UM PARAÍBA VEXADO
Faça um cordel de ouro
Capa de xilogravura
Encomende pelos Correios
Faça dele sua bravura
Pinte os convites de fama
Com isto tenha postura.
Um Paraíba da peste
Que passou no meu quintal
Trouxe consigo os sonhos
Que botaram num postal
Na cama dos sonhadores
Faço o som ficar cristal.
Repare se sou vexado
Invocado posso ser
E se vosmicê num sabe
Pru mode deve saber
Que quando se morre gente
Todo céu tem mais prazer.
E num é pra seu ninguém
Nas coisas botar o bico
É que fico disgramado
Se quer saber como fico
Eu num sou nem bexiguento
Pra subir em qualquer pico.
Se subir já dói nos nervo
Deixa tudo bem lascado
A vida do caba macho
Já manhece distrenado
Só subo pé de pitomba
Qué bicho malamanhado.
Inté parece que tu
Num conhece ser brecheiro
Vivo só naquelas brecha
Que parece formigueiro
Nunca vou botar cabresto
Em quem é meu pariceiro.
Amigo meu é xará
E não vai ser xeleléu
Se for vai ter é zoada
E nem tiro meu chapéu
O caba quando é bom
Eu lhe dô até troféu.
Tu num sabe do que sei
E não venha tapear
Num vá fazer arrodeio
Se não vou sacolejar
Eu sei do que querem, sei
No fundo vão debochar.
Sou Paraíba com fé
Na ladeira do perdão
Eu dou coice na brabeza
Sem ferir meu galardão
Não tenho pressa na vida
Esse é nosso bordão.
No caminho lá de casa
Tem parede pra cobrir
Os pecados dos solteiros
Que eles querem encobrir
Deixem de pensar besteira
Seu perdão vai descobrir.
Dizem que sou um vexado
Nascido em Cabrobó
Primo de um sargento
Neto do finado Xodó
Defensor do povo feio
Que se chama seu Bobó.
Um Paraíba vexado
Não tolera sacrifício
Vive de fazer prece
Pagando todo suplício
Na festa do Paraíba
Tem fogos artifício.
FIM
João Pessoa-PB, 23 de fevereiro de 2023.