TEMA CORDEL

O cordel tem cada tema

Dentro do intelectualismo

Busca divertir o público

Usando muito neologismo

O cordel é brasileiro

E vive no regionalismo.

Caindo fundo no poço

O cidadão vai ao abismo

Não sabe ele de nada

Das leis do abolicionismo

Numa época de outrora

No tempo do absolutismo.

Ele estudou tanto e foi

Direto ao abstracionismo

Burlou cadeiras de créditos

Não se deu no academicismo

Foi um tanto intransigente

Apelando às vezes ao aforismo.

Viveu sempre em transe

No mundo do alcoolismo

Não ultrapassou a fase

Do que é o alfabetismo

Não conhece uma palavra

Não entende o algarismo.

Viveu esquecendo de si

E cuidando ser altruísmo

Mas não compreendeu o fato

Permaneceu no amadorismo

Por vezes usou o corpo

Se deu mal com anabolismo.

Nas ideias do pensamento

Ele vive sempre no anacronismo

Ainda soletra as vírgulas

Um viver no analfabetismo

Ele não sabe que sua bandeira

É da cor do anarquismo.

Não aceita a visão alheia

Calça a postura do antagonismo

Ninguém sabe do seu passado

No assunto de antropocentrismo

Ele desconversa o professor

E diz conhecer o arcadismo.

Os movimentos são citados

Como sendo assistencialismo

No pergaminho do verso

Não passa o seu atavismo

Não crer na palavra deus

E discorda do ateísmo.

A visão que o povo tem

Cai direto no seu ativismo

Na bicicleta ronda a cidade

E defende de cara o atletismo

A população inteira sabe

Da realidade do autismo.

Ele é considerado por todos

Defensor do autoritarismo

Trocou a sua bicicleta

Por meio do automobilismo

Foi atacado na estrada

Chefiada pelo banditismo.

Ao chegar na carceragem

Reagiu sem brilhantismo

Queria trocar o nome

Pelo nome de batismo

O grupo não deu voz

Quem manda é o capitalismo.

Ele já não aguenta mais

Seu próprio bucolismo

Defendeu com unhas e dentes

Lá na Rússia o bolchevismo

Foi morar na terra da índia

E ficou adepto do budismo.

Vive num profundo sono

E se lembra do calvinismo

A lembrança está tão viva

Dentro do catolicismo

Fugiu do eclesiástico

E aderiu ao ceticismo.

Ele é devoto dele mesmo

E qualquer um que se venda

Come e bebe de graça

E quer que alguém compreenda

Ele faz trança nos dedos

E a mulher colhe a renda.

Ninguém se arrisca a falar

E ficar calado é necessário

Uns cantando o amor

Só em festa de aniversário

Outros perambulando na cena

Num desfazer do sedentário.

Nas ações valorizadas

O homem entrega o seu valor

Ganha e perde numa noite

O que na vida ele ganhou

Não consegue se controlar

A ação já se desvalorizou.

Vive o homem tão só

E não quer nem companhia

Sofre dores do pecado

E não reza uma Ave Maria

Fala pelos quatro cantos

E esconde a sua melancolia.

A vida é muito curta

Curta ela enquanto pode

O mundo tão desigual

Vem a morte e te fode

O tempo está nublado

Um raio logo se explode.

Você que é gente fina

E pensa em nostalgia

Esquece que existe a noite

Só pensa em água fria

É triste ver este moço

Reclamando de Maria.

Maria é uma santa

Mãe de Deus de Nazaré

Deixa o povo mais feliz

Tudo em nome desta fé

Indo à igreja sempre

Se aprende tomar café.

É que o Padre Josafá

Devoto de São João

Gosta de tomar uma pinga

Naquele singelo barracão

Compra fiado em Quinca

E só paga em prestação.

Nas ações da humanidade

A profissão é respeitada

Jogador de futebol

Só gosta de uma bolada

Não joga o que se deve

Torcedor na enrolada.

A educação do povo

Está sempre em conflito

Uns amam o que fazem

Outros somente no grito

Brigam por qualquer motivo

Entram logo em atrito.

O homem que pensa muito

Termina a necessidade

Pleiteia o impossível

E defende a crueldade

Vive coberto de dengo

Tudo nele é saudade.

A religião do povo

É a mesma de antigamente

Maomé e Jesus Cristo

Ligados numa corrente

Trazem Buda bem ligeiro

No mote de um repente.

O homem quando se muda

Não deixa de olhar pra trás

Carrega uma lembrança

Que muito bem lhe faz

A nostalgia deste homem

É regada só de paz.

A humanidade bruta

Se alia ao capitalista

Não ouve a voz do povo

É muito sensacionalista

A sociedade mundana

Não estuda, quer ser artista.

O homem se contamina

Pelas vias por onde passa

Dizendo ser a pessoa

Que nunca fez uma trapaça

Aí a coisa se perambula

Como o fogo de uma fumaça.

A sociedade é cretina

E não respeita o cidadão

Joga pedra na calçada

E estraçalha nosso pão

Gosta de fazer o pouco

Não escolhe ocasião.

O homem dela faz parte

E precisa do emprego

Quando não morre à míngua

Fica vivo no arrego

Cada dia que se passa

Cresce mais o desemprego.

No estudo da ciência

Não existe resultado

O ser humano é o dono

Até mesmo fracassado

Quando não se pensa muito

Muito fica atrasado.

E agora vou terminando

Um assunto polemizado

O cordel de posse dele

Lhe deixou contaminado

Imaginando toda a ciência

Na humanidade ter entrado.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de março de 2018.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 19/08/2024
Código do texto: T8132686
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