CAGADO E CUSPIDO A CARA DO PAI

Meu amigo e minha amiga

Prestem agora atenção

Nesta trama engraçada

Que veio lá do sertão

A história de um menino

Francisco da Conceição.

Ninguém sabe ao certo

Qual é a sua região

Só Deus sabe dizer

De onde é sua certidão

Se batizado ele foi

Ou viveu na maldição.

Dizem alguém mais velho

Que nasceu de uma parteira

Lá pras bandas de uma cidade

Por nome de Cajazeiras

Outros mais velho ainda

Na sua terra derradeira.

Ninguém sabe ao certo

Onde nasceu este menino

Tem gente até que diz

Que ele não tem destino

Só conheceu ele

Quando começou a tocar sino.

Foi coroinha da igreja

E gostava de cantar

Na escola não tinha jeito

Não gostava de estudar

Vivia jogando bola

E no açude ia nadar.

Na cidade de Pombal

Onde morava a sua tia

Veio morar com ela

E trouxe muita alegria

Um contador de piada

Onde só tinha putaria.

A tia deste menino

Casada com um homem rico

Apelidou logo Francisco

Que logo se chamou Chico

E na escola onde estudava

Era grande o fuxico.

Era magro que só a gota

Igual uma vara de ripa

Aí a meninada toda

Lhe chamava Chico Tripa

Campeão de uma gincana

Melhor empinador de pipa.

Tudo que Chico fazia

Um prêmio ia ganhar

Só não queria estudo

Nota ruim ia tirar

A tia já magoada

Não queria acreditar.

Seu Ernesto o seu marido

Viu em Chico uma novidade

Botar uma banca de jogo

Na feira daquela cidade

E dá de presente a ele

Já beirando a mocidade.

Chico se empolgou

E quis ser empresário

Recebeu este presente

No dia de aniversário

E dizia pra todo mundo

Que era de Sagitário.

A feira de Pombal

Ficou bem aninada

Cada feirante que tinha

Era uma só gargalhada

Riam de tudo do Chico

Até mesmo a passarada.

O apelido Chico Tripa

Pegou logo na presepada

Quem ia naquela banca

Queria dar uma jogada

Todo tipo de jogo

A coisa assim foi montada.

Francisco já se formando

O peito já crescendo

Falava até em namoro

A quem fosse aparecendo

A moça dava risada

E Chico, enfim esmorecendo.

Todo final de semana

Seu Ernesto perguntava

Se houve lucro no jogo

E quanto Chico lhe dava

Chico que era besta

Todo dinheiro entregava.

Havia jogo de carta

E o mais procurado dominó

Vinha gente de toda banda

Depois do nascer do sol

Animar a banca de Chico

Pra ficar tudo melhor.

A tia de Chico era

Uma mulher bem devota

Queria que o sobrinho

Tirasse uma boa nota

Mas o menino dizia:

Isso só me revolta.

A mãe de Chico tinha

Dez filhos com ela morando

Todos de pais diferentes

E nenhum vinha estudando

Chico aprendeu ler e contar

O que estou contando.

O magro Chico Tripa

O nome do pai não sabia

Quando falava da mãe

Falava que amava a tia

E queriam saber a verdade

Ali ele só tinha alegria.

Estudar não era o forte

Praquele cabra de peia

Bem que se tentou

Logo após a ceia

A tia toda contente

Lhe dava sopa de aveia.

Chico não gostava

E não era vegetariano

Comia só para agradar

E entrava depois no cano

No banheiro o coitado

Era só desengano.

O jogo já prosperava

E Chico se dando bem

Se despediu da tia

E foi muito mais além

Para a cidade de Patos

Foi ele e mais ninguém.

Chegando nesta cidade

Comprou uma mercearia

Namorou com Soledade

Filha de Dona Maria

O namoro foi se estendendo

E o casamento quase havia.

É que Chico tinha um apelido

Que a menina não gostava

Quando lhe chamavam de tripa

Ela se desesperava

Resolveu acabar o namoro

Mas dele muito gostava.

Chico sofreu bastante

E não deu braço a torcer

Foi jogar sinuca na rua

Só pra desparecer

Ao chegar naquele bar

Observe o que vou dizer.

Seu Zé de Dona Lica

Um senhor bem educado

Foi dizendo ao Chico

Que não ficasse espantado

Pois sabia quem era o pai

E ele estava ali sentado.

Quando Chico olhou de lado

Ficou meio sem sentido

Cara de um e focinho do outro

Os dois bem parecidos

Como diz aquele ditado

“era cagado e cuspido”.

Ai Chico não entendeu

Todo aquele acontecido

E achou aquele senhor

Um tanto bem atrevido

Era a cara do pai

Cagado e cuspido.

Um era a cópia fiel

Tal filho e tal pai

Chico Tripo ficou pensado

E quase que dali sai

Sentou num tamborete

Por segundo quase cai.

O homem se levantou

E foi com Chico falar

Ele também era Francisco

E quis logo abraçar

Chico meio tímido

Não quis acreditar.

Foi perguntando ao pai

Qual era a sua precisão

Ele disse que nada

Somente do filho atenção

Chico ficou risonho

E brincou da situação.

Seu Francisco de Assis

Era devoto de igreja

Todo dia ia à missa

Onde quer que esteja

Ganhava um bom salário

Que todo mundo almeja.

Chico então questionou

Todo aquele abandono

Porque todo aquele tempo

Que lhe tirou o sono

E se ele era mesmo

O verdadeiro dono.

Não havia como negar

Dizia cada presente

- Tu és a cara do pai

Não é minha gente?

Chico é o nó

E o pai é a corrente.

Chico levou o pai

Para o seu grande armazém

Conheceu toda a família

E encontrou seu bem

Uma linda morena

Que nasceu em Santarém.

Os dois se casaram

E a mãe foi convidada

Dez homens chegaram

Praquela grande noitada

Chico todo feliz

Com a família juntada.

Chico Tripa comprou terra

Em todo sertão da Paraíba

Mas até hoje quando se lembra

Que comeu até macaíba

Se benze dos pés à cabeça

E dalí logo se arriba.

Chico ficou tão rico

E à mãe deu uma fazenda

Toda cheia de gado

E lhe deu boa renda

Ele tem uma fábrica

De fazer chave de fenda.

Chico Tripa é a marca

Que na chave está escrita

Exporta pro mundo inteiro

A sua famosa brita

E faz lá no sertão

A melhor cachaça birita.

Chico Tripa meu amigo

Foi bom te conhecer

Não deu para o estudo

Mas foi no comércio vencer

Esta é a vida de muitos

Que faz por merecer.

Chegamos ao final agora

Meu caro Francisco da Conceição

Apelidado de Chico Tripa

O cabra mais rico do sertão

Que ajudou toda a família

Com seu grande coração.

FIM

João Pessoa-PB, 09 de abril de 2010.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 12/08/2024
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