O COVEIRO ZÉ MOCÓ

Preste muita atenção

Na história que vou contar

Do coveiro Zé Mocó

Com São Tomé sobre o altar

Tanta gente ele enterrou

No Campo Santo Pilar.

Zé se chamava Mané

Da terra Caruaru

Tinha vício de beber

A cachaça da Pitu

Ele quando ia tomar

Fechava Jacaraú.

O filho de Bastião

Vive sentindo pavor

Mesmo assim vinha engolir

Tanta pinga em Nicanor

Um bodegueiro ladrão

Que a todo mundo roubou.

A conta de Zé Mané

Tinha só que proteger

O qu’ele vinha ganhar

Na bodega ia perder

Certa feita Nicanor

Botou quente pra ferver.

O Zé de Jacaraú

Só vivia na pior

Devia mais de um milhão

No jogo de dominó

Nicanor lhe apelidou

O cabra de Zé Mocó.

O Zé conheceu Xandu

Tanto amor fez ressurgir

Ele e essa moça foram

Um namoro construir

O drama que ele contou

Fez o povo refletir.

O agiota Nicanor

Queria tudo saber

Falando do pobre Zé

Diz: - Agora vai valer

Tu me pagas, Zé Mocó

Mesmo assim podes escolher.

- Tu precisas se limpar

Não podes escapulir

Me pague, sim, meu milhão

Pra gente logo se unir

Só assim não vou cobrar

Teu fiado vou inibir.

O coveiro ali ficou

Sem saber o que fazer

Ou pagava seu milhão

Ou com ele ia se ver

Nicanor era ruim

Só fazia o Zé sofrer.

No jogo de dominó

Tanta gente foi torcer

Pelas jogadas do Zé

Até ao amanhecer

Mas o cabra se alisou

Resolveu dali correr.

O povo todo dali

Ficou pronto pra ajudar

Uma cota começou

E haja gente procurar

Zé Mocó foi se esconder

Para ninguém lhe encontrar.

Pai Biu Sebastião

Pensava querer fugir

Toda gente a procurar

No Terreiro Cariri

E pra o povo foi dizer

Que seu filho ia surgir.

- Enquanto o neto não vem

Vou gastar o meu suor

Procuro em todo lugar

Meu famoso Zé Mocó.

Palavras de bem querer

Da sua amada vovó.

Enquanto isso, Nicanor

Queria só seu milhão

Tudo que o povo juntou

Não passava de um tostão

E o coveiro Zé Mané

Já lhe dava apreensão.

Foi tremenda confusão

No lugar Caruaru

No assunto do Zé Mocó

Vasculharam pra xuxu

Portanto, a nobre missão

Chegou à Jacaraú.

Todo aquele povo ali

Queria o Zé encontrar

Porque se um alguém morrer

Quem vai querer enterrar?

Foi assim que tudo explicou

Um cidadão popular.

A comitiva chegou

Direto à Grajaú

Falar com Seu Nicanor

O “dono” de Jacaraú

Que dinheiro emprestou

Até pra gente do Sul.

Nicanor foi viajar

E a mulher foi resolver

A comissão que chegou

Não conseguiu entender

Aquilo que propagou

O mundo queria ver.

Ninguém viu Nicanor

A não ser Seu Bastião

Pai daquele Zé Mané

Que estava em aflição

O seu filho ele não achou

E só falou em maldição.

O que veio acontecer

É fato a se consultar

O milhão que tem valor

Ele foi negociar

Com esse tal Zé Mané

Para ele tudo jogar.

O povo jamais parou

De bom trocado pedir

E a igreja desse lugar

Quis também contribuir

Para a dívida do Zé

Que fazia evoluir.

Encontram com o Zé

Com uma cartilha do ABC

Aprendendo a soletrar

Que ele fez resolver

Interessante ficou

Pra situação vencer.

Falaram para o Mocó

Que não precisava sair

Ficasse ali pra pagar

O pacote foi abrir

Já tinha boa porção

Ele devia sentir.

O Zé se alfabetizou

Com total dedicação

Descobriu o que se tem

Algo de contravenção

Nicanor resolveu sair

Pra ver a situação.

Toda missão se mostrou

Não quis se preocupar

Encontrar com Zé Mané

Isso podia restar

Terá só que obedecer

O que se fosse falar.

Zé foi feliz receber

A grana da doação

Abraçou a sua Xandu

Ele chorou de emoção

Queria mesmo pagar

Todo aquele dinheirão.

De repente uma notícia

Na cidade se espalhou

Nicanor veio morrer

Para mulher só restou

O corpo foram buscar

Tanta gente ali velou.

O bodegueiro foi cair

Naquela enorme traição

Um tiro o cabra levou

Sem haver a compaixão

Quem foi mesmo que matou?

Eis aí toda a questão.

Com este dinheiro em mãos

Mané quis se libertar

Queria em troca fazer

E Nicanor foi enterrar

Precisou se garantir

Que nunca irão lhe cobrar.

Tanta grana a receber

O cobrador esperou

O milhão de Zé Mané

Foi ele mesmo que fixou

A quantia do dever

Invento do Nicanor.

Noventa por cento ali

Vendo aquele corpo velar

Quem foi que viria a ser

Aquele corpo sepultar?

Seria o coveiro Zé

Que nunca chegou a pagar?

Eu vou já finalizar

O cordel do Zé Mané

Feito para você ler

Num mundo grande de fé

Desse coveiro fujão

Devoto de São Tomé.

FIM

João Pessoa-PB, 18 de março de 2018.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 19/08/2024
Código do texto: T8132678
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