A TRÁGICA LAGOA DO PARQUE

Não temos como deixar

De falar daquela cena

Daquele famoso agosto

Ave voando sem ter pena

O desastre da viagem

Ficou na fiel imagem

Parque Sólon de Lucena.

Esse parque ficou sendo

Palco daquela tristeza

Nas águas dessa Lagoa

A vida virou fraqueza

Tanta gente se perdeu

É vida que não viveu

Perdendo maior riqueza.

Me lembro quando criança

A Tabajara falava:

- Tem tragédia na Lagoa!

Povo se desesperava

A minha mãe melancólica

Naquela era bucólica

Por toda casa chorava.

As cenas foram terríveis

O povo todo comenta

Crianças fora da água

Coração numa tormenta

A Tabajara informava

Jornais nos comunicava

Números ninguém aumenta.

A imprensa toda cobria

A tragédia da Lagoa

Trinta e cinco se foram

Morrer naquela canoa

Quem nunca soube nadar

E bem pouco nem remar

Foi barco faltando proa.

Multidões dentro da balsa

Em profundos impropérios

Naufragou nessa Lagoa

Trinta e cinco batistérios

Causando tanta revolta

A vida não tem mais volta

Foi parar nos cemitérios.

Pessoas que perderam

Todos seus familiares

Essa Lagoa em naufrágio

Pros seios hospitalares

Tantas crianças inocentes

Que viraram indulgentes

Dessas canções populares.

Um sargento da Polícia

Mergulhou profundamente

Trouxe consigo crianças

Retornando bravamente

Para salvar muito mais

Sem esquecer que jamais

A bondade está na frente.

Dando próximo mergulho

Esse sargento não volta

Quem quis de novo viver

Naquela Lagoa envolta

Morrendo com ele pegado

Por muitos foi sufocado

Pro povo que se revolta.

Bombeiros capacitados

Estavam salvando vidas

Com suas experiências

Reviveram despedidas

Aqueles nobres bombeiros

Homens sãs guerreiros

Curaram tantas feridas.

Foram três dias de luto

A Paraíba chorou

Famílias inconformadas

Um longo choro durou

Lagoa palco de morte

Não é pra falar de sorte

Tanta vida nos deixou.

São passados tantos anos

Ninguém jamais se esquece

Da tragédia da Lagoa

Que todo viver padece

O vinte e quatro de agosto

Trouxe consigo desgosto

Pensar também entristece.

Morrendo tanta criança

Vinte e nove no total

Mais seis seres morreram

Trinta e cinco no geral

No rosto tanta tristeza

No tempo de fel frieza

Tanto choro no hospital.

Esse número de perdas

O que se fala de morte

Naquele simples passeio

Coração nenhum foi forte

Tantas lágrimas caindo

Com gente que vão partindo

Sentindo falta de sorte.

A balsa fez seu destino

Não consegue retornar

No meio desse trajeto

Começava se afundar

Agonia tomando conta

Aquela data nos afronta

Gente quase a se matar.

Um pai perdeu seus três filhos

E a sua mulher também

Viúvo ficou tão triste

Não falou com mais ninguém

Essas são certas histórias

Que deixam tantas memórias

Que vão muito mais além.

Gente de todos os bairros

Presenciou bem de perto

A retirada dos corpos

Naquele lugar incerto

É olhar para nunca mais

Isto não pode jamais

Naquele morrer deserto.

É tristeza no pensar

No porquê do desengano

Naquele mil novecentos

E setenta e cinco, o ano

Em vinte e quatro de agosto

Um dia só de desgosto

Que momento tão tirano.

Era o ano mil e novecentos

E setenta e cinco, aqui posto

Naquele dia, vinte e quatro

Daquele chamado agosto

Eram comemorações

Quase todas maldições

Mas todas foram desgosto.

É tão triste recordar

Todo esse acontecimento

Em vinte e quatro de agosto

Balsa vem em sofrimento

Mil novecentos e setenta e cinco

Pra falar disto não brinco

Melancólico momento.

Vinte e nove seres vivos

Todos eles eram crianças

Morreram naquelas águas

Hoje trazem só lembranças

A tragédia dessa Lagoa

Fez tremer toda canoa

Levou todas esperanças.

Tudo tem transformação

Naquele instante de festa

Na balsa somente riso

Na volta, tudo que resta

É a mãe desesperada

Da resposta não esperada

Lágrimas que vão pra testa.

João Pessoa enlutada

Foi difícil esquecer

Aqueles terríveis dias

Não vão desaparecer

Ficou gravado na mente

Não pode sair de repente

É preciso conhecer.

Depois daquela tragédia

Noutro dia, só sofrimento

Familiares aos prantos

Fazendo sepultamento

Todos pais ficam sentidos

Tantos choros permitidos

Crianças causam lamento.

Depois daquela semana

Pregações e novenário

Missa de Sétimo Dia

Foi na Igreja do Rosário

Era gente em comoção

Nos gritos em oração

Naquele triste calvário.

Ditadura Militar

Gostava de fazer evento

Sobre o Dia do Soldado

Mesmo se tendo lamento

Eram comemorações

Todas elas tradições

Que serviam pro momento.

O Primeiro Grupamento

Não pensou nesta agonia

De transformar este evento

Em pura melancolia

Pelo não planejamento

Pagou caro sofrimento

No caos da fantasia.

Familiares das vítimas

Ganharam logo a questão

Houve quem pagou despesa

O culpado foi a Nação

O Grupamento culpado

Desta forma condenado

Não teve mais apelação.

Foram tantas homenagens

Do governo paraibano

Solidário com quem foi

Quem se foi pra outro plano

Com solidariedade

Pelos bairros da cidade

O povo foi mais humano.

São só memórias guardadas

Daquele tão pequenino

Minha mãe quase levava

Mas não quis esse destino

Ficamos na nossa casa

Com o coração em brasa

E também sofreu o menino.

Hoje bem que me debruço

Neste trágico romance

Foram trinta e cinco vítimas

Da tragédia sem alcance

Nas coisas da minha mente

No choro de tanta gente

Que não pode ter chance.

Quem se livrou da tragédia

Em silêncio não se alegre

Pense nos que se foram

Cobertos da triste febre

É para se ter igualdade

Cada um faz sua verdade

Seja um leão, seja lebre.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 17/08/2024
Reeditado em 19/08/2024
Código do texto: T8131089
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