vibrando de emoções

Ele falava em trovões

E seu peido nos respondia

Aquele menino traquino

É motivo de nostalgia

Nas bodegas da cidade

Somente riso transmitia

Quando a chuva fina caía

Derodero tirava o calção

Ficava livre o furico

E tome peido de montão

Ninguém se aguentava

Somente mijo no calção

A tia sem condição

Era uma boa empregada

Nas casas do povo rico

Vivia desamparada

Não cuidava do sobrinho

Nem mesmo na chuvarada

Certa feita na trovoada

Derodero bem gripado

Ficou tossindo à noite

Sem atenção o condenado

Tão pequeno o menino

Aquele ser abandonado

Seu intestino delgado

Estava chegando ao fim

Peidando sem controle

Ia tudo ficando ruim

Intestino grosso também

Fuça feito porco espim

O doutor Zé Serafim

Daquele posto local

Falou para sua tia

Que nada era normal

Cuidasse de Derodero

Que podia ficar legal

Não tampava o bocal

E ali mesmo peidava

O doutor até sorria

De riso não controlava

A tia desconfiada

Sozinha no canto rezava

A tia que não prestava

Falando bem baixinho

Jogando praga ao vento

Lhe chamava – fresquinho

O cabra gostando disso

Tome logo um peidinho

Um remédio com carinho

Era dado no momento

Tomar todas as doses

Para ter melhoramento

Mas precisava seguir

E tinha só esquecimento

Derodero meu sentimento

Descanse sujeito em paz

Pensando naqueles tempos

Fazer aquilo não satisfaz

Mas o teu prazer era tanto

E nem chegaste a ser rapaz

Esse peidão foi demais

E não cuidou de sua saúde

Viveu de fazer graça

E terminou num ataúde

Mas como gente do bem

Vives no céu amiúde.

FIM

João Pessoa-PB, 24 de março de 2011.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 22/08/2024
Reeditado em 21/01/2025
Código do texto: T8134658
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