O COMEDOR DE CONDOMÍNIO
Preste muita atenção
Em tudo que vou falar
A política tem problema
É melhor até calar
Mas a manchete que trago
É boa de versejar.
No condomínio fui procurar
Aquele forte comedor
Que comeu feito tarado
Numa noite de terror
Eu corri com medo dele
Só de falar me dá pavor
E assim quem me contou
Pediu logo um segredo
Que não podia dizer tudo
Como foi aquele enredo
Só sei que o condomínio
Todo mundo anda com medo.
Muito tarde ou bem cedo
Na mais triste ocasião
Veja o que aconteceu
Com a filha de um babão
Deu em cima do bicho
Essa foi a falação
A comadre Josefina
Que sofre de estrabismo
Levou aquele rapaz
Pra mostrar o seu cinismo
Mas o danado nem aí
Foi se meter com comunismo
Pela falta de civismo
O rapaz levou a pior
Tentou pega a dona
Naquele banho de sol
Com as tetas mostrando
Esperando o arrebol
A moça era uma cotó
Que tava no condomínio
Estava sendo contratada
Para um grande latrocínio
Mas o chefe da quadrilha
Não gostava de declínio
Naquele enorme escrutínio
Foi difícil para saber
Quem mandou matar a moça
Que tinha tudo para viver
O rapaz muito abestalhado
Só queria mesmo saber
Ele viu ao anoitecer
Uma sombra demoníaca
Vestida de paletó
Feito peça dionisíaca
Olhou pra todo lado
Quando viu uma maníaca
Um fluído afrodisíaco
O rapaz ficou olhando
De repente aquela gente
Foi-se logo retirando
Pedindo praquele rapaz
Se tinha algo, fosse mostrando
O povo foi se retirando
E o condomínio sendo fechado
Só ficava naquele canto
Quem nunca fosse apontado
Até que um condômino
Se sentiu estar cagado
Surgiu até um delegado
Dizendo ser da polícia
Mas descobriram que ele
Pertencia a milícia
Financiava as armas
Sem fazer uma perícia
O rapaz cheio de malícia
Falou mesmo o que comeu
Porque naquele condomínio
Nada estranho aconteceu
E o miliciano do poder
De arma lhe abasteceu
O povo assim conheceu
Do que ali se tratava
Daquele rapaz tão frágil
Que a toda hora se cagava
Tinha medo até de mosca
Mas muito bem ele atirava
Deu dois tiros em quem passava
Chamando o povo sacana
Querendo pegar as moças
Dizendo que ele era o bacana
Trincava aqueles seus dentes
Feito uma cobra caninana
Surgiu uma bela cigana
Prima do soldado José
Pegou o rapaz pelo braço
E o chamou de homem de fé
Tomou a sua arma
E trocou por um filé
Pois a cigana Salomé
Mulher forte e valente
Embriagou aquele rapaz
Com um copo de aguardente
E ele em estado ébrio
Entregava muita gente
O povo ali tão contente
Queria só ver o desfecho
Perguntava para a cigana
O que era esse apetrecho
Porque ela não explicava
Todo aquele trecho
E ela diz: - Não abro, só fecho
Não me importa o que falam
Sei que este nobre rapaz
É a semente dos que plantavam
A ruindade ali presente
E muitos apenas se armavam
Com isto todos eles gritavam
Numa única ladainha
Que o rapaz estava certo
E culpa ele não tinha
Porque todas do condomínio
Viviam feito uma galinha
Ciscando feito trem na linha
Diziam – Fomos dele comida
E não adianta a ninguém
Se meter na nossa vida
O rapaz nos tem a todo custo
Por ele estou decidida
Numa simples subida
Todos pegaram um fuzil
Apontaram para o rapaz
E gritaram: - Ame o Brasil!
Ele, frouxo como era
Correu, dali logo sumiu
Uma porta grande se abriu
E como herói foi recebido
O dono de um apartamento
Da família bem conhecido
Não deixou ninguém se aproximar
Porque não era permitido
E o rapaz ficou escondido
Esperando pelos seus pais
Que foram logo avisados
A muitos séculos atrás
Que aquele filho ingrato
Pertencia ao satanás
A família desse rapaz
Não tinha vergonha na cara
Vivia fazendo empréstimo
E muita gente se espantara
Com aquele fato novo
Que agora tanto dispara
E ali só havia muita tara
Daquele rapaz franzino
Que comeu o condomínio
Sendo este o seu destino
Naquele espaço hospedado
Ele ficou feito um menino
Com um rifle de assassino
Ele matou a vizinhança
Pegou a mulher do cabo
E a fez de sua segurança
Ela calada e triste
Por dar tanta confiança
A milícia da esperança
Ficou só de gabinete
Olhando aquele rapaz
Que tinha na mão alfinete
Espetou todos na sala
E causou o maior cacete
Surgiu a mulher do sorvete
Que não tinha naquele dia
Ao lado da bela cigana
Uma a uma se lambia
O rapaz pegou as duas
E chamou uma: - Minha tia!
A cigana em plena euforia
Se sentiu uma meretriz
Deixou a sorveteira
E deu uma de atriz
Puxou dentro dos peitos
Um nome escrito: “Feliz”.
Foi tramando o infeliz
Sem que ninguém perguntasse
Que a mãe do rapaz era ela
E que ele a dor aguentasse
A arma que ela possuía
Nela, ele atirasse
Era preciso que se revelasse
O que havia na entrelinha
De um comedor de condomínio
Que tinha cagado rachadinha
Naquela data importante
Que não é da conta minha.