MEU PAVÃO MISTERIOSO, CEM ANOS CRITERIOSO
Quando nós somos pequenos
Ouvimos lindas histórias
Escritas com maestria
De tantas dedicatórias
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
É parte dessas memórias.
Lembrando das palmatórias
Das brenhas do rococó
Parlendas eram contadas
Pra cabeça dá um nó
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Conte logo minha vó.
Nesses livros da vovó
Tanto drama popular
As perguntas que são feitas
A vovó quer completar:
- Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Espere que vou contar.
Minha vó só quis passar
Senhora de grande fé
Sentada num tamborete
Presente de seu Mané:
- Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Quem escreveu foi José.
No pirralho de boné
O José ficou gravado
Sabendo daquela trama
Se sentindo contemplado
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Lhe deixava mais vexado.
O que vovó tem falado
Na mente tinha festança
Vislumbrando mil detalhes
No riso duma criança
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Nos faz brotar esperança.
Pensava nessa mudança
No tempo da monarquia
É que distante da gente
Naquele lugar Turquia
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Pois conte minha autarquia.
O senhor oligarquia
Viúvo cheio de grana
O pai de dois solteirões
De veia samaritana
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
De plumagem soberana.
Evangelista bacana
Quando velho pai morreu
Na fábrica de tecidos
Sozinho permaneceu
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Tanto voo conheceu.
O seu pai bem pretendeu
Dividir toda riqueza
Os dois querendo casar
Buscam moça de beleza
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Enfrenta tanta proeza.
Da Turquia com certeza
Ir pra Grécia percorrer
O João Batista parte
Querendo desparecer
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Num sutil acontecer.
Na terra do conhecer
O coração sem guarida
Na Grécia, João Batista
Sonhava com nova vida
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
É causa de despedida.
A filha surge ressentida
Numa real formosura
Para se mostrar pro povo
Que logo vai à loucura
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Que tão bela criatura.
Veja só que compostura
Nem sequer ouvir a fala
A população local
Tendo medo, sempre cala
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Quem tenta tem logo bala.
Pós doze meses na sala
A moça sai do perigo
O seu pai de tão perverso
Só pensa lhe dá castigo
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Ainda vai se ver contigo.
Condessa sem ter amigo
Deixou ser fotografada
A foto que é vendida
Tem a beleza mostrada
Meu pavão misterioso
Deixará conde sem nada.
O bom irmão camarada
Este mais velho Batista
Na Grécia comprou retrato
Pro jovem Evangelista
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
No frasear helenista.
Na Turquia capitalista
Entregou belo presente
Foto daquela condessa
Gravado na sua mente
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Se cantar vai dá Repente.
Aquela foto valente
Mais moço teve desejo
No país chamado Grécia
Diz: - Com Deus eu me protejo
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Faço tudo que planejo.
O cabra sem ter cortejo
Vai para terra do conde
Encontrar-se com a moça
Que seu pai tão mal esconde
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Pras soluções já responde.
Seu feito lhe corresponde
E fazem grande viagem
Adentrando no sobrado
Encontraram tal imagem
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Que dupla pra ter coragem.
Um instrumento visagem
Me permitam ir mais fundo
Quem fez este tal invento
Chamava senhor Edmundo
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Maior achado do mundo.
Um inventor bem profundo
Com o seu longo coturno
Pra dar garra da condessa
No momento taciturno
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Brilhando feito Saturno.
Sem ser avião noturno
A máquina bem voava
Chega naquele telhado
Bem milagrosa pousava
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Numa descida pulava.
Tentativa não parava
Pilotando maquinário
Evangelista pilota
Naquele grande cenário
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Meu fiel imaginário.
O conde reacionário
Vendo Creuza, sua filha
Nos braços daquele turco
E seu comando não brilha
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Voa numa sutil ilha.
Este casal segue trilha
Pra Turquia vão voando
Creuza com Evangelista
Brevemente se casando
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Histórias vão se passando.
O conde, morte matando
Viúva faz um pedido
Quisera filha de volta
Com genro desconhecido
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Assim fez o prometido.
Com os olhos de metido
Quis saber desse final
Minha vó sempre com calma
Mostrando todo arsenal:
- Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Num voar artesanal.
Cordel sensacional
Este por fim me fascina
Ave de tão belas cores
Grande meta se destina
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Numa gentil oficina.
Num cativeiro chacina
Condessa quis liberdade
Inspirou todo poeta
Pra dizer certa verdade
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
Voa no céu da saudade.
Cem anos de qualidade
Zé Camelo fez primeiro
Quem publicou foi João
Sem ser autor verdadeiro
Meu pavão misterioso
Cem anos criterioso
No meu cordel brasileiro.
FIM
João Pessoa-PB, 06 de novembro de 2023.