A TRAGÉDIA DA LAGOA
É triste, mas vou contar
O porquê do desengano
Naquele mil novecentos
E setenta e cinco, o ano
Em vinte e quatro de agosto
Que momento tão tirano.
Me lembro quando criança
A Tabajara anunciava
A tragédia na Lagoa
Povo se desesperava
A minha mãe melancólica
Por toda casa chorava.
As cenas foram terríveis
O povo todo comenta
Crianças fora da água
Coração numa tormenta
A Tabajara informava
Números ninguém aumenta.
A imprensa toda cobria
A tragédia da Lagoa
Trinta e cinco se foram
Sofrer naquela canoa
Que nunca soube nadar
Barco sem rumo, sem proa.
Morrendo tanta criança
Vinte e nove no total
Mais seis seres morreram
Trinta e cinco no geral
Tanta tristeza no rosto
Tanto choro no hospital.
São trinta e cinco pessoas
Todas tiveram a morte
Naquele simples passeio
Coração nenhum foi forte
As lágrimas pelos olhos
Sentindo falta de sorte.
Era o ano mil e novecentos
E setenta e cinco, aqui posto
Naquele dia, vinte e quatro
Daquele chamado agosto
Eram comemorações
Mas todas foram desgosto.
É tão triste recordar
Todo esse acontecimento
Em vinte e quatro de agosto
Balsa vem em sofrimento
Mil novecentos e setenta e cinco
Melancólico momento.
Multidão dentro da balsa
Num profundo impropério
Naufragou nessa Lagoa
Trinta e cinco batistérios
Causando tanta revolta
Foi parar nos cemitérios.
A balsa fez seu destino
Sem conseguir retornar
No meio desse trajeto
Começava se afundar
Agonia tomando conta
Gente quase a se matar.
Pessoas que perderam
Todos seus familiares
Essa Lagoa em naufrágio
Nos seios hospitalares
Tantas crianças inocentes
Dessas canções populares.
Um sargento da Polícia
Mergulhou profundamente
Trouxe consigo crianças
Retornou insistentemente
Pra salvar muito mais vidas
Num viver impaciente.
Dando próximo mergulho
Esse sargento não volta
Quem quis de novo viver
Naquela Lagoa envolta
Morrendo com ele pegado
Pro povo que se revolta.
Bombeiros capacitados
Estavam salvando vidas
Com suas experiências
Reviveram despedidas
Os guerreiros dessa noite
Sararam tantas feridas.
Um pai perdeu seus três filhos
E a sua mulher também
Viúvo ficou tão triste
Não falou com mais ninguém
Essas são certas histórias
Que vão muito mais além.
Gente de todos os bairros
Presenciou bem de perto
A retirada dos corpos
Naquele lugar incerto
Mergulhou dentro das águas
Naquele morrer deserto.
Tudo tem transformação
Naquele instante de festa
Na balsa somente riso
Na volta, tudo que resta
É a mãe desesperada
Lágrimas que vão pra testa.
Parque Sólon de Lucena
Palco de tanta tristeza
Nas águas dessa Lagoa
A vida virou fraqueza
Tanta gente que se foi
Perdeu sua maior riqueza.
João Pessoa enlutada
Foi difícil esquecer
Aqueles terríveis dias
Não vão desaparecer
Ficou na nossa memória
É preciso conhecer.
Não temos como deixar
De não falar dessa cena
Naquele famoso agosto
Como ave que voa sem pena
O desastre da viagem
Parque Sólon de Lucena.
Depois daquela tragédia
Noutro dia, só sofrimento
Familiares aos prantos
Fazendo sepultamento
Maioria dos inocentes
Crianças causam lamento.
Depois daquela semana
Pregações e novenário
Missa de Sétimo Dia
Foi na Igreja do Rosário
Era gente em comoção
Naquele triste calvário.
Ditadura militar
Gostava de fazer evento
Sobre o Dia do Soldado
Mesmo se tendo lamento
Eram comemorações
Que serviam pro momento.
O Primeiro Grupamento
Não pensou nesta agonia
De transformar este evento
Em pura melancolia
Pagando pelos seus erros
No caos da fantasia.
Familiares das vítimas
Ganharam logo a questão
Houve quem pagou despesa
O culpado foi a Nação
O Grupamento culpado
Não teve mais apelação.
Foram três dias de luto
A Paraíba chorou
Famílias desencontram
Um longo choro durou
Lagoa palco de morte
Tanta vida nos deixou.
Foram tantas homenagens
Do governo paraibano
Solidário com quem foi
Quem se foi pra outro plano
Com solidariedade
O povo foi mais humano.
São só memórias guardadas
Daquele tão pequenino
Minha mãe quase levava
Mas não quis esse destino
Ficamos na nossa casa
E também sofreu o menino.
São passados tantos anos
Ninguém jamais se esquece
Da tragédia da Lagoa
Que meu viver entristece
O vinte e quatro de agosto
É data que só aborrece.
Hoje bem que me debruço
Nas coisas da minha mente
Essas lembranças são tantas
No choro de tanta gente
Foram trinta e cinco vítimas
Do festejo incompetente.
Houve gente que casou
Da tragédia sem alcance
Uma das vítimas viveu
O que chamamos de lance
Homem que tirou a mulher
Com ela um grande romance.
Quem se livrou da tragédia
Em silêncio não se alegre
Pense nos que se foram
Cobertos da triste febre
É para se ter igualdade
Seja um leão, seja lebre.
FIM
João Pessoa-PB, 16 de agosto de 2024.