O MENINO QUE PEIDAVA

Existem grandes mistérios

Bem mais do que nós sabemos

Cordel só faz explicar

É tudo que nós queremos

Entender com maestria

Com amor e poesia

Aquilo que percebemos.

Isto faz bastante tempo

Tá gravado na memória

Lembro-me de tais detalhes

Sem fazer escapatória

Do menino que peidava

Bem esperto, despertava

Desta tão simples história.

Ao grande Derodero

Fui sim, apresentado

Eu vi nele, personagem

Ali, fiquei bem vidrado

Um palhaço de mão cheia

Fazendo som de baleia

Que cabra bom, arretado.

Comecei dialogar

Ele puxa tosco pente

O povo gostava dele

Simples, bem inteligente

Matemática com tudo

Se dizia ser sortudo

Fazia conta pra gente.

O peste fez atração

Quis, porém, apresentar

Dizendo, rasgando peido

Começou logo pular

Cada bufa desse bicho

Era com tanto capricho

Ri tanto, cheguei chorar.

Derodero com frescura

Foi logo me perguntando

Tudo que se tinha visto

E como tava passando

Pois eu ficasse tranquilo

Nunca pensasse naquilo

E por fim, acostumando.

Pediu caldo de cana

Claramente que lhe dei

Pum! Em agradecimento

Mais um lanche lhe paguei

Derodero diz pro dono:

- Me botei naquele trono

Por pouco quase caguei!

Me sento, logo pensando

Naquele mal intestino

Labutar estrepolia

Que deixava bom menino

Peidando daquele jeito

Estufando todo peito

Fazendo seu vil destino.

Este senhor da bodega

Só pensou mesmo sorrir

Deu mais um caldo de cana

Ali mesmo fez xixi

Paguei tudo que devia

Sem ver nem a carestia

Pro lar fui refletir.

Nestas férias em Pilões

Já começava gostar

De Derodero peidão

Eu vou sim, acostumar

Naquele dia fiquei

Muitas vezes calei

Tão somente pra pensar.

O que faz este menino

Tão franzino, magricela

Expelindo tantos gazes

Como gado na cancela

Sem ter vergonha dos atos

Ao sair sempre pros matos

Com roupa de cabidela?

Nas vastas experiências

Em matéria de namoro

Dizia quando peidava

Alternando mil agouro

Quando não soltava bufa

Viciado numa trufa

Caía no falso choro.

Pois, tudo que presenciei

É, sim, inacreditável

Um pirralhinho daquele

Olhares do bem, amável

Esforçar daquele modo

Poucos falam: - Incomodo!

Mas, que bicho miserável!

O povo fazia fila

Dizendo: - Peide que quero

Com muito mais respeito

Peidar como Derodero

Ah! Que pum bem esperado!

Público desesperado!

A galera diz: Espero!

Derodero bem moleque

Gostava sim, exibir

Fazer tudo que sabia

Nem pensar escapulir

Soltar seus diversos gazes

Criando diversas bases

Era pra rir até cair.

Ele é bem engraçado

Menino, luta pirraça

Na cidade de Pilões

Enchia gente na praça

Pro morador o cabrito

Era pedante no grito

Vivia cheio de graça.

Piscar uns peidos daqueles

Que Derodero tremia

Ele não foi à escola

Fora criado por tia

Se tornou bem importante

Do quadro negro distante

Este rapaz alegria.

Jamais vi coisas assim

Nessa toda minha vida

Alguém controlar o fundo

De forma bem atrevida

Ao prender várias tripas

Como se fossem as ripas

Pro bicho rever saída.

O danado do menino

Era mesmo bem peidão

Agradava bons pedidos

Vendo graça ser cagão

Estalando cada dedo

Seu viver não tem segredo

Soltava mais um rojão.

Bem simpático com todos

Seu nome não conheci

Na família que morava

Só depois compreendi

Não deu para ter escola

Jamais provou da tal cola

Dele mesmo só ouvi.

O sonho nobre talvez

Um dia vir se formar

Mas ele não conseguia

Numa cartilha firmar

Assinava nome, pronto

Nunca se pautou ser tonto

Sabia ler e contar.

Derodero teve culpa

Daqueles grandes peidões

Os meninos pelas ruas

Apelidados trovões

Viviam de presepadas

Estas grandes molecadas

Nas chuvas do meu Pilões.

O município tem circo

Sem atrativo pra ver

O proprietário dele

Tem que vir aborrecer

Falamos com dito cujo:

- Um banho, não seja sujo

Pra chegar acontecer.

Pois, ser famoso foi tudo

Que queria Derodero

E sendo desconhecido

A moça diz: - Te venero!

Derodero é artista

Um tremendo populista

Neste palco tão sincero.

As dançarinas do circo

Foram também acertar

Um número musical

Puseram a propagar

Uma rumba saborosa

Cercadinho de gostosa

O capeta foi dançar.

Excelentes produções

Um circo bacana tem

Nas noites, boa plateia

Com o dono do sedém

Nos bons ritmos brasileiros

Vibrações nos picadeiros

Nas famas vindas além.

A noite mais aplaudida

Naquele circo chegou

O Derodero de sainha

Amado Deus! É horror!

Público ria tinindo

E cada vez mais sorrindo

Em nome de quem peidou.

A partir do tal instante

O cabra ficou famoso

Neste circo bem montado

Só aplauso caloroso

Gente de sítios vizinhos

Caindo naqueles cantinhos

Fervendo bom alvoroço.

Atração é Derodero

Daqueles peidos potentes

Divulga carro de som

Pra tantos inteligentes

Pilões se tornava centro

Que tem o final de Dentro

Destes artistas decentes.

Derodero pode ter

Desgraçado feofó

Que dava-lhe fama, sim

Lhe tirando da pior

Ganhando muita grana

Conseguia ser bacana

Sem botar nenhum suor?

Derodero desgostoso

Quando circo foi simbora

Ele resolveu ficar

Dentro tem alguém que chora

Uma dançarina linda

Daquelas terras Olinda

Que lhe chamavam Aurora.

No retorno pra Pilões

Era tamanha festança

Procurava Derodero

Alegre feito bonança

Recordo sem esquecer

Que tema me foi nascer

Fazer Cordel pra criança.

FIM

João Pessoa-PB, 20 de julho de 2006.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 22/08/2024
Reeditado em 22/08/2024
Código do texto: T8134656
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