CORDEL DO CANSAÇO

Vou botar naquela praça

Um cordel todinho meu

Falando de quem quiser

De mim ou do povo seu

Vou falar até do pai

Que fica e nunca vai

Brigar com amigo teu.

Vou falar desse plebeu

Que mora na parte pobre

Dos pirralhos da Candinha

Que tem coração tão nobre

Dos cachorros da vizinha

Presos naquela cozinha

Com os seus dentes de cobre.

Meu cansaço me descobre

Meu viver não me suporta

Andando pelas calçadas

Minha vida é quase morta

Nas vielas bem confusas

Moças tiram as suas blusas

Pra ter casa e ter porta.

Político se comporta

Com os deuses dos jornais

Não joga papel no chão

Congratula seus postais

Anda sempre desmentindo

Nem deve ficar sorrindo

Pros críticos anormais.

Eu já não suporto mais

De política falar

No comando maioral

Ninguém faz pra governar

O povo sem saber nada

No cabo de sua enxada

Só quer mesmo é plantar.

Vou correndo publicar

Depois de tomar café

Em seguida divulgarei

No peito brotando fé

O que eu tenho pra dizer

Dê riso, não vá sofrer

Te peço não bata o pé.

Fui na Praça da Sé

Eu só queria ouvir

O que tinham pra mostrar

Deu vontade de sumir

Era todo mundo triste

Dizendo que o mal insiste

O melhor era fugir.

Não faz sentido partir

Para ver nascer o sol

O que brilha aqui agora

Não pode ficar pior

A desgraça anda plantada

Luta brava está parada

Vamos desatar o nó.

De fingir me cai o pó

Pensando no jaburu

Que se plantou no poder

E lhe chamam de cururu

No governo da miséria

Nessa mesa só bactéria

Cresce mais do que Itu.

Minha nobre Caruaru

Que saudade de você

Aqui nesta cidadela

Não tenho nada a vencer

Esse povo perdeu a luta

Pra tirar a má conduta

Que enfraquece o viver.

Não sei mais o que fazer

Por tudo que se passou

Juntos seremos muitos

Não diga que fracassou

Pegue sua munição

Bote bem no coração

E cante com seu fervor.

Você nunca foi condor

Na farta contradição

O que propôs acabar

Resta numa corrupção

Tamos anestesiados

Nas mãos destes condenados

Nós somos a perdição.

Destruíram a educação

Não sabemos explicar

A escola se transformou

Palco pra dramatizar

Os homens de paletó

Não passam de ser mocó

Deixam tão cedo estudar.

Nós vamos é enfrentar

Este peste governante

Vamos levantar bandeira

Seguindo sempre avante

O país só faz desordem

As corrupções explodem

No sistema mais errante.

Eu fui caçar e fui pedante

No sítio do velho Bragança

Esperando ser julgado

Pra chegar vã esperança

Na conduta do que fiz

Não podia ser feliz

Pensando ser uma criança.

Nada se faz por vingança

Na vida do condenado

Tentaram me combater

Por muitos fui sabotado

Sem respostas para dar

Meu viver quer comandar

Meu pensar desesperado.

Meu bom leitor estimado

Que gostam de ler cordel

Fiquem certos na leitura

Não vão fazer escarcéu

Espero que tenham lido

Pra não serem metidos

Se vendo neste bordel.

Amantes desse cordel

Sintam-se bem contemplados

Arregacem suas mangas

E defendam os letrados

Assumam as condições

Deixem todas emoções

Entre todos os sobrados.

Na mente dos desgraçados

Estraçalhando pensamento

Meu pensar já fez de tudo

Pra viver nesse momento

Sou um ser despreparado

Preciso ser preparado

Só não topo fingimento.

Árvores dão tingimento

Que dão sombra para gente

Cada verde que é dela

Esbanja tão docilmente

O meu sertão é padroeiro

Deste povo brasileiro

Neste lugar de serpente.

São vidas que vão em frente

Nas forças de São Miguel

Prisioneiro cubano

Do capitão Josiel

Preso sem nenhuma prova

Quase entra na desova

Diz chorando Rafael.

O famoso Manoel

Irmão nobre comunista

Que já tinha sido tudo

Um famoso congressista

Defensor dos oprimidos

Dos poucos mais atrevidos

Fiel parlamentarista.

Melhor fosse cordelista

Grande Miguel de Cabana

Foi revolucionário

De Pedro Basto Carvana

Um líder comunitário

Defensor de sedentário

Perseguido das Havana.

Naquela cidade bacana

Onde nascem os guerreiros

A política de luta

Que sacodem forasteiros

Respeito pro Ser Humano

Pra todo povo cubano

Todos nós somos herdeiros.

No tempo são passageiros

Precisões todas urgentes

Homens chorando nos cantos

Sorrisos brotando mentes

Cidades são destruídas

Armas são distribuídas

Impérios intransigentes.

Dispostos condescendentes

Dos percalços desses sonhos

Vivem querendo sossego

Perturbando vãs tristonhos

Os homens são mais culpados

No fundo são condecorados

Por não vencer os medonhos.

Conviver com os bisonhos

O Miguel presenciou

Descendo ladeira torta

Uma lágrima brotou

A prisão deste guerreiro

Virou título terreiro

Toda Pátria não gostou.

Ninguém me conquistou

Entregando sem critério

O povo cubano triste

Sem entender o mistério

O Miguel não merecia

Nem precisou de poesia

Pra vida ter impropério.

Ser da turma do império

De quem cria dissabores

Rafael ficou calado

Dissolvendo suas dores

Esta multidão raivosa

Deixa Cubana nervosa

Gritava pros opressores.

Os benditos professores

Batiam na multidão

Chicotadas eram dadas

De cortar o coração

O Miguel fica sem ver

Com isto vai conviver

Distante da confusão.

Numa tremenda precisão

Neste mundo bem atual

A prisão foi o motivo

Mas nada ficou normal

Miguel vive sofrendo

Aos poucos vai morrendo

Com a cabeça genial.

De fato experimental

Um pretexto pra gostar

Se gosto nem sei de quê

Só não poderei falar

Eu vou gravar na tua mente

Te dizer que és demente

A semente que vai ficar.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 19/08/2024
Reeditado em 23/09/2024
Código do texto: T8132682
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