A LENDA DA MULHER SEM CABEÇA

Se você gosta de ler

Então faça sua leitura

Se sente bem confortável

Pra não dar uma tontura

Se mais quiseres saber

Venha sim, me conhecer

Me procure com doçura.

Por favor caro leitor

Dessa terra brasileira

A leitura é engraçada

Por uma vida inteira

Seja triste ou alegre

Ou coelho, talvez lebre

Mentirosa ou verdadeira.

A mulher sem cabeça

Fez muito homem morrer

Aparecia à meia-noite

Logo desaparecer

Porém num certo dia

Naquela grande euforia

Vejam o que foi acontecer.

Mas antes fique sabendo

Porque resolvi falar

É que fui de mansinho

Num baú me recordar

Pensando na minha vó

A mente dá logo um nó

Fique atento pra eu contar.

Essa mulher era o diabo

Com corpo de humano

O próprio cheiro do queijo

O coração tão desumano

Pra começar a história

Que ficou na memória

Enganou seu próprio mano.

Seu irmão era major

Da Polícia Militar

Homem sério e honesto

Era que se ouvia falar

Mas a danada da mana

Era mesmo uma sacana

Pra cima dele foi aprontar.

A família de Hortência

Tinha amor no coração

Mas, a filha era levada

Tinha o corpo em aflição

A todos contaminava

E com isto se alegrava

Numa grande maldição.

Certa noite de madrugada

Ao lado de Zé Trindade

Foram no supermercado

Só por pura maldade

Quando o irmão soube

Todo desgosto lhe coube

Desacreditou da verdade.

O irmão ficou pensando

Naquela irmã danada

Baixou a sua cabeça

Pra não mexer em nada

Depois teve uma ideia

Um bom lobo de alcateia

Fazendo uma caminhada.

Foi até à delegacia

Pra irmã pede soltura

Quando a irmã foi solta

Cometeu essa loucura

De garra de um punhal

Que todos chamavam mal

Mandou o Zé pras altura.

O major se desespera

Mas não pode impedir

A irmã vai cumprir pena

E não tem como fugir

A família de Zé Trindade

Defensora da verdade

De fato ia contribuir.

Só que o destino

Não quis ser cumprido

Na cela de número trinta

O fato que foi assistido

Logo tomou outro tema

Como se fosse dilema

A mulher de amor invertido.

Deram uma surra na coitada

Quase matam a bichinha

O pai de Zé Trindade

Deu-lhe só uma tapinha

A cabeça deu um giro

Que prendeu seu suspiro

E foi dar uma voltinha.

O major não conformado

Quis de imediato resolver

Acusou todo o sistema

Ao governo foi se ter

A fala foi alterada

Desta tal de presepada

Nada pôde lhe conter.

Tirou a sua arma

E matou o governador

Foi o pior assassinato

Que o cordel já contou

Foi-se embora um corrupto

De pensar abrupto

Que falta nenhuma deixou.

O major perdeu a patente

E pra cadeia foi levado

Chorava em desespero

Pelo ato praticado

A irmã do dito cujo

Parecendo um caramujo

Era o fruto do pecado.

Os capangas do poder

Queriam tão logo se vingar

Foram à cadeia pública

Com o intuito de matar

A irmã do matador major

Sabia ser ruim de có

Na polícia militar.

A mulher sem cabeça

Sem nada ter que conter

Não sabia da história

E não queria entender

O fato que ocorreu

Tanta gente ali sofreu

Sem nada ali saber.

Todo dia tem história

Desta peste lucífer

A cidade toda orando

Só pedindo pela fé

Pra ver se tem descanso

Feito água de remanso

Esta amarga mulher.

Lutou com os cabras

E matou de uma só vez

Deu uma rasteira no cabo

No chão caíram logo três

Gritava pra todo mundo

Esse povo é vagabundo

“Comigo ninguém tem vez”.

Olha, quem faz aqui

Aqui mesmo se paga

O major perdeu a vida

A história não se apaga

E a mulher sem cabeça

Sem nunca ter quem padeça

Morreu de pegar baga.

A família de Zé Trindade

É a dona do Estado

Tem gente por todo canto

Vereador e deputado

Dizem que o governador

Ontem o bicho surtou

Por ela é apoiado.

A mulher sem cabeça

Vive sempre a infernizar

As famílias brasileiras

Que querem se organizar

Por onde ela passa

Haja dito que fracassa

O diabo lhe faz tentar.

Ela mora na encruzilhada

Muito cheia de mistério

Anda sempre com o cão

Falando em adultério

Depois de meia noite

Ela gosta de dá açoite

Fica ali no cemitério.

Tem gente que já viu

E não quer ver jamais

Até hoje está doente

Em ter visto o satanás

Botando fogo na venta

Dizem que é nojenta

Grande boca gritando paz.

É tanta coisa ruim

Que ela trouxe pro mundo

Inventou a corrupção

E criou o vagabundo

O seu rastro é cretino

Com este triste destino

Falou o Padre Raimundo.

Na capela da cidade

Todo dia de domingo

Ela fica ali plantada

Esperando a hora do bingo

Depois chama o capeta

Com andar todo perneta

Que tem o nome de pingo.

Seu Valente que é barbeiro

Que admira um repente

Diz que ela não tem um olho

E só gosta de aguardente

Foi um dia no barbeiro

Por causa dum bangunceiro

E quase mata muita gente.

Não há como esquecer

Por favor nunca se esqueça

Dessa história engraçada

Da mulher sem cabeça

Aquela famosa lenda

Faço o favor que aprenda

E depois nos ofereça.

Na cidade onde nasceu

Final de mês ela aparece

Trazendo com ela um gato

Que berra e adormece

A beata chamada Rosa

Que todos chamam Mimosa

Sabe tudo onde acontece.

No campo de futebol

Quando o time quase ganha

Ela passa pela trave

E invoca chica piranha

Catimbozeira afamada

Que tinha pele marcada

Que hoje mora na Alemanha.

A mulher sem cabeça

Fala pelo seu orifício

Dizem que foi castigo

Este é o sacrifício

Ela pena pelos cantos

Reclamando de todos santos

Fazendo só o malefício.

Ofereça uma prece

Com amor e dedicação

Pra essa mulher sofredora

Que cruzou esse sertão

Só sendo mesmo o cordel

Em versos vindo do céu

Que alivia o coração.

Ela tem muito pecado

Me contou dona Zefinha

Que conheceu a mulher

Quando vendia galinha

Ela bebia o sangue

Despeja depois no mangue

E lhe chamava de pestinha.

Caro leitor amigo meu

É chegado o momento

De agradecer com todo amor

Pela leitura do sofrimento

Aguarde tranquilamente

Que chegará novamente

Mais uma do amigo Bento.

Termino este cordel

No dever de ter cumprido

Uma fase da escrita

Que me deixou aquecido

Hoje durmo mais feliz

É meu corpo que me diz

No bom sono prometido.

F I M

João Pessoa-PB, 03 de junho de 2017.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 18/08/2024
Código do texto: T8131444
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